sexta-feira, abril 02, 2010

Porque hoje é Sexta-Feira Santa - VI

Pietá

Vejo-te ainda, Mãe, de olhar parado,
Da pedra e da tristeza, no teu canto,
Comigo ao colo, morto e nu, gelado,
Embrulhado nas dobras do teu manto.

Sobre o golpe sem fundo do meu lado
Ia caindo o rio do teu pranto;
E o meu corpo pasmava, amortalhado,
De um rio amargo que adoçava tanto.

Depois, a noite de uma outra vida
Veio descendo lenta, apetecida
Pela terra-polar de que me fiz;

Mas o teu pranto, pela noite além,
Seiva do mundo, ia caindo, Mãe,
Na sepultura fria da raiz.

Miguel Torga

2 comentários:

Carlos Faria disse...

Gostei do soneto, pode-se aplicar a qualquer mãe que sofreu a perda de um filho

Fernando Martins disse...

Obrigado por ter apreciado e pela visita... E votos de boa Páscoa!