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segunda-feira, março 11, 2024

Gonçalves Crespo nasceu há 178 anos

 

António Cândido Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, 11 de março de 1846 - Lisboa, 11 de junho de 1883) foi um jurista e poeta português, de influência parnasiana, membro das tertúlias intelectuais portuguesas do último quartel do século XIX. Nascido nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, filho de mãe escrava, fixou-se em Lisboa aos 14 anos de idade e estudou Direito na Universidade de Coimbra. Dedicou-se essencialmente à poesia e ao jornalismo.

 

in Wikipédia


 

ALGUÉM

Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais de Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.

Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.

Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus olhos a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!

 

Gonçalves Crespo

quinta-feira, julho 13, 2023

O príncipe herdeiro de D. João II morreu há 532 anos...

   
O Príncipe D. Afonso de Portugal (Lisboa, 18 de maio de 1475 - Santarém, 13 de julho de 1491) era o único filho e herdeiro de D. João II e de D. Leonor, reis de Portugal. O rei tanto adorava este seu filho que, em sua homenagem, baptizou de "Príncipe" a ilha mais pequena do arquipélago de São Tomé e Príncipe.
Ainda em criança, D. Afonso casou com a princesa Isabel de Aragão, filha mais velha dos reis católicos. Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão tinham um herdeiro, Juan, que era um jovem frágil, que não deveria chegar à idade adulta. A princesa Isabel era, portanto, a herdeira mais provável das coroas de Castela e Aragão e, como estava casada com o Príncipe herdeiro de Portugal, adivinhava-se uma união dos reinos ibéricos sob a alçada de Portugal. Os réis católicos tentaram manobrar diplomaticamente para dissolver o casamento, sem sucesso, dada a influência portuguesa junto do Papa. A sua causa estava aparentemente perdida, quando um acidente salvou Castela e Aragão de uma anexação.
   

   

 

 


As primeiras lágrimas de El-Rei 
A M. Pinheiro Chagas 
     
   
I
O príncipe morrera, e logo os cortesãos, 
Em prantos derredor do mortuário leito, 
Erguem a voz em grita aos céus levando as mãos. 
    
II 
El-Rei, João Segundo, a fronte sobre o peito, 
Contempla dos brandões à luz ensanguentada 
O filho, e a dor lhe avinca o grave e duro aspeito. 
    
III 
E eis que, a um gesto do rei, a turba consternada 
A pouco e pouco sai, reina o silêncio, apenas 
Cortado pelo uivar longínquo da nortada. 
     
IV 
Sobre o filho curvado, immerso em cruas penas, 
Aquelle rei sinistro, enérgico e tigrino, 
Tinha na frouxa voz modulações serenas. 
 
V
E o filho inerte e mudo! Então num desatino 
Deixou-se El-Rei cair, ao acaso, num escabelo 
E quedou-se a pensar no seu atroz destino. 
   
VI 
Um enorme, um confuso e brônzeo pesadelo 
Caíu-lhe sobre o enfermo espírito enlutado, 
E o suor inundou-lhe as barbas e o cabelo. 
     
VII 
Talvez que o triste visse, em sonho alucinado. 
Do Duque de Viseu o espectro vingativo 
Apontando-lhe, a rir, o Infante inanimado. 
  
VIII 
E escutasse a feroz imprecação que altivo 
No cadafalso, outrora, o Duque de Bragança 
Às faces lhe cuspiu com gesto convulsivo. 

IX 
Súbito ergue-se o Rei, e para o leito avança, 
E uma lágrima então, embalde reprimida. 
Das barbas lhe caiu no rosto da criança. 

X
A vez primeira foi que El-Rei chorou em vida. 
    
Gonçalves Crespo

 

domingo, junho 11, 2023

O poeta Gonçalves Crespo morreu há 140 anos...

 

 

António Cândido Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, 11 de março de 1846 - Lisboa, 11 de junho de 1883) foi um jurista e poeta português, de influência parnasiana, membro das tertúlias intelectuais portuguesas do último quartel do século XIX. Nascido nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, filho de mãe escrava, fixou-se em Lisboa aos 14 anos de idade e estudou Direito na Universidade de Coimbra. Dedicou-se essencialmente à poesia e ao jornalismo. 

 

Biografia

Nasceu nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, filho de um comerciante português, António José Gonçalves Crespo, que era à data casado com Teodora Maria Ferreira, e de Francisca Rosa da Conceição, uma mestiça e escrava. Aos 14 anos de idade mudou-se para Portugal.

