domingo, junho 30, 2019

O poeta Reinaldo Ferreira morreu há sessenta anos

(imagem daqui)

Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira (Barcelona, 20 de março de 1922 - Lourenço Marques - atualmente Maputo, 30 de junho de 1959) foi um poeta português que realizou toda a sua obra em Moçambique.
Filho do célebre Repórter X, Reinaldo Ferreira chega a Lourenço Marques em 1941, finaliza o 7º ano do liceu e ingressa como aspirante no Quadro Administrativo da Colónia, tendo subido até Chefe de Posto.
Os primeiros poemas começam a ser publicados nos jornais locais ou em revistas de artes e letras. Adapta para a rádio peças de teatro e, mais tarde, colabora no teatro de revista. Autor da letra de canções ligeiras, entre as quais Kanimambo, Uma Casa Portuguesa e Piripiri.
Em 1959 é-lhe detectado cancro do pulmão e morre em junho desse ano. Não editou nenhum livro em vida.
A coletânea dos seus poemas surgiu em 1960.
António José Saraiva e Óscar Lopes compararam-no ao poeta Fernando Pessoa, realçando «o mesmo sentir pensado, a mesma disponibilidade imensamente céptica e fingidora de crenças, recordações ou afectos, o mesmo gosto amargo de assumir todas as formas de negatividade ou avesso lógico».
  
  
Feliz do que é levado a enterrar
 
Feliz do que é levado a enterrar, 
Tão indiferente como quem nasceu! 
Feliz do que não soube desejar, 
Feliz, bem mais feliz do que sou eu! 
 
Feliz do que não riu para não chorar, 
Feliz do que não teve e não perdeu! 
Feliz do que não sofre se ficar, 
Feliz do que partiu e não sofreu! 
 
Feliz do que acha bela e vasta a terra! 
Feliz do que acredita a fome, a guerra, 
Terrores imaginários de crianças! 
 
Feliz do que não ouve o mundo aos gritos, 
Feliz! Felizes todos e benditos 
Os que Deus fez iguais às pombas mansas
 
 
in Poemas (1960) - Reinaldo Ferreira

Sem comentários: