domingo, abril 27, 2008

Jogos Olímpicos de Verão - Pequim 2008

Para perceberem a nossa posição sobre a tristeza que é ver os nossos políticos a vergar a espinha perante um bando de malfeitores, aqui ficam duas imagens bem sugestivas:


sexta-feira, abril 25, 2008

O Portugal de Alexandre O'Neil

Portugal



Ó Portugal, se fosses só três sílabas,

linda vista para o mar,

Minho verde, Algarve de cal,

jerico rapando o espinhaço da terra,

surdo e miudinho,

moinho a braços com um vento

testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,

se fosses só o sal, o sol, o sul,

o ladino pardal,

o manso boi coloquial,

a rechinante sardinha,

a desancada varina,

o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,

a muda queixa amendoada

duns olhos pestanítidos,

se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,

o ferrugento cão asmático das praias,

o grilo engaiolado, a grila no lábio,

o calendário na parede, o emblema na lapela,

ó Portugal, se fosses só três sílabas

de plástico, que era mais barato!



*



Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,

rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,

não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço,

galo que cante a cores na minha prateleira,

alvura arrendada para ó meu devaneio,

bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.



Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,

golpe até ao osso, fome sem entretém,

perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,

rocim engraxado,

feira cabisbaixa,

meu remorso,

meu remorso de todos nós...


Alexandre O'Neill

Recado do O'Neill para professores distraídos e que hoje é bastante actual

A leitura
(brechtiana)

Não te deixes enrolar!
És tu quem tem de pagar...
Põe o dedo em cada letra.
Pergunta: Por que está aqui?

Alexandre O'Neill (1924-1986)

25 de Abril - recordar Zeca

Dia da Liberdade


Sem medo (Poema a um Capitão)


Irás ao Terreiro do Paço.

Irás pedir que este país se cumpra.

Sem sangue. Sem temor. De peito aberto.

Esta terra em que o General Medo e o Almirante Terror dominam.

Que pede o sangue dos filhos

para defender aquilo que já não é.

Este país que não te irá reconhecer,

trocista (e herói, sem o saberes).


Não irás pedir a tença ou galões.

Irás dar uma nova alma à Pátria,

sem pedir e receber nada em troca.


Foste...

Cumpriste.

Fizeste!


Falta cumprir-se Portugal...



Poema inédito - Pedro Luna

25 de Abril

É bom lembrar o dia de hoje, usando as palavras de uma poetisa que o viveu intensamente....


25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, abril 22, 2008

Dia Nacional do Património Geológico


Hoje é o Dia Mundial da Terra e o Dia Nacional do Património Geológico...! Reparem como está hoje a imagem inicial do Google.

Roubemos a palavra ao poeta do granito, o transmontano Torga, para celebrar a data.


Pátria


Serra!
E qualquer coisa dentro de mim se acalma…
Qualquer coisa profunda e dolorida,
Traída,
Feita de terra

E alma.

Uma paz de falcão na sua altura
A medir as fronteiras:
- Sob a garra dos pés e fraga dura,
E o bico a picar estrelas verdadeiras…
................................................................................
Gerês, Pedra Bela, 20 de Agosto de 1942 - Diário II

domingo, abril 20, 2008

Os Sindicatos e a luta dos professores


Tenho olhado atentamente (e participado como posso e ainda consigo, que a força e a vontade já não muitas...) nesta luta entre os professores e o seu Ministério da Educação. Fui a Lisboa em 8 de Março, estou com o Movimento Cívico Em Defesa da Escola Pública e da Dignidade da Docência, tenho ido a diversas reuniões, passeatas e afins, tenho falado tudo quanto posso com os colegas e participei activamente no Dia D. Assim, com a certeza de que tudo fiz para não caíssemos no abismo do qual vertiginosamente nos aproximamos, é para mim claro que há que fazer mais e melhor para que os professores consigam dormir novamente uma noite de sono descansado e para que a Escola Pública sobreviva.

