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sábado, dezembro 14, 2019

Porque morreu tanta gente numa erupção na Nova Zelândia - notícia esclarecedora

O caso da White Island

Victor-Hugo Forjaz - Professor Catedrático Emérito de Vulcanologia

Nos Açores, terra vulcânica e geotérmica como a Nova Zelândia, os Planos de Emergência, salvo os de dois municípios de S. Miguel, constituem pouco mais do que peças decorativas de algumas gavetas.

1 A crosta terrestre anda agitada em diversas partes do mundo - não apenas a oeste da Ilha do Faial. Neste caso evidenciamos os recente e trágicos fenómenos de 9 de dezembro de 2019 ocorridos em White Island, na Nova Zelândia, um dos vulcões mais activos do planeta e área de grande procura geoturística (incorrectamente noticiada em jornais e TV’s como Ilha Branca).
Afora os 6 mortos confirmados, os 30 turistas internados (alguns em graves situações) e as dezenas de desaparecidos (que ou morreram ou sofreram graves ferimentos), a violenta erupção freática (reacção água/magma), do tipo “side blast” (impacto lateral) , excedeu a rotina eruptiva, no geral caracterizada por explosões subverticais cujos “comportamentos“ ou figurinos eram bem conhecidos quer dos guias das excursões quer do proprietário da pequena ilha (cerca de um quarto do Corvo). Seguiu -se uma explosão freática vertical que alcançou os 3.800 metros .

2 Quando a Professora Zilda França e eu lá fomos, numa missão científica, a ilha era estatal. Porém quando lá me desloquei uma segunda vez a ilha já era privada, ou seja, tinha sido vendida a um ricaço que a alterou para lucrativo negócio, muito maior do que a pobretana subida e espezinhamento oficialmente autorizado (!!) do precioso Piquinho da Ponta do Pico….
O novo proprietário já tinha construído um pontão de acostagem de embarcações dos grandes paquetes que se avizinhavam prudentemente da ilhota. A nossa embarcação era oficial pelo que acostou, não pagou soberanas taxas e colocou-se nas imediações, aguardando o regresso da equipa do Serviço Geológico de Auckland, capital da Ilha Norte da Nova Zelândia.

3 Observámos diversas pequenas erupções freáticas, recolheram-se amostras, os peritos locais mediram temperaturas e efectuaram diversos testes geofísicos (gravimetria, sismologia de detalhe, magnetismo, geoelectricidade, etc.) e recolhemo-nos a terra mais firme da Ilha Norte. Nos escritórios tomei contacto com toda a cuidadosa metodologia dos vulcanólogos neozelandeses e impressionou-me a estreita colaboração entre a universidade e os outros dois serviços estatais que seguiam White Island desde há muitos anos. Enfim, demostraram que, em vulcanologia, não devem existir exclusivos e que se deve alcançar a Verdade ao longo de trocas de opiniões e de aplicação de diversas técnicas .

4 Em 16 de setembro p.p.. os especialistas alertaram para sinais de incremento da explosividade de White Island bem como dos respectivos perigos. O proprietário da ilhota privada e os seus guias não seguiram os alertas pois apenas se preocupavam com os lucros dos passageiros dos vizinhos grandes navios de turismo.

White Island: é bem visível a destruição do bordo da cratera, por impacto lateral, da chaminé central para o bordo direito
  
No recente dia 9 de dezembro cerca de 50 pessoas, entre os 13 e os 72 anos de idade, confiantes na segurança do passeio, desembarcaram no pontão-cais e meteram-se terra adentro. Pelas 14.11 horas (tempo local ) desenlaçou-se o que os cientistas esperavam — uma tremenda erupção freática, resultante do contacto súbito de águas oceânicas com uma massa lávica (magmática) em ascensão. Foi um inferno - gente pelo ar, guias desorientados, cais quase destruído, embarcações tentando fugir, etc, etc. Conseguiu-se recolher 31 pessoas onde 27 exibiam queimaduras de 70% do corpo. Um segundo grupo desapareceu. A primeira ministra da Nova Zelândia considerou o desastre como uma emocionante tragédia .
  
