António Maria de Sousa Sardinha (
Monforte,
9 de setembro de
1887 -
Elvas,
10 de janeiro de
1925) foi um
político e
poeta português. Destacou-se como ensaísta e polemista, produzindo uma obra que se afirmou como a principal referência doutrinária do
Integralismo Lusitano. A sua defesa de uma
monarquia tradicional, orgânica, antiparlamentar serviu de inspiração a uma influente corrente do pensamento político português da primeira metade do
século XX. Apesar de ter falecido prematuramente, conseguiu afirmar-se como referência incontornável para os monárquicos que recusaram condescender com o
salazarismo.
António Sardinha foi um adversário da
Monarquia da Carta (1834-1910) chegando, no tempo de estudante na
Universidade de Coimbra, a defender a implantação de uma República Portuguesa. Depois de
5 de outubro de
1910, profundamente desiludido, acabou por se converter ao ideário realista da
monarquia orgânica, tradicionalista, antiparlamentar do "
integralismo lusitano", de que foi um dos mais destacados defensores.
A
lusitana antiga liberdade do verso de
Luís de Camões era uma referência dos integralistas, tendo no municipalismo e no sindicalismo duas palavras-chave de um ideário político que não dispensava o Rei, entendido como o
Procurador do Povo e o melhor garante e defensor das liberdades republicanas.
António Sardinha era anti-iberista. Em vez da fusão dos Estados de Portugal e de Espanha, propôs uma aliança entre todos os povos hispânicos, a lançar por intermédio de uma aliança entre os dois Estados da Península - Espanha e Portugal, ambos reconduzidos à
monarquia. A
Aliança Peninsular entre as duas Monarquias seria, na sua perspectiva, o ponto de partida para a constituição de uma ampla Comunidade Hispânica (dos povos de língua portuguesa e espanhola), a base mais firme onde assentaria a sobrevivência da civilização ocidental.
António Sardinha morreu jovem, com apenas 37 anos.
VELHO MOTIVO
Soneto de Jacob, pastor antigo,
– soneto de Raquel, serrana bela...
Oh! quantas vezes o relembro e digo,
pensando em ti, como se foras Ela!
O que eu servira para viver contigo,
– tão doce, tão airosa e tão singela!
Assim, distante do teu rosto amigo,
em torturar-me a ausência se desvela!
E vou sofrendo a minha pena amarga,
– pena que não me deixa nem me larga,
bem mais cruel que a de Jacob pastor!
Raquel não era dele, e sempre a via,
enquanto que eu não vejo, noite e dia,
aquela que me tem por seu senhor!
in Chuva da Tarde (1923) - António Sardinha