Christoph Willibald Gluck (Berching, 2 de julho de 1714 - Viena, 15 de novembro de 1787) foi um compositor musical alemão. Juntamente com seu principal libretista, Ranieri de' Calzabigi (1714-1795), Gluck foi responsável pela “segunda reforma da ópera”. O impacto dessa reforma ecoou durante muito tempo na história da música. Por conta disso, durante mais de um século a obra de Gluck representou uma fronteira intransponível. Nenhuma ópera séria anterior à sua reforma era representada de forma regular.
(...)
Gluck iniciou estudos de matemática e filosofia em Praga aos dezassete anos, mas deixou Praga sem obter um diploma. Não há registos sobre sua vida até ao ano de 1737, quando foi estudar música em Milão com Giovanni Battista Sammartini. A cidade era um importante centro operístico e não demorou até que Gluck apresentou sua primeira obra, Artaserse, em 26 de dezembro de 1741, com libreto de Metastasio.
Seguiram-se obras escritas para Veneza, como Demetrio (1741) e Ipermestra (1744), Cremona, Il tigrane (1743), Turim, Poro (1744) e Milão, Domofonte (1743), Sofonisba (1744) e Ippolito (1745). Muitas dessas obras utilizaram libretos consagrados de Metastasio que também foram musicados por outros compositores como Hasse, Vivaldi e Händel. Este último conheceu Gluck em Londres, cidade onde foram encenadas La caduta de’giganti e Artemene (1746).
Mas Gluck parece não ter se adaptado bem à capital da Inglaterra. O próprio Händel teria dito, segundo seus biógrafos, que seu cozinheiro Waltz sabia mais contraponto do que ele. Ao voltar ao continente, o compositor começou a trilhar o caminho que o levaria à reforma.
Associando-se, então, a uma companhia itinerante de ópera, Gluck viajou por diversas cidades da Europa no período entre 1747 e 1750, compondo diversas obras. Em 1748, foi escolhido pela corte de Viena para compor Semiramede a partir do libreto de Metastasio. Um dos autores preteridos para essa tarefa foi ninguém menos do que Hasse. Em 1750, casou-se com uma jovem e rica viúva de apenas dezoito anos, a metade de sua idade, Maria Anna Bergin. Graças à fortuna adquirida com o casamento, Gluck passou a desfrutar de grande independência e, em 1752, estabeleceu-se em Viena, cidade na qual ele passou a ocupar o posto de konzertmeister da orquestra do príncipe da Saxónia-Hildburghausen, tornando-se kapellmeister pouco depois.
Reforma da Ópera
O músico continuou a produzir óperas a partir de textos de Metastasio. Mas, a partir de 1758, dedicou-se também a comédias no estilo francês da época, dando novos passos na direção da reforma que só se tornaria realidade após o encontro com Calzabigi.
Desde a publicação do panfleto atribuído a Benedetto Marcello Il teatro alla moda, um dos aspectos mais criticados do mundo lírico era a tirania das grandes estrelas. As árias de ópera haviam se tornado peças de exibição e o conteúdo dramático e até mesmo moral do espetáculo se perdia, cedendo espaço para excessos vocais. Volta-se, mais uma vez, à busca dos ideais da Camerata Fiorentina e da Academia da Arcádia, presentes na origem da ópera e durante a primeira reforma.
A ocasião para levar à cena uma ópera reformada ocorreu em 1762 por ocasião dos festejos em homenagem ao imperador Francisco I (1708-1765), marido de Maria Teresa. O libreto de Orfeo ed Euridice era radical. Ao contrário de todas as versões anteriores da lenda grega levadas aos palcos, a ação começa com Euridice já morta. Os personagens são reduzidos a três: além de Orfeo e Euridice, o deus Amor. A poesia era simples, leve e nobre e o coro desempenhava papel fundamental em toda a trama. Além do teatro clássico, a obra se inspirava na tragédia francesa.
Em termos musicais, Gluck simplesmente baniu a ária da capo de Scarlatti, inibindo os excessos de virtuosismo dos cantores ao final da antiga estrutura ternária A-B-A. Não havia espaço algum para improvisações e os recitativos acompanhados se tornaram tão importantes para a evolução do enredo quanto as árias e coros. Isso deu grande continuidade à composição e pôs fim à característica tão típica da ópera barroca que era fazer de cada ária uma peça relativamente autocontida. Eliminando os rebuscamentos da fase anterior, Gluck simplificou as melodias, fato que encontra um exemplo tocante na ária famosa Che farò sensa Euridice.