5 Este nosso texto, porém, tem ainda outra finalidade, ou seja, sintetizar o desfecho além da procura de vivos e de mortos.
Assim, no dia seguinte ao desastre, a polícia neozelandesa decidiu apurar responsabilidades e as investigações serão em breve anunciadas.
Desse modo um determinado n.º de entidades será responsabilizada, desde a proteção civil Nacional à proteção civil dos municípios (mayors) e de seus planos e ensaios de emergência.
Um grande sarilho mas também um alerta para os Açores, terra vulcânica e geotérmica como a Nova Zelândia onde os Planos de Emergência, salvo os de dois municípios de S. Miguel (Ponta Delgada e Vila Franca do Campo), constituem peças decorativas de algumas gavetas e onde a qualidade é medida pelo peso das páginas e dos mapas anexos!
Medite-se na forma como o faz o gestor da presente crise sísmica a oeste do Faial, deixando a população desinformada e sozinha. As geotermias de S.Miguel e da Terceira são outros segredos sem acesso a peritos que os desejem (apenas manusear) com o pretexto de que se trata de empresa privada… E o geólogo director-técnico reside em Lisboa! Oremos pelo futuro…

Novidades vulcanológicas dos Açores

Nova ilha poderá estar a surgir entre Faial e São Jorge
 
  
O vulcanólogo Victor Hugo Forjaz disse que uma nova ilha poderá surgir nos Açores entre as ilhas do Faial e São Jorge, na sequência de “movimentos ascendentes” que se têm vindo a registar no mar. 

“Pelo tipo de sismo, pela cadência, pela periodicidade, pela energia Richter e repercussões nas ilhas vizinhas, que são Faial e São Jorge e, por vezes, Pico, suspeita-se que há movimentos ascendentes no fundo do mar, sendo a evolução natural o aparecimento de uma ilha”, declara o presidente do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores.
O vulcanólogo refere que se têm vindo a registar “crises sucessivas”, ao longo dos anos, no arquipélago, com “intervalos de dois anos”, e o surgimento de uma nova ilha “não é nada de extraordinário porque as ilhas são ativas e condensam movimentos tectónicos, seguidos de vulcânicos”.
Para o antigo docente da Universidade dos Açores, o fenómeno seria “melhor seguido” com um levantamento batimétrico e com recurso a um ROV, um veículo submarino operado de forma remota, visando apurar se há fissuras, deslocamentos e alterações topográficas.
Segundo Victor Hugo Forjaz, a Marinha portuguesa “já deveria ter feito um levantamento no sentido de se perceber melhor os movimentos do fundo do mar naquela zona”, sublinhando que “não há perigo de maior” para a ilha do Faial, uma vez que a zona fica “bastante afastada, cerca de 25 a 30 quilómetros”.
O especialista recorda que nos Açores já emergiram ilhas que depois voltaram a desaparecer, exemplificando com o banco D. João de Castro, ao largo da ilha Terceira, que “esteve fora do mar durante um certo tempo”, tendo “falhas geológicas provocado o seu abatimento”, sendo previsível que volte a emergir.
O vulcanólogo defende a instalação nos Açores de OBS, que são sismógrafos submarinos, que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera possui, ressalvando que houve uma equipa estrangeira que já operou na região com este equipamento, tendo recolhido dados “muito interessantes” a que a Governo Regional e a Universidade dos Açores não têm acesso.
Para Victor Hugo Forjaz, a existência dos OBS seria o “tira-teimas entre os que acreditam que há movimentos verticais importantes e os que os negam”.
A Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores tem vindo a registar desde novembro centenas de sismos, alguns dos quais sentidos pela população, numa zona localizada aproximadamente entre os 25 e os 30 quilómetros a oeste da freguesia de Capelo, na ilha do Faial.

domingo, novembro 23, 2014

A propósito do Dia das Reduções das Catástrofes Naturais...


