Um objeto com 4500 milhões de anos enterrado no Saara desafia teorias sobre o Sistema Solar
Um novo estudo, publicado a semana passada na Nature Communications, usou isótopos de chumbo e urânio para determinar a sua idade: estima-se que esta rocha espacial tenha 4,565 mil milhões de anos, com uma margem de erro de 120.000 anos - o que a torna um dos objetos espaciais datados com mais precisão.
O Erg Chech 002 é um “acondrito não agrupado“, um tipo de rocha espacial que não se encaixa em nenhum dos grupos conhecidos de meteoritos.
Os acondritos são rochas formadas a partir de planetesimais fundidos, que são os aglomerados sólidos na nuvem de poeira e gás que formou o Sistema Solar.
A maioria dos acondritos pertence a grupos conhecidos, frequentemente associados a corpos parentais específicos, como Vesta 4, um dos maiores asteroides do Sistema Solar. No entanto, os corpos parentais de acondritos não agrupadas como o Erg Chech 002 permanecem desconhecidos.
Acredita-se também que o o Alumínio-26 tenha sido a principal fonte de calor no início do Sistema Solar, afetando a fusão de rochas primitivas que mais tarde se agruparam para formar planetas.
O Alumínio-26 sozinho não pode fornecer uma idade absoluta em anos, uma vez que decai relativamente depressa. Mas quando combinado com isótopos de urânio de vida longa (Urânio-235 e Urânio-238), é possível obter uma imagem mais precisa. Estes isótopos de urânio decaem em diferentes isótopos de chumbo (Chumbo-207 e Chumbo-206), fornecendo uma datação mais precisa.
O estudo descobriu que o Erg Chech 002 tem uma quantidade invulgarmente grande de Chumbo-206 e Chumbo-207, bem como quantidades significativas de Urânio-238 e Urânio-235 não decompostos. Estas medições ajudaram a determinar com precisão a idade da rocha.
Isto sugere que o Alumínio-26 não foi distribuído uniformemente no início do Sistema Solar, desafiando assim as teorias existentes.
O nosso Sistema Solar formou-se há cerca de 4.500 milhões de anos, a partir de uma imensa nuvem de gás e poeira. Entre os muitos elementos desta nuvem encontrava-se o alumínio, que se apresentava de duas formas.
A primeira é a forma estável, o Alumínio-27. A segunda é o Alumínio-26, um isótopo radioativo produzido principalmente pela explosão de estrelas, que com o tempo decai em Magnésio-26.
A presença do Alumínio-26 nos primórdios do Universo, sobretudo nos primeiros quatro ou cinco milhões de anos de vida do Sistema Solar, torno-o um elemento útil aos cientistas para datar eventos cósmicos.
O estudo do Erg Chech 002, que coloca em causa a ideia até agora aceite de que o Alumínio-26 se encontrava distribuído de forma uniforme no Sistema Solar, melhora o nosso conhecimento das fases iniciais de desenvolvimento dos sistemas planetários e da história geológica de planetas em formação.