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domingo, janeiro 11, 2015
O Ultimato britânico de 1890 foi feito há 125 anos
O Mapa Cor-de-Rosa, que originou o ultimato britânico de 1890
O Ultimato britânico de 1890 foi um ultimato do governo britânico - chefiado pelo primeiro ministro Lord Salisbury - entregue a 11 de janeiro de 1890, na forma de um "Memorando", que exigia a Portugal a retirada das forças militares chefiadas pelo major Serpa Pinto do território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola (nos actuais Zimbabwe e Zâmbia), a pretexto de um incidente entre portugueses e Macololos. A zona era reclamada por Portugal, que a havia incluído no famoso Mapa cor-de-rosa, reclamando a partir da Conferência de Berlim uma faixa de território que ia de Angola à contra-costa, ou seja, a Moçambique. A concessão de Portugal às exigências britânicas foi vista como uma humilhação nacional pelos republicanos portugueses, que acusaram o governo e o Rei D. Carlos I de serem os seus responsáveis. O governo caiu, e António de Serpa Pimentel foi nomeado primeiro-ministro. O Ultimato britânico inspirou a letra do hino nacional português, "A Portuguesa".
Foi considerado pelos historiadores Portugueses e políticos da época a
acção mais escandalosa e infame da Grã-Bretanha contra o seu antigo aliado.
Antecedentes
Em meados do século XIX, durante a chamada "partilha de África",
Portugal reclamou vastas áreas do continente africano baseado no
"direito histórico", alicerçado na primazia da ocupação, entrando em
colisão com as principais potências europeias. A crescente presença
inglesa, francesa e alemã no continente ameaçavam a hegemonia
portuguesa, como alertou Silva Porto, comerciante sedeado no planalto do Bié que, assistindo aos movimentos, solicitou um destacamento português. A partir da década de 1870
ficou claro que o direito histórico não bastava: à intensa exploração
científica e geográfica europeia seguia-se muitas vezes o interesse
comercial. Entre 1840 e 1872 David Livingstone explorou a África central, onde pouco depois se instalou a Companhia Britânica da África do Sul. Em 1874 Henry Morton Stanley explorou a bacia do rio Congo e foi financiado pelo rei Leopoldo II da Bélgica, que em 1876 criou uma associação para colonizar o Congo ignorando os interesses portugueses na região.
Em 1875 setenta e quatro subscritores, entre os quais Luciano Cordeiro, fundaram a Sociedade de Geografia de Lisboa para apoiar a exploração, tal como as congéneres europeias. Foi então criada a Comissão de África que preparou as primeiras
grandes expedições de exploração científico-geográfica, financiadas por
subscrição nacional, de Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto, que entre 1877 e 1885 mapearam o território. Pretendiam fazer o reconhecimento do rio Cuango, das suas relações com o rio Congo e comparar a bacia hidrográfica deste com a do Zambeze,
concluindo assim a carta da África centro-austral (o famoso Mapa
cor-de-rosa) e mantendo "estações civilizadoras" portuguesas no interior
do continente. Entretanto, o ministro dos negócios estrangeiros João de Andrade Corvo procurou reafirmar a tradicional aliança Luso-Britânica, propondo abrir Moçambique e Goa ao comércio e navegação britânicos, que em troca reconheciam as suas exigências no Congo.
Em 1883 Portugal ocupou a região a norte do rio Congo. Contudo, na Conferência internacional de Berlim (1884–1885) convocada por Bismark
para fixar as zonas de influência de cada potência em África e dirimir
conflitos - incluindo a oposição Portuguesa e Britânica à expansão de
Leopoldo II - a aliança decepcionou. Sob pressão da Alemanha e da França,
Portugal perdeu o controlo da foz do Congo para Leopoldo II da Bélgica. Do Congo português apenas Cabinda se manteve: em fevereiro de 1885, os notáveis de Cabinda assinaram o Tratado de Simulambuco, pelo qual aceitavam ser um protectorado da coroa portuguesa.