Hoje é difícil encontrar as palavras certas para não ferir susceptibilidades e para levar o barco a bom porto. Os nossos Sindicatos, por motivos que não consigo entender, resolveram fazer uma trégua nesta guerra de 3 anos contra um Ministério iníquo, mentiroso, falso e aldrabão que nos desgoverna. Mas antes de assinarem quiseram o nosso agrément, perguntando aos professores, no Dia D, o que queríamos fazer. Infelizmente o modo de operacionalizar os Plenários Sindicais (e a realização da pergunta, que em vez de ser feita por voto, secreto ou não, foi feito aprovando uma Moção já pré-cozinhada) não foi o melhor: o resultado foram imensas Escolas sem plenários, resultados que nunca mais saem (e isto já depois do acordo assinado...) e muitas dúvidas sem resposta postas aos Sindicatos.

Foi uma pena que os Sindicatos, perante uma Ministra que estava de joelhos, forçada a dialogar pelo PM e PR pela primeira vez ao fim de 3 anos, tivessem tão fraca prestação - a revolta que havia nas Escolas aumento e agora dirige-se parcialmente contra os nossos sindicatos (quem não ouviu já 3 ou 4 colegas a dizerem que vão devolver o cartão do Sindicato...?).

Estando eu também muito triste com o sucedido (apenas adiaram os problemas dois meses - dois míseros meses...) acho que o momento não é para desistir. Há que não entregar cartões, dialogar outra vez, fazer as pontes possíveis entre os Sindicatos, os Movimentos Cívicos, os professores e as Escolas. Porque o que o Ministério nos quer generosamente dar nos próximos tempos é mais do mesmo - e só unidos outra vez conseguiremos manter-nos à tona, na vida e nas escolas.

Recordemos apenas que, em 8 de Março de 2008, estivemos em Lisboa unidos e éramos apenas 100.000 - hoje temos de ser 150.000, o mais depressa possível, para a Escola e os Professores continuem de cara limpa e levantada, sem vergonha de serem o que são e da sua importante função na nossa sociedade.

A propósito das lutas dos professores

QUANTOS SEREMOS?

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

Miguel Torga

quarta-feira, abril 02, 2008

Saída de Campo do Blog Geopedrados

Pia do Urso, Grutas da Moeda e Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire

Os Blogues Geopedrados e GeoLeiria irão realizar, em conjunto com o Departamento de Ciências Físicas e Naturais da Escola Correia Mateus, no dia 05.04.2008, sábado, uma saída de campo para alunos e professores da Escola Correia Mateus e respectivos familiares. Esta será feita recorrendo a veículos dos participantes e será feita nos seguintes moldes:

1. Trajecto

Leiria – S.ª do Monte – S. Mamede – Pia do Urso – Grutas da Moeda – Fátima – Bairro – Leiria.

2. Horário

10.00 – partida da Escola Correia Mateus; 10.30 – Pia do Urso – visita à aldeia, visionamento de filme, realização do ecopercurso e almoço partilhado; 13.00 – Grutas da Moeda - visita; 14.30 – Pedreira do Galinha - observação de filme, visita guiada às pegadas e Jardim Jurássico e merenda partilhada; 17.00 – chegada à Escola Correia Mateus.

3. Custos

- Alunos e outras crianças: 4,50 € (entradas nas Grutas da Moeda e Pedreira do Galinha) + 2,00 € (comparticipação nas despesas de combustível); NOTA: as crianças com menos de 10 anos pagam menos 1 € e têm de trazer assento para carro de criança;
- Professores e familiares adultos de alunos: 7,00 € (entradas nas Grutas da Moeda e Pedreira do Galinha) + 2,00 € (comparticipação nas despesas de combustível); NOTA: os donos dos veículos não pagam este valor e recebem o dinheiro referente às despesas de combustível dos elementos que levarem.

4. Aspectos práticos da visita

- Trazer roupa e calçado para andar no campo e chapéu ou boné, bem como máquina fotográfica (opcional);
- Levar protector solar;
- Trazer água e alimentação (o almoço e merenda serão em pic-nic partilhado).

NOTA: As pessoas interessadas devem contactar-me, por e-mail, indicando quantos adultos e quantas crianças vão e se pretendem levar automóvel.

Afinal, o post anterior...

