Antigamente (eu entrei para a Escola quando o Presidente do Conselho era o Doutor Marcello Caetano...) o paradigma de Escola passava por uma instituição que era para quase todos mas muito poucos chegavam aos seus últimos patamares, em que o mérito era reconhecido mesmo aos que pertenciam a estratos sociais mais baixos mas, dada a estreiteza da peneira, poucos avançavam nos estudos. Podia haver falta de liberdade, haveria injustiças (mas sempre as houve e as haverá em qualquer instituição...) contudo a Escola era um local de aprendizagem, de educação e de promoção social dos que nela empenhavam o seu tempo e esforços.
Depois com a democracia e a liberdade (por vezes confundida com libertinagem, problema do qual ainda hoje se sentem as consequências) o paradigma de Escola mudou, paulatinamente. Chegou ao ponto que a seguinte estória relata...
Só assim se entende, no âmbito da Escola de Patos, que tenhamos um primeiro ministro que se auto-intitula, generosamente, Engenheiro, com um currículo invejável (eu, com estes olhos que a terra há-de comer, garanto que já vi a obra de engenharia do senhor José, pois como guardense de nascimento já vi muitas das obras primas com que ele honrou as terras onde os seus projectos foram construídos...).
Hoje há a tentativa de mudar novamente o paradigma da Escola: agora esta instituição vai nivelar tudo por baixo - vai reconhecer os saberes ocultos das pessoas, vai dar novas oportunidades aos que nunca as mereceram, vai passar os absentistas, vai fazer surgir miraculosamente o sucesso para europeu ver, vai castigar os professores que se atrevem a reprovar os alunos, vai dar mérito a quem o nunca mereceu nem sabe o que é isso...
E agora Vossas Excelências irão perguntar "então e outros...?". Os outros, os que trabalham, os que merecem, os que querem saber mais...? Esses sempre se safaram, dirá o governo - logo não têm interesse nenhum...
A prova disto? Ora leiam esta notícia do Público para perceberem para onde está a ir a Escola:
Depois com a democracia e a liberdade (por vezes confundida com libertinagem, problema do qual ainda hoje se sentem as consequências) o paradigma de Escola mudou, paulatinamente. Chegou ao ponto que a seguinte estória relata...
Os patos preferem a escola
O TEMPO em que os animais falavam, os bichos constataram que o meio em que viviam começava a tornar-se cada vez mais complexo e havia que impor novas hierarquias, estabelecer novos parâmetros de comportamento, uma vez que já não chegavam os seus instintos inatos para enfrentar as modificações do meio. Esta necessidade deu lugar à ideia de ESCOLA: uma estrutura social, que os habilitaria, A TODOS, para enfrentar as crescentes modificações a que assistiam. Foram escolhidos os melhores animais para a docência, isto é, os reconhecidos como mais experientes, alta profissionalização nos seus domínios específicos, grandes títulos em competições. O reconhecimento destas qualificações envaideceu-os, naturalmente, e a maioria esqueceu, desde logo, a razão por que estava ali. Com muitas reuniões gerais de professores, muitas reuniões de grupo, reuniões de conselho pedagógico, de departamento, de secções, reuniões de conselho executivo, etc… escolheram o seguinte currículo: Nadar, Correr, Voar, Galgar montes e Saltar obstáculos.
Os primeiros alunos foram o Cisne, o Pato, o Coelho e o Gato.
Começadas as aulas, cada professor, altamente preocupado com a sua disciplina, preparava primorosamente a matéria, dava sem perder tempo, procurando cumprir o programa e a planificação do mesmo. Faziam, assim jus aos seus títulos e competências. Mas os alunos iam-se desencantando com a tão sonhada escola. Vejam o caso particular de cada aluno:Os professores consideraram-no o aluno mais equilibrado, deram-lhe a possibilidade de prosseguir estudos e, com tantos “atributos”, até fomentaram nele a esperança de um dia, poder vir a ser professor.