A exigência da «ocupação efectiva» sobre a ocupação histórica, determinada pela Conferência de Berlim obrigou a agir. O estado português diversificou então os contactos internacionais, cedendo à França na Guiné, e à Alemanha no Sul de Angola, em troca do reconhecimento às terras interiores entre Angola e Moçambique. Nascia assim o chamado Mapa Cor-de-Rosa, tornado público em 1886, reclamando uma faixa de território que ia de Angola à contra-costa ou seja, a Moçambique. Para sustentar a reclamação de soberania foram desencadeadas diversas campanhas de exploração e avassalamento dos povos do interior e a resistência foi combatida com as chamadas Campanhas de Conquista e Pacificação conduzidas pelas forças armadas.
Conflito e ultimato
Em 1887, ao saber dos planos portugueses, o primeiro-ministro britânico lord Salisbury
recusou reconhecer os territórios que considerou não "ocupados com
forças suficientes para manter a ordem, proteger estrangeiros e
controlar nativos". Portugal tentou fechar o Rio Zambeze à navegação, reclamou o vale do Niassa, numa faixa que isolava as colónias britânicas a sul.
Em janeiro de 1890 Paiva Couceiro estacionara com 40 soldados no Bié, em Angola, a caminho do Barotze para tentar obter a "avassalamento" do soba Levanica. Simultaneamente, junto ao lago Niassa, em Moçambique, as forças de Serpa Pinto arreavam as bandeiras inglesas, num espaço cobiçado e monitorizado pelo Reino Unido.
A 11 de janeiro de 1890, a pretexto do «incidente Serpa Pinto», é exigida pelo Reino Unido a imediata retirada das forças militares portuguesas no território compreendido entre Moçambique e Angola, no actual Zimbabwe. Portugal abandonou as suas pretensões que Lord Salisbury considerava baseadas "argumentos arqueológicos" de ocupação: a expansão colonial africana terminou.
As pretensões portuguesas expressas no mapa cor-de-rosa entravam em conflito com a Companhia Britânica da África do Sul e o megaprojecto inglês de criar uma ferrovia que atravessaria o todo o continente africano de norte a sul, ligando o Cairo à Cidade do Cabo. Este projecto, promovido por Cecil Rhodes, acabaria por nunca se realizar, pelas enormes dificuldades posta pela
sua dimensão, os obstáculos do clima e geografia, e a oposição
portuguesa com o mapa cor-de-rosa, seguindo-se o Incidente de Fachoda, entre 1898 e 1899, que colocou a França e Inglaterra à beira de uma guerra.
Mapa mostrando o controlo britânico quase completo da rota do Cabo ao Cairo, 1914
Impacto
A impossibilidade de resistência levou à imediata queda do governo
português, sendo nomeado a 14 de janeiro um novo ministério presidido
por António de Serpa Pimentel.
Inicia-se um profundo movimento de descontentamento social, implicando
directamente a família reinante, vista como demasiado próxima dos
interesses britânicos, na decadência nacional patente no ultimato. Os
republicanos capitalizam este descontentamento, iniciando um crescimento
e alargamento da sua base social de apoio.
Alimentando esse ambiente de quase insurreição, a 23 de março, António José de Almeida, estudante universitário em Coimbra e futuro presidente da república, publica um artigo com o título Bragança, o último, que será considerado calunioso para o rei e o levará à prisão. A 1 de Abril, no Cuíto, em Angola, o velho explorador Silva Porto imolou-se envolto numa bandeira portuguesa após negociações falhadas com os locais, sob ordens de Paiva Couceiro, que atribuiu ao ultimatum. A morte do que fora um dos rostos da exploração interior africana (chegando ao Barotze) gerou uma onda de comoção nacional e o seu funeral foi seguido por uma multidão no Porto. A 11 de abril é posto à venda o Finis Patriae de Guerra Junqueiro, ridicularizando a figura do rei.
Formalizando a cedência portuguesa, a 20 de Agosto é assinado o
Tratado de Londres entre Portugal e a Grã-Bretanha, definindo os limites
territoriais de Angola e Moçambique. O tratado foi publicado no Diário do Governo
de 30 de agosto e apresentado ao parlamento na sessão de 30 de agosto, o
que desencadeia novos protestos e nova queda do governo. Um ano depois,
em 11 de junho de 1891, a Questão do Barotze,
referente ao estabelecimento das fronteiras de Angola nos limites
ocidentais do território de Barotze foi resolvida entre Portugal e a
Grã-Bretanha foi declarado que o reino Barotse estava dentro da esfera
de influência britânica com a arbitragem de Vítor Emanuel III da Itália.