...era a nossa peta de 1º de Abril...!

terça-feira, abril 01, 2008

Má notícia

Tivemos acesso, há poucos momentos, a uma informação que dá conta de uma doença súbita do Primeiro Ministro, Eng.º José Sócrates, que se sentiu mal quando, ao passar num remota aldeia do concelho da Guarda, se deu conta da qualidade técnica dos projectos de engenharia construídos nesse local, pelo que houve necessidade de fazer uma remodelação no Governo que passamos a explicitar:

1. Temporariamente o lugar de Primeiro Ministro é ocupado pela actual Ministra da Educação, Doutora Maria de Lurdes Rodrigues, até ao restabelecimento do nosso Presidente do Conselho.

2. O Eng.º Valter Lemos passa para Ministro da Educação, sendo substituído no seu cargo de Secretário de Estado Adjunto e da Educação por João Sebastião, actual coordenador do Observatório da Segurança Escolar.

3. O Ministro da Ciência e Universidades, Doutor Mariano Gago, sai do Governo, sendo substituído pelo Doutor Jorge Pedreira.

4. O Ministro dos Assuntos Parlamentares, Doutor Augusto Santos Silva, sai, sendo substituído pelo Senhor Albino Almeida, presidente da CONFAP.

5. O cargo de Secretária de Estado da Educação passa para a Dr.ª Margarida Moreira, actual Directora Regional da Educação do Norte.

6. O PS passa temporariamente a chamar-se PS-ML, em homenagem à líder temporária, sendo excluidos do partido Ana Benavente, Teresa Portugal e Manuel Alegre, por delito de opinião.

domingo, março 30, 2008

Ética e Política

Nestes tempos em que se ouve tanto falar em ética republicana (...haverá também ética monárquica...?) seria interessante reflectirmos um pouco sobre algumas decisões de S.ª Ex.cia a Ministra da Educação, pois às vezes isto da ética (ou falta dela...) é uma chatice, até porque os professores e os cidadãos têm memória.

1. Na 6ª-feira passada, numa sessão de esclarecimento em Viseu do Secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, para membros dos Órgãos de Gestão de Escolas públicas da zona, houve um protesto, comandado pelo secretário-geral da FENPROF. Para além do problema da avaliação dos docentes, foi abordado um assunto (pelos dois Secretários, o da Ministra e o do Sindicato) que me mereceu uma pesquisa que queria partilhar convosco - o triste caso dos professores doentes que o Ministério da Educação quer que passem a ex-professores - vulgo "mobilidade especial dos professores declarados incapazes para dar aulas".

2. Por diversos motivos sempre houve professores que, momentaneamente ou ad aeternum, ficaram incapazes de dar aulas. Porque tiveram problemas de foro oncológico, ou ficaram com doenças infecto-contagiosas, ou tiveram problemas vocais, ou se desequilibraram psicologicamente (a profissão, neste aspecto, é muito dura) ou por qualquer outra causa de foro médico, alguns precisam por vezes de parar um certo tempo. A resposta do Ministério da Educação a estes casos era retirar a componente lectiva (total ou parcialmente) a estes professores e dar-lhes outras actividades na Escola - Biblioteca, Clubes Escolares, aulas de apoio, salas de estudo, colaboração com o Órgão de Gestão, apoio na gestão de material escolar e preparação de material experimental, etc. Quem deu tudo o que tinha à Escola não devia ser posto fora dela, até porque apesar dos seus problemas podia ainda ser útil a esta instituição...

