António Pereira Nobre (Porto, 16 de agosto de 1867 - Foz do Douro, 18 de março de 1900), mais conhecido como António Nobre, foi um poeta português
cuja obra se insere nas correntes ultra-romântica, simbolista,
decadentista e saudosista (interessada na ressurgência dos valores
pátrios) da geração finissecular do século XIX português. A sua principal obra, Só (Paris, 1892),
é marcada pela lamentação e nostalgia, imbuída de subjetivismo, mas
simultaneamente suavizada pela presença de um fio de auto-ironia e com a
rotura com a estrutura formal do género poético em que se insere,
traduzida na utilização do discurso coloquial e na diversificação
estrófica e rítmica dos poemas. Apesar da sua produção poética mostrar
uma clara influência de Almeida Garrett e de Júlio Dinis, ela insere-se decididamente nos cânones do simbolismo
francês. A sua principal contribuição para o simbolismo lusófono foi a
introdução da alternância entre o vocabulário refinado dos simbolistas
e um outro mais coloquial, reflexo da sua infância, junto do povo
nortenho. Faleceu, com apenas 32 anos de idade, após uma prolongada luta
contra uma tuberculose pulmonar.
Capa de Só, de António Nobre, publicado em 1892
in Wikipédia
Vaidade, Tudo Vaidade!
Vaidade, meu amor, tudo vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguém,
Tuas amigas ter-te-ão amizade,
(Se isso é amizade) mais do que, hoje, têm.
Vaidade é o luxo, a glória, a caridade,
Tudo vaidade! E, se pensares bem,
Verás, perdoa-me esta crueldade,
Que é uma vaidade o amor de tua mãe...
Vaidade! Um dia, foi-se-me a Fortuna
E eu vi-me só no mar com minha escuna,
E ninguém me valeu na tempestade!
Hoje, já voltam com seu ar composto,
Mas eu, vê lá! eu volto-lhes o rosto...
E isto em mim não será uma vaidade?
in Só (1892) - António Nobre
Vaidade, meu amor, tudo vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguém,
Tuas amigas ter-te-ão amizade,
(Se isso é amizade) mais do que, hoje, têm.
Vaidade é o luxo, a glória, a caridade,
Tudo vaidade! E, se pensares bem,
Verás, perdoa-me esta crueldade,
Que é uma vaidade o amor de tua mãe...
Vaidade! Um dia, foi-se-me a Fortuna
E eu vi-me só no mar com minha escuna,
E ninguém me valeu na tempestade!
Hoje, já voltam com seu ar composto,
Mas eu, vê lá! eu volto-lhes o rosto...
E isto em mim não será uma vaidade?
in Só (1892) - António Nobre
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