Em consequência da cedência aos interesses britânicos, aparece em
Lisboa a Liga Liberal, movimento de protesto presidido por Augusto
Fuschini com a participação de João Crisóstomo
contra o Tratado de Londres. A Liga promoveu uma reunião, no Teatro de
São Luís, em que participaram cerca de 400 oficiais fardados. Após 28
dias de crise política é nomeado a 14 de outubro um governo
extra-partidário, presidido por João Crisóstomo. O governo é apoiado pela Liga Liberal, retomando-se progressivamente a calma.
Estes acontecimentos desencadeados pelo ultimato britânico de 11 de janeiro de 1890 marcaram de forma indelével a evolução política
portuguesa, desencadeando uma cadeia de acontecimentos que levará ao fim
da monarquia constitucional e à implantação da república, a 5 de outubro de 1910, e ao reforço na consciência colectiva
portuguesa do apego ao império colonial, que depois teve pesadas
consequências ao longo do século XX.
in Wikipédia
NOTA: os republicanos colocam aqui o ponto de partida da revolução do 5 de outubro, quando Portugal, o seu Governo e o seu Rei nada podiam fazer além do que fizeram, perante o tamanho e população do país naquela altura. É curioso que os pseudo-historiadores que tal afirmam não se lembrem do incidente de Fachoda, que colocou a República Francesa em situação bem pior perante perante o Império Britânico ou do que aconteceu anos mais tarde, com a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos...
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quinta-feira, junho 12, 2014
Roberto Ivens nasceu há 164 anos
Roberto Ivens (São Pedro - Ponta Delgada, 12 de julho de 1850 - Dafundo, 28 de janeiro de 1898), filho de pai inglês e de mãe açoriana, foi um oficial da Armada, administrador colonial e explorador do continente africano, português.
Infância e juventude
Roberto Ivens nasceu a 12 de junho de 1850, em Ponta Delgada,
filho de Margarida Júlia de Medeiros Castelo Branco, de apenas 18 anos
de idade, oriunda de uma família de modestos recursos, e de Robert
Breakspeare Ivens, de 30 anos, filho do abastado comerciante inglês
William Ivens, residente em Ponta Delgada desde 1800. Robert Breakspeare Ivens era bisneto materno do famoso Thomas Hickling, vice-cônsul americano em Ponta Delgada.
Não sendo os pais casados, e dadas as diferenças sociais e convenções
da época, fruto de amores furtivos e proibidos (mas tolerados), o
nascimento deu-se numa casa alugada onde o pai havia instalado a amante,
que entretanto fora amaldiçoada, deserdada e expulsa de casa pelo pai. A
instâncias da mãe, o recém-nascido foi baptizado às escondidas como
filho de pai incógnito, na igreja da Fajã de Cima,
arredores da cidade. Entregue à parteira do lugar, Ana de Jesus, foi
por esta levado à igreja sendo baptizada pelo cura, tendo como padrinho o
irmão do vigário.
A criança foi entretanto criada na companhia da mãe e da tia, Ana
Matilde. Com o aparecimento de uma nova gravidez, Roberto Breakspeare
Ivens providencia uma empregada e uma casa na Rua Nova do Passal, Ponta
Delgada. Por influência do Dr. Paulo de Medeiros, reconhece a
paternidade sobre o pequeno Roberto, mesmo antes do nascimento do
segundo filho, Duarte Ivens. Com apenas três anos de idade perde a mãe
vítima da tuberculose.
Permanecendo em Ponta Delgada, beneficiando do estatuto social que o
reconhecimento por parte da família Ivens lhe conferiu, frequenta a
Escola Primária do Convento da Graça, onde desde logo foi apelidado de
"Roberto do Diabo" dadas as travessuras em que se envolvia.
