Infância e juventude
Marisa nasceu em Lourenço Marques (actual Maputo), capital da província ultramarina portuguesa de Moçambique. É filha de pai português, José Brandão Nunes, e mãe moçambicana, Isabel Nunes. Nasceu prematura, de seis meses e meio, sem qualquer justificação clínica aparente, e, segundo declarações da cantora à
SIC, o pai considerava-a o
bebé mais feio que alguma vez vira. Segundo ela «
ainda tinha as orelhas coladas e os olhos por abrir» e o próprio pai pensou que não sobreviveria.
Ao colo da mãe, com três anos, chegou ao
Aeroporto da Portela, em
Lisboa, pela primeira vez em
1977. Na actual
Maputo, o pai trabalhara como gerente de uma empresa Holandesa de nome Zuid. Durante o êxodo das famílias portuguesas nas antigas colónias ultramarinas portuguesas, o pai abandonou Moçambique com a família mais chegada, escolhendo Lisboa para recomeçar uma nova vida. Instalaram-se em
Corroios e mais tarde no n.º 22 da Travessa dos Lagares, na Mouraria.
Em
1979 reabriram o
restaurante Zalala no bairro típico de Lisboa,
Mouraria, berço do fado e frequentado por inúmeros fadistas de referência, como
Fernando Maurício e
Artur Batalha bem como Alfredo Marceneiro Jr, filho de
Alfredo Marceneiro, que levou Mariza com 7 anos a cantar pela primeira vez num ambiente profissional na Casa de Fado Adega Machado.
Zalala, hoje fechado, o restaurante onde Mariza cresceu, foi assim nomeado em homenagem a uma praia moçambicana.
Foi o pai que determinou o gosto da cantora pelo
fado. Segundo ela, o pai estava «
sempre a ouvir fado e, na hora das refeições, nunca se via televisão; ouviam-se discos, sempre de fado…».
Fernando Farinha,
Fernando Maurício,
Amália Rodrigues,
Carlos do Carmo, entre muitos outros, eram os predilectos de José Nunes, e foram os que mais influenciaram a forma de cantar de Mariza.
Com cinco anos de idade, recebeu o seu primeiro xaile, e começou então a moldar a voz que a tornou famosa. Sobre o estabelecimento onde aprendeu a cantar o fado e onde actuou pela primeira vez aos cinco anos, já envergando um
xaile negro, Mariza referiu:
| Foi aqui que toda a história começou. Se calhar é aqui que vai acabar. Tudo pode acabar de repente, tal como começou, e eu volto à minha Mouraria e à taberninha dos meus pais para servir dobradinhas e copos de vinho que não me chateia nada! |
—
|
Ali cruzou-se «
com tantos fadistas que as suas caras já se esfumam na memória». O
restaurante permanece fechado há vários
anos mas ainda conserva na porta a placa com o seu nome e uma legenda que diz «O cantinho do artista».
Apenas na
adolescência começou a ser levada a sério como cantora, mas os pais admitiram em várias entrevistas saberem que a filha tinha um «dom». O primeiro fado que interpretou no
Zalala foi
Os Putos, de
Carlos do Carmo, que o seu pai lhe ensinou fazendo desenhos em toalhetes de papel. Ainda a menina não sabia ler, e era a forma de decorar os fados preferidos pelo pai, assim como
Ó Ai Ó Linda e
Menina das Tranças Pretas.
O recreio da escola primária da Mouraria era um palco para a menina de seis anos. Em entrevista ao
Correio da Manhã, a antiga auxiliar de educação da escola, Dª. Fernanda, referiu que a jovem fazia uma roda com as colegas e depois ia para o meio delas onde cantava, com as professoras de vigia nos vestíbulos ou atrás das janelas, para que não se sentisse constrangida.
Outro dos seus
hobbies era o
sapateado, praticado à porta de casa com
caricas de
Coca-Cola coladas nos
sapatos. Cantava em casa e, a cumprir o papel de
microfone, utilizava
latas de
laca e desodorizantes. «
Era a minha imitação do Fred Astaire!», declarou posteriormente.
Já na adolescência, Mariza passa a frequentar a Escola Secundária Gil Vicente. Era hábito seu fugir de casa para ir ouvir as noites de fado para o Grupo Desportivo da Mouraria, onde permanecia à porta, já que não lhe permitiam a entrada.
