Estátua do padre Manuel da Nóbrega em Salvador
Vida
Filho do
desembargador Baltasar da Nóbrega e sobrinho de um chanceler-mor do Reino, Manuel da Nóbrega estudou durante quatro anos na
Universidade de Salamanca e transferiu-se para a
Universidade de Coimbra, bacharelando-se em
direito canónico e
filosofia em
1541. Recebeu o grau de bacharel em cânones das mãos do doutor
Martim de Azpilcueta Navarro, tio do padre
João de Azpilcueta Navarro,
e seu mestre do 5º ano, que, dele, diria: "O
doutíssimo padre Manuel da
Nóbrega, a quem não há muito conferimos os graus universitários,
ilustre pela sua ciência virtude e linhagem". Estimulado pelo mestre,
chegou a se inscrever para Lente (professor) da Universidade, fez prova
escrita mas, na leitura do trabalho ao auditório, percebeu-se ser
gago.
O defeito na fala impediu-o de ser nomeado professor da Universidade.
Mais tarde, prestou concurso outra vez e outra vez não obteve a cátedra,
por causa da gaguez.
Aos 27 anos, foi ordenado pela
Companhia de Jesus, em 1544, fazendo-se pregador. Viajou por Portugal,
Galiza e o resto da
Espanha na pregação do
Evangelho. Surpreendido com o convite do rei
D. João III, embarcou na armada de
Tomé de Sousa (1549). Chegaram à
Bahia em 29 de março de 1549 e, celebrada a primeira
missa,
ter-se-ia voltado para os seus auxiliares e dito: "Esta terra é nossa
empresa". Foi dele amigo e conselheiro, como também o foi de
Mem de Sá, a serviço da Coroa, com a missão de dedicar-se à
catequese dos
indígenas na
colonização do Brasil. Chegaram com ele os jesuítas
Leonardo Nunes,
João de Azpilcueta Navarro,
António Pires e os irmãos jesuítas
Vicente Rodrigues e
Diogo Jácome.
Assim que aportou, deu início ao trabalho de
catequese dos
indígenas, desenvolvendo uma intensa campanha contra a
antropofagia existente entre os nativos e, ao mesmo tempo, combatendo a sua exploração pelo
homem branco.
Participou da fundação das cidades de
Salvador e do
Rio de Janeiro e também da luta contra os
franceses como conselheiro de
Mem de Sá. O seu maior mérito, além de constantes viagens por toda a
costa, de
São Vicente a
Pernambuco, foi estimular a conquista do interior, ultrapassando e penetrando além da
Serra do Mar.
Foi o primeiro a dar o exemplo, ao subir ao planalto de Piratininga, para fundar a vila de
São Paulo
que viria a ser o ponto de penetração para o sertão e de expansão do
território brasileiro. A pequena aldeia dos jesuítas tornar-se-ia a mais
populosa cidade do
hemisfério sul.
Segundo Henrique dos Santos em "Aventura Feliz", Nóbrega
visitou pela primeira vez o planalto de Piratininga em companhia do
padre
Manuel de Paiva, primo de
João Ramalho, e do irmão
António Rodrigues.
Na companhia de André Ramalho, filho de João Ramalho, percorreu os
campos à procura do local onde viria a fundar a casa e escola dos
Jesuítas. Escolheu o topo da colina chamada Piratininga, localizada
entre os rios Piratininga (também chamado
Tamanduateí) e
Anhangabaú, no futuro
pátio do Colégio. Era um local próximo da aldeia de Inhapambuçu, chefiada por
Tibiriçá. A primeira missa foi ali rezada por Nóbrega em 29 de agosto de 1553, fazendo cerca de 50
catecúmenos entregues à doutrinação do irmão António Rodrigues.
Na última semana de janeiro de 1554, Nóbrega voltou à colina de Piratininga. No dia 25 de janeiro, dia em que se comemora a
conversão de Paulo
ao cristianismo, celebrou uma missa no local e decidiu mudar o nome do
colégio e casa dos jesuítas de "Piratininga" para "São Paulo".
Juntou-se em
1563 a
José de Anchieta, desembarcado no Brasil como
noviço em
1553, no trabalho de pacificação dos
Tamoios em
Iperoig, que retiraram apoio aos invasores franceses, finalmente derrotados. Acompanhando a expedição de
Estácio de Sá, encarregado de fundar uma cidade,
São Sebastião do Rio de Janeiro, de cuja fundação participou, ali construiu um
colégio jesuíta. Foi Nóbrega quem solicitou ao rei de Portugal,
D. João III, a criação da primeira
diocese no Brasil. Em consequência desse pedido, D.
Pero Fernandes Sardinha, primeiro
bispo do Brasil, foi enviado para
Salvador. Em 1558, convenceu o governador
Mem de Sá a criar "leis de proteção aos índios", impedindo a sua
escravização.
Foi nomeado o primeiro provincial (líder) da Companhia de Jesus no
Brasil, mas, faltando-lhe a saúde, foi substituído pelo padre
Luís da Grã.