Brasão da Rainha Catarina de Bragança, consorte do Rei Carlos II de Inglaterra
(...)
Catarina não foi uma rainha popular na Inglaterra por ser católica, o
que a impediu de ser coroada. Sem posteridade, deixou pelo menos à
Inglaterra a geleia de laranja, o hábito de beber chá, além de lá ter
introduzido o uso dos talheres e do tabaco. A sua responsabilidade pela
introdução do chá é disputada já que já no ano de 1657, Thomas Garraway o
vendia na sua loja de café em Londres na Exchange Alley. Isto aconteceu
num período em que a East India Company o estava a vender abaixo
dos preços dos Holandeses e o anunciava como uma panaceia para a
apoplexia, catarro, cólica, tuberculose, tonturas, epilepsia, pedra,
letargia, enxaquecas, parálise e vertigem. O hábito de beber chá já
existiria, Catarina apenas o transformou na "instituição" que hoje
conhecemos por five o'clock tea.
Em Londres, estavam reservados grandes desgostos à rainha porque D.
Catarina reconheceu em seu marido carácter muito diferente do que lhe
afirmaram. Julgava-o um homem sério e virtuoso, mas era, ao contrário,
libidinoso. Em solteiro se entregara sempre a uma vida de libertinagem
dissoluta, continuou da mesma forma, casado, sem se coibir, dando
nenhuma importância à mulher, chegando ao ponto de nomear para dama da
rainha sua amante, miss Palmer, que depois elevou a
Duquesa de Cleveland.
O procedimento deu origem a graves discórdias, de que resultou o rei
nunca mais procurar sua mulher nem sequer a cumprimentar quando se
encontravam. D. Catarina, fazendo esforço, pretendeu ainda chamá-lo a
si, tratando benevolamente a favorita, mas nem assim lhe mereceu
consideração. Na Biblioteca da Ajuda, nas colecções dos manuscritos, há
sua correspondência com seu irmão D.
Afonso VI de Portugal e sua mãe
Luísa de Gusmão.
O seu dote trouxe a cidade de
Bombaim e de
Tânger para o domínio britânico, pois Portugal, em busca de apoios contra
Filipe IV de Espanha, na
Guerra da Restauração, a isso se comprometera pelo tratado de paz e aliança assinado em
3 de junho de
1661: obrigava-se o país a pagar dois milhões de cruzados pelo dote da infanta, e transferia para a Inglaterra a posse de
Tânger, e do porto e ilha de
Bombaim. Além disso, os mercadores ingleses podiam habitar quaisquer praças do reino e gozavam de idênticos privilégios no
Rio de Janeiro, na
Bahia e em
Pernambuco.
No caso de os Portugueses recuperarem dos Holandeses a ilha do Ceilão,
obrigavam-se a repartir com os Ingleses o trato da canela. Todavia, sua
popularidade nos
Estados Unidos era bastante elevada. Acarinhada pela população local, em sua homenagem foi dado o nome de
Queens a um dos cinco bairros da cidade de
Nova York.
Catarina nunca deu à luz um herdeiro, apesar de ter estado grávida por várias vezes, a última das quais em
1669. A sua posição era difícil, já que Carlos continuava a ter filhos das suas
amantes, mas insistia em que ela fosse tratada com respeito e recusou
divorciar-se. Chegou mesmo a ser acusada de maquinar a morte do marido
por sugestão do pontífice e outros príncipes católicos. Como o seu irmão,
já Regente e depois
Pedro II de Portugal, mandou como embaixador extraordinário
Henrique de Sousa Tavares,
marquês de Arronches,
fez com que fossem castigados os acusadores, o rei tornou a ter amor e
carinho por ela e morreu, ao que se diz, como verdadeiro católico.