BIOGRAFIA
Segundo algumas fontes, Maysa teria nascido na capital
paulista, numa tradicional família do
estado do Espírito Santo que logo se mudou para o
Rio de Janeiro. Outras fontes, porém, afirmam que seu nascimento foi mesmo no Rio. Da capital paulista ou do Rio, é certo, no entanto, que em 1947 a família transferiu-se para
Bauru, no interior paulista. Logo depois, mudaram-se novamente para a capital. Mesmo fixada em São Paulo, a família ainda mudaria de endereço várias vezes.
Maysa era neta do
barão de Monjardim, que foi
presidente da
província do Espírito Santo por cinco vezes. Estudou no tradicional colégio paulistano Assunção e no
Sacré-Cœur de Marie, em
São Paulo. As férias eram passadas em
Vitória, onde reencontrava os tios e primos.
Casou-se aos dezassete anos com o
empresário André Matarazzo, dezassete anos mais velho, amigo de seus pais, e membro do
ramo ítalo-brasileiro da família Matarazzo, de cuja união nasceu
Jayme Monjardim Matarazzo,
diretor de cinema e
telenovelas.
Divorciou-se do marido em
1957, pois ele opôs-se à sua carreira musical. Maysa teve vários relacionamentos amorosos, entre eles, com o compositor
Ronaldo Bôscoli, o empresário espanhol Miguel Azanza, o ator
Carlos Alberto, o maestro
Julio Medaglia, entre vários outros. Ao assumir o relacionamento com Miguel Azanza em 1963, Maysa estabeleceu residência na
Espanha onde morou durante anos com o marido e o filho. Só retornou definitivamente ao Brasil em
1969. Na
década de 70, Maysa se aventuraria pelo mundo das telenovelas e do teatro participando de produções como
O Cafona,
Bel-Ami e o espetáculo
Woyzeck de George Büchner. Em
1977, um trágico acidente automobilístico na
Ponte Rio-Niterói encerrava a carreira e o brilho da estrela, que foi um dos maiores nomes da música popular brasileira.
MorteVivendo isolada na casa de praia em
Maricá, desde
1972, para onde ia todo o fim de semana, Maysa morreu a caminho da mesma casa de praia em Maricá, enquanto dirigia um carro “Brasília azul” em alta velocidade, no dia 22 de Janeiro de
1977, por volta das 5 horas da tarde, na
Ponte Rio-Niterói. O efeito de anfetaminas somado à ingestão excessiva de álcool e ao cansaço físico e psicológico que a cantora vinha sofrendo teriam provocado o fatídico acidente. Porém, a conclusão dos laudos periciais mostrou que no momento do acidente ela estava completamente sóbria, não havia resquícios de álcool em seu organismo.
Em uma de suas últimas anotações, registou:
| Hoje é novembro de 1976, sou viúva, tenho 40 anos, 20 de carreira e sou uma mulher só. O que dirá o futuro? |
CARREIRA
Anos 50 - início de carreira
Em
1956, Maysa foi convidada pelo produtor Roberto Côrte-Real para gravar um disco, durante uma reunião familiar. O álbum
Convite para ouvir Maysa (todo preenchido com composições próprias) foi gravado logo após o nascimento de seu único filho
Jayme Monjardim. O disco gravado apenas em caráter beneficente (toda sua renda fora destinada ao Hospital do Cancro de Dona
Carmen Annes Dias Prudente), logo começou a fazer sucesso, tocando nas rádios paulistas e cariocas. Pouco a pouco, a carreira de Maysa foi adquirindo um caráter profissional, o que descontentou seu marido André Matarazzo e que levou ao fim do seu casamento. Já em 1957 (ainda não divorciada), Maysa era contratada da
TV Record paulista, com um programa só seu patrocinado pela Abrasivos
Bombril, acabava de gravar seu segundo disco, de 10 polegadas, intitulado
Maysa.
Em
1957, com menos de um ano de carreira, no julgamento anual dos cronistas de Rádio de
São Paulo, para a escolha de
Os Melhores do Ano de 1956, Maysa foi apontada como '
A maior revelação feminina,
O melhor compositor e
O melhor letrista. O Clube dos Cronistas de Discos concedeu-lhe o título de
A maior cantora do ano. No ano seguinte, foi premiada com o disputado
Troféu Roquette Pinto de
A melhor cantora de 1958. No ano anterior, ela já havia recebido o mesmo prémio como cantora revelação de
1957. O jornal
O Globo, que em
1957 havia conferido a ela o
Disco de Ouro de cantora revelação, agora também a premiava como a principal voz feminina do país. Também seria de Maysa naquele ano o
Troféu Chico Viola, para o melhor disco de
1958.
