Aventura geológica pelas “catacumbas” da cidade
De impermeável vestido, galochas calçadas e capacete na cabeça, um grupo de aficionados pela geologia e hidrogeologia desceu às “catacumbas” da cidade à descoberta de túneis e canais que contam parte da história do abastecimento de água em Coimbra
A festa do 11.º aniversário está marcada para as 16h00. Mas, as comemorações começam bem cedo, com uma manhã de aventura e descobertas pela Coimbra subterrânea. Francisco mora na Rua Pedro Monteiro, mesmo ao lado da mina de água que abastece o Jardim Botânico. Diariamente, passa pelo pequeno portão com as iniciais “J.B.”, no entanto, nunca lhe tinha passado pela cabeça o que existe do lado de lá.
Ontem o dia foi de festa e a mãe fez-lhe a surpresa, oferecendo-lhe este presente especial. Capacete na cabeça e com a lanterna em punho, o portão abre-se para o Francisco e os restantes elementos do grupo.
Em fila indiana, todos se organizam, porque afinal de contas, tudo começa num túnel estreito e com cerca de 60 centímetros de altura. Portanto, mesmo para o Francisco, com os seus 11 anos, a ordem é para agachar.
De cócoras, começa a descoberta da mina, construída nos finais do século XVIII. «Cuidado. Quando forem andando, deixem espaço em relação à pessoa da frente», aconselha Lídia Catarino, um dos elementos desta organização conjunta do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra e do Gabinete de Candidatura à Unesco, integrada no programa “Geologia no Verão 2009” da Ciência Viva.
Lá dentro, à medida que se caminha para o interior da mina, mais fácil se torna a circulação. Sempre com a água a correr debaixo dos pés, ali dispensa-se o uso de galochas de borracha, ao contrário da missão no túnel da Ribela, que se seguiria minutos mais tarde.
«Toca. É rijo», diz alguém, enquanto explora a mina do Jardim Botânico, que também deixou encantado o Bruno, igualmente de 11 anos, que vive em Inglaterra e está a passar férias em Coimbra.
Percorridos os primeiros metros, surge o primeiro poço, que, do exterior, se situa na Avenida Afonso Henriques. Aí, o grupo faz uma pausa e fica a saber que um dos buracos existente nas paredes se destinava a acolher uma figura “obrigatória” nestas zonas de espeleologia, a imagem de Santa Bárbara, padroeira dos mineiros.
Aliás, noutros tempos, um barbeiro, com casa aberta junto à Pousada da Juventude, tantas vezes beneficiou da abundância de águas por baixo do chão. Bastava-lhe descer o balde, para conseguir litros e litros que tanta falta lhe faziam para o ofício.
Mais à frente, os pés que ainda se mantinham mais ou menos secos, estão literalmente na água, que atinge os 30 centímetros no segundo poço do percurso. Pelo meio, um ou outro insecto dão “as boas-vindas” aos visitantes. Terminado o percurso, é tempo de voltar para trás e enfrentar novamente o estreito túnel até à saída.
“Toupeiras humanas”
Durante cerca de meia hora, ninguém vê o sol que brilha lá fora. Os túneis e canais encantam miúdos e graúdos, para quem a claustrofobia não é um problema.
Margarida Viegas trabalha na Faculdade de Economia e todos os dias o seu percurso inclui a passagem pelo pequeno portão com as iniciais “J.B.”. Durante muitos anos, ouvia o barulho da água sem perceber o que afinal estava do lado de lá. Só há pouco tempo percebeu que se tratava de uma mina e só ontem teve a oportunidade de a explorar.
Enquanto, uns percorrem a mina do Jardim do Botânico, outros aventuram-se pelo túnel da Ribela, que serviu para abastecimento de água às propriedades agrícolas dos frades crúzios. Depois, invertem-se os papéis.