- O Cisne, nas aulas de correr, voar e galgar montes era um péssimo aluno. E mesmo quando se esforçava, ao ponto de ficar com as patas ensanguentadas das corridas e calos nas asas, adquiridos na ânsia de voar, tinha notas más. O pior era que, com o esforço e desgaste psicológico despendido nessas disciplinas, estava a enfraquecer na natação, em que era o máximo.
- O Coelho, por sua vez padecia nas matérias de nadar e voar. Como poderia voar se não tinha asas? Em se tratando de nadar, a coisa também não era fácil não tinha nascido para aquilo. Em contrapartida, ninguém melhor do que ele, corria e galgava montes.
- O Gato tinha problemas idênticos ao do coelho, nas disciplinas de natação e voo. Ele bem insistia com o professor que, se o deixasse voar de cima para baixo, ainda poderia ter êxito. Só que o professor não aceitava essa ideia louca: não estava contemplada no programa aprovado e o critério de selecção era igual para todos.
- O Pato, finalmente, voava um pouquinho, corria mais ou menos, nadava bem mas muito pior do que o cisne, e desastradamente, embora com algum desembaraço, até conseguia subir montes e saltar obstáculos. Não tinha reprovações a nenhuma disciplina, como os seus restantes colegas o que fazia sumamente brilhante nas pautas finais.
Os restantes alunos estavam inconformados. Nada tinham contra o pato, gostavam dele, compreendiam o seu grau mínimo de suficiência a todas as disciplinas, mas, perguntavam-se: a espantosa capacidade do Coelho em saltar obstáculos, correr e galgar montes não poderia ser aproveitada para enfrentar as tais novas situações sociais, que os levaram a ter a ideia de ESCOLA? E o Gato? De nada lhe serviria correr e saltar melhor do que o Pato? E que utilidade teria, para o Cisne, nadar como nenhum outro? Cada um tinha, de facto, a sua queixa justificada. Escola, pensavam eles era o local onde aperfeiçoariam as capacidades que tinham, de modo a po-las ao serviço da sociedade. Se as coisas já estavam difíceis, que fazer agora com a tremenda frustração de não servirem para nada? Foram falar com os professores. As limitações de cada um eram um facto, eles sabiam que jamais seriam polivalentes, de modo a terem grandes escolhas. Contudo, se reprovassem no ano seguinte estariam exactamente na mesma situação.
Os professores lamentaram muito. Havia um programa, superiormente estabelecido e a questão era só esta: Ninguém tinha média igual ao do Pato e, por isso, na sua mediocridade, ele era, estatisticamente superior a todos.
Os outros alunos abandonaram a escola. Desde então por razões óbvias a escola atrai mais os patos e, na sociedade são eles que dominam.
in Noesis, nº20, Setembro de 1991
Só assim se entende, no âmbito da Escola de Patos, que tenhamos um primeiro ministro que se auto-intitula, generosamente, Engenheiro, com um currículo invejável (eu, com estes olhos que a terra há-de comer, garanto que já vi a obra de engenharia do senhor José, pois como guardense de nascimento já vi muitas das obras primas com que ele honrou as terras onde os seus projectos foram construídos...).
Hoje há a tentativa de mudar novamente o paradigma da Escola: agora esta instituição vai nivelar tudo por baixo - vai reconhecer os saberes ocultos das pessoas, vai dar novas oportunidades aos que nunca as mereceram, vai passar os absentistas, vai fazer surgir miraculosamente o sucesso para europeu ver, vai castigar os professores que se atrevem a reprovar os alunos, vai dar mérito a quem o nunca mereceu nem sabe o que é isso...
E agora Vossas Excelências irão perguntar "então e outros...?". Os outros, os que trabalham, os que merecem, os que querem saber mais...? Esses sempre se safaram, dirá o governo - logo não têm interesse nenhum...
