Pablo Neruda nasceu em
Parral, em
12 de julho de
1904, como Neftalí Ricardo Reyes Basoalto. Era filho de José del Carmen Reyes Morales, um operário
ferroviário, e de Rosa Basoalto Opazo, professora primária, morta quando Neruda tinha apenas um mês de vida. Ainda adolescente adotou o
pseudónimo de Pablo Neruda (inspirado no escritor
checo Jan Neruda), que utilizaria durante toda a vida, tornando-se seu nome legal, após ação de modificação do
nome civil.
Em
1906 seu pai se transferiu para
Temuco,
onde se casou com Trinidad Candia Marverde, que o poeta menciona em
diversos textos, como "Confesso que vivi" e "Memorial de Ilha Negra",
como o nome de
Mamadre. Estudou no Liceu de Homens dessa cidade e ali publicou seus primeiros poemas no periódico regional
A Manhã. Em
1919 obteve o terceiro lugar nos Jogos Florais de Maule com o poema
Noturno Ideal.
Em
1921 radicou-se em Santiago e estudou
pedagogia em
francês na
Universidade do Chile, obtendo o primeiro prémio da festa da primavera com o poema "A Canção de Festa", publicado posteriormente na revista
Juventude. Em
1923 publica
Crespusculário, que é reconhecido por escritores como Alone,
Raúl Silva Castro e
Pedro Prado. No ano seguinte aparece pela Editorial Nascimento seus
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, no que ainda se nota uma influência do
modernismo. Posteriormente se manifesta um propósito de renovação formal de intenção vanguardista em três breves livros publicados em
1936:
O habitante e sua esperança,
Anéis e
Tentativa do homem infinito.
Em
1927 começa sua longa carreira diplomática quando é nomeado cônsul em
Rangum, na
Birmânia. Em suas múltiplas viagens conhece em
Buenos Aires Federico Garcia Lorca e, em Barcelona,
Rafael Alberti. Em
1935, Manuel Altolaguirre entrega a Neruda a direção da revista
Cavalo verde para a poesia na qual é companheiro dos poetas da geração de 1927. Nesse mesmo ano aparece a edição madrilena de
Residência na terra.
Em
1936, eclode a
Guerra Civil espanhola; Neruda é destituído do cargo consular e escreve
Espanha no coração. Em
1945 é eleito
senador. No mesmo ano, lê para mais de 100 mil pessoas no
Estádio do Pacaembu em homenagem ao líder comunista
Luís Carlos Prestes. Em
1950 publica
Canto Geral, em que sua poesia adota intenção social, ética e
política. Em
1952 publica
Os Versos do Capitão e em
1954 As uvas e o vento e
Odes Elementares.
Em
1953
constrói sua casa em Santiago, apelidada de "La Chascona", para se
encontrar clandestinamente com sua amante Matilde, a quem havia dedicado
Os Versos do Capitão. A casa foi uma de suas três casas no Chile, as outras estão em
Isla Negra e
Valparaíso. "La Chascona" é um museu com objetos de Neruda e pode ser visitada, em Santiago. No mesmo ano, recebeu o
Prémio Lenine da Paz.
Em
1994 um filme chamado
Il Postino (também conhecido como
O Carteiro e O Poeta ou
O Carteiro de Pablo Neruda no
Brasil e em
Portugal) conta sua
história na
Isla Negra, no
Chile, com sua terceira mulher Matilde. No filme, que é uma obra de ficção, a ação foi transposta para a
Itália,
onde Neruda teria se exilado. Lá, numa ilha, torna-se amigo de um
carteiro que lhe pede para ensinar a escrever versos (para poder
conquistar uma bonita moça do povoado).
Durante as eleições presidenciais do Chile nos anos 70, Neruda abriu
mão de sua candidatura para que Allende vencesse, pois ambos eram
marxistas e acreditavam numa
América Latina mais justa o que, a seu ver, poderia ocorrer com o
socialismo. De acordo com
Isabel Allende, em seu livro
Paula,
Neruda teria morrido de "tristeza" em setembro de 1973, ao ver
dissolvido o governo de Allende. A versão do regime militar do ditador
Augusto Pinochet
(1973-1990) é a de que ele teria morrido devido a um cancro da
próstata. No entanto, fontes próximas, como o motorista e ajudante do
poeta na época,
Manuel Araya, afirmam com insistência que o poeta
teria sido assassinado, estando a própria justiça do Chile a contestar a
versão oficial sobre a sua morte. Em fevereiro de 2013, um juiz
chileno ordenou a exumação do corpo do poeta, no âmbito de uma
investigação sobre as circunstâncias da morte.