Entretanto, os dois grupos encontram-se no Jardim da Sereia e aproveitam para trocar algumas impressões. Como autênticas «toupeiras humanas», quem chega da Ribela acusa um maior cansaço. Afinal, a vários metros abaixo do solo, os canais subterrâneos exigem destreza.
«É muito agradável. Extraordinário, mas um bocadinho exigente. Dá para suar», conta ao Diário de Coimbra Pinto Monteiro, que viajou directamente de Aveiro para participar nesta aventura geológica. As galochas ajudam, mas as calças encharcadas são impossíveis de evitar.
A entrada faz-se pela tampa de saneamento junto às instalações da Polícia Municipal, na Avenida Sá da Bandeira. O desafio é descer 10 metros e depois percorrer os 500 metros das galerias e canais subterrâneos, que terminam no Jardim da Sereia.
Para o pequeno João, de sete anos e residente em Leiria, a Geologia faz parte do seu dia-a-dia. O pai é especialista na matéria, como tal, os tempos livres são passados a descobrir os mistérios das pedras e das águas. Se bem que às vezes preferisse que os pais o levassem a um parque de diversões, o João segue as “pisadas” da família, mas garante, que, quando crescer, não quer ser nada ligado à espeleologia. Antes dos passeios, o grupo junta-se na cisterna do Colégio de S. Jerónimo, onde são prestados alguns esclarecimentos aos participantes. «E as centopeias, onde estão?», pergunta de imediato o João.
Identificado há três anos, aquele espaço funcionou como reservatório de águas, mas acabou por se transformar numa espécie de «lixeira» dos Hospitais da Universidade de Coimbra, explica o geólogo Paulo Morgado, lembrando que a cisterna mais antiga conhecida na Universidade é a que foi descoberta no Pátio das Escolas, junto à estátua de D. João III, que datará da época romana, mas que se encontra «em perfeito estado de conservação».
Com capacidade para 115 metros cúbicos de água, a cisterna do Colégio de S. Jerónimo serviu de ponto de partida para uma aventura pela cidade desconhecida, com centenas de anos, e com potencialidades turísticas que, de futuro, poderão ser atractivo regular de quem visita ou vive em Coimbra.
A festa do 11.º aniversário está marcada para as 16h00. Mas, as comemorações começam bem cedo, com uma manhã de aventura e descobertas pela Coimbra subterrânea. Francisco mora na Rua Pedro Monteiro, mesmo ao lado da mina de água que abastece o Jardim Botânico. Diariamente, passa pelo pequeno portão com as iniciais “J.B.”, no entanto, nunca lhe tinha passado pela cabeça o que existe do lado de lá.
Ontem o dia foi de festa e a mãe fez-lhe a surpresa, oferecendo-lhe este presente especial. Capacete na cabeça e com a lanterna em punho, o portão abre-se para o Francisco e os restantes elementos do grupo.
Em fila indiana, todos se organizam, porque afinal de contas, tudo começa num túnel estreito e com cerca de 60 centímetros de altura. Portanto, mesmo para o Francisco, com os seus 11 anos, a ordem é para agachar.
De cócoras, começa a descoberta da mina, construída nos finais do século XVIII. «Cuidado. Quando forem andando, deixem espaço em relação à pessoa da frente», aconselha Lídia Catarino, um dos elementos desta organização conjunta do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra e do Gabinete de Candidatura à Unesco, integrada no programa “Geologia no Verão 2009” da Ciência Viva.
Lá dentro, à medida que se caminha para o interior da mina, mais fácil se torna a circulação. Sempre com a água a correr debaixo dos pés, ali dispensa-se o uso de galochas de borracha, ao contrário da missão no túnel da Ribela, que se seguiria minutos mais tarde.
«Toca. É rijo», diz alguém, enquanto explora a mina do Jardim Botânico, que também deixou encantado o Bruno, igualmente de 11 anos, que vive em Inglaterra e está a passar férias em Coimbra.