Até se assumir como fadista cantou diversos géneros musicais como,
pop,
gospel,
soul,
jazz e ainda música ligeira, acompanhando o artista/cantor Luís Filipe Reis. Na época, não caía bem entre os amigos dizer que um dos seus
hobbies era cantar
fado. Formou com alguns amigos uma banda de
covers de nome Vinyl, e costumavam cantar no bar Xafarix, em Lisboa. Mais tarde formou os Funkytown.
Foi numa das mais típicas casas de fados de Lisboa, o
Sr. Vinho, propriedade de
Maria da Fé e de
José Luís Gordo, situada na
Lapa, que Mariza começou a cantar mais profissionalmente. «
Maria da Fé foi praticamente a professora dela aqui», segundo José Luís Gordo, que chegou a escrever dois fados para a intérprete. A primeira música que cantou em público foi
Povo que lavas no rio. Cantou também no
Café Café, propriedade de
Herman José.
Primeiro disco e carreira internacional
Em
1998 actua, a convite da Caixa Económica Luso-Belga, em
Bruxelas e
Amesterdão.
O disco de estreia era para ser apenas uma edição privada, feita por insistência de João Pedro Ruela, mas acabou por ser editado em 32 países. Não conseguiu contrato de nenhuma editora discográfica portuguesa. No entanto, uma editora holandesa, a
World Connection, decidiu apostar na fadista, editando o seu primeiro disco em vários países.
2001 foi o
ano em que Mariza editou o seu primeiro álbum,
Fado em Mim, primeiro em Portugal e depois em 32 países. Entre as principais faixas do disco encontram-se
Chuva,
Ó Gente da Minha Terra e
Oiça lá ó senhor vinho.
O
disco é uma espécie de tributo a
Amália Rodrigues, já que muitas das músicas eram do seu repertório. Uma das músicas que conseguiu melhor repercussão foi
Chuva.
Barco Negro surge também numa versão bastante diferente da original, ritmada pela percussão de João Pedro Ruela.
Loucura, uma das mais emblemáticas músicas do seu repertório, iniciou não só este disco como dois dos seus principais concertos: o concerto em Lisboa, nos jardins da
Torre de Belém, do qual se originou um álbum que recebeu uma nomeação para um
Grammy Latino, e o concerto no
Pavilhão Atlântico, com convidados especiais, a
8 de novembro de
2007, dado simultaneamente à festa de entrega dos
Grammys para os quais estava nomeada.
Com este CD surgiram as primeiras turnés no estrangeiro e os primeiros prémios e nomeações. O primeiro prémio que recebe foi atribuído, em
2001, ao álbum
Fado em Mim pela crítica alemã -
Deutsche Schallplatten Kritik, com Mariza.
Deu os primeiros concertos fora de Portugal através de convites de vários teatros e salas. Nos
Estados Unidos, por exemplo, entre a plateia de um espectáculo estava a esposa do secretário de estado do país,
Colin Powell, que se fazia acompanhar pela esposa de um
senador. Apresentou o seu disco no
Central Park de
Nova Iorque e no
Hollywood Bowl de
Los Angeles, mas, numa entrevista, referiu ter gostado mais do espectáculo que deu no grande auditório do
New Jersey Performing Arts Center, por ser um espaço mais pequeno e intimista.
O CD vendeu muito bem em
Portugal, liderando os tops portugueses, tal como todos os restantes álbuns da fadista viriam a liderar (tendo em
2007 conseguido a proeza de ter 3 álbuns seus simultaneamente no top dos 15 mais vendidos de
Portugal). Nos
Países Baixos também obteve sucesso comercial, assim como no
Reino Unido e na
Finlândia. Nos Estados Unidos o álbum chegou a atingir o sexto lugar dos mais vendidos na área de
world music.
Primeira digressão
Faz uma digressão pelo mundo, passando pela
Tailândia,
Itália,
Holanda,
Estados Unidos e
Espanha. A convite da entidade reguladora do espectáculo, participou no Festival Womad 2002 (organização da
Real World de
Peter Gabriel), em
Reading, no
Reino Unido. O seu concerto no festival de
world music foi gravado e lançado numa edição limitada para coleccionadores,
Live at WOMAD 2002. Entre as faixas, as que mais se denotam são
Primavera e uma imponente interpretação de
Estranha forma de vida.
Em
2002, no decorrer da promoção deste disco participou pela primeira vez no programa da
BBC,
Later with Jools Holland, noutro programa de televisão
francês e foi capa da revista
Folk Roots. Depois retornou a Portugal onde actuou para sala cheia, no
Rivoli, a
27 de setembro, e no Grande Auditório do
CCB, a
1 de outubro, duas das grandes salas portuguesas de espectáculos. Sobre esses dois espectáculos e em resposta à pergunta feita por vários jornalistas de várias publicações, Mariza fez uma declaração que ficou famosa e se tornou um emblema da comunicação social sempre que regressa das turnés do estrangeiro a
Portugal:
| …isto é como voltar a casa para receber a bênção dos pais. |
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Fado Curvo
Um ano depois de
Fado em Mim edita
Fado Curvo, que repete o sucesso do anterior obtendo a quadrupla platina novamente. O tema principal desta produção de
Carlos Maria Trindade foi
Cavaleiro Monge.
Porém, a música que mais se destaca é
Primavera, poema sublime da autoria do escritor e poeta lisboeta
David Mourão-Ferreira, e proveniente do reportório
amaliano. Tornou-se uma das grandes paixões de Mariza, algo que refere cada vez que o canta ao vivo, e antes deste disco ser gravado, já fazia parte do repertório dos espectáculos da intérprete. A
8 de novembro de
2007, no concerto no
Pavilhão Atlântico, a intérprete foi aplaudida de pé durante seis minutos consecutivos no final da interpretação de
Primavera.
A par desta, destacam-se outras músicas, entre elas, uma homónima do disco,
Fado Curvo, da autoria de
Carlos Maria Trindade, música esta que estreita a relação do fado com a
dança, devido ao seu teor alegre e mais contemporâneo. Segundo a intérprete, este fado relaciona-se com a sua vida pessoal e com a vida de qualquer ser-humano, já que esta nunca é linear.
No álbum interpreta
Caravelas, baseado num poema de
Florbela Espanca, da qual também já havia gravado um fado no CD anterior, e logo a seguir canta um poema de
Gil do Carmo, um registo mais leve e contemporâneo, que se refere à
cidade de
Lisboa e ao
Tejo. É igualmente a música mais curta do disco, com 1:59 min.
Anéis do meu cabelo é outro dos temas do álbum, com base num poema de
António Botto que parece ter sido feito à medida da imagem da intérprete.
O álbum inclui um
fado de Coimbra, da autoria de
Zeca Afonso. Mariza, pelo que ela própria conta em entrevista ao
Público com Miguel Francisco Cadete, interrogou-se com a interpretação deste fado, pelo seu significado político e pelo simples facto de que não é costume as mulheres cantarem fados de Coimbra:
| Resisti muito a cantar esse tema. Em primeiro lugar porque as mulheres não cantam fado de Coimbra. Em segundo porque era uma letra de Zeca Afonso e as suas letras têm sempre outros sentidos. Ou seja, é muito difícil cantar fado de Coimbra, porque tão depressa se está nos graves como em notas muito altas. […] A letra tem uma carga política tremenda, mas não sei se as pessoas vão olhar para isso. Soube há pouco a história desse tema, contada pelo próprio Zeca Afonso. Ele tinha ido em viagem ao Porto, a meio dos anos 1970, e viu um homem a urinar para dentro de uma lata. Aquilo perturbou-o muito e chamou-lhe a atenção para o bairro onde decorria a cena: um bairro muito pobre e cinzento. |
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A música ser-lhe-ia útil a partir de
2005, aquando da sua nomeação como Embaixadora da Boa Vontade da
UNICEF, e esta era uma forma cantada de transmitir uma mensagem ao público.
Melhor Artista da Europa de World Music
Disco que mistura um pouco de diversos estilos e que abriga uma visão mais madura do fado e uma tentativa de exploração e inovação da parte dos produtores, letristas e da própria intérprete,
Fado Curvo é considerado o «CD da semana» pela
BBC Radio, em
2003. Também em
2003 recebe um dos mais prestigiados e importantes prémios da sua carreira: uma nomeação da
BBC Radio 3, na categoria de Melhor Artista da
Europa de
World Music. Vence o galardão europeu e, em
2006, volta a ser nomeada na mesma categoria. Recebe também novamente pelo novo álbum, o prémio atribuído pela
Deutsche Schallplatten Kritik, a crítica alemã, vencendo de seguida o prémio de «Personalidade do Ano» pela
AIEP.