Depois de estudos preparatórios em Lisboa, matriculou-se em Direito na Universidade de Coimbra, onde se formou em 1877.

Fixou-se em Lisboa, onde apesar de ter adquirido a nacionalidade portuguesa, ao tempo requisito para o exercício da advocacia, pouco exerceu aquela profissão, optando antes pelo jornalismo. Foi colaborador de diversos periódicos, entre os quais O Occidente (1878-1915) e a Folha, o jornal de Coimbra em que era director João Penha, o poeta que introduziu o parnasianismo em Portugal, tendo colaborado igualmente na revista literária República das Letras (1875), dirigida pelo mesmo, de que saíram três números. Colaborou também nas revistas Renascença (1878-1879?), A Mulher (1879), Jornal do domingo (1881-1888), A Leitura ((1894-1896), Branco e Negro (1896-1898), Serões (1901-1911) e na Revista de turismo iniciada em 1916. Como poeta estreou-se com a colectânea Miniaturas, publicada em 1870. Também se dedicou à tradução, publicando versões em português de poemas de Heinrich Heine.

Em 12 de março de 1874, ainda estudante, casou com a poetisa e escritora Maria Amália Vaz de Carvalho, ingressando, graças a ela e ao seu círculo de amigos, no mundo das tertúlias intelectuais de Lisboa. Nesses círculos a avançou na sua carreira como poeta e publicista, ganhando grande nomeada. Influenciado pela escola parnasiana, nas suas obras poéticas abandonou a estética romântica, afirmando-se como poeta de grande qualidade, particularmente após a publicação póstuma da sua obra completa (1887). A sua colectânea Nocturnos conheceu várias edições (1882, 1888, 1897, 1923, 1942). Em colaboração com a esposa publicou o livro Contos para os Nossos Filhos (1886).

Foi também atraído para o mundo da política e em 1879 foi eleito deputado às Cortes pelo círculo do Estado da Índia. Faleceu em Lisboa, vítima da tuberculose, com apenas 37 anos de idade, na Travessa de Santa Catarina, número 11, pelas 18 horas e 30 minutos de 11 de Junho de 1883. Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em jazigo, deixando dois filhos menores, Luís e Maria Cristina. O terceiro filho, nascido em 17 de julho do mesmo ano, morreu à nascença e foi-lhe dado o nome do pai.

A sua afirmação como poeta foi reforçada em 1887, quando foram publicadas as suas Obras Completas, com prefácio de Teixeira de Queirós e de Maria Amália Vaz de Carvalho.


in Wikipédia


 

ALGUÉM

Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais de Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.

Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.

Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus olhos a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!

sábado, março 11, 2023

Gonçalves Crespo nasceu há 177 anos

 

 

António Cândido Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, 11 de março de 1846 - Lisboa, 11 de junho de 1883) foi um jurista e poeta português, de influência parnasiana, membro das tertúlias intelectuais portuguesas do último quartel do século XIX. Nascido nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, filho de mãe escrava, fixou-se em Lisboa aos 14 anos de idade e estudou Direito na Universidade de Coimbra. Dedicou-se essencialmente à poesia e ao jornalismo.

 

in Wikipédia


 

ALGUÉM

Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais de Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.

Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.

Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus olhos a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!

 

Gonçalves Crespo

sexta-feira, março 11, 2022

O poeta Gonçalves Crespo nasceu há 176 anos

 

 

António Cândido Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, 11 de março de 1846 - Lisboa, 11 de junho de 1883) foi um jurista e poeta português, de influência parnasiana, membro das tertúlias intelectuais portuguesas do último quartel do século XIX. Nascido nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, filho de mãe escrava, fixou-se em Lisboa aos 14 anos de idade e estudou Direito na Universidade de Coimbra. Dedicou-se essencialmente à poesia e ao jornalismo.

 

in Wikipédia


 

ALGUÉM

Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais de Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.

Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.

Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus olhos a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!

terça-feira, julho 13, 2021

Poema adequado à data...

 


As primeiras lágrimas de El-Rei 
A M. Pinheiro Chagas 
     
   
I
O príncipe morrera, e logo os cortesãos, 
Em prantos derredor do mortuário leito, 
Erguem a voz em grita aos céus levando as mãos. 
    
II 
El-Rei, João Segundo, a fronte sobre o peito, 
Contempla dos brandões à luz ensanguentada 
O filho, e a dor lhe avinca o grave e duro aspeito. 
    
III 
E eis que, a um gesto do rei, a turba consternada 
A pouco e pouco sai, reina o silêncio, apenas 
Cortado pelo uivar longínquo da nortada. 
     
