Estaline com o ministro nazi Joachim von Ribbentrop no Kremlin, 1939
Sob a liderança de Estaline, a União Soviética desempenhou um papel decisivo na derrota da
Alemanha nazi na
Segunda Guerra Mundial (
1939 -
1945) e passou a atingir o
estatuto de
superpotência,
após rápida industrialização e melhoras nas condições sociais do povo
soviético, durante esse período, o país também expandiu o seu território
para um tamanho semelhante ao do antigo
Império Russo.
(...)
A Grande Purga
Em
1928 iniciou um programa de
industrialização intensiva e de
coletivização da
agricultura soviética (
plano quinquenal), impondo uma grande reorganização social e provocando a
fome -
genocídio na
Ucrânia (
Holodomor), em
1932 -
1933.
Esta fome foi imposta ao povo ucraniano pelo regime soviético, tendo
causado um mínimo de 4,5 milhões de mortes na Ucrânia, além de 3 milhões
de vítimas noutras regiões da U.R.S.S. Nos
anos 30
consolidou a sua posição através de uma política de modernização da
indústria. Como arquitecto do sistema político soviético, criou uma
poderosa estrutura militar e de policiamento. Mandou prender e deportar
opositores, ao mesmo tempo que cultivava o
culto da personalidade como arma ideológica.
A ação persecutória de Estaline, supõe-se, estendeu-se mesmo a território estrangeiro, uma vez que o
assassinato de
Leon Trótski, então exilado no
México é-lhe creditado. Por mais providências que Trótski tomasse para proteger-se de agentes secretos,
Ramón Mercader, membro do
Partido dos Comunistas da Catalunha, foi para o México e conseguiu ganhar a confiança do dissidente, para executá-lo com um golpe de
picareta. No momento do assassinato, Trótski escrevia uma
biografia
reveladora sobre Estaline. Esta seria uma das motivações para o crime,
uma vez que o dirigente soviético desejava ocultar seu passado
pré-revolucionário.
Desconfiando que as reformas económicas que implantara produziam descontentamento entre a
população,
Estaline dedicou-se, nos anos 30, a consolidar seu poder pessoal.
Tratou de expulsar toda a oposição política. Se alguém lhe parecesse
indesejável desse ponto de vista, ele se encarregava de desacreditá-lo
perante a opinião pública.
Em
1934,
Sergei Kirov, principal líder do
Partido Comunista em
Leningrado
- e tido como sucessor presuntivo de Estaline - foi assassinado por um
anónimo, Nikolaev, de forma até agora obscura; muitos consideram até
hoje que Estaline não teria sido estranho a este assassinato. Seja como
for, Estaline utilizou o assassinato como pretexto imediato para uma
série de repressões que passaram para a história como a "
Grande Purga".
No dia 1 de dezembro de 2009 foi divulgado um diário de Nikolaev
segundo ao qual se supôs que Nikolaev decidiu se vingar da sua demissão
feita por Kirov do Instituto de História, e que o levou a ficar
desempregado.
Estes deram-se no período entre 1934 e 1938 no qual Estaline concedeu
tratamento duro a todos que lutassem contra o Estado soviético, ou
mesmo supostos inimigos do Estado. Entre os alvos mais destacados dessa
ação, estava o
Exército Vermelho: parte de seus oficiais acima da patente de major foi presa, inclusive treze dos quinze
generais-de-exército. Entre estes,
Mikhail Tukhachevsky foi uma de suas mais famosas vítimas. Sofreu a acusação de ser agente do serviço secreto
alemão. Com base em documentos entregues por
Reinhard Heydrich, chefe do
Serviço de Segurança das
SS, Tukhachevsky foi executado, além de deportar muitos outros para a
Sibéria.
Com isso foi enfraquecido o comando militar soviético; ou seja,
Estaline acreditou nas informações de Heydrich, e a sua atitude acabou
debilitando a estrutura militar russa, que no entanto, conseguiu
resistir ao ataque das tropas da Alemanha.
O principal instrumento de perseguição foi a
NKVD. De acordo com Alan Bullock, o uso de espancamentos e
tortura
era comum, um facto francamente admitido por Khrushchev em seu famoso
discurso posterior à morte de Estaline, onde ele citou uma circular de
Estaline para os secretários regionais em 1939, confirmando que isto
tinha sido autorizado pelo Comité Central em 1937.
