Murillo Araujo (
Serro,
26 de outubro de
1894 -
Rio de Janeiro,
1 de agosto de
1980) foi um
poeta brasileiro.
Biografia
Murillo Araujo mudou-se em
1907 para o Rio de Janeiro e ingressou como interno no
Colégio Pedro II, onde mais tarde seria professor de desenho. Embora se formasse em
Direito (
1921), pouco exerceu dessa profissão, dedicando-se ao
jornalismo.
Murillo Araujo foi um dos expoentes do
Modernismo, movimento que foi um dos pioneiros ao publicar, em
1917, o livro
Carrilhões, cinco anos antes da
Semana de Arte Moderna.
A Enciclopédia de Literatura Brasileira regista: "Apoiado nos estudos
de Mário da Silva Brito, publicados em 'Anhembí', oferece Antônio
Soares Amora a seguinte sucessão de momentos significativos anteriores à
Semana de Arte Moderna de 1922, e já no rumo deliberado da renovação:
(...) "...ainda em 1917 vários poetas novos começaram a impor-se:"
(...) "...Murillo Araujo, 'Carrilhões'..."
Como índice da modernidade de Murillo Araujo, desponta o facto do seu poema
Macumba,
ter recebido, em 1930, aclamadora alusão na conferência "Poesia
Moderníssima do Brasil", proferida no curso de férias da Faculdade de
Letras de Coimbra, pelo professor da Cadeira de Estudos Brasileiros,
Dr. Manoel de Souza Pinto.
Seguiram-se a este livro
A galera (escrito em
1915, mas publicado anos depois),
Árias de muito longe (
1921),
A cidade de ouro (
1927),
A iluminação da vida (
1927),
A estrela azul (
1940) - esta obra foi traduzida pelo poeta
uruguaio Gaston Figuera para o espanhol com o nome
La Estrela Azul e publicada em
Nova York (
EUA) -,
As sete cores do céu (
1941),
A escadaria acesa (
1941),
O palhacinho quebrado (
1946),
A luz perdida (
1952) e
O candelabro eterno (
1955). A obra em prosa limita-se a quatro livros:
A arte do poeta (
1944),
Ontem ao luar (
1951), uma biografia do compositor
Catulo da Paixão Cearense,
Aconteceu em nossa terra (pequenos casos de grandes homens) e
Quadrantes do Modernismo Brasileiro (
1958). Murillo Araujo também traduziu o livro
O inspetor geral, do escritor russo Nikolai
Gogol (
Sorotchintsi,
1809 –
Moscovo,
1852).
Em
1960, a
Editora Pongetti lançou, em três volumes, toda a sua obra poética, com o título
Poemas Completos de Murillo Araujo.
O grupo Festa
Ele foi integrante do
grupo Festa - que contou com a participação de
Cecília Meireles,
José Cândido de Andrade Muricy,
Adonias Filho e
Tasso da Silveira.
O poeta foi um dos artistas do modernismo mais influenciado pelo
simbolismo.
O grupo, que editava a revista de mesmo nome, integrava que a Corrente
Espiritualista do Modernismo. O poeta era também famoso frequentador
dos
sabadoyles, organizados pelo bibliófilo
Plínio Doyle.
Dentre os poetas que o influenciaram estão
Walt Whitman - poeta norte-americano (
West Hills,
1819 -
Camden,
1892) -,
António Nobre - poeta português (
Porto,
1867 -
Foz do Douro,
1900), considerado a maior figura do simbolismo em Portugal - e
Émile Verhaeren - poeta
belga de expressão
francesa (
Saint-Amands,
1855 -
Rouen, 1916). Autor de contos, peças de teatro e crítica literária, além de poesia, evoluiu do naturalismo para o misticismo.
Murillo e a música Parte das suas poesias chegou a ser musicada. O compositor Heitor
Villa-Lobos (Rio de Janeiro,
1887 - Rio de Janeiro,
1959) compôs três obras com letras dele,
Canção da Imprensa (
1940),
Juramento e
Canção de Cristal (
1955).
O poeta foi musicado também por
Francisco Braga (Rio de Janeiro,
1868 -
idem,
1945), o autor do Hino à Bandeira, na música
Moreninha,
Eleazar de Carvalho (
Igatu -
CE,
1912 -
São Paulo,
1996) - em
Canto a Porto Seguro -,
Luciano Gallet (Rio de Janeiro,
1893 -
idem,
1931) - em
Interpretações-,
Heckel Tavares (
Satuba,
AL,
1896 - Rio de Janeiro,
1969) -
Banzo,
Oração do Guerreiro,
Funeral d´um rei Nagô,
Três canções de Natal e
Anhangüera; e Fernando Lobo - que adotou o pseudónimo de
Marcelo Tupinambá, compositor popular brasileiro (
Tietê,
SP,
1892 -
São Paulo,
1953) -
Treva Noturna.
Murillo Araujo compôs
Canto Heróico do Liceu de Artes e Ofícios e
Canta, Canta, Passarinho, cujo arranjo é de Vila-Lobos.
Visão
Tenho à noite a visão de que a estrelas de ouro
vão descendo ao meu sonho e vêm dançando em coro.
Sinto-as numa nevrose...
numa fascinação... numa alucinação!
– quer agonie ou goze —
eu as sinto nevoentas,
lânguidas e luarentas,
uma por uma dando o pálido clarão!
Uma diz: “chamo-me Apoteose!”
Outra diz: “chamo-me Afeição!”
Outra é, levíssima, a Confiança,
Outra — a Lembrança
Outra — a Ambição...
E assim tenho a visão de que as estrelas de ouro
Vêm, dançando, ao meu sonho e vão descendo em coro.
Mas choro de aflição...
pois falta estrela que procuro em choro,
falta a q1ue foi na terra um vulto louro,
falta a que está nos céus, e acha desdouro
descer e iluminar-me o coração!...
in Carrilhões (1917) - Murillo Araujo