3. Quando o Governo (esquecendo as suas promessas eleitorais) começou a falar em pôr na rua alguns Funcionários Públicos - os supranumerários... - a Ministra da Educação teve a gentileza de dizer, em Novembro de 2006, na discussão do Orçamento de Estado, na Assembleia da República, que os professores não seriam afectados por essa ameaça:
"Não tencionamos colocar um único professor no quadro de supranumerários", assegurou Maria de Lurdes Rodrigues no debate do Orçamento de Estado para 2007 na especialidade, adiantando que o seu ministério está a preparar soluções alternativas, que permitam aos docentes desempenhar outras funções nas escolas, nomeadamente de carácter técnico. - texto completo AQUI
4. Mas a memória dos políticos é curta, e a sua boca diz coisas que o cérebro não mandou dizer - só pode ser esta a explicação para o que o Secretário de Estado Valter Lemos colocou num novo diploma, em que aquilo que disse a Ministra da Educação, seu superior hierárquico, se tornou letra morta. Numa notícia do Público, de 10.10.2007, o SE dizia o seguinte:
A mobilidade especial torna-se uma solução de fim de linha, só quando todas as outras estão esgotadas, designadamente a aposentação, a reclassificação ou reconversão ou a vontade do próprio docente pedir uma licença sem vencimento", explicou o secretário de Estado Adjunto e da Educação. - ler texto completo AQUI
Dava novo sentido à expressão "o que hoje é verdade amanhã é mentira"... De tal maneira que um partido político chamou ao Parlamento a ME, porque:
«Na discussão do Orçamento de Estado do ano passado, a ministra disse no Parlamento que não havia a intenção de colocar um único professor no quadro dos supranumerários», recordou o líder parlamentar do CDS-PP, Diogo Feio, em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.

(...)

Para o líder parlamentar democrata-cristão, «não está por enquanto em causa o conteúdo da medida» mas a contradição entre a posição de Maria de Lurdes Rodrigues e a medida agora anunciada.

«Como achamos que a palavra de um político tem imenso peso, consideramos essa mudança de posição pública muito grave», criticou Diogo Feio.

A esta contradição, o presidente da bancada democrata-cristã acrescentou outras como a promessa de não fechar escolas com menos de dez anos ou a garantia de que a repetição dos exames nacionais era legal, o que foi depois desmentido por decisões judiciais.

«Porque achamos que a palavra é importante (...) vamos requerer com urgência a vinda da ministra da Educação à comissão para explicar estas contradições», anunciou. - ler texto completo AQUI


5. Infelizmente esta estória não tem moral - aliás, quod erat demonstrandum, como alguns dos nossos políticos que nos desgovernam e se vão governando a eles próprios. A minha única mágoa nesta tristeza fica com os mais de 2.000 professores a quem o Ministério das Avaliações, perdão, da Educação, tirou a saúde, a vida e os melhores anos da vida e que agora chuta para fora como se fazia antigamente a um cão velho...

sábado, março 29, 2008

A Escola que estamos a construir

Antigamente (eu entrei para a Escola quando o Presidente do Conselho era o Doutor Marcello Caetano...) o paradigma de Escola passava por uma instituição que era para quase todos mas muito poucos chegavam aos seus últimos patamares, em que o mérito era reconhecido mesmo aos que pertenciam a estratos sociais mais baixos mas, dada a estreiteza da peneira, poucos avançavam nos estudos. Podia haver falta de liberdade, haveria injustiças (mas sempre as houve e as haverá em qualquer instituição...) contudo a Escola era um local de aprendizagem, de educação e de promoção social dos que nela empenhavam o seu tempo e esforços.

Depois com a democracia e a liberdade (por vezes confundida com libertinagem, problema do qual ainda hoje se sentem as consequências) o paradigma de Escola mudou, paulatinamente. Chegou ao ponto que a seguinte estória relata...

Os patos preferem a escola

O TEMPO em que os animais falavam, os bichos constataram que o meio em que viviam começava a tornar-se cada vez mais complexo e havia que impor novas hierarquias, estabelecer novos parâmetros de comportamento, uma vez que já não chegavam os seus instintos inatos para enfrentar as modificações do meio. Esta necessidade deu lugar à ideia de ESCOLA: uma estrutura social, que os habilitaria, A TODOS, para enfrentar as crescentes modificações a que assistiam. Foram escolhidos os melhores animais para a docência, isto é, os reconhecidos como mais experientes, alta profissionalização nos seus domínios específicos, grandes títulos em competições. O reconhecimento destas qualificações envaideceu-os, naturalmente, e a maioria esqueceu, desde logo, a razão por que estava ali. Com muitas reuniões gerais de professores, muitas reuniões de grupo, reuniões de conselho pedagógico, de departamento, de secções, reuniões de conselho executivo, etc… escolheram o seguinte currículo: Nadar, Correr, Voar, Galgar montes e Saltar obstáculos.