O pai, que entretanto casara, fixou-se em Faro, no Algarve, para onde leva os filhos em agosto de 1858.
Em 1861 Roberto Ivens é inscrito na Escola da Marinha, em Lisboa, ali
fazendo os estudos que o conduziram a uma carreira como oficial de
marinha. Foi sempre um estudante inteligente e aplicado, mas igualmente
brincalhão. Um dos camaradas de curso confirmaria mais tarde este
aspecto do carácter de Roberto Ivens: "Onde havia uma guitarra era
chamado o Ivens e onde estava o Ivens era procurada uma guitarra".
Carreira naval
Concluiu o curso de Marinha em 1870, com apenas 20 anos, com as mais
elevadas classificações. Frequentou em 1871 a Escola Prática de
Artilharia Naval, partindo em setembro desse ano para a Índia, pelo
Canal do Suez, integrado na guarnição da corveta Estefânia, onde é feito guarda-marinha.
A partir de 1872 inicia contactos regulares com Angola.
A 10 de outubro de 1874, completa os três anos de embarque nas
colónias: Regressando a Portugal, em janeiro de 1875 faz exame para
segundo tenente fora da barra de Lisboa. Em abril de 1875, segue na
corveta Duque da Terceira para São Tomé e Príncipe e daqui para os portos da América da Sul. Regressando em abril de 1876, parte no mesmo mês, no Índia, para Filadélfia, com produtos portugueses para a Exposição Universal daquela cidade.
Após o regresso da grande viagem de exploração, Roberto Ivens, por
motivos de saúde, abandona o mar, passando a prestar colaboração
cartográfica na Sociedade de Geografia de Lisboa e na execução de
trabalhos relacionados com África, sobretudo Angola, no Ministério da
Marinha e Ultramar.
Foi nomeado, por Decreto de 8 de maio de 1890, oficial às ordens da Casa Militar de El-Rei D. Carlos.
Em 1891 colabora na constituição de um instituto ultramarino do qual
viria a ser vogal da direcção. Por Decreto de 20 de dezembro 1892, foi
colocado no quadro da Comissão de Cartografia, como vogal permanente.
Por Decreto de 27 de abril de 1893, foi transferido para o cargo de
ajudante-de-campo do rei.
Em 1895 foi feito oficial da Real Ordem Militar de S. Bento de Avis e
por Decreto de 17 de outubro nomeado secretário da Comissão de
Cartografia, cargo que manterá até ao ano seguinte. O topo da sua
carreira na Marinha foi alcançado a 7 de dezembro de 1895, com a
promoção a capitão-de-fragata.
Explorações africanas
Ao regressar a Lisboa, soube do plano governamental de exploração
científica no interior africano, destinado a explorar os territórios
entre as províncias de Angola e Moçambique e, especialmente, a efectuar
um reconhecimento geográfico das bacias hidrográficas do Zaire e do
Zambeze. Foi, de imediato, oferecer-se para nela tomar parte. Como,
porém, a decisão demorasse, pediu para ir servir na estação naval de
Angola. Aproveitou esta estadia para fazer vários reconhecimentos,
principalmente no rio Zaire, levantando uma planta do rio entre Borud e
Nóqui.
Por Decreto de 11 de maio de 1877 foi nomeado para dirigir a expedição aos territórios compreendidos entre as províncias de Angola e Moçambique e estudar as relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Na mesma data foi promovido a primeiro tenente.
De 1877 a 1880, ocupou-se com Hermenegildo Capelo e, em parte, com Serpa Pinto, na exploração científica de Benguela
às Terras de Iaca. No regresso, recebe a Comenda da Ordem Militar de
Santiago e é nomeado a 19 de agosto de 1880 vogal da Comissão Central de
Geografia. Por Decreto de 19 de Janeiro de 1882, foram-lhe concedidas
honras de oficial às ordens e a 28 de julho foi nomeado para proceder à
organização da carta geográfica de Angola.
Em 19 de abril de 1883, é nomeado vogal da comissão encarregada de
elaborar e publicar uma colecção de cartas das possessões ultramarinas
portuguesas. Por portaria de 28 de novembro do mesmo ano foi encarregado
de proceder a reconhecimentos e explorações necessários para se
reunirem os elementos e informações indispensáveis a fim de se
reconstruir a carta geográfica de Angola.