Depurações
A condenação dos contra-revolucionários nos julgamentos de 1937-38
depois das depurações no Partido, exército e no aparelho estatal, tem
raízes na história inicial do movimento revolucionário da
Rússia.
Milhões de pessoas participaram no quê acreditavam ser uma
batalha contra o
czar e a
burguesia. Ao ver que a vitória seria inevitável, muitas pessoas entraram para o partido. Entretanto nem todos haviam se tornado
bolcheviques porque concordavam com o
socialismo. A
luta de classes era tal que muitas vezes não havia tempo nem possibilidades para pôr à prova os novos
militantes. Até mesmo militantes de outros partidos inimigos dos bolcheviques foram aceites depois
triunfo da revolução. Para uma parcela desses novos militantes foram dados cargos importantes no
Partido,
Estado e
Forças Armadas, tudo dependendo da sua capacidade individual para conduzir a luta de classes.
Eram tempos muito difíceis para o jovem Estado
soviético e a grande falta de
comunistas,
ou simplesmente de pessoas que soubessem ler, o Partido era obrigado a
não fazer grandes exigências no que diz respeito à qualidade dos novos
militantes. De todos estes problemas formou-se com o tempo uma
contradição que dividiu o Partido em dois campos - de um lado os que queriam reduzir o socialismo para atuação de fortalecimento da
URSS,
ou seja, socialismo em um só país, por outro lado, aqueles que
defendiam a ideia de que o socialismo deveria ser espalhado por todo o
mundo e que a URSS não deveria se limitar a si própria. A origem destas
últimas ideias vinha de
Trótski, que foi caçado por Estaline após assumir o poder da URSS.
Trótski foi com o tempo obtendo apoio de alguns dos bolcheviques mais
conhecidos. Esta oposição unida contra os ideais defendidas pelos
marxistas-
estalinistas, eram uma das alternativas na votação partidária sobre a política a seguir pelo Partido, realizada em 27 de dezembro de
1927.
Antes desta votação foi realizada uma grande discussão durante vários
anos e não houve dúvida quanto ao resultado. Dos 725.000 votos, a
oposição só obteve 6.000 - ou seja, menos de 1% dos
militantes do Partido apoiaram a oposição
trotskista.
Deportações
Antes, durante e depois da
Segunda Guerra, Estaline conduziu uma série de deportações em grande escala que acabaram por alterar o mapa étnico da
União Soviética. Estima-se que entre 1941 e 1949 cerca de 3,3 milhões de pessoas foram deportadas para a
Sibéria ou para repúblicas asiáticas.
Separatismo,
resistência/oposição ao governo soviético e colaboração com a invasão
alemã eram alguns dos motivos oficiais para as deportações.
Durante o governo de Estaline os seguintes grupos étnicos foram completamente ou parcialmente deportados:
ucranianos,
polacos,
coreanos,
alemães,
checos,
lituanos,
arménios,
búlgaros,
gregos,
finlandeses,
judeus
entre outros. Os deportados eram transportados em condições
espantosas, frequentemente em camiões de gado, milhares de deportados
morriam no caminho. Aqueles que sobreviviam eram mandados a Campos de
Trabalho Forçado.
Em fevereiro de 1956, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética,
Nikita Khrushchov condenou as deportações promovidas por Estaline, no seu relatório secreto. Nesse momento começa a chamada
desestalinização,
que, de chofre, engloba todos os partidos comunistas do mundo. Na
verdade, esta desestalinização foi a afirmação de que Estaline cometeu
excessos graças ao culto à personalidade que fora promovido ao longo de
sua carreira política. Para vários autores
anticomunistas,
teria sido somente neste sentido que teria havido desestalinização,
porquanto o movimento comunista na URSS deu prosseguimento à prática
estalinista sem a figura de Estaline. De fato, a desestalinização não
alterou em nada o caráter
unipartidário
do estado soviético e o poder incontestado exercido pelo Partido e
pelos seus órgãos de repressão, mas significou também o fim da
repressão policial em massa (a internação maciça de presos políticos em
campos de concentração
sendo abandonada, muito embora os campos continuassem como parte do
sistema penal, principalmente para presos comuns), a suspensão de grande
parte das sentenças estalinistas e o retorno e reintegração à vida
quotidiana de grande massa de presos políticos e deportados. A repressão
política, muito embora tenha continuado, não atingiu jamais, durante o
restante da história soviética, os níveis de violência do
estalinismo, principalmente porque foi abandonada a prática das purgas internas em massa no Partido.
