Origem e formação
Filho do militar Giovanni Bruno e Fraulissa Savolino, o seu nome de
batismo era Filippo Bruno. Adotou o nome de Giordano quando ingressou na
Ordem Dominicana, aos 15 anos de idade.
As suas ideias avançadas, porém, suscitaram suspeitas por parte da hierarquia da Igreja. Em 1576 foi acusado de
heresia e levado a
Roma para ser julgado. Poucos meses depois, abandonou o hábito e, em 1579, deixou a
Itália.
Iniciou-se, então, o período de peregrinação da sua vida. Em
Génova, ainda em 1579, aparentemente, adotou o
calvinismo, o que negaria mais tarde, ao ser julgado em
Veneza. Acabou sendo
excomungado pelos calvinistas e expulso de Génova. Viajou sucessivamente para
França (
Toulouse,
Paris),
Suíça e
Inglaterra. Em
Londres, onde permaneceu de 1583 a 1585, esteve sob a proteção do embaixador francês, e frequentou o círculo de amigos do poeta inglês
Sir Philip Sidney. Em 1585, Bruno retornou a
Paris, indo em seguida para
Marburgo,
Wittenberg,
Praga,
Helmstedt e
Frankfurt, onde conseguiu publicar vários de seus escritos.
Prisão, julgamento e execução
Em Roma, o julgamento de Bruno durou oito anos, durante os quais ele foi preso, por último, na
Torre de Nona.
Alguns documentos importantes sobre o julgamento estão perdidos, mas
outros foram preservados e entre eles um resumo do processo, que foi
redescoberto em 1999. As numerosas acusações contra Bruno, com base em
alguns de seus livros, bem como em relatos de testemunhas, incluíam
blasfêmia, conduta imoral e heresia em matéria de teologia dogmática e
envolvia algumas das doutrinas básicas da sua filosofia e cosmologia.
Luigi Firpo lista estas acusações feitas contra Bruno pela Inquisição
Romana:
- sustentar opiniões contrárias à fé católica e contestar seus ministros;
- sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a Trindade, a divindade de Cristo e a encarnação;
- sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre Jesus como Cristo;
- sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a virgindade de Maria, mãe de Jesus;
- sustentar opiniões contrárias à fé católica tanto sobre a transubstanciação quanto a Missa;
- reivindicar a existência de uma pluralidade de mundos e suas eternidades;
- acreditar em metempsicose e na transmigração da alma humana em brutos, e;
- envolvimento com magia e adivinhação.
Giovanni Mocenigo (1558-1623), membro de um das mais ilustres famílias
venezianas, encontrou Bruno em
Frankfurt
em 1590 e convidou-o para ir a Veneza, a pretexto de lhe ensinar
mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, em que Bruno era perito.
Segundo
Will Durant Bruno estava havia muitos anos na lista dos procurados pela
Inquisição,
ansiosa por prendê-lo por suas doutrinas subversivas, mas Veneza
gozava da fama de proteger tais foragidos, e o filósofo sentiu-se
encorajado a cruzar os
Alpes
e regressar. Como Mocenigo quisesse usar as artes da memória com fins
comerciais, segundo alguns, ou esperasse obter de Bruno ensinamentos de
ocultismo para aumentar seu poder, prejudicar os seus concorrentes e
inimigos, segundo outros, Bruno negou-se a ensiná-lo. Segundo Durant,
Mocenigo, católico piedoso, assustava-se com "as heresias que o loquaz e
incauto filósofo lhe expunha", e perguntou a seu confessor se devia
denunciar Bruno à Inquisição. O sacerdote recomendou-lhe esperar e
reunir provas, no que Mocenigo assentiu; mas quando Bruno anunciou seu
desejo de regressar a Frankfurt, o nobre denunciou-o ao
Santo Ofício. Mocenigo trancou-o num quarto e chamou os agentes da
Inquisição para levarem-no preso, acusado de
heresia. Bruno foi transferido para o cárcere do Santo Ofício de San Domenico de Castello, no dia 23 de maio de 1592.
