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quarta-feira, outubro 26, 2011

Mais poesia de Murillo Araújo em forma de música




Toada do negro do banzo
(Letra de Murillo Araújo e música de Heckel Tavares)

Negro -
quando cava, quando cansa,
quando pula, quando tomba,
quando grita, quando dança,
quando brinca, quando zomba
sente gana de chorá...


Negro -
quando nasce, quando cresce,
quando luta, quando corre,
quando sobe, quando desce,
quando véve, quando morre
negro pena sem pará...


Negro, aponta o ponto -
ai Umbanda!
ginga tonto, tonto -
ai Umbanda!
Negro aponta: Oôu!


Negra nua, nua -
ai Umbanda!
toma a bença à lua -
ai Umbanda!
samba nua... Oôu!


Xangô!
Meu céu escureceu.
Exú me despachou...
Calunga me prendeu...


Xangô! Xangô! Xangô!
Meu rancho se acabou...
Meu reino - mar levou...
Meu bem morreu... morreu.


Negro -
negro chora, negro samba
na macumba do quilombo,
com malafo pra moamba
dando bumba no ribombo!
do urucungo e do ganzá!


Negro -
cai no congo, cai no congo,
dos mirongas ao muganga,
todo o bando nesse jongo...
roda, negro — roda a tanga
chora banzo no gongá.


Negro aponta o ponto -
ai Umbanda!
ginga tonto, tonto -
ai Umbanda!
Negro aponta: Oôu!


Se Xangô chegasse...
ai Umbanda!
E me carregasse -
ai Umbanda!
Coisa boa... Oôu!


Lúcia de Vasconcellos - soprano
Luiz Néri Pfützenreuter - piano


NOTA: para os puristas, a versão original, de Heckel Tavares sobre o poema de Murillo Araújo, cantada por Osny Silva:


Murillo Araújo - Funeral d'um Rei Nagô




Funeral d'um Rei Nagô (Canto do Alufá)
(Letra de Murillo Araújo e música de Hekel Tavares)


É o Rei! Saravah! Nagô
É o Rei nosso Rei!
Nosso Rei...
Que entre os mortos reinou.


Vai só... Lá longe...
No sem fim. Vai ao País da Lua
além do mar do sono,
e há de vencer o céu,


pois quem o vê recua
e lá sentar num trono
e ser um Deus assim


O Rei o rei Nagô
lá vai na luz sereno
em busca de outro reino
entre as estrelas longe,
onde o Olurum chamou!


É o Rei! Venceu a dor!
E entre agogôs zoando archotes,
pachorôs babalaôs rezando
o Rei vai vencedor!


Lá vai...
nos deixou...
Ai de nós
NAGÔ

Juares de Mira - cantor
Fabio Cardoso - pianista

O poeta Murillo Araújo nasceu há 117 anos

(imagem daqui)

Murillo Araújo (Serro, 26 de outubro de 1894 - Rio de Janeiro, 1 de agosto de 1980) foi um poeta brasileiro.

Biografia
Murillo Araújo mudou-se em 1907 para o Rio de Janeiro e ingressou como interno no Colégio Pedro II, onde mais tarde seria professor de desenho. Embora se formasse em direito (1921), pouco exerceu dessa profissão, dedicando-se ao jornalismo.
Murillo Araújo foi um dos expoentes do Modernismo, movimento que foi um dos pioneiros ao publicar, em 1917, o livro Carrilhões, cinco anos antes da Semana de Arte Moderna. A Enciclopédia de Literatura Brasileira (COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J.Galante de. Modernismo. Global Editora, São Paulo, 2001, 2a. edição, páginas 1083-1084) regista: "Apoiado nos estudos de Mário da Silva Brito, publicados em 'Anhembí', oferece Antônio Soares Amora a seguinte sucessão de momentos significativos anteriores à Semana de Arte Moderna de 1922, e já no rumo deliberado da renovação: (...) "...ainda em 1917 vários poetas novos começaram a impor-se:" (...) "...Murillo Araújo, 'Carrilhões'..."
Como índice da modernidade de Murillo Araújo, desponta o fato do seu poema Macumba, ter recebido, em 1930, aclamadora alusão na conferência "Poesia Moderníssima do Brasil", proferida no curso de férias da Faculdade de Letras de Coimbra, pelo professor da Cadeira de Estudos Brasileiros, Dr. Manoel de Souza Pinto.
Seguiram-se a este livro A galera (escrito em 1915, mas publicado anos depois), Árias de muito longe (1921), A cidade de ouro (1927), A iluminação da vida (1927), A estrela azul (1940) - esta obra foi traduzida pelo poeta uruguaio Gaston Figuera para o espanhol com o nome La Estrela Azul e publicada em Nova York (EUA) -, As sete cores do céu (1941), A escadaria acesa (1941), O palhacinho quebrado (1946), A luz perdida (1952) e O candelabro eterno (1955). A obra em prosa limita-se a quatro livros: A arte do poeta (1944), Ontem ao luar (1951), uma biografia do compositor Catulo da Paixão Cearense, Aconteceu em nossa terra (pequenos casos de grandes homens) e Quadrantes do Modernismo Brasileiro (1958). Murillo Araújo também traduziu o livro O inspector geral, do escritor russo Nikolai Gogol (Sorotchintsi, 1809Moscovo, 1852).
Em 1960, a Editora Pongetti lançou, em três volumes, toda a sua obra poética, com o título Poemas Completos de Murillo Araújo.