DESASTRES NATURAIS


Trancrevemos um artigo de opinião de Victor Hugo Forjaz, Professor de Vulcanologia, escrito a propósito do dia 13 de outubro, Dia dos Desastres Naturais: 
1- Ao longo de cada ano existe uma já longa lista de "dias comemorativos", desde o Dia Mundial das Zonas Húmidas, a 2 de fevereiro, ao Dia Internacional das Montanhas, a 11 de dezembro, passando pelo Dia Internacional da Literacia, a 8 de setembro. O Dia dos Desastres Naturais deveria ser o mais importante dos Açores, dado o galopante analfabetismo que grassa por  todas  as  ilhas, presentemente contaminadas por um ebolante surto de  futebol e de pirosas  "casas dos segredos", habitadas por gente dos mais humilhantes habitats. Até porque "analfabetismo" é um conceito cada vez mais alargado, mais abrangente - já não basta saber ler e escrever, como no tempo do Doutor Salazar… Nestas ilhas as variantes de analfabetismo assustam. O analfabetismo politico - acentuadamente  esquecido e desleixado - é uma dessa chagas açorianas  e pode  explicar a vergonhosa percentagem de abstenção em actos eleitorais fulcrais, realidade a que os partidos pouco se dedicam ou aplicam receita. Porém o dia mundial  comemorativo mais curioso é o que se marcou para 13 de outubro, porque é móvel como certas festas religiosas, ou seja, deve ser evocado num combinado dia  de outubro, chamando-se Dia dos Desastres Naturais. Como a lista anual de  "dias"  vai engrossando ano após ano, os dias nacionais, europeus, internacionais e mundiais banalizaram-se e deixaram de agregar a pedagogia que os  aureolava. Enfim - é a vida! (como dizia o tal senhor).
2- No caso dos Açores os dias comemorativos são poucos, secos de ideias e  pouco credíveis. Salvo os que, muito bem aceites, incluam ementas pesadíssimas com coentradas sopinhas  de pão (as afamadas sopas do banco bom), couvinhas do quintal, roxas e perfurantes vinhaças de tintol  americano e arroz doce peganhento de canela  - tudo de borla e repetido. Por esse motivo, com  a crise eurótica (de euros) por que passamos (nem todos…), os dias comemorativos andam muito esquecidos. Quem quer comemorar, à escala de arquipélago, para que todos se sintam juntos e menos isolados, o Dia da Poesia, o Dia do Livro, o Dia do Clima, o Dia Nacional da Água, o Dia do Animal, o Dia do Voluntário? Este  último - um dos mais importantes - é uma aflição porque vivemos em terra onde o voluntariado cada vez mais escasseia ou se deturpa. Desgraçados os voluntários que nos hospitais, nos grupos de auxílio a pobres e desprotegidos ainda se amarram, por espírito de solidariedade, a causas! Nestas ilhas as causas são cada vez menores e  mais perseguidas! Mas são cada vez mais numerosos  os que exigem que a Região-Estado tudo deve  fazer… e pagar. ´
Mas - Como  o tema de hoje é específico, passemos ao dito - porque interessa comemorar as  Reduções dos Desastres Naturais?
3 -  Há muitos anos  que me dedico a esse tema. Deambulei por esse mundo dos desastres sísmicos, vulcânicos e de deslizamentos (de terras, a que os geossabichões da ilha  chamam agora de "movimentos de massa", como se fossem um banco!). Em 1984 até fui frequentar um curso internacional  do US Geological Survey, em Denver - Colorado, com uma geofísica do ex-INMG, que felizmente desapareceu.Uma vez mais integrei uma equipa científica de apoio ao vulcão Santa Helena  e aprendi  actuações muito úteis. Mais tarde estive em Disaster City, no Texas, onde participei em diversas operações de socorro em simulacro sísmico e vulcânico. Também estive em Itália a aprender a arrefecer lavas do Etna e a encaminhar a fase fluída das lavas vermelhas para topografias adequadas. Para meu treino pessoal, incluindo no Japão, deliciei-me com esses conhecimentos. Para a Região a minha evidente experiência pouco serviu. porque entrei na lista negra do Dr. Ricardo Barros, eterno e verdadeiro chefe da Protecção Civil dos Açores e dá em diante - kaput! - deixei a Universidade aos 70 anos sem um simples adeus do reitor De Menezes e também não disseram good buy, até por educação de berço ou mera e súbita delicadeza, os  inefáveis  docentes que meti  no Departamento de Geociências quando de mim precisaram. Alguns, há anos, eram  apenas "militantes" das ruas da cidade, passeantes das calçadas de basalto polido. Agora são importantíssimos  políticos da governança. Não estou arrependido dessas  bondades - apenas concluí que não soube escolher melhor. Amen!
4- Bem gostaria, neste dia comemorativo, de elogiar  as diversas equipas anti-desastres naturais do arquipélago. Mas não o devo nem posso, apenas para ser simpático. Os nossos bombeiros são bestiais? São - mas precisam de experiência em coisas que  irão surgir. Assim,  de facto, sendo a Islândia  tão aparentada e tão próxima, a poucas horas de voo e estando a vulcão fissural Bardarbunga em plena actividade, durante meses veranis, quem, dirigente (da Protecção Civil), se deslocou, que se saiba, aquela área? Para observar, para aprender, para conhecer materiais, estratégias  e até erros? A actuação de bombeiros, de forças de segurança e de militares é essencial em  todos os cenários de desastre  natural.  No cenário sísmico, um dos agentes  muito perturbadores, com as poeiras e o caos  destrutivo, é a chuva. No cenário vulcânico, totalmente diferente, os agentes parasitas e incómodos são bem maiores, caso de gases, de cinzas, de ventos, de enxurradas  (além da sismicidade acompanhante). O que sabem as Protecções Civis Regional e Municipais sobre o Bardarbunga da Islândia ("gémeo" do Complexo dos Picos de S. Miguel, dos Sistemas Fissurais da Terceira, da Graciosa, do Pico, de S. Jorge e do Faial)? O que aparece no youtube ou são remetidos pelos amigos?  E sobre as mortes  recentes  do  Otake do Japão, com similitudes com o Vulcão do Fogo de S. Miguel?
O Dia das Reduções das Catástrofes Naturais não se destina a meter medo. Destina-se também a advertir. E os geólogos, cada um com a respectivas especialidade, competência  e entusiasmo, não devem prescindir do seu papel social, afastando as teias do sensacionalismo e das querelas pessoais. E os senhores do Governo, já que gastam tanto dinheiro em festivais e festivalecos, sem retorno de qualquer tipo, pelo menos que apoiem mais a prevenção de desastres  naturais. Incluindo a tal cultura de protecção civil, tão badalada  e útil.  Não se zanguem com este reformadinho...
        
Amen!
Victor Hugo Forjaz, Geólogo  - vforjazovga@gmail.com

quinta-feira, setembro 27, 2012

Há 55 anos o Vulcão dos Capelinhos teve a sua última erupção

Vista do Vulcão dos Capelinhos, do Cais Comprido - o farol marca o antigo limite da terra firme antes da erupção (clicar para aumentar)

O Vulcão dos Capelinhos, também referido na literatura vulcanológica como Mistério dos Capelinhos, localiza-se na Ponta dos Capelinhos, freguesia do Capelo, na Ilha do Faial, nos Açores. Constitui-se em uma das maiores atrações turísticas do Atlântico, nomeadamente dos Açores, pela singularidade de sua beleza paisagística, de génese muito recente e quase virgem.
Geologicamente insere-se no complexo vulcânico do Capelo, constituído por cerca de 20 cones de escórias e respectivos derrames lávicos, ao longo de um alinhamento vulcano-tectónico de orientação geral WNW-ESE. O nome Capelinhos deveu-se à existência de dois ilhéus chamados de "Ilhéus dos Capelinhos".
O vulcão manteve-se em actividade por 13 meses, entre 27 de setembro de 1957 e 24 de outubro de 1958. A erupção dos Capelinhos, provavelmente terá sido uma sobreposição de duas erupções distintas, uma começada a 27 de setembro de 1957, e a segunda, a 14 de maio de 1958. A partir de 25 de outubro, o vulcão entrou em fase de repouso. Do ponto de vista vulcanológico, deverá ser considerado um vulcão potencialmente activo.

Um marco na vulcanologia
O vulcão dos Capelinhos é reconhecidamente um marco na vulcanologia mundial. "Foi uma erupção submarina devidamente observada, documentada e estudada, desde do início até ao fim. Apareceu em condições privilegiadas, junto de uma ilha habitada, com estrada, farol e telefones privativos." - comenta o vulcanólogo Doutor Victor Hugo Forjaz. Com 16 anos, acompanhado de seu pai, Dr. António Lacerda Forjaz, presidente em exercício da Junta Geral do Distrito da Horta, assistiu ao início da erupção. Este tornou-se afectivamente no "seu vulcão".
Foi o Eng. Frederico Machado, Director das Obras Públicas, auxiliado pelo Eng. João do Nascimento, e o topógrafo António Denis, o pioneiro na sua investigação científica. O Director do Observatório de Angra, Tenente-coronel José Agostinho, sobrevoou a erupção. O Observatório Príncipe Alberto do Mónaco, chefiado por Bernardo Almada, emitiu diversos boletins sismológicos de grande valor.

Vulcão dos Capelinhos, Centro Interpretativo do Vulcão (museu subterrâneo do vulcão)
    
Próximo situava-se o Museu Geológico do Vulcão, inaugurado a 24 de março de 1964, que documentava toda a sua atividade eruptiva e cujo acervo passou para o novo Centro Interpretativo do Vulcão. A área em torno do vulcão, classificada como paisagem protegida de elevado interesse geológico e biológico, integra a Rede Natura 2000. O Farol dos Capelinhos foi transformado num miradouro, e junto/por baixo deste, funciona o Centro Interpretativo do Vulcão, que foi inaugurado em maio de 2008.
Em resultado da erupção, entre os meses de maio a outubro de 1958, a área total da ilha (de 171,42 km²) aumentou em cerca de 2,50 km² (para 173,02 km²). Actualmente, essa área foi reduzida para cerca de metade (aproximadamente 172,42 km²) devido à natureza pouco consolidada das rochas e à acção erosiva das ondas. A escalada do vulcão apresenta alguns riscos, devendo por isso ser efectuada nos trilhos indicados e sob orientação de um guia credenciado. Convém mencionar que o respiradouro do Vulcão, situado no seu Cabeço Norte, liberta vapor de água e gases tóxicos com temperaturas na ordem dos 180 a 200 °C.

Erupção capeliniana
A designação erupção vulcânica tipo capeliniana, que por direito natural era sua, não foi prontamente patenteada pelo Eng. Frederico Machado. Em 1963, no Sul da Islândia, surgiu uma erupção idêntica - o Vulcão Surtsey. Os vulcanólogos ingleses rapidamente adoptaram terminologia surtseyana, quando na verdade deveria ter sido capeliniana.


Emigração faialense
A crise sísmica associada à erupção vulcânica e a queda de cinzas e materiais de projecção originaram a destruição generalizada das habitações, campos agrícolas e pastagens nas freguesias do Capelo e da Praia do Norte. Não houve perdas humanas a registar. Beneficiando da solidariedade demonstrada pelos EUA, milhares de sinistrados faialenses - e não poucos açorianos de outras proveniências - aproveitaram a quota especial de emigração concedida (por persistente diligência do congressista estadual Joseph Perry Júnior e dos Senadores federais John O. Pastore, de Rhode Island, e John F. Kennedy, de Massachusetts, que pouco depois seria eleito Presidente dos EUA) e procuraram refazer as suas vidas naquele país. Foi a 2 de setembro de 1958, aprovado o "Azorean Refugee Act" autorizando a concessão de 1.500 vistos. A quebra demográfica na ordem de cerca de 50%, contribuiu para uma melhoria de vida na população residente, a nível de mais oportunidades de trabalho e melhoria dos salários.