Em
1958 (já divorciada) muda-se para o
Rio de Janeiro, então capital do Brasil e é contratada da
TV Rio, com um programa só seu patrocinado pelos Biscoitos
Piraquê. Lança seu terceiro disco (agora de 12 polegadas) intitulado
Convite para Ouvir Maysa nº 2. O disco foi considerado pela crítica musicalmente irretocável, tornou-se campeão de vendas e lançou a canção
Meu Mundo Caiu como o maior sucesso do ano. Até o fim da década Maysa seguiria sua carreira acumulando diversos prémios, vendo a carreira e popularidade, em crescente ascensão . Seus discos eram campeões de vendas e seus programas de televisão eram muito prestigiados. Ainda em
1958 ela se tornaria a melhor e mais bem paga cantora do Brasil.
Anos 60
Durante os anos 60, Maysa aprimorou constantemente a técnica vocal, registando em discos de grande qualidade técnica o auge de sua carreira. A partir de
1960, empreendeu inúmeras excursões pelo mundo, se apresentando em vários países, além de aderir ao movimento da
Bossa Nova, com o qual pode expandir referências musicais. Junto a um grupo formado por
Roberto Menescal,
Luiz Eça,
Luiz Carlos Vinhas,
Bebeto Castilho,
Hélcio Milito e
Ronaldo Bôscoli, foram responsáveis pelo lançamento da
Bossa Nova no exterior. Em 1961 realiza uma histórica
tournée à
Argentina e o
Uruguai. Maysa teve uma intensa carreira internacional; assim, em
1960, tornou-se a primeira cantora brasileira a se apresentar no
Japão, a convite da companhia área brasileira
Real Aerovias, que acabara de estrear o voo
Rio de Janeiro -
Tóquio. Passeou a sua classe pela
América Latina, passando diversas vezes por
Buenos Aires,
Montevidéu,
Punta del Leste,
Lima,
Caracas,
Bogotá,
Porto Rico e
Cidade do México. Apresentou-se em
Paris,
Lisboa,
Madrid,
Nova Iorque,
Itália,
Marrocos e
Angola. Lá, se apresentava em casas noturnas e gravava discos. Entre
1960 e
1961 realizou temporada nos
Estados Unidos, gravando o lendário álbum
Maysa Sings Songs Before Dawn pela
Columbia Records norte-americana. Lá, também se apresentou no sofisticado Blue Angel Night Club, a mais requintada casa noturna de
Nova Iorque, na época.
Ainda em
1963, empreendeu um histórico concerto no
Olympia de
Paris, naquela que é a mais famosa casa de espetáculos da capital francesa. Em
1966 participou do
II Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, classificando para a finalíssima a canção
Amor-Paz de sua autoria, com a compositora Vera Brasil, juntamente com
Disparada, com
Jair Rodrigues e
A Banda, com
Chico Buarque e
Nara Leão. No mesmo ano, Maysa também participou da primeira edição
Festival Internacional da Canção. Neste último alcançou o terceiro lugar na fase nacional e o prémio de melhor intérprete brasileira do festival, defendendo a canção
Dia das Rosas (de
Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo) e onde se destacou a música vencedora
Saveiros, interpretada por uma então novata:
Nana Caymmi.
Regressou definitivamente ao Brasil em
1969. Neste ano, estreou
Maysa Especial com
Ítalo Rossi na
TV Tupi carioca e o espetáculo
A Maysa de Hoje, gravado em disco, com temporadas no
Canecão do
Rio de Janeiro e no Urso Branco de
São Paulo, obtendo sucesso de crítica e público. Pouco tempo depois, participou como jurada do
V Festival da Música Popular Brasileira da
TV Record. E do
IV Festival Internacional da Canção, com a música
Ave Maria dos Retirantes, de
Alcyvando Luz e
Carlos Coqueijo, que não se classificou para a final. Naquela edição, o
Troféu Galo de Ouro (prémio máximo do festival), ganhou o nome de Maysa Monjardim.
Anos 70
Em
1970, Maysa lança pela
Philips o álbum
Ando Só numa Multidão de Amores, que não obteve sucesso de público. Maysa passou então a investir na carreira de atriz e já em
1971 estreou na telenovela
O Cafona da Rede Globo, interpretando Simone, seu
alter-ego. Por esse papel, Maysa acabou ganhando o prémio de
Coadjuvante de Ouro. No mesmo ano, integrou o elenco da telenovela
Bel-Ami da
TV Tupi, interpretando Márica, mas abandonou a produção. Ela ainda montaria o espetáculo teatral
Woyzeck de George Büchner, sem sucesso.