Face às mais que previsíveis decisões da Conferência de Berlim
era preciso demonstrar a presença portuguesa no interior da África
austral, como forma de sustentar as reivindicações constantes do mapa cor-de-rosa entretanto produzido. Para realizar tão grande façanha, são nomeados Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens.
Feitos os preparativos, a grande viagem inicia-se em Porto Pinda, no
sul de Angola, em março de 1884. Após uma incursão de Roberto Ivens pelo
rio Curoca, a comitiva reúne-se, de novo, desta vez em Moçamedes para a
partida definitiva a 29 de abril daquele ano.
Foram 14 meses de inferno no interior africano, durante os quais, a
fome, o frio, a natureza agreste, os animais selvagens, a mosca tsé-tsé,
puseram em permanente risco a vida dos exploradores e comitiva. As
constantes deserções e a doença e morte de carregadores aumentavam o
perigo e a incerteza. Só de uma vez, andaram perdidos 42 dias, por
terrenos pantanosos, sob condições meteorológicas difíceis, sem caminhos
e sem gente por perto. Foram dados como mortos ou perdidos, pois
durante quase um ano não houve notícias deles.
Ao longo de toda a viagem, Roberto Ivens escreve, desenha, faz
croquis, levanta cartas; Hermenegildo Capelo recolhe espécimes de
plantas, rochas e animais.
A 21 de junho 1885, a expedição chega finalmente a Quelimane, em Moçambique, cumpridos todos os objectivos definidos pelo governo.
Na viagem foram percorridas 4.500 milhas geográficas (mais de
8.300 km), 1.500 das quais por regiões ignotas, tendo-se feito numerosas
determinações geográficas e observações magnéticas e meteorológicas.
Estas expedições, para além de terem permitido fazer várias
determinações geográficas, colheitas de fósseis, minerais e de várias
colecções de história natural, tinham como objectivo essencial afirmar a
presença portuguesa nos territórios explorados e reivindicar os
respectivos direitos de soberania, já que os mesmos se incluíam no
famoso mapa cor-de-rosa, que delimitava as pretensões portuguesas na África meridional.
Honra e glória
Finda a viagem de exploração, Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo
foram recebidos como heróis em Lisboa, a 16 de setembro de 1885. O
próprio rei D. Luís dirigiu-se ao cais para os receber em pessoa e os
condecorar à chegada. O rio Tejo regurgitava de embarcações. Nunca se
havia visto tamanho cortejo fluvial. Acompanhados pelo rei foram
conduzidos ao Arsenal da Marinha para as boas vindas, com Lisboa a
vestir-se das suas melhores galas para os receber. Foram oito dias de
festas constantes, com colchas nas varandas, iluminação, fogos de
artifício, recepções, almoços, jantares e discursos sobre a heróica
viagem.
Mais tarde, o Porto não quis ficar atrás, excedendo-se em
manifestações de regozijo e recepções. E no estrangeiro, Madrid
esmerou-se em festas, conferências, recepções e condecorações; em Paris
é-lhes conferida a Grande Medalha de Honra.
Em Ponta Delgada, por iniciativa de Ernesto do Canto
sucederam-se as manifestações em honra do herói. O dia 6 de dezembro de
1885 foi o escolhido para as solenidades. As ruas da cidade encheram-se
de gente de todas as condições sociais. Cada profissão, cada
instituição se incorporou no cortejo cívico com os seus pendões. Não
faltaram as bandas de música e os discursos. Expressamente para esse dia
foi composto o número único do jornal Ivens e Capelo e foi executado um Hino a Roberto Ivens, com letra de Manuel José Duarte e música de Quintiliano Furtado.
Roberto Ivens faleceu no Dafundo, Oeiras, em 28 de janeiro de 1898, deixando viúva e três filhos que, por decreto de D. Carlos,
continuariam a receber o subsídio que havia sido atribuído ao pai. O
enterro, a 29 de janeiro, foi uma grande manifestação de pesar nacional.