IV 
Sobre o filho curvado, immerso em cruas penas, 
Aquelle rei sinistro, enérgico e tigrino, 
Tinha na frouxa voz modulações serenas. 
 
V
E o filho inerte e mudo! Então num desatino 
Deixou-se El-Rei cair, ao acaso, num escabelo 
E quedou-se a pensar no seu atroz destino. 
   
VI 
Um enorme, um confuso e brônzeo pesadelo 
Caíu-lhe sobre o enfermo espírito enlutado, 
E o suor inundou-lhe as barbas e o cabelo. 
     
VII 
Talvez que o triste visse, em sonho alucinado. 
Do Duque de Viseu o espectro vingativo 
Apontando-lhe, a rir, o Infante inanimado. 
  
VIII 
E escutasse a feroz imprecação que altivo 
No cadafalso, outrora, o Duque de Bragança 
Às faces lhe cuspiu com gesto convulsivo. 

IX 
Súbito ergue-se o Rei, e para o leito avança, 
E uma lágrima então, embalde reprimida. 
Das barbas lhe caiu no rosto da criança. 

X
A vez primeira foi que El-Rei chorou em vida. 
    
Gonçalves Crespo

quinta-feira, março 11, 2021

Poema de aniversariante de hoje...

 

  

 As primeiras lágrimas de El-Rei 

A M. Pinheiro Chagas 
  
I
O principe morrera, e logo os cortesãos, 
Em prantos derredor do mortuário leito, 
Erguem a voz em grita aos céus levando as mãos. 

II 
El-Rei, João Segundo, a fronte sobre o peito, 
Contempla dos brandões à luz ensanguentada 
O filho, e a dor lhe avinca o grave e duro aspeito. 

III 
E eis que, a um gesto do rei, a turba consternada 
A pouco e pouco sai, reina o silêncio, apenas 
Cortado pelo uivar longínquo da nortada. 

IV 
Sobre o filho curvado, immerso em cruas penas, 
Aquelle rei sinistro, enérgico e tigrino, 
Tinha na frouxa voz modulações serenas. 
 
V E o filho inerte e mudo! Então num desatino Deixou-se El-Rei cair, ao acaso, num escabelo E quedou-se a pensar no seu atroz destino. VI Um enorme, um confuso e brônzeo pesadelo Caíu-lhe sobre o enfermo espírito enlutado, E o suor inundou-lhe as barbas e o cabelo. VII Talvez que o triste visse, em sonho alucinado. Do Duque de Viseu o espectro vingativo Apontando-lhe, a rir, o Infante inanimado. VIII E escutasse a feroz imprecação que altivo No cadafalso, outrora, o Duque de Bragança Às faces lhe cuspiu com gesto convulsivo.
 
IX 
Súbito ergue-se o Rei, e para o leito avança, 
E uma lágrima então, embalde reprimida. 
Das barbas lhe caiu no rosto da criança. 
 
X
A vez primeira foi que El-Rei chorou em vida. 

 
Gonçalves Crespo

O poeta Gonçalves Crespo nasceu há 175 anos

 

 

António Cândido Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, 11 de março de 1846 - Lisboa, 11 de junho de 1883) foi um jurista e poeta português, de influência parnasiana, membro das tertúlias intelectuais portuguesas do último quartel do século XIX. Nascido nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, filho de mãe escrava, fixou-se em Lisboa aos 14 anos de idade e estudou Direito na Universidade de Coimbra. Dedicou-se essencialmente à poesia e ao jornalismo. 

 

Biografia

Nasceu nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, filho de um comerciante português, António José Gonçalves Crespo, que era à data casado com Teodora Maria Ferreira, e de Francisca Rosa da Conceição, uma mestiça e escrava. Aos 14 anos de idade mudou-se para Portugal.

Depois de estudos preparatórios em Lisboa, matriculou-se em Direito na Universidade de Coimbra, onde se formou em 1877.

Fixou-se em Lisboa, onde apesar de ter adquirido a nacionalidade portuguesa, ao tempo requisito para o exercício da advocacia, pouco exerceu aquela profissão, optando antes pelo jornalismo. Foi colaborador de diversos periódicos, entre os quais O Occidente (1878-1915) e a Folha, o jornal de Coimbra em que era director João Penha, o poeta que introduziu o parnasianismo em Portugal, tendo colaborado igualmente na revista literária República das Letras (1875), dirigida pelo mesmo, de que saíram três números. Colaborou também nas revistas Renascença (1878-1879?), A Mulher (1879), Jornal do domingo (1881-1888), A Leitura ((1894-1896), Branco e Negro (1896-1898), Serões (1901-1911) e na Revista de turismo iniciada em 1916. Como poeta estreou-se com a colectânea Miniaturas, publicada em 1870. Também se dedicou à tradução, publicando versões em português de poemas de Heinrich Heine.

