Exploração de África
Em
1875,
Luciano Cordeiro fundou a
Sociedade de Geografia de Lisboa,
reunindo em seu redor uma elite intelectual, civil e militar. Embora a
sua actuação não fosse direccionada exclusivamente para o continente
africano, logo nos primeiros anos da sua existência criou a
Comissão Nacional Portuguesa de Exploração e Civilização da África, mais conhecida por
Comissão de África
que assumiu a função de despertar a opinião pública para as questões do
Ultramar e que preparou as primeiras grandes expedições de exploração
científico-geográfica, recorrendo a financiamento por subscrição
nacional, contribuindo assim para a definição de uma política colonial
portuguesa em África. Estas expedições destinavam-se a efectuar o
reconhecimento do
Cuango e as suas relações com o
Zaire, e ainda a comparar a bacia hidrográfica deste rio com a do
Zambeze, concluindo, assim, a carta da África centro-austral, o famoso
Mapa cor-de-rosa.
Apesar do seu papel fundamental na defesa da posição portuguesa em
África, face ao movimento expansionista europeu, a Sociedade de
Geografia de Lisboa surgiu tardiamente, no que se refere à criação de
sociedades homólogas nos restantes países da Europa. Estas expedições
integram-se num contexto político marcado por um forte surto
expansionista europeu, nos domínios do continente africano, que
antecipam a histórica
Conferência de Berlim, realizada em
1885.
Exploradores de todas as grandes potências europeias, lançavam-se numa
verdadeira rivalidade pela prospecção de territórios, obrigando Portugal
a rever urgentemente a sua política colonial e a efectivar a sua
presença nestes locais, mas as pretensões portuguesas de ocupação do
espaço entre Angola e Moçambique chocaram com as pretensões inglesas,
que se materializaram na consequente reivindicação dessa zona para o
império inglês através do
Ultimato Britânico a Portugal.
A primeira Viagem - De Benguela às Terras de Iaca
- O objectivo
- Brito Capelo, quando da sua permanência em Angola fez o
reconhecimento científico daquela zona, facto que o fez ser escolhido,
por Decreto de 11 de maio de 1877, para dirigir uma expedição científica
à África Central da qual também faziam parte o oficial da marinha Roberto Ivens e o major do exército Serpa Pinto.
Sob os auspícios da Sociedade de Geografia, esta expedição tinha por
fim «…o estudo do rio Cuango nas suas relações com o Zaire e com os
territórios portugueses da costa ocidental, assim como toda a região que
compreende ao Sul e a sueste as origens dos rios Zambeze e Cunene e se prolonga ao Norte, até entrar pelas bacias hidrográficas do Cuanza e do Cuango…».
- A viagem
- A 7 de julho de 1877 Brito Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto iniciam a expedição. Feito o trajecto Benguela-Bié,
divergências entre Serpa Pinto e Brito Capelo levam a expedição a
dividir-se, com Serpa Pinto, por sua iniciativa a tentar a travessia até
Moçambique. Não o conseguiu como pretendia, mas chegou a Pretória, e posteriormente a Durban.
Brito Capelo e Roberto Ivens mantiveram-se fiéis ao projecto inicial
concentrando as atenção na missão para que haviam sido nomeados, ou seja
nas relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze.
Percorreram as regiões de Benguela até às terras de Iaca,
tendo delimitado os cursos dos rios Cubango, Luando e Tohicapa. A 1 de março de 1880, Lisboa recebe triunfalmente Brito Capelo e Roberto Ivens,
tendo o êxito da expedição ficado perpetuado no livro De Benguela às Terras de Iaca.
A segunda viagem - De Angola à Contra-Costa
Depois de concretizado o importante percurso entre o Bié e o Zambeze, e atingidas as
cataratas Vitória, Capelo e Ivens são estimulados a prosseguir com as suas expedições.
- O objectivo
- Dada a necessidade de ser criado um atlas geral das colónias portuguesas, Manuel Joaquim Pinheiro Chagas,
ao tempo Ministro da Marinha e do Ultramar, criou por decreto de 19 de
Abril de 1883 a Comissão de Cartografia, para a qual nomeou como vogais
os dois exploradores. Por outro lado, pretendendo a criação de um
caminho comercial que ligasse Angola e Moçambique nomeou-os a 5 de novembro do mesmo ano para procederem aos necessários reconhecimentos e
explorações. A escolha de dois oficiais de Marinha para a concretização
desta importante missão, prende-se com o facto de se tratarem de
territórios desconhecidos, não cartografados, nos quais era necessário
avançar, recorrendo aos princípios da navegação marítima, tão familiares a estes exploradores.
- A viagem
- Entre 1884 e 1885, Capelo e Ivens realizaram nova exploração em África, primeiro entre a costa e o planalto de Huíla e depois através do interior até Quelimane,
em Moçambique. Continuaram, então, os seus estudos hidrográficos,
efectuando registos geográfico-naturais mas, também, de carácter etnográfico
e linguístico. Estabelecem assim a tão desejada ligação por terra entre
as costas de Angola e de Moçambique, explorando as vastas regiões do
interior situadas entre estes dois territórios e descrevem-na no livro
em dois volumes: De Angola à Contra-Costa. Tendo partido para
essa missão a 6 de janeiro de 1884 haveriam de regressar a 20 de setembro de 1885 sendo recebidos triunfalmente pelo rei D. Luís.
Outras missões
Posteriormente, Brito Capelo, foi nomeado para outras missões, tais
como a de vice-presidente do Instituto Ultramarino, do qual foi primeiro presidente a Rainha Dona
Amélia.
Faziam igualmente parte da sua primeira Direcção eminentes vultos da
História de Portugal, como Roberto Ivens, Andrade Corvo, Luciano
Cordeiro, Pinheiro Chagas, António Enes e Oliveira Martins, o que revela
bem da importância que as autoridades governamentais da época quiseram
atribuir àquela obra social.
Outros cargos
Hermenegildo Capelo foi ajudante-de-campo dos reis D. Luís, D.
Carlos e chefe da casa militar do rei D.
Manuel II, ministro plenipotenciário de Portugal junto do Sultão de
Zanzibar,
organizador de uma carta geográfica da província de Angola, delegado do
governo num congresso de Bruxelas e presidente da comissão de
cartografia. Hermenegildo Capelo foi promovido a contra–almirante em 17
de maio de 1902 e a vice–almirante em 18 de janeiro de 1906. Muito
dedicado ao rei D. Manuel II, acompanhou-o até à partida para o exílio,
em 5 de outubro de 1910. A 24 do referido mês, tendo pedido a demissão,
deu por terminada a sua carreira militar.