As deportações acabaram por influenciar o surgimento de movimentos separatistas nos estados
bálticos, no
Tartaristão e na
Chechénia, até os dias de hoje.
Número de vítimas
Após a extinção do regime comunista na União Soviética,
historiadores
passaram a estimar que, excluindo os que morreram por fome, entre 4-10
milhões de pessoas morreram sob o regime de Estaline. O escritor russo
Vadim Erlikman, por exemplo, faz as seguintes estimativas:
Quantidade de pessoas | Razão da morte |
1,5 milhão | Execução |
5 milhões | Gulags |
1,7 milhão | Deportados¹ |
1 milhão | Países ocupados² |
¹ Erlikman estima um total de 7,5 milhões de deportados
² Diz respeito aos mortos civis durante a ocupação russa
Este total estimado de 9 milhões, para alguns pesquisadores, deve ainda ser somado a 6-8 milhões dos mortos na
fome soviética de 1932-1933, episódios também conhecidos como
Holodomor.
Existe controvérsia entre historiadores a respeito desta fome ter sido
ou não provocada deliberadamente por Stalin para suprimir opositores
de seu regime. Muitos argumentam que a
fome ocorreu por questões circunstanciais não desejadas por Estaline ou que foi uma consequência acidental de uma tentativa de
forçar a coletivização
naquelas áreas afetadas pela fome. Todavia, também existem argumentos
no sentido contrário, de que a fome foi sim provocada por Estaline.
Para a última corrente, uma prova de que a fome foi provocada seria o
facto de que a exportação de cereais da
União Soviética para a
Alemanha Nazi
aumentou consideravelmente no ano de 1933, o que provaria que havia
alimento disponível. Esta versão da história é retratada pelo
documentário The Soviet Story.
Sendo assim, se o número de vítimas da fome for incluído, chega-se a um
número mínimo de 10 milhões de mortes (mínimo de 4 milhões de mortos
por fome e mínimo de 6 milhões de mortos pelas demais causas expostas).
No entanto, Steven Rosefielde tem como mais provável o número de 20
milhões de mortos
, Simon Sebag Montefiores sugere número um pouco acima de 20 milhões, no que é acompanhado por
Dmitri Volkogonov (
autor de
Estaline: Triunfo e Tragédia),
Alexander Nikolaevich Yakovlev,
Stéphane Courtois e Norman Naimark. O pesquisador
Robert Conquest
recentemente reviu a sua estimativa original de 30 milhões de vítimas
para cerca de 20 milhões, afirmando ainda ser muitíssimo pouco provável
qualquer número abaixo de 15 milhões de vidas ceifadas pelo regime de
Estaline.
(...)
Morte
Na manhã de 1 de março de 1953, depois de um jantar que durou a noite
toda, e ter visto um filme, Estaline chegou à sua casa em Kuntsevo, a 15
km a oeste do centro de Moscovo, com o Ministro do Interior, Lavrentiy
Beria, e os futuros ministros Georgy Malenkov, Nikolai Bulganin e Nikita
Khrushchev, retirando-se para o quarto para dormir. À tarde, Estaline não
saiu do quarto.
Embora os seus guardas estranhassem que não se levantasse à hora
usual, tinham ordens estritas para não o perturbar e deixaram-no sozinho
o dia inteiro. Cerca das 22.00 horas Peter Lozgachev, o comandante de
Kuntsevo, entrou no quarto e viu Estaline caído de costas no chão, perto
da
cama, ainda com o pijama e ensopado em urina. Assustado, Lozgachev
perguntou a Estaline o que aconteceu, mas só obteve respostas
ininteligíveis.
Lozgachev usou o telefone do quarto para chamar oficiais, dizendo-lhes
que Estaline tinha tido um ataque e pedia que mandassem doutores para a
residência de Kuntsevo imediatamente. Lavrentiy Beria foi informado e
chegou algumas horas depois, mas os doutores só chegaram no início da
manhã de 2 de março, mudando as roupas da cama e deitando-o. O acamado
líder morreu quatro dias depois, a
5 de março de
1953. Estaline
morreu de
hemorragia cerebral (derrame), em circunstâncias ainda hoje pouco esclarecidas, com 74 anos de idade, sendo embalsamado a 9 de março.
Avtorkhanov desenvolveu uma detalhada teoria, publicada inicialmente em
1976, apontando
Beria
como o principal suspeito de tê-lo envenenado. Todavia, outros
historiadores ainda consideram que Estaline morreu de causas naturais.