No último interrogatório pela
Inquisição do
Santo Ofício, não abjurou e, no dia 8 de fevereiro de 1600, foi
condenado à morte na fogueira. Obrigado a ouvir a sentença ajoelhado, Giordano Bruno teria respondido com um desafio:
Maiori forsan cum timore sententiam in me fertis quam ego accipiam ("Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la").
A execução de sua sentença ocorreu no dia 17 de fevereiro de 1600. Na
ocasião teve a voz calada por um objeto de madeira posto na sua boca.
Ideário
Foi trágico o desfecho do processo contra Giordano Bruno,
acusado de panteísmo e queimado vivo por defender, com exaltação poética,
a doutrina da infinitude do Universo e por concebê-lo não como um
sistema rígido de seres, articulados numa determinada ordem desde a
eternidade, mas como um conjunto que se transforma continuamente.
As suas ideias sobre a
relatividade anteciparam as de
Galileu:
num universo infinito, qualquer perspectiva de qualquer objeto é
sempre relativa à posição do observador, há infinitos referenciais
possíveis e não existe nenhum privilegiado em relação aos demais. Além
de defender a existência de planetas extrassolares, pode ter introduzido
algumas ideias do que seria depois a
Teoria da Evolução de
Darwin.
O seu livro Spaccio de la Bestia Trionfante era um ataque à religião e mostrava o ateísmo do seu autor.
Segundo
John Gribbin, no seu livro
Science: A History (1543-2001), as teorias de Bruno filiavam-se no
hermetismo, baseado em escrituras
egípcias, da época de
Moisés. Entre outras referências, esse movimento utilizava os ensinamentos atribuídos ao deus egípcio
Thoth, cujo equivalente grego era
Hermes (daí hermetismo), conhecido pelos seguidores como
Hermes Trismegisto. Bruno teria abraçado a teoria de Copérnico porque ela se encaixava bem na ideia
egípcia de um universo centrado no Sol.
Deus seria a força criadora perfeita que forma o mundo e que seria
imanente a ele. Bruno defendia a crença nos poderes humanos extraordinários, e enfrentou abertamente a
Igreja Católica e seus
preceitos.
Monumento erguido, em 1889, por maçons italianos, no local onde Giordano Bruno foi executado
Filosofia
Giordano Bruno foi o grande defensor da ideia de
infinito.
- "Nós declaramos esse espaço infinito, dado que não há qualquer
razão, conveniência, possibilidade, sentido ou natureza que lhe trace um
limite." (Giordano Bruno, Acerca do Infinito, o Universo e os Mundos, 1584).
Bruno era
hilozoísta (pensava que tudo tem vida) e
panpsiquista (pensava que tudo tem uma natureza psíquica, uma
alma).
- "A Terra e os astros (...), como eles dispensam vida e alimento
às coisas, restituindo toda matéria que emprestam, são eles próprios
dotados de vida, em uma medida bem maior ainda; e sendo vivos, é de
maneira voluntária, ordenada e natural, segundo um princípio intrínseco,
que eles se movem em direção às coisas e aos espaços que lhes convêm" (A ceia de cinzas).
- "Todas as formas de coisas naturais têm almas? Todas as coisas são animadas? pergunta Dicson. Theophilo, porta-voz de Bruno, responde: Sim,
uma coisa, por minúscula que seja, encerra em si uma parte de
substância espiritual, a qual, se encontra o sujeito [suporte] adequado,
torna-se planta, animal (...); porque o espírito se encontra em todas
as coisas, e não há mínimo corpúsculo que não o contenha em certa
medida e que não seja por ele animado." (Causa, Princípio e Unidade, 1584).
- "E o que se pode dizer de cada parcela do grande Todo, átomo, mónada, pode se dizer do universo como totalidade. O mundo abriga em seu coração a Alma do mundo" (idem).
- "O mundo é infinito porque Deus é infinito. Como acreditar
que Deus , ser infinito, possa ter se limitado a si mesmo criando um
mundo fechado e limitado?" (idem)
- "Não é fora de nós que devemos procurar a divindade, pois que
ela está do nosso lado, ou melhor, em nosso foro interior, mais
intimamente em nós do que estamos em nós mesmos." (A ceia de cinzas).