A prova disto? Ora leiam esta notícia do Público para perceberem para onde está a ir a Escola:
Pais preocupadas com o que dizem ser um retrocesso
Vazio legal não permite que crianças sobredotadas possam matricular-se no 1.º ano
29.03.2008 - 11h26 Bárbara Wong
António (nome fictício) sabe ler desde os quatro anos. É também desde essa idade que efectua operações matemáticas que não se aprendem no jardim-de-infância. António tem cinco anos e só faz os seis em 2009, mas poderia entrar no 1.º ciclo já no próximo ano lectivo, não fosse o vazio legal que o Decreto-Lei n.º 3/2008 criou para as crianças sobredotadas.
Actualmente, não existe legislação que possibilite a antecipação da entrada no 1.º ciclo às crianças que revelam ter capacidades acima da média. Só que, até agora, era possível fazê-lo, desde que a criança revelasse maturidade e que essa fosse tecnicamente comprovada por um psicólogo.
A legislação que entrou em vigor deixou os sobredotados de fora. "As situações de precocidade excepcional ficaram sem enquadramento legal", confirma a Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo (DREL) aos pais de uma criança sobredotada, que colocaram a questão a este serviço do Ministério da Educação.
Nesta situação estão algumas centenas de crianças, calcula Helena Serra, presidente da Associação Portuguesa de Crianças Sobredotadas (APCS), do Porto. Mensalmente, cinco em cada 40 casos que acompanha na associação são de meninos nestas circunstâncias, revela.
Para os pais de António, "não é concebível" mantê-lo mais um ano no jardim-de-infância. "Ele lê e interpreta o que lê. Por isso, desinteressa-se do que os outros fazem. Diz que são bebés porque não sabem ler como ele e a educadora", conta a mãe, considera que, se não fosse tão pequeno, estaria apto para o 2.º ano.
Perante a resposta da DREL, a deputada independente Luísa Mesquita pergunta ao ministério qual é a solução que propõe; se estão previstas alterações legislativas que prevejam a sua inscrição antecipada e para quando.
Também a APCS e o Centro Português para a Criatividade, Inovação e Liderança (CPCIL), de Lisboa, já colocaram a mesma questão à tutela. E acusam-na de "retrocesso".
Em carta dirigida a Maria de Lurdes Rodrigues, a fundadora do CPCIL, Manuela Freitas, lembra que habitualmente, entre Fevereiro e Março, é enviado às direcções regionais uma circular para regulamentar o ingresso antecipado. "Pensamos que às crianças não devem ser retirados os direitos de aprender com o seu ritmo individual e não apenas segundo normas arbitrárias e reguladas pelo calendário", escreve Manuela Freitas.
Helena Serra, da APCS, diz que é uma "dor de alma" ver crianças com maturidade permanecerem no pré-escolar. Manuela Freitas refere o "sofrimento dos pais e das crianças por serem obrigadas a estar inseridas em grupos cujas actividades já nada lhes dizem". Algum do insucesso escolar dos sobredotados justifica-se por estarem desenquadrados na escola, explicam.
A lei esqueceu os sobredotados "de propósito" porque "dão mais trabalho na sala de aula", diz Helena Serra. Também Manuela Freitas aponta que "os professores do 1.º ciclo têm medo das crianças de cinco anos". Para Luísa Mesquita, o "vazio da lei não é intencional, é mesmo incompetência". A deputada lembra que esta questão foi colocada no Parlamento, aquando da discussão da lei, e que "o PS disse que se resolveria de outra forma". O PÚBLICO pediu esclarecimentos à tutela, mas não recebeu nenhuma resposta em tempo útil.
É uma pena que mais uma vez, por causa das modas e do eduquês que alguns gostam, seja novamente tudo posto em causa e a Escola retroceda mais uma vez...
Até quando teremos de aturar estas experiências?
Até quando teremos de aturar estas experiências?
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