Crise sísmica e erupção

Primeira fase eruptiva
De 16 a 27 de setembro de 1957, registou-se uma crise sísmica na ilha com mais de 200 sismos, de intensidade não superior a grau V da Escala de Mercalli. No dia 23 de setembro de 1957, a água do mar começou a fervilhar. Três dias depois, a actividade aumentou intensamente havendo emissão de jatos negros de cinzas vulcânicas com cerca de 1 000 metros de altura (atingindo a altitude máxima de 1 400 metros) e uma nuvem de vapor de água que subia por vezes a mais de 4 000 metros.
A 27 de setembro, teve início pelas 06.45 horas uma erupção submarina, a 300 metros da Ponta dos Capelinhos (ou seja, a 100 metros dos Ilhéus dos Capelinhos). A partir de 13 de outubro, a emissão de gases e as explosões de piroclastos, ainda que violentas, passaram a ser menos frequentes. Estas foram rapidamente sucedidas por explosões violentas, atirando bombas de lava e grandes quantidade de cinzas para o ar, enquanto que, por baixo, correntes de lava escorriam para o mar. A erupção continuou intensa até 29 de outubro, com constantes chuvas de cinzas sobre o Faial que destruíram culturas agrícolas e forçaram a evacuação das populações das zonas mais próximas do vulcão.
A erupção evoluiu formando primeiro uma pequena ilha a 10 de outubro, chamada de "Ilha Nova" (ou "Ilha dos Capelinhos", e ainda, "Ilha do Espírito Santo"), com 600 metros de diâmetro e 30 metros de altura, ficando com a cratera aberta ao oceano. Dada a temperatura, a emissão de materiais revelou um tom acinzentado. A ilha atingiria por fim os 800 metros de diâmetro e 99 metros de altura. Esta primeira pequena ilha afundou-se na cratera, no dia 29 de outubro.
Munido da sua câmara de filmar, Carlos Tudela e Vasco Hogan Teves, repórteres da RTP, desembarcaram a 23 de outubro na ilha recém-nascida, na vertente do vulcão activo. Acompanhado do jornalista Urbano Carrasco, do Diário Popular, arriscaram as suas vidas num pequeno barco a remos (movido por Carlos Raulino Peixoto) para colocar a bandeira nacional na "Ilha Nova".

Segunda fase eruptiva
A 4 de novembro de 1957, a erupção vulcânica recomeça e rapidamente se formou uma nova ilha. Com a formação de um istmo, no dia 12 de novembro, a ilha ligou-se à ilha do Faial. A actividade eruptiva aumentou progressivamente, atingindo o seu máximo na primeira quinzena de dezembro, surgindo um segundo cone vulcânico. A 16 de dezembro, depois de uma noite de chuvas torrenciais e abundante queda de cinzas, cessou a actividade explosiva e começou a efusão de lava incandescente, a que se juntaram, três dias depois, as explosões com jactos de cinzas e muitos blocos de pedra. Precisamente no dia 29 de dezembro, a actividade eruptiva conheceu uma nova e breve pausa.

Terceira fase eruptiva
De janeiro a abril de 1958, reapareceram jatos pontiagudos de cinzas, geralmente acompanhados de fumos brancos ou acastanhados. Em março, os Ilhéus dos Capelinhos já haviam desaparecido definitivamente sob manto das cinzas e areias, tendo estas formado dois areais de apreciável dimensão, chegando a atingir vários metros de espessura junto ao farol e nas áreas adjacentes, o que levou ao soterramento de casas e à ruína dos telhados de muitas habitações próximas, ainda hoje visíveis.
No início de 1958, John Scofield, repórter da revista National Geographic, e o famoso fotógrafo Robert F. Sisson, passaram um mês a documentar as várias fases da erupção.
Depois da violenta crise sísmica na noite de 12 para 13 de maio, em que houve mais de 450 sismos, a erupção dos Capelinhos sofreu reajustamentos profundos no edifício vulcânico e na estrutura tectónica. A partir de 14 de maio, a actividade passou ao tipo estromboliano, com fortes ruídos, acompanhados de ondas infra-sónicas que fizeram estremecer portas e janelas em toda a ilha e, por vezes, nas ilhas próximas, e com a projecção de fragmentos de lava incandescente que iam a mais de 500 metros de altura. Também nesse dia, surgiram fumarolas no fundo da Caldeira (vulcão central da ilha), que emitiam vapor de água com cheiro a enxofre e com lama em ebulição.
A erupção constituiu "um espectáculo grandioso", um misto de belo e horrendo que jamais será esquecido por quem o presenciou. É legado transmitido para as gerações seguintes. A erupção prosseguiu por mais uns meses, consistindo em explosões moderadas do tipo estromboliano com várias correntes de lava, a última das quais a 21 de outubro, sendo observado no dia 24 de outubro, pela última vez a emissão de fragmentos incandescentes.