Os primeiros alunos foram o Cisne, o Pato, o Coelho e o Gato.

Começadas as aulas, cada professor, altamente preocupado com a sua disciplina, preparava primorosamente a matéria, dava sem perder tempo, procurando cumprir o programa e a planificação do mesmo. Faziam, assim jus aos seus títulos e competências. Mas os alunos iam-se desencantando com a tão sonhada escola. Vejam o caso particular de cada aluno:
  • O Cisne, nas aulas de correr, voar e galgar montes era um péssimo aluno. E mesmo quando se esforçava, ao ponto de ficar com as patas ensanguentadas das corridas e calos nas asas, adquiridos na ânsia de voar, tinha notas más. O pior era que, com o esforço e desgaste psicológico despendido nessas disciplinas, estava a enfraquecer na natação, em que era o máximo.
  • O Coelho, por sua vez padecia nas matérias de nadar e voar. Como poderia voar se não tinha asas? Em se tratando de nadar, a coisa também não era fácil não tinha nascido para aquilo. Em contrapartida, ninguém melhor do que ele, corria e galgava montes.
  • O Gato tinha problemas idênticos ao do coelho, nas disciplinas de natação e voo. Ele bem insistia com o professor que, se o deixasse voar de cima para baixo, ainda poderia ter êxito. Só que o professor não aceitava essa ideia louca: não estava contemplada no programa aprovado e o critério de selecção era igual para todos.
  • O Pato, finalmente, voava um pouquinho, corria mais ou menos, nadava bem mas muito pior do que o cisne, e desastradamente, embora com algum desembaraço, até conseguia subir montes e saltar obstáculos. Não tinha reprovações a nenhuma disciplina, como os seus restantes colegas o que fazia sumamente brilhante nas pautas finais.
Os professores consideraram-no o aluno mais equilibrado, deram-lhe a possibilidade de prosseguir estudos e, com tantos “atributos”, até fomentaram nele a esperança de um dia, poder vir a ser professor.

Os restantes alunos estavam inconformados. Nada tinham contra o pato, gostavam dele, compreendiam o seu grau mínimo de suficiência a todas as disciplinas, mas, perguntavam-se: a espantosa capacidade do Coelho em saltar obstáculos, correr e galgar montes não poderia ser aproveitada para enfrentar as tais novas situações sociais, que os levaram a ter a ideia de ESCOLA? E o Gato? De nada lhe serviria correr e saltar melhor do que o Pato? E que utilidade teria, para o Cisne, nadar como nenhum outro? Cada um tinha, de facto, a sua queixa justificada. Escola, pensavam eles era o local onde aperfeiçoariam as capacidades que tinham, de modo a po-las ao serviço da sociedade. Se as coisas já estavam difíceis, que fazer agora com a tremenda frustração de não servirem para nada? Foram falar com os professores. As limitações de cada um eram um facto, eles sabiam que jamais seriam polivalentes, de modo a terem grandes escolhas. Contudo, se reprovassem no ano seguinte estariam exactamente na mesma situação.

Os professores lamentaram muito. Havia um programa, superiormente estabelecido e a questão era só esta: Ninguém tinha média igual ao do Pato e, por isso, na sua mediocridade, ele era, estatisticamente superior a todos.

Os outros alunos abandonaram a escola. Desde então por razões óbvias a escola atrai mais os patos e, na sociedade são eles que dominam.


in Noesis, nº20, Setembro de 1991

Só assim se entende, no âmbito da Escola de Patos, que tenhamos um primeiro ministro que se auto-intitula, generosamente, Engenheiro, com um currículo invejável (eu, com estes olhos que a terra há-de comer, garanto que já vi a obra de engenharia do senhor José, pois como guardense de nascimento já vi muitas das obras primas com que ele honrou as terras onde os seus projectos foram construídos...).

