João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu com o
nome de João Leitão da Silva no Porto, a 4 de fevereiro de 1799, filho
segundo de António Bernardo da Silva Garrett, selador-mor da Alfândega
do Porto, e Ana Augusta de Almeida Leitão. Mais tarde viria a
escrever a este propósito: "Nasci no Porto, mas criei-me em Gaia". No
período de sua adolescência foi viver para os
Açores, na
ilha Terceira, quando as
tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadiram Portugal e onde era instruído pelo tio, D. Alexandre, Bispo de
Angra.
De seguida, em 1816 foi para Coimbra, onde acabou por se matricular no curso de Direito. Em 1821 publicou O Retrato de Vénus,
trabalho que fez com que lhe pusessem um processo por ser considerado
materialista, ateu e imoral. É também neste ano que ele e sua família
passam a usar o apelido de Almeida Garrett.
(...)
Em 1852 é eleito novamente deputado, e de 4 a 17 de agosto será
ministro dos Negócios Estrangeiros. A sua última intervenção no
Parlamento será em março de 1854, em que ataca o governo, na pessoa de
Rodrigo de Fonseca Magalhães.
Falece a
9 de dezembro de 1854, vítima de um
cancro de origem hepática, na sua casa situada na atual Rua Saraiva de Carvalho, em
Campo de Ourique, Lisboa. Foi sepultado no
Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, tendo sido
trasladado, a 8 de março de 1926, para o Panteão Nacional, à data no Mosteiro dos Jerónimos. Encontra-se actualmente no
Panteão Nacional, na Igreja de Santa Engrácia.
Brasão de Visconde de Almeida Garrett (daqui)
Não És Tu
Era assim, tinha esse olhar,
A mesma graça, o mesmo ar,
Corava da mesma cor,
Aquela visão que eu vi
Quando eu sonhava de amor,
Quando em sonhos me perdi.
Toda assim; o porte altivo,
O semblante pensativo,
E uma suave tristeza
Que por toda ela descia
Como um véu que lhe envolvia,
Que lhe adoçava a beleza.
Era assim; o seu falar,
Ingénuo e quase vulgar,
Tinha o poder da razão
Que penetra, não seduz;
Não era fogo, era luz
Que mandava ao coração.
Nos olhos tinha esse lume,
No seio o mesmo perfume ,
Um cheiro a rosas celestes,
Rosas brancas, puras, finas,
Viçosas como boninas,
Singelas sem ser agrestes.
Mas não és tu... ai!, não és:
Toda a ilusão se desfez.
Não és aquela que eu vi,
Não és a mesma visão,
Que essa tinha coração,
Tinha, que eu bem lho senti.
in Folhas Caídas (1953) - Almeida Garrett