Percorridos os primeiros metros, surge o primeiro poço, que, do exterior, se situa na Avenida Afonso Henriques. Aí, o grupo faz uma pausa e fica a saber que um dos buracos existente nas paredes se destinava a acolher uma figura “obrigatória” nestas zonas de espeleologia, a imagem de Santa Bárbara, padroeira dos mineiros.
Aliás, noutros tempos, um barbeiro, com casa aberta junto à Pousada da Juventude, tantas vezes beneficiou da abundância de águas por baixo do chão. Bastava-lhe descer o balde, para conseguir litros e litros que tanta falta lhe faziam para o ofício.
Mais à frente, os pés que ainda se mantinham mais ou menos secos, estão literalmente na água, que atinge os 30 centímetros no segundo poço do percurso. Pelo meio, um ou outro insecto dão “as boas-vindas” aos visitantes. Terminado o percurso, é tempo de voltar para trás e enfrentar novamente o estreito túnel até à saída.
“Toupeiras humanas”
Durante cerca de meia hora, ninguém vê o sol que brilha lá fora. Os túneis e canais encantam miúdos e graúdos, para quem a claustrofobia não é um problema.
Margarida Viegas trabalha na Faculdade de Economia e todos os dias o seu percurso inclui a passagem pelo pequeno portão com as iniciais “J.B.”. Durante muitos anos, ouvia o barulho da água sem perceber o que afinal estava do lado de lá. Só há pouco tempo percebeu que se tratava de uma mina e só ontem teve a oportunidade de a explorar.
Enquanto, uns percorrem a mina do Jardim do Botânico, outros aventuram-se pelo túnel da Ribela, que serviu para abastecimento de água às propriedades agrícolas dos frades crúzios. Depois, invertem-se os papéis.
Entretanto, os dois grupos encontram-se no Jardim da Sereia e aproveitam para trocar algumas impressões. Como autênticas «toupeiras humanas», quem chega da Ribela acusa um maior cansaço. Afinal, a vários metros abaixo do solo, os canais subterrâneos exigem destreza.
«É muito agradável. Extraordinário, mas um bocadinho exigente. Dá para suar», conta ao Diário de Coimbra Pinto Monteiro, que viajou directamente de Aveiro para participar nesta aventura geológica. As galochas ajudam, mas as calças encharcadas são impossíveis de evitar.
A entrada faz-se pela tampa de saneamento junto às instalações da Polícia Municipal, na Avenida Sá da Bandeira. O desafio é descer 10 metros e depois percorrer os 500 metros das galerias e canais subterrâneos, que terminam no Jardim da Sereia.
Para o pequeno João, de sete anos e residente em Leiria, a Geologia faz parte do seu dia-a-dia. O pai é especialista na matéria, como tal, os tempos livres são passados a descobrir os mistérios das pedras e das águas. Se bem que às vezes preferisse que os pais o levassem a um parque de diversões, o João segue as “pisadas” da família, mas garante, que, quando crescer, não quer ser nada ligado à espeleologia. Antes dos passeios, o grupo junta-se na cisterna do Colégio de S. Jerónimo, onde são prestados alguns esclarecimentos aos participantes. «E as centopeias, onde estão?», pergunta de imediato o João.
Identificado há três anos, aquele espaço funcionou como reservatório de águas, mas acabou por se transformar numa espécie de «lixeira» dos Hospitais da Universidade de Coimbra, explica o geólogo Paulo Morgado, lembrando que a cisterna mais antiga conhecida na Universidade é a que foi descoberta no Pátio das Escolas, junto à estátua de D. João III, que datará da época romana, mas que se encontra «em perfeito estado de conservação».
Com capacidade para 115 metros cúbicos de água, a cisterna do Colégio de S. Jerónimo serviu de ponto de partida para uma aventura pela cidade desconhecida, com centenas de anos, e com potencialidades turísticas que, de futuro, poderão ser atractivo regular de quem visita ou vive em Coimbra.
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