Hoje há a tentativa de mudar novamente o paradigma da Escola: agora esta instituição vai nivelar tudo por baixo - vai reconhecer os saberes ocultos das pessoas, vai dar novas oportunidades aos que nunca as mereceram, vai passar os absentistas, vai fazer surgir miraculosamente o sucesso para europeu ver, vai castigar os professores que se atrevem a reprovar os alunos, vai dar mérito a quem o nunca mereceu nem sabe o que é isso...

E agora Vossas Excelências irão perguntar "então e outros...?". Os outros, os que trabalham, os que merecem, os que querem saber mais...? Esses sempre se safaram, dirá o governo - logo não têm interesse nenhum...

A prova disto? Ora leiam esta notícia do Público para perceberem para onde está a ir a Escola:

Pais preocupadas com o que dizem ser um retrocesso
Vazio legal não permite que crianças sobredotadas possam matricular-se no 1.º ano
29.03.2008 - 11h26 Bárbara Wong

António (nome fictício) sabe ler desde os quatro anos. É também desde essa idade que efectua operações matemáticas que não se aprendem no jardim-de-infância. António tem cinco anos e só faz os seis em 2009, mas poderia entrar no 1.º ciclo já no próximo ano lectivo, não fosse o vazio legal que o Decreto-Lei n.º 3/2008 criou para as crianças sobredotadas.

Actualmente, não existe legislação que possibilite a antecipação da entrada no 1.º ciclo às crianças que revelam ter capacidades acima da média. Só que, até agora, era possível fazê-lo, desde que a criança revelasse maturidade e que essa fosse tecnicamente comprovada por um psicólogo.

A legislação que entrou em vigor deixou os sobredotados de fora. "As situações de precocidade excepcional ficaram sem enquadramento legal", confirma a Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo (DREL) aos pais de uma criança sobredotada, que colocaram a questão a este serviço do Ministério da Educação.

Nesta situação estão algumas centenas de crianças, calcula Helena Serra, presidente da Associação Portuguesa de Crianças Sobredotadas (APCS), do Porto. Mensalmente, cinco em cada 40 casos que acompanha na associação são de meninos nestas circunstâncias, revela.

Para os pais de António, "não é concebível" mantê-lo mais um ano no jardim-de-infância. "Ele lê e interpreta o que lê. Por isso, desinteressa-se do que os outros fazem. Diz que são bebés porque não sabem ler como ele e a educadora", conta a mãe, considera que, se não fosse tão pequeno, estaria apto para o 2.º ano.

Perante a resposta da DREL, a deputada independente Luísa Mesquita pergunta ao ministério qual é a solução que propõe; se estão previstas alterações legislativas que prevejam a sua inscrição antecipada e para quando.

Também a APCS e o Centro Português para a Criatividade, Inovação e Liderança (CPCIL), de Lisboa, já colocaram a mesma questão à tutela. E acusam-na de "retrocesso".

Em carta dirigida a Maria de Lurdes Rodrigues, a fundadora do CPCIL, Manuela Freitas, lembra que habitualmente, entre Fevereiro e Março, é enviado às direcções regionais uma circular para regulamentar o ingresso antecipado. "Pensamos que às crianças não devem ser retirados os direitos de aprender com o seu ritmo individual e não apenas segundo normas arbitrárias e reguladas pelo calendário", escreve Manuela Freitas.

Helena Serra, da APCS, diz que é uma "dor de alma" ver crianças com maturidade permanecerem no pré-escolar. Manuela Freitas refere o "sofrimento dos pais e das crianças por serem obrigadas a estar inseridas em grupos cujas actividades já nada lhes dizem". Algum do insucesso escolar dos sobredotados justifica-se por estarem desenquadrados na escola, explicam.

A lei esqueceu os sobredotados "de propósito" porque "dão mais trabalho na sala de aula", diz Helena Serra. Também Manuela Freitas aponta que "os professores do 1.º ciclo têm medo das crianças de cinco anos". Para Luísa Mesquita, o "vazio da lei não é intencional, é mesmo incompetência". A deputada lembra que esta questão foi colocada no Parlamento, aquando da discussão da lei, e que "o PS disse que se resolveria de outra forma". O PÚBLICO pediu esclarecimentos à tutela, mas não recebeu nenhuma resposta em tempo útil.
É uma pena que mais uma vez, por causa das modas e do eduquês que alguns gostam, seja novamente tudo posto em causa e a Escola retroceda mais uma vez...

