João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de Messines, 8 de março de 1830 - Lisboa, 11 de janeiro de 1896), mais conhecido por João de Deus, foi um eminente poeta lírico, considerado à época o primeiro do seu tempo, e o proponente de um método de ensino da leitura, assente numa Cartilha Maternal por ele escrita, que teve grande aceitação popular, sendo ainda utilizado. Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto, sendo ainda em vida objecto das mais variadas homenagens e, aquando da sua morte, sepultado no Panteão Nacional. Foi considerado o poeta do amor.
in Wikipédia
Beijo
Beijo na face
Pede-se e dá-se:
Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo:
Vá!
Um beijo é culpa
Que se desculpa:
Dá?
A borboleta
Beija a violeta:
Vá!
Um beijo é graça
Que a mais não passa:
Dá?
Teme que a tente?
É inocente...
Vá!
Guardo segredo,
Não tenha medo...
Vê?
Dê-me um beijinho,
Dê de mansinho,
Dê!
Como ele é doce!
Como ele trouxe,
Flor!
Paz a meu seio;
Saciar-me veio,
Amor!
Saciar-me? louco...
Um é tão pouco,
Flor!
Deixa, concede
Que eu mate a sede,
Amor!
Talvez te leve
O vento em breve,
Flor!
A vida foge.
A vida é hoje,
Amor!
Guardo segredo;
Não tenhas medo
Pois!
Um mais na face
E a mais não passe!
Dois...
Oh! dois? piedade!
Coisas tão boas...
Vês?
Quantas pessoas
Tem a Trindade?
Três!
Três é a conta
Certinha e justa...
Vês?
E o que te custa?
Não sejas tonta!
Três!
Três, sim. Não cuides
Que te desgraças:
Vês?
Três são as Graças,
Três as Virtudes,
Três.
As folhas santas
Que o lírio fecham,
Vês?
E que o não deixam
Manchar, são... quantas?
Três!...
in Campo de Flores (1868) - João de Deus
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