D. João IV de Portugal e II de Bragança (Vila Viçosa, 19 de março de 1604 - 6 de novembro de 1656) foi o vigésimo primeiro Rei de Portugal, e o primeiro da quarta dinastia, fundador da dinastia de Bragança.
Era filho de Teodósio II, sétimo duque de Bragança e da duquesa D. Ana de Velasco y Girón, nobre da corte espanhola e filha de Juan Fernández de Velasco, 4.º Duque de Frias, com a duquesa Maria de Téllez-Girón. João IV de Portugal herdou o senhorio da casa ducal em 1630 como D. João II e foi o 8º duque de Bragança, 5º duque de Guimarães e 3.º duque de Barcelos. Foi ainda 7.º marquês de Vila Viçosa e conde de Barcelos, Guimarães, Arraiolos, Ourém e Neiva, e também 14º Condestável de Portugal.
Por via paterna era trineto do rei Manuel I de Portugal, através da duquesa D. Catarina, infanta de Portugal, sua avó paterna. Ficou para a história como O Restaurador (por haver sido restaurada a independência nacional, pois antes Portugal estava sendo dominada por uma Casa Real estrangeira, a Casa de Habsburgo, tendo acontecido isto por casamentos entre a realeza portuguesa e a do Reino de Espanha) ou O Afortunado
(por aparentemente, uma vez "caída a coroa na sua cabeça", não ter
querido reinar, e só se ter decidido após a intervenção da esposa).
Em «História de Portugal», volume V, Joaquim Veríssimo Serrão afirma -
«de seu aio D. Diogo de Melo recebeu aprimorada educação e o gosto pela
montaria; e do doutor Jerónimo Soares uma boa preparação nas letras
clássicas e em teologia. Também se deu a estudos de música, ouvindo as
lições do inglês Robert Tornar, que o duque D. Teodósio contratara para
mestre da capela de Vila Viçosa.»
A Casa de Bragança tinha grande prestígio no reino e o oitavo duque
tinha a vantagem de beneficiar da crescente degradação do governo
filipino e de um ambiente mais propício à revolta, haja vista os
excessos da tributação lançada por Olivares. O duque ajudou a construir
sua própria imagem de homem não comprometido e permitiu que o erguessem
como reserva única da Nação sedenta de autonomia política, segundo
Veríssimo Serrão em sua «História de Portugal», vol. V, página 13.
Quando em Agosto de 1633 visitou o marquês de Ferreira em Évora,
com seu irmão D. Alexandre, «a cidade acolheu-o com as marcas próprias
de um soberano, na desejada antevisão de sua realeza». Para Veríssimo
Serrão, «pode aceitar-se que o projecto de uma revolta tenha depois
ocorrido no Paço de Vila Viçosa, no convívio do duque com dois
precursores da ideia: o secretário João Pinto Ribeiro e Pedro de
Mendonça Furtado, alcaide de Mourão.» A versão de que não queria tomar a
chefia do movimento por receio ou hesitação nasceu porque seu desejo,
«por não sentir a madureza do fruto», estava em aquietar o povo, por
entender que motins trariam a inevitável reação da coroa espanhola.
Teria também havido uma sondagem junto de seu irmão D. Duarte, que
combatia no exército imperial e chegou a Lisboa em 12 de agosto de 1638,
para «concertar os negócios da sua fazenda», em viagem de carácter
particular. Mas sabe-se que o duque não quis arriscar o futuro e se
limitou a promessas de auxílio no caso de o movimento triunfar. Diz
Veríssimo Serrão que «a aparente indecisão do duque encobria, desde a
primeira hora, uma vontade firme de triunfo, servindo plenamente o
desejo dos conjurados. Não era D. João o chefe de uma revolta, mas a
figura a quem cabia exercer a realeza, tendo de estar acima da
organização militar que lhe abria as portas do trono.»
Em 1640,
quando a burguesia e a aristocracia portuguesas, descontentes com o
domínio castelhano sobre Portugal que se propunha efectivar o valido
Olivares, terminando com a Monarquia Dual, quiseram restaurar a dinastia
portuguesa, foi ele o escolhido para encabeçar a causa. Dom João
aceitou a responsabilidade com relutância, diz a lenda que incentivado
sobretudo pela sua mulher Dona Luísa de Gusmão.
Este facto ter-se-á devido à prudência que se impunha na escolha da
conjuntura favorável, e do tempo preparatório necessário para o efeito,
visto Portugal nessa época estar quase desarmado, e Castela ser ainda ao
tempo a maior potência militar na Europa. Dona Luísa de Gusmão, sendo
irmã do Duque de Medina Sidónia que sonhou revoltar-se com a Andaluzia
de que chegou a sonhar ser rei, estaria talvez influenciada por ele.
A nomeação do Duque para governador-geral das armas de Portugal veio a
ser o motor da revolta, propiciando-a. Nos fins de Junho de 1639 esteve
em Almada, sendo visitado por muitos nobres, desesperados alguns com as
violências do governo filipino. Entre eles, Pedro de Mendonça Furtado,
acima referido, Jorge de Melo (irmão do Monteiro-mor), D. Antão de Almada e o velho D. Miguel de Almeida
(da casa de Abrantes). O plano da conjura teria sido então apresentado
ao Duque: eles, e seus parentes e amigos, aclamavam-no em Lisboa,
apoderando-se do Paço, matando o detestado Miguel de Vasconcelos. Mas o
Duque recusou, pela consciência de que «não havia ainda ocasião» e
aconselhou prudência aos mais exaltados. No dia 1º de Julho, o Duque foi
a Lisboa saudar a princesa Margarida e teve calorosa recepção da parte
da nobreza, dos membros do clero e do povo.
Eram factores vivos de revolta a forçada presença de muitos nobres
portugueses em Madrid, e a novidade de um recrutamento de tropas
lusitanas para irem ajudar a reprimir a independência recentemente
declarada da Catalunha. Em Agosto de 1640, Filipe III de Portugal
pretendeu convocar Cortes nos seus outros reinos de Aragão e de
Valência, para aquietar o espírito dos catalães, ordenando que o
acompanhassem nessa jornada também fidalgos portugueses, sobretudo
aqueles que eram comendadores das ordens militares. «Todos compreenderam
que partindo para a Espanha iriam acelerar o processo de absorção
política que o conde-duque de Olivares pretendia», segundo Veríssimo
Serrão, e «na recusa de muitos em cumprir o mandado régio terá de ver-se
o detonador do movimento que veio a estalar em 1º de Dezembro
seguinte.»
Houve então uma reunião em 12 de outubro em casa de D. Antão de Almada. Mendonça Furtado foi a Évora, sondar o Francisco de Melo, marquês de Ferreira,
também ele um Bragança, e outros nobres, e depois a Vila Viçosa, onde
não escondeu ao Duque a urgência dos conjurados em lançarem o movimento.
Para a aceitação de Dom João teriam contribuído António Pais Viegas e a
duquesa D. Luísa que, segundo a tradição romântica tardia, «de maneira
varonil, quebrara os receios do marido ao afirmar que antes queria
morrer reinando do que acabar servindo.»
A 1 de dezembro deu-se o golpe palaciano e, em 15 de dezembro foi aclamado Rei de Portugal.
in Wikipédia
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