A urna de mogno estava coberta com a bandeira nacional. O segundo
tenente Ivens Ferraz conduzia o bicórnio e a espada do falecido, envolta
em crepe. Sobre a urna, três coroas de flores. No largo do Cemitério de
Carnaxide prestou as honras fúnebres uma força de 160 praças do corpo
de marinheiros, com a respectiva charanga, e junto do jazigo, o Ministro
da Marinha proferiu o elogio fúnebre.
Por todo Portugal existem dezenas de ruas com o nome de Roberto
Ivens. Ponta Delgada prestou-lhe também a devida homenagem, erguendo um
busto inicialmente colocado no Relvão e transferido, por decisão
camarária de 1950, para a "Avenida Roberto Ivens", que começou a ser
aberta com a demolição do muro da cerca do Convento da Esperança em 7 de abril de 1886. Em Ponta Delgada, próximo do lugar do seu
nascimento, funciona a Escola Roberto Ivens.
Obras publicadas
Roberto Ivens deu conta das suas expedições em obras que hoje são
consideradas clássicos da literatura de viagem, tendo merecido múltiplas
reedições:
- De Benguela às Terras de Iaca, 1881;
- De Angola à Contracosta (2 volumes), 1886.
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terça-feira, fevereiro 04, 2014
Hermenegildo Capelo nasceu há 173 anos
Hermenegildo Carlos de Brito Capelo (Palmela, 4 de fevereiro de 1841 - Lisboa, 4 de maio de 1917), oficial da Marinha portuguesa e explorador do continente africano durante o último quartel do século XIX. Participou com Roberto Ivens na célebre travessia entre Angola e a costa do Índico.
Exploração de África
Em 1875, Luciano Cordeiro fundou a Sociedade de Geografia de Lisboa,
reunindo em seu redor uma elite intelectual, civil e militar. Embora a
sua actuação não fosse direccionada exclusivamente para o continente
africano, logo nos primeiros anos da sua existência criou a Comissão Nacional Portuguesa de Exploração e Civilização da África, mais conhecida por Comissão de África
que assumiu a função de despertar a opinião pública para as questões do
Ultramar e que preparou as primeiras grandes expedições de exploração
científico-geográfica, recorrendo a financiamento por subscrição
nacional, contribuindo assim para a definição de uma política colonial
portuguesa em África. Estas expedições destinavam-se a efectuar o
reconhecimento do Cuango e as suas relações com o Zaire, e ainda a comparar a bacia hidrográfica deste rio com a do Zambeze, concluindo, assim, a carta da África centro-austral, o famoso Mapa cor-de-rosa.
Apesar do seu papel fundamental na defesa da posição portuguesa em
África, face ao movimento expansionista europeu, a Sociedade de
Geografia de Lisboa surgiu tardiamente, no que se refere à criação de
sociedades homólogas nos restantes países da Europa. Estas expedições
integram-se num contexto político marcado por um forte surto
expansionista europeu, nos domínios do continente africano, que
antecipam a histórica Conferência de Berlim, realizada em 1885.
Exploradores de todas as grandes potências europeias, lançavam-se numa
verdadeira rivalidade pela prospecção de territórios, obrigando Portugal
a rever urgentemente a sua política colonial e a efectivar a sua
presença nestes locais, mas as pretensões portuguesas de ocupação do
espaço entre Angola e Moçambique chocaram com as pretensões inglesas,
que se materializaram na consequente reivindicação dessa zona para o
império inglês através do Ultimato Britânico a Portugal.
A primeira Viagem - De Benguela às Terras de Iaca
- O objectivo
- Brito Capelo, quando da sua permanência em Angola fez o reconhecimento científico daquela zona, facto que o fez ser escolhido, por Decreto de 11 de maio de 1877, para dirigir uma expedição científica à África Central da qual também faziam parte o oficial da marinha Roberto Ivens e o major do exército Serpa Pinto. Sob os auspícios da Sociedade de Geografia, esta expedição tinha por fim «…o estudo do rio Cuango nas suas relações com o Zaire e com os territórios portugueses da costa ocidental, assim como toda a região que compreende ao Sul e a sueste as origens dos rios Zambeze e Cunene e se prolonga ao Norte, até entrar pelas bacias hidrográficas do Cuanza e do Cuango…».
