(imagem daqui)
O Príncipe Perfeito
Um Príncipe Perfeito em Portugal,
Terra da imperfeição!
Que excessivo perdão
Pode ter quem é rei!
Na bainha do tempo, até o punhal
É uma arma leal!
Assim nela coubesse a alma que sujei...
Perfeito, eu! Perfeito
Um rei que desposava no seu leito
O luto incestuoso da rainha!
Perfeito, eu, que tinha
Um herdeiro da esfera adivinhada,
E o vi morrer, humano,
Com asas de exaurido pelicano,
Às portas da aventura começada!
Perfeito, eu! Perfeito
Quem viu agonizar dentro do peito
A grandeza da vida e quanto fez por ela!
Incapaz, a cobarde caravela
Que mandei ao seu último destino,
Desatado o nó cego, masculino,
Que no sonho enlaçava
A soberba cintura de Castela,
Que perfeição no mundo me ficava?
Pensei, lutei, matei - fiz quanto pude,
Mas em vão.
A quem Deus não ajude,
Tudo são Índias de desilusão.
Miguel Torga
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