Poema 14 (Juegas todos los días)
Juegas todos los días con la luz del universo.
Sutil visitadora, llegas en la flor y en el agua.
Eres más que esta blanca cabecita que aprieto
como un racimo entre mis manos cada día.
A nadie te pareces desde que yo te amo.
Déjame tenderte entre guirnaldas amarillas.
Quién escribe tu nombre con letras de humo entre las estrellas del sur?
Ah déjame recordarte como eras entonces cuando aún no existías.
De pronto el viento aúlla y golpea mi ventana cerrada.
El cielo es una red cuajada de peces sombríos.
Aquí vienen a dar todos los vientos, todos.
Se desviste la lluvia.
Pasan huyendo los pájaros.
El viento. El viento.
Yo solo puedo luchar contra la fuerza de los hombres.
El temporal arremolina hojas oscuras
y suelta todas las barcas que anoche amarraron al cielo.
Tú estás aquí. Ah tú no huyes
Tú me responderás hasta el último grito.
Ovíllate a mi lado como si tuvieras miedo.
Sin embargo alguna vez corrió una sombra extraña por tus ojos.
Ahora, ahora también, pequeña, me traes madreselvas,
y tienes hasta los senos perfumados.
Mientras el viento triste galopa matando mariposas
yo te amo, y mi alegría muerde tu boca de ciruela.
Cuanto te habrá dolido acostumbrarte a mí,
a mi alma sola y salvaje, a mi nombre que todos ahuyentan.
Hemos visto arder tantas veces el lucero besándonos los ojos
y sobre nuestras cabezas destorcerse los crepúsculos en abanicos girantes.
Mis palabras llovieron sobre ti acariciándote.
Amé desde hace tiempo tu cuerpo de nácar soleado.
Hasta te creo dueña del universo.
Te traeré de las montañas flores alegres, copihues,
avellanas oscuras, y cestas silvestres de besos.
Quiero hacer contigo
lo que la primavera hace con los cerezos.
in Veinte poemas de amor y una canción desesperada (1924) - Pablo Neruda
Nota: para os não entendem muito bem a língua de Cervantes, uma brilhante tradução, de Fernando Assis Pacheco:
Poema 14 (Brincas todos os dias)
Brincas todos os dias com a luz do universo.
Subtil visitadora, chegas na flor e na água.
És mais do que a pequena cabeça branca que aperto
como um cacho entre as mãos todos os dias.
Com ninguém te pareces desde que eu te amo.
Deixa-me estender-te entre grinaldas amarelas.
Quem escreve o teu nome com letras de fumo entre as estrelas do sul?
Ah deixa-me lembrar como eras então, quando ainda não existias.
Subitamente o vento uiva e bate à minha janela fechada.
O céu é uma rede coalhada de peixes sombrios.
Aqui vêm soprar todos os ventos, todos.
Aqui despe-se a chuva.
Passam fugindo os pássaros.
O vento. O vento.
Eu só posso lutar contra a força dos homens.
O temporal amontoa folhas escuras
e solta todos os barcos que esta noite amarraram ao céu.
Tu estás aqui. Ah tu não foges.
Tu responder-me-ás até ao último grito.
Enrola-te a meu lado como se tivesses medo.
Porém mais que uma vez correu uma sombra estranha pelos teus olhos.
Agora, agora também, pequena, trazes-me madressilva,
e tens até os seios perfumados.
Enquanto o vento triste galopa matando borboletas
eu amo-te, e a minha alegria morde a tua boca de ameixa.
O que te haverá doído acostumares-te a mim,
à minha alma selvagem e só, ao meu nome que todos escorraçam.
Vimos arder tantas vezes a estrela d'alva beijando-nos os olhos
e sobre as nossas cabeças destorcerem-se os crepúsculos em leques rodopiantes.
As minhas palavras choveram sobre ti acariciando-te.
Amei desde há que tempo o teu corpo de nácar moreno.
Creio-te mesmo dona do universo.
Vou trazer-te das montanhas flores alegres, «copihues»,
avelãs escuras, e cestos silvestres de beijos.
Quero fazer contigo
o que a primavera faz com as cerejeiras.
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