- A viagem
- A 7 de julho de 1877 Brito Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto iniciam a expedição. Feito o trajecto Benguela-Bié, divergências entre Serpa Pinto e Brito Capelo levam a expedição a dividir-se, com Serpa Pinto, por sua iniciativa a tentar a travessia até Moçambique. Não o conseguiu como pretendia, mas chegou a Pretória, e posteriormente a Durban. Brito Capelo e Roberto Ivens mantiveram-se fiéis ao projecto inicial concentrando as atenção na missão para que haviam sido nomeados, ou seja nas relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Percorreram as regiões de Benguela até às terras de Iaca, tendo delimitado os cursos dos rios Cubango, Luando e Tohicapa. A 1 de março de 1880, Lisboa recebe triunfalmente Brito Capelo e Roberto Ivens, tendo o êxito da expedição ficado perpetuado no livro De Benguela às Terras de Iaca.
A segunda viagem - De Angola à Contra-Costa
Depois de concretizado o importante percurso entre o Bié e o Zambeze, e atingidas as cataratas Vitória, Capelo e Ivens são estimulados a prosseguir com as suas expedições.
- O objectivo
- Dada a necessidade de ser criado um atlas geral das colónias portuguesas, Manuel Joaquim Pinheiro Chagas, ao tempo Ministro da Marinha e do Ultramar, criou por decreto de 19 de Abril de 1883 a Comissão de Cartografia, para a qual nomeou como vogais os dois exploradores. Por outro lado, pretendendo a criação de um caminho comercial que ligasse Angola e Moçambique nomeou-os a 5 de novembro do mesmo ano para procederem aos necessários reconhecimentos e explorações. A escolha de dois oficiais de Marinha para a concretização desta importante missão, prende-se com o facto de se tratarem de territórios desconhecidos, não cartografados, nos quais era necessário avançar, recorrendo aos princípios da navegação marítima, tão familiares a estes exploradores.
- A viagem
- Entre 1884 e 1885, Capelo e Ivens realizaram nova exploração em África, primeiro entre a costa e o planalto de Huíla e depois através do interior até Quelimane, em Moçambique. Continuaram, então, os seus estudos hidrográficos, efectuando registos geográfico-naturais mas, também, de carácter etnográfico e linguístico. Estabelecem assim a tão desejada ligação por terra entre as costas de Angola e de Moçambique, explorando as vastas regiões do interior situadas entre estes dois territórios e descrevem-na no livro em dois volumes: De Angola à Contra-Costa. Tendo partido para essa missão a 6 de janeiro de 1884 haveriam de regressar a 20 de setembro de 1885 sendo recebidos triunfalmente pelo rei D. Luís.
Outras missões
Posteriormente, Brito Capelo, foi nomeado para outras missões, tais
como a de vice-presidente do Instituto Ultramarino, do qual foi primeiro presidente a Rainha Dona Amélia.
Faziam igualmente parte da sua primeira Direcção eminentes vultos da
História de Portugal, como Roberto Ivens, Andrade Corvo, Luciano
Cordeiro, Pinheiro Chagas, António Enes e Oliveira Martins, o que revela
bem da importância que as autoridades governamentais da época quiseram
atribuir àquela obra social.
Outros cargos
Hermenegildo Capelo foi ajudante-de-campo dos reis D. Luís, D. Carlos e chefe da casa militar do rei D. Manuel II, ministro plenipotenciário de Portugal junto do Sultão de Zanzibar,
organizador de uma carta geográfica da província de Angola, delegado do
governo num congresso de Bruxelas e presidente da comissão de
cartografia. Hermenegildo Capelo foi promovido a contra–almirante em 17
de maio de 1902 e a vice–almirante em 18 de janeiro de 1906. Muito
dedicado ao rei D. Manuel II, acompanhou-o até à partida para o exílio,
em 5 de outubro de 1910. A 24 do referido mês, tendo pedido a demissão,
deu por terminada a sua carreira militar.
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