Após algumas temporadas em discotecas do
Rio de Janeiro e
São Paulo, desde o fim de
1972, Maysa se afasta do meio artístico e vai morar em uma casa de praia, localizada no município de
Maricá, litoral fluminense. Lá, Maysa morou até o fim da vida, na maior parte em companhia do namorado, o ator
Carlos Alberto. Durante este período, quase não gravou discos nem fez shows, fazia poucas aparições na mídia e reservava suas aparições a participações especiais, como no
Fantástico e no
Brasil Especial, da
TV Globo.
Realizou alguns dos últimos
shows de sua carreira, na discoteca
Igrejinha, localizada em
São Paulo, em
1975. A temporada, pouco tempo depois, ficaria marcada como “a
tournée do adeus”. Até ali já havia feito inúmeras temporadas de grande sucesso em diversas casas noturnas de São Paulo como a Cave, o Oásis, Urso Branco, Di Mônaco e Igrejinha. E do Rio de Janeiro como o Club 36, Au Bon Gourmet, Meia-Noite do Hotel
Copacabana Palace, Canecão, Flag, Sucata, Fossa e Number One, dentre outras casas tradicionais e famosas.
Estilo musical
As composições e as canções foram escolhidas de maneira a formar um repertório sob medida para o seu timbre, que não era o de uma voz vulgar, pelo contrário, possuía um viés melancólico e triste, que se tornou emblemático do género
samba-canção. Ao lado de Maysa, destacam-se
Nora Ney,
Ângela Maria e
Dolores Duran. O género, comparado ao bolero, pela exaltação do tema amor-romântico ou pelo sofrimento de um amor não realizado, foi chamado também de dor-de-cotovelo. O
samba-canção (surgido na década de 1930) antecedeu o movimento da
bossa nova (surgido ao final da década de 1950, em
1958), com o qual Maysa também se identificou. Mas este último representou um refinamento e uma maior leveza nas melodias e interpretações em detrimento do drama e das melodias ressentidas, de inveja (
vulgo dor-de-cotovelo). O legado de Maysa, ainda que aponte para dívidas históricas com a bossa nova, é o de uma cantora de voz mais arrastada do que as intérpretes desse género musical e por isso aproxima-se antes do
bolero.
Contemporânea da compositora e cantora
Dolores Duran, Maysa compôs 30 canções, numa época em que havia poucas mulheres nessa atividade. Maysa interpretava de maneira muito singular, personalista, com toda a voz, sentimento e expressão, sendo um dos maiores nomes da canção intimista. Um canto gutural, ensejando momentos de solidão e de grande expressão afetiva. Um dos momentos antológicos desta caracterização dramática foi a apresentação, em
1974, de
Chão de Estrelas (
Sílvio Caldas e
Orestes Barbosa), e de
Ne Me Quitte Pas (10 de junho de
1976), tendo sido apresentadas em duas edições do programa
Fantástico da
Rede Globo.
Todo este característico
estilo Maysa, influenciou ao menos meia dúzia de cantores sua geração, e principalmente a geração posterior a sua. Este
estilo Maysa se tornou notável em cantores e compositores, como:
Ângela Rô Rô,
Leila Pinheiro,
Fafá de Belém,
Simone e também
Cazuza e
Renato Russo.
Celebrizaram-se as canções:
Ouça,
Meu Mundo Caiu,
Tarde Triste,
Resposta,
Adeus,
Felicidade Infeliz,
Diplomacia e
O Que? (todas de sua autoria) e mais:
Ne Me Quitte Pas,
Chão de Estrelas,
Dindi,
Por Causa de Você,
Se Todos Fossem Iguais a Você,
Eu Sei Que Vou Te Amar,
Franqueza,
Eu Não Existo Sem Você,
Suas Mãos,
Bouquet de Izabel,
Bronzes e Cristais,
Bom Dia Tristeza,
Noite de Paz,
Castigo,
Fim de Caso,
O Barquinho,
Fim de Noite,
Meditação,
Alguém me Disse,
Cantiga de Quem Está Só,
A Felicidade,
Manhã de Carnaval,
Hino ao Amor (L'Hymne a L'Amour),
Demais,
Preciso Aprender a Ser Só,
Canto de Ossanha,
Tristeza,
As Mesmas Histórias,
Dia das Rosas,
Se Você Pensa,
Pra Quem Não Quiser Ouvir Meu Canto,
Light My Fire,
Chuvas de Verão,
Bonita,
As Praias Desertas,
Bloco da Solidão,
Tema de Simone e
Morrer de Amor.