Laika (em
russo Лайка,
1954 -
1957) foi uma
cadela russa que se tornou conhecida por ser o primeiro ser vivo
terrestre a orbitar o planeta
Terra. Ela foi lançada ao espaço a bordo da nave
soviética Sputnik II, em
3 de novembro de
1957, um mês depois do lançamento do satélite
Sputnik I, o primeiro objeto artificial a entrar em
órbita. Laika é o nome russo para várias raças de cães similares ao
husky, oriundas da
Sibéria.
A sua raça verdadeira é desconhecida, mas considera-se que ela teria
sido um cruzamento entre um husky ou outra raça nórdica com um terrier
da raça
Laika.
Laika morreu entre cinco e sete horas depois do lançamento, bem antes do planejado. A causa de sua
morte, que só foi revelada décadas depois do
voo, foi, provavelmente, uma combinação de
estresse sofrido e o
superaquecimento,
talvez ocasionado por uma falha no sistema de controle térmico da nave.
Apesar do acidente, essa experiência demonstrou ser possível para um
animal suportar as condições de
microgravidade, abrindo caminho assim para participação humana em voos espaciais.
O Sputnik II
Após o êxito do Sputnik I, o líder soviético
Nikita Khrushchev solicitou o lançamento de um segundo
satélite artificial ao espaço para o dia do quadragésimo aniversário da
revolução russa, em
7 de novembro
de 1957. Nessa época, os russos já construíam um satélite mais
sofisticado que, porém, só estaria pronto após um mês da data requerida.
Esse satélite, que não podia ser usado nessa missão, acabou sendo o
Sputnik III.
Foi necessário, então, construir outro satélite mais simples para
poder cumprir a data limite de novembro. A decisão de lançar o satélite
foi tomada entre
10 e
12 de outubro, e a equipe de construção tinha apenas quatro semanas para construir o novo artefacto. A apressada construção do Sputnik II foi complicada por causa da pretensão de levar um animal vivo em seu interior.
A nave estava equipada com instrumentos para medir a
radiação solar e os
raios cósmicos, um sistema de geração de
oxigénio acompanhado de sistemas para absorver
dióxido de carbono, e outro para evitar o envenenamento por oxigénio, também conhecido como o
efeito Paul Bert.
Se instalou um ventilador que operava quando a temperatura da nave
superava os 15 °C, para manter a temperatura do animal. Além disso, o
satélite foi provido com
comida suficiente para um voo de sete dias. A comida estava em forma de
gelatina.
Também foi feito um traje espacial para Laika. O animal foi equipado
com uma bolsa para armazenar seus dejetos, e com uma cadeirinha que
limitava seus movimentos ao sentar-se, pôr-se de pé ou encostar-se, já
que na cabina não havia espaço para dar voltas. A
frequência cardíaca de Laika podia ser monitorizada na
base espacial, e outros instrumentos mediam seu ritmo respiratório,
pressão arterial e seus movimentos básicos.
O Treino
Antes do lançamento do Sputnik II, tanto a
União Soviética como os
Estados Unidos já haviam lançado animais vivos em voos suborbitais.
Esta missão exigia uma atenção especial ao treinamento dos cães, já que
a duração do voo exigia dos animais uma adaptação em permanecer em
espaços confinados por um período maior.
Albina foi lançada duas vezes em um foguete para provar sua
resistência nas grandes alturas, e Mushka foi utilizada para o teste da
instrumentação e dos equipamentos de suporte vital. Laika foi
selecionada para participar da missão orbital, e Albina como a principal
substituta.
O seu treino estava a cargo do cientista
Oleg Gazenko.
O treino consistia em acostumar os cães ao ambiente que
encontrariam na viagem, como o espaço reduzido da cápsula, os ruídos,
vibrações e acelerações. Como parte do treinamento, a aceleração das
descolagens era simulada através da
força centrífuga imposta na cápsula onde os animais se introduziam. Durante estas atividades, a sua pulsação chegava a duplicar e sua
pressão sanguínea aumentava em 30–65
torr. O mesmo processo geral seria utilizado mais tarde no treino dos
cosmonautas soviéticos.
A adaptação dos animais ao espaço confinado do Sputnik II exigiu que
permanecessem em compartimentos cada vez menores por até vinte dias. O
confinamento forçado provocou distúrbios nas funções excretoras dos
animais, incrementando a sua agitação e deteriorando sua condição física
geral.