O Grupo Festa
Ele foi integrante do grupo Festa - que contou com a participação de Cecília Meireles, José Cândido de Andrade Muricy, Adonias Filho e Tasso da Silveira.
O poeta foi um dos artistas do modernismo mais influenciado pelo Simbolismo. O grupo, que editava a revista de mesmo nome, integrava que a Corrente Espiritualista do Modernismo. O poeta era também famoso frequentador dos sabadoyles, organizados pelo bibliófilo Plínio Doyle.
Dentre os poetas que o influenciaram estão Walt Whitman - poeta norte-americano (West Hills, 1819 - Camden, 1892) -, António Nobre - poeta português (Porto, 1867 - Foz do Douro, 1900), considerado a maior figura do simbolismo em Portugal - e Émile Verhaeren - poeta belga de expressão francesa (Saint-Amands, 1855 - Rouen, 1916). Autor de contos, peças de teatro e crítica literária, além de poesia, evoluiu do naturalismo para o misticismo. Em 1971, ele recebeu o Prémio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra

Murillo e a música
Parte de suas poesias chegou a ser musicada. O compositor Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 1887 - Rio de Janeiro, 1959) compôs três obras com letras dele, Canção da Imprensa (1940), Juramento e Canção de Cristal (1955).
O poeta foi musicado também por Francisco Braga (Rio de Janeiro, 1868 - idem, 1945), o autor do Hino à Bandeira, na música Moreninha, Eleazar de Carvalho (Igatu - CE, 1912 - São Paulo, 1996) - em Canto a Porto Seguro -, Luciano Gallet (Rio de Janeiro, 1893 - idem, 1931) - em Interpretações -, Heckel Tavares (Satuba, AL, 1896 - Rio de Janeiro, 1969)- Banzo, Oração do Guerreiro, Funeral d´um rei Nagô, Três canções de Natal e Anhanguera; e Fernando Lobo - que adotou o pseudónimo de Marcelo Tupinambá, compositor popular brasileiro (Tietê, SP, 1892 -- São Paulo, 1953) - Treva Noturna.
Murillo Araújo compôs Canto Heróico do Liceu de Artes e Ofícios e Canta, Canta, Passarinho, cujo arranjo é de Vila-Lobos.


Sonho de Herói


Com um galho de bambu verde
e dois ramos de palmeira
eu hei de fazer um dia o meu cavalo – com asas!
Subirei nele, com vento, lá bem alto,
de carreira,
por sobre o arvoredo e as casas.

Voarei, roçando o mato,
as copas em flor das árvores,
como se cruzasse o mar…
e até sobre o mar de fato
passarei nas nuvens pálidas
muito acima das montanhas, das cidades, das cachoeiras,
mais alto que a chuva, no ar!

E irei às estrelas,
ilhas dos rios de além,
ilhas de pedras divinas,
de ribeiras diamantinas
com palmas, conchas, coquinhos nas suas praias também…
praias de pérola e de ouro
onde nunca foi ninguém…


Murillo Araujo

segunda-feira, agosto 01, 2011

O poeta brasileiro Murillo Araujo morreu há 31 anos

(imagem daqui)




Canção de Cristal 

Onde a menina, a inocência
Que acendia a terra e os mares
O sorriso cuja essência
Enchia de azul os ares

Fugiam, se aparecia
As sombras e os noitibós
Era a manhã de alegria
Com rios claros na voz

Era o que ninguém mais ninguém era

Mudava toda penumbra
nesses jardins de quimera
Que o sol cantante deslumbra

Em sua presença havia
Rosas, orvalho, esplendor...
Era a manhã de alegria
Toda em pássaros de amor.

Auras leves, sons de sino, ouro
E lilás pelos vales
Tudo trouxe ao meu destino
Mudando em luz os meus males

Trouxe o milagre do dia
Para que estrela emigrou?
Era a manhã de alegria
Por que, mal veio a lua, acabou?

Libreto de Murilo Araujo, Música de Heitor Vila-Lobos - 1950