Até quando teremos de aturar estas experiências?

sexta-feira, março 28, 2008

Uma breve explicação

Aos nossos leitores, que nos merecem todo o respeito e carinho, uma pequena explicação sobre o silêncio que tem imperado neste Blog:

1. Sendo o principal responsável pelo Blog um professor, a actual instabilidade a que o seu local de trabalho e o seu grupo profissional foram sujeitos levaram a que fosse necessário uma paragem para reflectir sobre muitas coisas - nomeadamente o que fazer com este Blog, o que estou a fazer na Escola e o que quero nos próximos tempos.

2. Tendo oportunidade de trabalhar na luta de forma mais directa nesta luta dos professores, através da participação nas múltiplas actividades do Movimento Cívico Em Defesa da Escola Pública e da Dignidade da Docência, sediado na minha cidade do Liz, houve necessidade de parar algumas coisas que o que estava a fazer ficasse bem feito.

3. Depois de profunda reflexão, decidi que era tempo de continuar com o Blog - apesar de tudo o que fizeram, fazem e provavelmente irão fazer aos professores, não me irão vergar - e note-se que este desabafo não é dirigido a ninguém da minha Escola onde, apesar de tudo o que lá se passou, continua a ser o local onde quero continuar a exercer o meu trabalho de docente...

sexta-feira, março 07, 2008

Porque o Silêncio é uma arma poderosa...

Contra a Propaganda e o Ruído, o Silêncio é uma arma poderosa e impressionante, quando partilhada por muitos milhares.

Porque mais assustador do que a estridência. Porque mais inesperado. Porque já sabem(os) todos ao que vamos.

Quem guiará amanhã os nossos passos?

Amanhã iremos mostrar que ainda podemos superar o medo, a afronta e a iniquidade. Amanhã caminharemos juntos, unidos, porque a albarda não nos fica bem (não, não somos burros ou bestas de carga, senhora Ministra...). Amanhã caminharemos juntos porque há que defender Escola Pública, os nossos alunos e os nossos direitos de cidadãos.

Muitos de nós nunca foram a uma manifestação. Por opção pessoal, pelo trabalho que se leva para casa e assim ficaria para segundas núpcias ou por simples comodismo. Mas amanhã, unidos, iremos seguir juntos para mostrar que ainda há Homens e Mulheres livres dentro das Escolas. Iremos colocar o dia 8 de Março de 2008 num lugar único dentro da história da Educação e Ensino em Portugal. E é com o desejo de fazer História que amanhã muitos irão a Lisboa - porque é fácil quebrar o ramo isolado mas o feixe que somos todos nós não vergará!

Como dizia o colega Rómulo de Carvalho, através da boca do poeta António Gedeão, tem de ser! Guie-nos a palavra do poeta no nosso caminho:

Estrela da Manhã



Numa qualquer manhã, um qualquer ser,
vindo de qualquer pai,
acorda e vai.
Vai.
Como se cumprisse um dever.


Nas incógnitas mãos transporta os nossos gestos;
nas inquietas pupilas fermenta o nosso olhar.
E em seu impessoal desejo latejam todos os restos
de quantos desejos ficaram antes por desejar.


Abre os olhos e vai.


Vai descobrir as velas dos moinhos
e as rodas que os eixos movem,
o tear que tece os linhos,
a espuma roxa dos vinhos,
incêndio na face jovem.


Cego, vê, de olhos abertos.
Sozinho, a multidão vai com ele.
Bagas de instintos despertos
ressumam-lhe à flor da pele.


Vai, belo monstro.
Arranca
as florestas com os teus dentes.
Imprime na areia branca
teus voluntariosos pés incandescentes.


Vai.


Segue o teu meridiano, esse,
o que divide ao meio teus hemisférios cerebrais;
o plano de barro que nunca endurece,
onde a memória da espécie
grava os sonos imortais.


Vai.


