“Haja ou não frutos, pelo sonho é que nós vamos. Basta a fé que nós temos. Basta a esperança naquilo que talvez nós teremos” (Sebastião da Gama, 1924-1952).
A republicação do meu post, Suspeitas sobre os colégios do grupo GPS (11/02/2014), no blogue Geopedrados, do Colega Fernando Oliveira Martins, leva a interrogar-me, de quando em vez, se valerá a pena defender questões que já não dizem directamente respeito à minha situação de aposentado, mas que me dão, por outro lado, o direito de continuar a defender, sem benefício pessoal, causas de que me ocupei durante 12 anos como presidente da Assembleia Geral do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados. Ou seja, lavrar o meu veemente protesto contra a destruição sistemática, pedra por pedra, do multissecular edifício da Escola Pública ao serviço valioso de gerações escolares passadas, actuais e futuras.
Mas talvez seja sina minha, ou destino cruel, de que me não consigo (nem quero) libertar. Remonta ele a idos de 1972, altura em que um grande amigo e biólogo, Augusto Cabral, na apresentação de um dos meus livros, "Sem Contemporizar" (1972), escreveu:
“Mas, para além de tudo, existe a pessoa, o indivíduo, como elemento de uma classe e de uma sociedade e o que realmente conta são os aspectos positivos e válidos e o que também poderei afirmar, sem desmentido seja a de quem for, é que Rui Baptista é um homem que tirou um curso, não para ter um canudo e à sombra deste se instar acomodaticiamente numa secretária à espera do fim do mês, mas sim para, tão-somente, exercer uma profissão que desempenha com honestidade e incontroverso êxito. Não é de admirar, pois, que tenha defendido, desde que o conheço (e já lã vão um ror de anos), a sua posição em particular e da sua classe em geral. Defesa essa em que tem sido intransigente, mesmo quando fica sozinho e luta até ao último alento: até quando lhe falta o apoio daqueles que sobre estes assuntos se deveriam pronunciar, e o não fazem., limitando-se a colher os benefícios, quando os há, da luta que ele tem travado”.
Por isso, sempre com muito apreço li os comentários publicados (o do colega Oliveira Martins e outros) ao meu post supracitado por constituírem um arrimo precioso numa altura em que a docência não constitui um corpus devidamente organizado, ao contrário de outras profissões de igual ou menor exigência académica, organizados numa Ordem Profissional. Contenta-se ela com um aglomerado de docentes proletarizados e pulverizado em mais de uma dezena de sindicatos docentes de diversas tendências políticas), como se a sublime função docente se pudesse circunscrever a meras questões de natureza laboral: vencimentos e horários de trabalho, por exemplo.
O prezado colega Oliveira Martins, com os seus comentários, a anteriores textos meus, tem dado, de há muitos anos para cá, um auxílio precioso e constante a um combate sem tréguas a uma situação em que, como diria Pessoa, o exercício docente é uma arrabalde de uma profissão que exigia ser devidamente dignificada com o título profissional de Professor, devidamente tipificado em deveres e direitos. Em conselho de Santo Agostinho: “Nunca estejas satisfeito com o que és, se queres conseguir aquilo que não és”!
Caro Amigo Rui Baptista: agradeço a atenção dispensada neste post, que não mereço, pois apenas faço o que posso, e é bem pouco, pela Escola Pública, pela Docência e pelos seus atores principais, os Professores. Partilhamos muitos pontos de vista, pese embora o facto de eu ser muito mais novo (sou um jovem de 46 anos...), de não ter a "experiência de saber feito" que dá muitos mais anos de trabalho e muitos mais dados recolhidos, e de não estar ao seu nível (sou um simples professor, embora com experiência em formação de professores e com uma passagem muito gratificante no Ensino Superior). Não sou contra os Sindicatos (embora, não me revendo nos atuais, não seja sindicalizado) nem sou contra o Ensino não público (o meu filho estudou num Jardim Escola João de Deus, dos 3 aos 10 anos, embora eu pagasse na íntegra os custos de tal opção, enquanto muitos colegas seus, com menos possibilidades, fossem apoiados pelo Estado, e aceito que assim há justiça na escolha de escola). Tenho agora o meu filho numa Escola Pública e acho estas muito melhores para preparar um aluno para a vida real e para o acesso ao Ensino Superior - conheço algumas das escolas do grupo GPS que citou no seu artigo e dá-me a volta ao estômago aquilo que lá se faz, o que estado lhes dá e aquilo que eles fazem com o (nosso) dinheiro, bem como a promiscuidade entre políticos/decisores e os seus dirigentes (ou onde terminam uns e começam outros). Acho que algo vai podre no reino da Dinamarca quando não há dinheiro para pagar abaixo do salário mínimo uma tarefeira para apoiar crianças com deficiência profunda, como acontece na minha Escola, e há dinheiro para apoiar a aquisição de Mercedes, autocarros e aulas de equitação em colégios com filhos de gente rica - mas um dia destes as pessoas irão aperceber-se disso. Finalmente, queria agradecer-lhe o facto de continuar a lutar pela criação de uma Ordem dos Professores - o acesso à profissão e as questões éticas são fundamentais para termos uma classe dignificada, que volte a ter o prestígio que no passado teve e que merece, tal como noutros países, ter. O seu esforço é também o meu e enquanto puder estarei consigo nesta luta, até que esta frutifique. Obrigado pelo seu esforço e pelas suas palavras amáveis - o amigo Fernando Oliveira Martins e o blog de geólogos formados em Coimbra entre 85 e 90, os Geopedrados, estarão sempre na primeira linha da luta consigo...!
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