Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho (
Lourenço Marques, atual Maputo,
31 de agosto de
1936) é um ex-militar
português. Foi um estratega do
25 de abril.
Biografia
Único filho de três de Eduardo Saraiva de Carvalho (Lisboa, 9 de agosto de 1912
- 29 de setembro de 1969), funcionário dos
CTT em Lourenço Marques, e de sua mulher (com quem casou em Lourenço Marques, a 7 de julho de 1934) Fernanda Áurea Pegado Romão (
Goa, 30 de novembro de 1917 - Lisboa, 1981), ainda com alguma ascendência
goesa católica.
Foi
Capitão de
Artilharia em
Angola, de
1961 a
1963.
Em
1963 foi nomeado instrutor da
Legião Portuguesa, milícia marcadamente fascista e conhecida pelo apoio que prestava à
PIDE.
Entre
1964 até cerca de
1968 foi professor na "Escola Central de Sargentos", em
Águeda.
Voltou à
África para combater na
Guiné, entre
1970 e
1973, sendo um dos principais dinamizadores do movimento de contestação ao Decreto Lei nº 353/73, que deu origem ao
Movimento dos Capitães e ao
MFA.
Apesar do seu passado de colaborador com o regime, viria a ser um dos
Comandantes Militares da Revolução de 25 de abril de 1974, era o
responsável pelo sector operacional da Comissão Coordenadora do
MFA e foi ele quem dirigiu as operações do
25 de abril, a partir do posto de comando clandestino instalado no Quartel da
Pontinha, após o que foi graduado em
Brigadeiro, e nomeado Comandante-Adjunto do
COPCON (Comando Operacional do Continente), sob a dependência directa do
General Francisco da Costa Gomes, então
Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, e
Comandante da
Região Militar de Lisboa a
13 de julho de
1974; em março de 1975 foi graduado em
General de Divisão e passou a exercer na prática o comando efectivo do COPCON desde setembro de 1974, tendo passado a ser comandante do
COPCON a 23 de junho de 1975. Foi afastado destes cargos após os acontecimentos de 25 de novembro de 1975, no dia seguinte, por realizar de ânimo leve uma série de ordens de prisão e de maus tratos de elementos moderados.
Fez parte do
Conselho da Revolução desde que este foi criado, a
14 de março de
1975, até dezembro de 1975. A partir de 30 de julho do mesmo ano integra, com
Costa Gomes e
Vasco Gonçalves, o
Directório, estrutura política de cúpula durante o
V Governos Provisório
na qual os restantes membros do Conselho da Revolução delegaram
temporariamente os seus poderes (mas sem abandonarem o exercício das
suas funções).
Conotado com a ala mais radical do
MFA, viria a ser preso em consequência dos acontecimentos do
25 de novembro. Solto três meses mais tarde, foi candidato às eleições presidenciais de
1976, onde obteve 16,5% dos votos, obtendo a maior votação no
Distrito de Setúbal, com 41,8%.
Em 1980 cria o partido
Força de Unidade Popular (FUP) e volta a concorrer às
eleições presidenciais de 1980.
Foi
Medalha de 2.ª Classe de Mérito Militar e
Medalha de Prata de Comportamento Exemplar. A 25 de novembro de 1983 recebeu a Grã-Cruz da
Ordem da Liberdade.
Na
década de 1980 foi acusado de liderar a organização terrorista
FP-25, responsável pelo assassinato de 17 pessoas nos
anos 80. Foi detido em 1984.
Em
1985 foi julgado e condenado em tribunal pelo seu papel na liderança das
FP-25
de abril. Após ter apresentado recurso da sentença condenatória, ficou
em prisão preventiva cinco anos, passando a aguardar julgamento em
liberdade provisória. Foi despromovido a
Tenente-Coronel.
Mais tarde acusou o PCP de ter estado por trás da sua detenção e de
ter feito com que ficasse em prisão preventiva tanto tempo. Acusou ainda
alguns nomes então na
Polícia Judiciária, como a Directora do
Departamento Central de Investigação e Acção Penal,
Cândida Almeida, então na PJ, de, devido à militância no PCP, ter estado por trás da sua detenção
.
Em
1996 a
Assembleia da República aprovou o indulto, seguido de uma
amnistia para os presos do caso
FP-25.
Publicou o livro
Alvorada em Abril, em edição da
Livraria Bertrand.
Com
Julie Sergeant protagoniza um clip erótico, no programa
Sex Appeal da
SIC.
Em
2011, admitiu que se soubesse como o país ia ficar, não teria realizado o
25 de abril. Otelo lamenta as “enormes diferenças de carácter salarial” que existem na sociedade portuguesa:
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Não posso aceitar essas diferenças. A mim,
chocam-me. Então e os outros? Os que se levantam às 05:00 para ir
trabalhar na fábrica e na lavoura e chegam ao fim do mês com uma miséria
de ordenado? |
- Otelo Saraiva de Carvalho
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Para este Capitão de Abril, o que mais o desilude são:
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questões que considerava muito importantes no programa político do Movimento das Forças Armadas (MFA) não terem sido cumpridas. |
- Otelo Saraiva de Carvalho
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Uma delas, que considera "crucial", é
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a criação de um sistema que elevasse
rapidamente o nível social, económico e cultural de todo um povo que
viveu 48 anos debaixo de uma ditadura. Este povo, que viveu 48 anos sob
uma ditadura militar e fascista merecia mais do que dois milhões de
portugueses a viverem em estado de pobreza." |
- Otelo Saraiva de Carvalho
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Esses milhões, sublinhou, significa que "não foram alcançados os objectivos" do
25 de abril.
Vida pessoal
Casou em
Lisboa,
São João de Brito, na
Igreja de São João de Brito, a
5 de novembro de 1960, com Maria Dina Afonso Alambre (Lourenço Marques, 6
de junho de 1936), filha de Bernardino Mateus Alambre e de sua mulher
Aida de Jesus Afonso, e da qual teve duas filhas e um filho e duas
netas.
Quando esteve preso na cadeia de Caxias, no início dos anos 80,
iniciou um relacionamento (que ainda mantém, em conjunto com o casamento anteriormente citado) com Maria Filomena Morais, uma funcionária
prisional divorciada.
Ideologicamente, Otelo é marxista e defensor da chamada
democracia directa.