A ilustre passageira
Laika era uma cadela que vivia solta nas ruas de
Moscovo, pesava aproximadamente seis quilos e tinha três anos de idade quando foi capturada para o
programa espacial soviético. Originalmente a chamaram
Kudryavka (crespinha), depois
Zhuchka (bichinho), e logo
Limonchik
(limãozinho), para finalmente chamá-la de Laika. Os cães capturados
eram mantidos num centro de investigação nesta cidade, e três deles
foram avaliados e treinados para a missão: Laika, Albina e
Mushka.
A Missão
Em
31 de outubro de 1957, três dias antes do lançamento, Laika foi colocada no Sputnik II, no
cosmódromo de Baikonur, no atual
Cazaquistão.
Dado que as temperaturas no local de lançamento eram extremamente
baixas, a cápsula requereu conservação térmica, através de um aquecedor
externo e de uma mangueira. Dois assistentes estavam encarregados de
vigiar Laika constantemente antes do começo da missão. Bem antes do
lançamento, em
3 de novembro de 1957, a pelagem da Laika foi limpa com uma solução de
etanol, e pintaram-na com
iodo nas áreas onde ela levaria sensores para vigiar suas funções corporais.
O Sputnik II foi lançado em
3 de novembro de 1957. Os sinais vitais da Laika eram seguidos
telemetricamente
por controle em terra. Ao alcançar a máxima aceleração depois da
decolagem, o ritmo respiratório do animal aumentou de três a quatro
vezes em relação ao normal, e sua
frequência cardíaca
passou de 103 a 240 batimentos por minuto. Ao alcançar a órbita, a
ponta cónica do Sputnik II desprendeu-se com sucesso. A outra seção da
nave que deveria desprender-se (o "Blok A") não o fez, impedindo que o
sistema do controle térmico funcionasse corretamente. Parte do
isolamento térmico desprendeu-se, permitindo que a cápsula alcançasse
uma temperatura interior de 40 °C. Após três horas de micro-gravidade, o pulso de Laika havia descido a 102 batimentos por minuto;
esta descida na frequência cardíaca havia tomado três vezes mais tempo
que o experimentado durante o treinamento, o que indicava o alto
stress
em que estava a cadela. Os dados telemétricos iniciais mostravam que,
ainda que Laika estivesse agitada, estava comendo. A recepção de dados
vitais parou entre cinco e sete horas depois da descolagem.
No entanto, a informação que Moscovo deu a conhecer dizia que o animal
se comportava em calma em seu voo espacial, e que em poucos dias Laika
desceria à Terra, primeiro em sua cápsula espacial, e logo em
pára-quedas.
Todo mundo acreditava que o animal levava alimento suficiente e sua
condição era estável, pelo que muitas pessoas estiveram esperando o
regresso de Laika. Algumas pessoas aproveitaram para fazer brincadeiras:
durante várias horas, a população de
Santiago do Chile
esteve convencida de que Laika havia caído na cidade. Os habitantes da
zona suburbana viram descer um cão de pára-quedas, e eles se convenceram
naquele momento de que se tratava de Laika. Quando o animal chegou em
terra, se comprovou que na realidade se tratava de um cão macho, e a
montagem não era mais que uma brincadeira para aproveitar-se da neurose
coletiva das "cadelas voadoras".
O Sputnik II não estava preparado para regressar à Terra de forma
segura, pelo que já se sabia que Laika não sobreviveria à viagem. Os
cientistas soviéticos planearam dar-lhe comida
envenenada, que Laika consumiria depois de dez dias. No entanto, isso não ocorreu como planeado. Durante anos, a
União Soviética deu explicações contraditórias sobre a morte de Laika, dizendo às vezes que a cadela havia morrido por
asfixia quando as baterias falharam, ou que haviam feito
eutanásia conforme os planos originais. Em
1999
fontes russas asseguraram que Laika sobreviveu pelo menos quatro dias, e
depois pereceu por causa do superaquecimento da nave. Em outubro de
2002,
o cientista Dimitri Malashenkov, que participou no lançamento do
Sputnik II, revelou que Laika havia morrido entre cinco e sete horas
depois da descolagem, devido ao
stress e superaquecimento. Ele
declarou, num artigo que apresentou no Congresso Mundial do Espaço em
Houston: "Foi praticamente impossível criar um controle de temperatura confiável em tão pouco tempo". O Sputnik II finalmente explodiu (junto com os restos de Laika) ao entrar em contacto com a
atmosfera, em
14 de abril de
1958, após 163 dias e 2.570 órbitas em volta da Terra.