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Gluck iniciou estudos de matemática e filosofia em Praga aos dezassete anos, mas deixou Praga sem obter um diploma. Não há registos sobre sua vida até ao ano de 1737, quando foi estudar música em Milão com Giovanni Battista Sammartini. A cidade era um importante centro operístico e não demorou até que Gluck apresentou sua primeira obra, Artaserse, em 26 de dezembro de 1741, com libreto de Metastasio.
Seguiram-se obras escritas para Veneza, como Demetrio (1741) e Ipermestra (1744), Cremona, Il tigrane (1743), Turim, Poro (1744) e Milão, Domofonte (1743), Sofonisba (1744) e Ippolito (1745). Muitas dessas obras utilizaram libretos consagrados de Metastasio que também foram musicados por outros compositores como Hasse, Vivaldi e Händel. Este último conheceu Gluck em Londres, cidade onde foram encenadas La caduta de’giganti e Artemene (1746).
Mas Gluck parece não ter se adaptado bem à capital da Inglaterra. O próprio Händel teria dito, segundo seus biógrafos, que seu cozinheiro Waltz sabia mais contraponto do que ele. Ao voltar ao continente, o compositor começou a trilhar o caminho que o levaria à reforma.
Associando-se, então, a uma companhia itinerante de ópera, Gluck viajou por diversas cidades da Europa no período entre 1747 e 1750, compondo diversas obras. Em 1748, foi escolhido pela corte de Viena para compor Semiramede a partir do libreto de Metastasio. Um dos autores preteridos para essa tarefa foi ninguém menos do que Hasse. Em 1750, casou-se com uma jovem e rica viúva de apenas dezoito anos, a metade de sua idade, Maria Anna Bergin. Graças à fortuna adquirida com o casamento, Gluck passou a desfrutar de grande independência e, em 1752, estabeleceu-se em Viena, cidade na qual ele passou a ocupar o posto de konzertmeister da orquestra do príncipe da Saxónia-Hildburghausen, tornando-se kapellmeister pouco depois.
Reforma da Ópera
O músico continuou a produzir óperas a partir de textos de Metastasio. Mas, a partir de 1758, dedicou-se também a comédias no estilo francês da época, dando novos passos na direção da reforma que só se tornaria realidade após o encontro com Calzabigi.
Desde a publicação do panfleto atribuído a Benedetto Marcello Il teatro alla moda, um dos aspectos mais criticados do mundo lírico era a tirania das grandes estrelas. As árias de ópera haviam se tornado peças de exibição e o conteúdo dramático e até mesmo moral do espetáculo se perdia, cedendo espaço para excessos vocais. Volta-se, mais uma vez, à busca dos ideais da Camerata Fiorentina e da Academia da Arcádia, presentes na origem da ópera e durante a primeira reforma.
A ocasião para levar à cena uma ópera reformada ocorreu em 1762 por ocasião dos festejos em homenagem ao imperador Francisco I (1708-1765), marido de Maria Teresa. O libreto de Orfeo ed Euridice era radical. Ao contrário de todas as versões anteriores da lenda grega levadas aos palcos, a ação começa com Euridice já morta. Os personagens são reduzidos a três: além de Orfeo e Euridice, o deus Amor. A poesia era simples, leve e nobre e o coro desempenhava papel fundamental em toda a trama. Além do teatro clássico, a obra se inspirava na tragédia francesa.
Em termos musicais, Gluck simplesmente baniu a ária da capo de Scarlatti, inibindo os excessos de virtuosismo dos cantores ao final da antiga estrutura ternária A-B-A. Não havia espaço algum para improvisações e os recitativos acompanhados se tornaram tão importantes para a evolução do enredo quanto as árias e coros. Isso deu grande continuidade à composição e pôs fim à característica tão típica da ópera barroca que era fazer de cada ária uma peça relativamente autocontida. Eliminando os rebuscamentos da fase anterior, Gluck simplificou as melodias, fato que encontra um exemplo tocante na ária famosa Che farò sensa Euridice.
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