ilha de mãe oriunda de
Bordéus e de pai
corso, Juliette Gréco passou os seus primeiros anos de vida, juntamente com a sua irmã mais velha, Charlotte, educada pelos seus avós maternos, em Bordéus.
Criança muito tímida e reservada, parte com 6 anos de idade, juntamente com a irmã e a mãe, que entretanto se lhes tinha juntado, para
Paris, repartindo os seus tempos entre a cidade, o colégio de freiras onde estudava, e as férias na
Dordogne numa propriedade da família. É nesta região que, após o início da
Segunda Grande Guerra, a mãe de Juliette é presa pelos
nazis devido à sua atividade na
resistência. Algum tempo depois será a vez Juliette, com apenas 16 anos, e a irmã serem também presas pela
Gestapo. Ao ser libertada após um mês, fica alojada em casa de uma antiga professora que habita perto do bairro de
Saint-Germain-des-Prés, associado à intelectualidade parisiense.
É neste mesmo bairro de Saint-Germain-des-Prés que participa do ambiente de descompressão do pós-guerra, integrando-se rapidamente no grupo de intelectuais e artistas que frequentavam os bares e
cabarés do local. Em
1946 (com 19 anos) tem a sua estreia como atriz numa peça de teatro de
Roger Vitrac,
Victor ou les enfants au pouvoir. Presença assídua no
Le Tabou, inaugurado em
1947, mas rapidamente transformado num dos cabarés da moda, aí conheceria nomes famosos como
Jean-Paul Sartre,
Albert Camus,
Boris Vian,
Jean Cocteau ou
Miles Davis.
Neste ambiente conheceria também Jean-Paul Sartre que lhe ofereceu uma canção de uma das suas peças (cantada pela personagem
Inès em
Huis clos de
1944), no dia seguinte a um jantar no "
Cloche d'or" em Saint-Germain. Juliette seguiu o conselho de Sartre conseguindo que a letra fosse musicada por
Joseph Kosma.
Esta canção de Jean-Paul Sartre seria apenas uma do rico reportório cedido por muitos outros amigos e admiradores, e que cantaria na sua primeira apresentação pública em
22 de junho de
1949, na reabertura do
cabaré L’œil de Bœuf (antigo
Le Bœuf sur le toit). Desde logo foi um sucesso junto dos frequentadores da vida noturna parisiense, até pela combinação de uma forma de cantar sentida, com um toque sensual realçado pelo vestuário e pelos seus longos cabelos escuros.
Logo no ano seguinte, a
4 de Junho de
1950, Juliette Gréco conquista o Grande Prémio da
Sacem(Associação francesa de cantores e compositores) pela sua interpretação de "
Je hais les dimanches" (letra de
Charles Aznavour, música de
Florence Véran). Apesar de todo este sucesso junto de sectores mais
intelectuais, Juliette só viria a ser conhecida pelo grande público quando da participação no filme "
Orphée" de Jean Cocteau.
Em
1951 grava o seu primeiro
single com a canção "
Je suis comme je suis" escrita por
Jacques Prévert e musicada por Joseph Kosma, que se tornaria um clássico do seu reportório. Em
1952 sai em digressão pelo
Brasil e
Estados Unidos e, após o seu regresso, faz uma digressão também pela França onde a sua forma de cantar e presença em palco atraem muito público.
O
Olympia verá a sua consagração em
1954, ano em que conheceu o seu futuro marido, o actor Philippe Lemaire, durante a rodagem do filme de Jean-Pierre Melville "
Quand tu liras cette lettre". O casamento duraria pouco mais de um ano, tendo-se o casal divorciado em
1956, pouco após o nascimento da filha Laurence-Marie. É nesta época que conhece
Georges Brassens de quem canta "
Chanson pour l'auvergnat" e
Jacques Brel de quem canta "
Le Diable".
A sua carreira progride em vários sentidos, a canção, o
cinema, o
teatro. O seu retorno aos Estados Unidos, e a
Nova Iorque em particular, proporcionou-lhe uma notoriedade no meio artístico que lhe abriu as portas de
Hollywood, onde conhece o produtor
Darryl Zanuck, durante a rodagem do filme
The sun also rises de
Henry King (
1957). Nesta passagem por Hollywood convive com nomes como
John Huston ou
Orson Welles (com quem contracena no filme
Drame dans un miroir (
1960).
Retornada a França descobre e divulga novos talentos, que convida para escreverem algumas das suas canções. É assim que são ficam conhecidos nomes como
Serge Gainsbourg ("La Javanaise") ou
Léo Ferré ("
Jolie Môme").
Em
1965, alcança o auge da fama ao desempenhar papéis de primeiro plano nas séries televisivas
Belphégor e
Fantôme du Louvre. Apesar disso entra numa profunda
depressão e efectua uma tentativa de
suicídio. Recuperada, retoma a carreira em pleno e em
1966 actua no TNP (
Théâtre National de Paris) na companhia do seu amigo que
Georges Brassens, que muito admirava.
Em
1967 casa-se com
Michel Piccoli, que seria seu marido até
1977. Ainda em 1967 grava a sua versão da "
La chanson des vieux amants" de Jacques Brel. Em
1968 inaugura as sessões das 18.30 horas no
Théâtre de la Ville em Paris, cantando uma das suas mais famosas canções, "
Déshabillez-moi", com uma interpretação em que ressalta o seu lado mais sensual.
Prosseguem as suas digressões pelo país e pelo estrangeiro, nomeadamente pela
Alemanha e pelo
Japão, sempre com grandes sucessos reforçados por uma notável presença em palco. Em
1989 casa-se com o seu pianista e orquestrador
Gérard Jouannest, que, apresentado por ela, havia trabalhado durante anos com Jacques Brel.
Em
1999 o governo francês atribui-lhe as Insígnias de Oficial da Ordem Nacional de Mérito.
Prosseguindo num intenso ritmo de actuações, vem a
Lisboa cantar em janeiro de
2001, mas em maio tem um problema cardíaco durante um concerto em
Montpellier. Recuperada retoma as digressões.
Em fevereiro de
2004, já com 77 anos de idade, obtém um novo êxito no Olympia, onde reencontra uma vez mais o seu público fiel.
Imparável, edita em dezembro de
2006 um novo álbum intitulado "
Le temps d'une chanson", onde inclui várias canções que cantou ao longo da sua carreira.