Lábios húmidos do amor da manhã,
polpas de cereja.
Desdobra-te e beija
em ti mesmo a carne sã.


Vai.


À tua cega passagem
a convulsão da folhagem
diz aos ecos
«tem que ser»;
o mar que rola e se agita,
toda a música infinita,
tudo grita
«tem que ser».


Cerra os dentes, alma aflita.
Tudo grita
«Tem que ser».


in Movimento Perpétuo (António Gedeão)

Post retirado do Blog Em defesa da Escola Pública

quinta-feira, março 06, 2008

8 de Março de 2008

Prece

Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Fernando Pessoa, Mensagem

Antes que a noite escura caia sobre as Escolas

Irei, como uma esmagadora maioria dos docentes portugueses, estar presente, pela primeira vez em corpo e alma, na Manifestação de Professores de Lisboa, no sábado, dia 8 de Março de 2008. Muitos estarão só em espírito connosco - há a família, os testes, a nova legislação para ler, os comprimidos que nunca mais fazem efeito, a lida da casa, os compromissos familiares, o medo, mas mesmo assim, no sábado, seremos todos um só.

Porque é a longa noite que nos querem impor e em que querem mergulhar a Escola Pública, há que recordar que a Escola actual, com todas as suas falhas e insuficiências, é um local democrático em que se ensina democracia ao vivo. E fartos de prepotências, de ditadorzecos, de aldrabices e de mentiras, estamos todos nós.

Assim, antes que a noite caia e nos cale a todos, permitamos que a música mostre a minha e nossa revolta...

Sun Goes Down (David Jordan)

Open your eyes coz another day is dawning,
Children of the night , can you hear them all calling.
Stars open up and an angel starts falling,
Listen to their beats, can you hear them hollering

Start in the morning, through to the evening
Dance like you’re the only one around
Move like you want it
Grove like you need it,
Dancing it up till the sun goes down

Free your mind coz tonight we’re gonna break it down
Shake make it funky down
Get so high as the toxins in your body
Are the bass and the drums and the ra, ra, ra
We’re right on time, & all is fine
If you’ve lost your senses here have mine and..

Lose yourself in the time you awake wait till the evening time
‘till the sunshine breaks.

Ahh Common
Open your eyes coz another day is dawning,
Children of the night , can you hear them all calling.
Skies open up and an angel starts falling,
Listen to the beats, can you hear them hollering

Stop in the morning, through to the evening
Dance like you’re the only one around
Move like you want it
Grove like you need it,
Dancing it up til the sun goes down.

Till the sun goes down…

Go Come on for this makes for hysteria
You feelin what we bring to y’all..
Peace and love find yourself gettin down tonight, tonight tonight, tonight

Fire is burning on and theres children in the forest playing
Just come forget this to forget the beats hunting for its prey
Yeaaah… noo noooo ..yeaaaah eeyy..

Till the sun goes down
Till the sun goes
Sun goes down
Sun goes down sun goes down
Sun goes dooooowwn!

Open your eyes coz another day is dawning,
Children of the night , can you hear them all calling.
Skies open up and an angel starts falling,
Listen to the beats, can you hear them hollering

Stop in the morning, through to the evening
Dance like you’re the only one around
Move like you want it
Grove like you need it,
Dancing it up till the sun goes down

quarta-feira, março 05, 2008

Jornadas em Leiria - Pedra, Barro e Areia: Estratégias de Conservação e Exploração Sustentável

A Oikos – Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria, vai levar a cabo, nos dias 14 e 15 de Março (Sexta e Sábado) de 2008, no auditório da ESTG – Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria, as XIV Jornadas Sobre Ambiente e Desenvolvimento, subordinadas ao tema “Pedra, Barro e Areia: Estratégias de Conservação e Exploração Sustentável”.

Programa das XIV Jornadas: AQUI (documento pdf com 1Mb)



OIKOS - Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria
Av. Cidade Maringá - Centro Associativo Municipal - sala 9
Apartado 2840 - 2401 - 901 Leiria

Telefone e Fax: (+351) 244 828 555
oikosambiente@mail.telepac.pt
www.oikosambiente.com