Brasão Real de D. Afonso II
Reinado
Os primeiros anos do seu reinado foram marcados por violentos conflitos internos (1211-1216) entre Afonso II e as suas irmãs
Mafalda,
Teresa e
Sancha (a quem seu pai legara em testamento, sob o título de rainhas, a posse de alguns castelos no centro do país -
Montemor-o-Velho,
Seia e
Alenquer
-, com as respectivas vilas, termos, alcaidarias e rendimentos), numa
tentativa de centralizar o poder régio. Este conflito foi resolvido com
intervenção do papa Inocêncio III. O rei indemnizou as infantas com
muito dinheiro, a guarnição dos castelos foi confiada a cavaleiros
templários, mas era o rei que exercia as funções soberanas sobre as
terras e não as infantas como julgavam ter e que levou à guerra.
No seu reinado foram criadas as primeiras leis escritas e pela
primeira vez reunidas cortes com representantes do clero e nobreza, em
1211 na cidade de
Coimbra, na altura capital. Foram realizadas
inquirições
em 1220, inquéritos feitos por funcionários régios com vista a
determinar a situação jurídica das propriedades e em que se baseavam os
privilégios e imunidades dos proprietários. As
confirmações
validavam as doações e privilégios concedidos nos anteriores reinados,
após analisados os documentos comprovativos ou por mercê real. Todo o
seu reinado foi um combate constante contra as classes privilegiadas,
isto porque seu pai e avô deram grandes privilégios ao clero e nobreza e
Afonso II entendia que o poder real devia ser fortalecido.
O reinado de Afonso II caracterizou um novo estilo de governação,
contrário à tendência belicista dos seus antecessores. Afonso II não
contestou as suas fronteiras com
Galiza e
Leão, nem procurou a expansão para Sul (não obstante no seu reinado ter sido tomada aos
Mouros as cidades de
Alcácer do Sal,
Borba,
Vila Viçosa,
Veiros, em
1217, e, possivelmente também
Monforte e
Moura,
mas por iniciativa de um grupo de nobres liderados pelo bispo de
Lisboa), preferindo sim consolidar a estrutura económica e social do
país. O primeiro conjunto de leis portuguesas é de sua autoria e visam
principalmente temas como a propriedade privada, direito civil e
cunhagem de moeda. Foram ainda enviadas embaixadas a diversos países
europeus, com o objectivo de estabelecer tratados comerciais. Apesar de,
como já dissemos, não ter tido preocupações militares, enviou tropas
portuguesas que, ao lado de castelhanas, aragonesas e francesas,
combateram bravamente na célebre
batalha de Navas de Tolosa na defesa da
Península Ibérica contra os muçulmanos.
Outras reformas de Afonso II tocaram na relação da coroa Portuguesa
com o Papa. Com vista à obtenção do reconhecimento da independência de
Portugal,
Afonso Henriques, o
seu avô, foi obrigado a legislar vários privilégios para a Igreja. Anos
depois, estas medidas começaram a ser um peso para Portugal, que via a
Igreja desenvolver-se como um estado dentro do estado. Com a existência
de Portugal firmemente estabelecida, Afonso II procurou minar o poder
clerical dentro do país e aplicar parte das receitas das igrejas em
propósitos de utilidade nacional. Esta atitude deu origem a um conflito
diplomático entre o Papado e Portugal. Depois de ter sido
excomungado pelo
Papa Honório III,
Afonso II prometeu rectificar os seus erros contra a Igreja, mas morreu,
em 1223, excomungado, sem fazer nenhum esforço sério para mudar a sua
política.
Só após a resolução do conflito com a Igreja, logo nos primeiros meses de reinado do seu sucessor
Sancho II, pôde finalmente Afonso II descansar em paz no
Mosteiro de Alcobaça (a
Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça - foi o primeiro monarca a fazer da abadia
cisterciense o panteão real).
Diz-se que D. Afonso II possa ter morrido de
lepra (isso poderá ter justificado um dos seus cognomes,
O Gafo , bem como uma célebre e depreciativa frase dita por alguns elementos do povo:
Fora Gaffo!), mas a enorme gordura que o rei possuía teria sido a sua causa de morte.