domingo, setembro 09, 2012

O poeta António Sardinha nasceu há 125 anos

(imagem daqui)

António Maria de Sousa Sardinha (Monforte, 9 de setembro de 1887 - Elvas, 10 de janeiro de 1925) foi um político e poeta português. Destacou-se como ensaísta e polemista, produzindo uma obra que se afirmou como a principal referência doutrinária do Integralismo Lusitano. A sua defesa de uma monarquia tradicional, orgânica, antiparlamentar serviu de inspiração a uma influente corrente do pensamento político português da primeira metade do século XX. Apesar de ter falecido prematuramente, conseguiu afirmar-se como referência incontornável para os monárquicos que recusaram condescender com o salazarismo.
António Sardinha foi um adversário da Monarquia da Carta (1834-1910) chegando, no tempo de estudante na Universidade de Coimbra, a defender a implantação de uma República Portuguesa. Depois de 5 de outubro de 1910, profundamente desiludido, acabou por se converter ao ideário realista da monarquia orgânica, tradicionalista, antiparlamentar do "integralismo lusitano", de que foi um dos mais destacados defensores.
A lusitana antiga liberdade do verso de Luís de Camões era uma referência dos integralistas, tendo no municipalismo e no sindicalismo duas palavras-chave de um ideário político que não dispensava o Rei, entendido como o Procurador do Povo e o melhor garante e defensor das liberdades republicanas.
António Sardinha era anti-iberista. Em vez da fusão dos Estados de Portugal e de Espanha, propôs uma aliança entre todos os povos hispânicos, a lançar por intermédio de uma aliança entre os dois Estados da Península - Espanha e Portugal, ambos reconduzidos à monarquia. A Aliança Peninsular entre as duas Monarquias seria, na sua perspectiva, o ponto de partida para a constituição de uma ampla Comunidade Hispânica (dos povos de língua portuguesa e espanhola), a base mais firme onde assentaria a sobrevivência da civilização ocidental.
António Sardinha morreu jovem, com apenas 37 anos.


VELHO MOTIVO

Soneto de Jacob, pastor antigo,
– soneto de Raquel, serrana bela...
Oh! quantas vezes o relembro e digo,
pensando em ti, como se foras Ela!

O que eu servira para viver contigo,
– tão doce, tão airosa e tão singela!
Assim, distante do teu rosto amigo,
em torturar-me a ausência se desvela!

E vou sofrendo a minha pena amarga,
– pena que não me deixa nem me larga,
bem mais cruel que a de Jacob pastor!

Raquel não era dele, e sempre a via,
enquanto que eu não vejo, noite e dia,
aquela que me tem por seu senhor!

in Chuva da Tarde (1923) - António Sardinha

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