Em 12 de março de 1874, ainda estudante, casou com a poetisa e escritora Maria Amália Vaz de Carvalho, ingressando, graças a ela e ao seu círculo de amigos, no mundo das tertúlias intelectuais de Lisboa. Nesses círculos a avançou na sua carreira como poeta e publicista, ganhando grande nomeada. Influenciado pela escola parnasiana, nas suas obras poéticas abandonou a estética romântica, afirmando-se como poeta de grande qualidade, particularmente após a publicação póstuma da sua obra completa (1887). A sua colectânea Nocturnos conheceu várias edições (1882, 1888, 1897, 1923, 1942). Em colaboração com a esposa publicou o livro Contos para os Nossos Filhos (1886).

Foi também atraído para o mundo da política e em 1879 foi eleito deputado às Cortes pelo círculo do Estado da Índia. Faleceu em Lisboa, vítima da tuberculose, com apenas 37 anos de idade, na Travessa de Santa Catarina, número 11, pelas 18 horas e 30 minutos de 11 de Junho de 1883. Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em jazigo, deixando dois filhos menores, Luís e Maria Cristina. O terceiro filho, nascido em 17 de julho do mesmo ano, morreu à nascença e foi-lhe dado o nome do pai.

A sua afirmação como poeta foi reforçada em 1887, quando foram publicadas as suas Obras Completas, com prefácio de Teixeira de Queirós e de Maria Amália Vaz de Carvalho.


in Wikipédia


 

ALGUÉM

Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais de Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.

Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.

Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus olhos a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!

segunda-feira, julho 13, 2020

O único filho e herdeiro do Príncipe Perfeito morreu há 529 anos

   
O Príncipe D. Afonso de Portugal (Lisboa, 18 de maio de 1475 - Santarém, 13 de julho de 1491) era o único filho e herdeiro de D. João II e de D. Leonor, reis de Portugal. O rei tanto adorava este seu filho que, em sua homenagem, baptizou de "Príncipe" a ilha mais pequena do arquipélago de São Tomé e Príncipe.
Ainda em criança, D. Afonso casou com a princesa Isabel de Aragão, filha mais velha dos reis católicos. Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão tinham um herdeiro, Juan, que era um jovem frágil, que não deveria chegar à idade adulta. A princesa Isabel era, portanto, a herdeira mais provável das coroas de Castela e Aragão e, como estava casada com o Príncipe herdeiro de Portugal, adivinhava-se uma união dos reinos ibéricos sob a alçada de Portugal. Os réis católicos tentaram manobrar diplomaticamente para dissolver o casamento, sem sucesso, dada a influência portuguesa junto do Papa. A sua causa estava aparentemente perdida, quando um acidente salvou Castela e Aragão de uma anexação.
  
  
 
 
As primeiras lágrimas de El-Rei 
A M. Pinheiro Chagas 
  
   
I

O príncipe morrera, e logo os cortesãos, 
Em prantos derredor do mortuário leito, 
Erguem a voz em grita aos céus levando as mãos. 
  
II 
El-Rei, João Segundo, a fronte sobre o peito, 
Contempla dos brandões à luz ensanguentada 
O filho, e a dor lhe avinca o grave e duro aspeito. 
   
III 
E eis que, a um gesto do rei, a turba consternada 
A pouco e pouco sai, reina o silêncio, apenas 
Cortado pelo uivar longínquo da nortada. 
   
IV 
Sobre o filho curvado, immerso em cruas penas, 
Aquelle rei sinistro, enérgico e tigrino, 
Tinha na frouxa voz modulações serenas. 


    

V
E o filho inerte e mudo! Então num desatino 
Deixou-se El-Rei cair, ao acaso, num escabelo 
E quedou-se a pensar no seu atroz destino. 
   
VI 
Um enorme, um confuso e brônzeo pesadelo 
Caíu-lhe sobre o enfermo espírito enlutado, 
E o suor inundou-lhe as barbas e o cabelo. 
     
VII 
Talvez que o triste visse, em sonho alucinado. 
Do Duque de Viseu o espectro vingativo 
Apontando-lhe, a rir, o Infante inanimado. 
  
VIII 
E escutasse a feroz imprecação que altivo 
No cadafalso, outrora, o Duque de Bragança 
Às faces lhe cuspiu com gesto convulsivo. 


 
 

IX 
Súbito ergue-se o Rei, e para o leito avança, 
E uma lágrima então, embalde reprimida. 
Das barbas lhe caiu no rosto da criança. 


    

X
A vez primeira foi que El-Rei chorou em vida. 

  
 
     

Gonçalves Crespo

sábado, julho 13, 2019

O filho e herdeiro do Príncipe Perfeito morreu há 528 anos


O Príncipe D. Afonso de Portugal (Lisboa, 18 de Maio de 1475 - Santarém, 13 de Julho de 1491) era o único filho e herdeiro de D. João II e de D. Leonor, reis de Portugal. O rei tanto adorava este seu filho que, em sua homenagem, baptizou de "Príncipe" a ilha mais pequena do arquipélago de São Tomé e Príncipe.
Ainda em criança, D. Afonso casou com a princesa Isabel de Aragão, filha mais velha dos reis católicos. Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão tinham um herdeiro, Juan, que era um jovem frágil que não deveria chegar à idade adulta. A princesa Isabel era, portanto, a herdeira mais provável das coroas de Castela e Aragão e, como estava casada com o Príncipe herdeiro de Portugal, adivinhava-se uma união dos reinos ibéricos sob a alçada de Portugal. Os réis católicos tentaram manobrar diplomaticamente para dissolver o casamento, sem sucesso, dada a influência portuguesa junto do Papa. A sua causa estava aparentemente perdida, quando um acidente salvou Castela e Aragão de uma anexação.
  
  
 
As primeiras lágrimas de El-Rei 

A M. Pinheiro Chagas 


I
O principe morrera, e logo os cortesãos, 
Em prantos derredor do mortuário leito, 
Erguem a voz em grita aos céus levando as mãos. 


II 

El-Rei, João Segundo, a fronte sobre o peito, 
Contempla dos brandões à luz ensanguentada 
O filho, e a dor lhe avinca o grave e duro aspeito. 


III 

E eis que, a um gesto do rei, a turba consternada 
A pouco e pouco sai, reina o silêncio, apenas 
Cortado pelo uivar longínquo da nortada. 


IV 

Sobre o filho curvado, immerso em cruas penas, 
Aquelle rei sinistro, enérgico e tigrino, 
Tinha na frouxa voz modulações serenas. 
 
 
V

E o filho inerte e mudo! Então num desatino 
Deixou-se El-Rei cair, ao acaso, num escabelo 
E quedou-se a pensar no seu atroz destino. 


VI 

Um enorme, um confuso e brônzeo pesadelo 
Caíu-lhe sobre o enfermo espírito enlutado, 
E o suor inundou-lhe as barbas e o cabelo. 


VII 

Talvez que o triste visse, em sonho alucinado. 
Do Duque de Viseu o espectro vingativo 
Apontando-lhe, a rir, o Infante inanimado. 


VIII 

E escutasse a feroz imprecação que altivo 
No cadafalso, outrora, o Duque de Bragança 
Às faces lhe cuspiu com gesto convulsivo. 
 
 
IX 

Súbito ergue-se o Rei, e para o leito avança, 
E uma lágrima então, embalde reprimida. 
Das barbas lhe caiu no rosto da criança. 
 
 
X

A vez primeira foi que El-Rei chorou em vida. 

Gonçalves Crespo

sexta-feira, junho 10, 2011

Como é bom lembrar Camões


A leitura dos Lusíadas

Do moço rei, defronte, esbelto e cavaleiro
Camões recita; a corte, silenciosa,
Ante a rubra explosão do cântico guerreiro,
Admira essa Epopeia enorme e prodigiosa.

«…Ruge a eléctrica voz do Adamastor furiosa;
Nas amuradas canta o alegre marinheiro;
Do Oceano à flor cintila a esteira luminosa
Dos pesados galeões do Gama aventureiro.

Terra! Grita o gajeiro; e à praia melindana
Desce doida e febril a gente lusitana.
Desfraldam os pendões ao claro céu do Oriente…»

Da glória ante o esplendor o olhar de El-Rei fulgura;
O Câmara, no entanto, alma sombria e escura,
No rei os olhos crava, e ri finalmente.


in Nocturnos - Gonçalves Crespo

roubado daqui

sexta-feira, março 11, 2011

Gonçalves Crespo nasceu há 165 anos


ALGUÉM

Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais de Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.

Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.

Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus olhos a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!