Já em
2004 recebe a Medalha de Mérito Turístico (grau ouro) da Secretaria de Estado do Turismo e o prémio
European Border Breakers Award no MIDEM, em
Cannes. Os leitores da revista
Lux, na sequência da atribuição destes prémios a Mariza, elegem-na como «Personalidade do Ano» na área da
Música.
Neste mesmo ano, a convite de autoridades e embaixadas
egípcias, apresentou-se como convidada de honra no
X Cairo International Song Festival 2004. Quando chegou ao aeroporto e ao evento, as individualidades que a esperavam, espantaram-se por não estar acompanhada por nenhum comité da embaixada portuguesa ou por personalidades do
governo de
Portugal. Na
Sérvia, quando esta ainda se encontrava unida ao
Montenegro, esgotou um espectáculo e aqueles que não conseguiram bilhetes concentraram-se no exterior do edifício, até lhes abrirem a porta à assistência do espectáculo.
O primeiro DVD
Um dia antes de receber o galardão da
BBC Radio das mãos de
Michael Nyman, Mariza deu um concerto em
Londres, que registou um dos momentos altos da sua carreira e do qual saiu o DVD
Mariza Live in London. Foi o seu primeiro DVD, editado a
28 de Junho de
2004, tendo sido gravado e editado em parceria com a
BBC, com realização de Janet Fraser Crook e produção de Alison Howe.
Em
2004 é convidada a representar o fado e as raízes lusas no Palco Raízes de um dos maiores festivais de música do mundo, o
Rock in Rio. Neste ano, o festival realizou-se na Bela Vista, em
Lisboa, e Mariza foi uma das convidadas portuguesas para o espectáculo, que reuniu numa tarde de Primavera,
6 de Junho, mais de oito mil pessoas na assistência.
Tem também uma pequena participação no Palco Mundo, durante o concerto de
Daniela Mercury, que a convidou para interpretar consigo dois temas bem conhecidos do público lusófono: Fascinação e
Garota de Ipanema. Mariza apareceu em palco com um
blazer preto e uma saia esvoaçante preta com rosas estampadas, e ambas cantaram uma união entre culturas, nomeadamente,
Portugal e
Brasil.
O terceiro disco
Mariza envia em
2004 um convite a
Jacques Morelenbaum, conceituado produtor
brasileiro, que há mais década trabalha com
Caetano Veloso na produção dos seus discos, incluindo
Fina Estampa, para trabalhar no seu novo disco. O convite foi aceite e resultou no disco
Transparente, um disco que homenageia a sua avó africana, e que mistura novas sonoridades ao
fado, entre uma busca pelas raízes moçambicanas de Mariza, uma sonoridade
jazzística nova-iorquina, uma exploração dos cantares do
Minho e do
nordeste brasileiro e uma interpelação da
música clássica, que marcou o
fado contemporâneo.
| Eu sinto que há uma coincidência entre a minha vida e o fado. Mestiçagem tem um grande significado para mim. |
—
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Na edição do álbum em
Espanha, Mariza interpreta a música juntamente com
José Maria Merced, desta vez, em
castelhano.
Meu Fado Meu, outro dos temas de Mariza, foi também interpretado para, esta edição, em castelhano.
Apresenta o disco, pela primeira vez, ao vivo, no Centro Cultural
Olga Cadaval, em
Sintra.
Prémio Fundação Amália Rodrigues Internacional
Entretanto, em
2005, a
Fundação Amália Rodrigues atribui-lhe o prémio da fundação, como intérprete que mais contribui para a divulgação da música portuguesa no estrangeiro. Em
2006, ainda no procedimento da digressão obtem um dos seus principais prémios: é nomeada para um
Globo de Ouro, na categoria de
Melhor intérprete, e vence o galardão, que representa o principal galardão da música em
Portugal. Tornou-se
Comendadora da
Ordem do Infante D. Henrique, pelas mãos do
presidente da república de então,
Jorge Sampaio, a 30 de janeiro desse ano.
Nova digressão e Live 8
Todo este «
virar de página» emergiu também no mundo através de uma larga digressão que passou por algumas das maiores salas de espectáculos do mundo. Actuou no Olympia com a presença do seu pai, que sonhava vê-la actuar nesse emblemático auditório. Numa entrevista, a mãe chegou a referir que pensou «
que a Mariza não conseguia encher o Olympia. Pensava que iríamos passar uma vergonha.» Todavia, os bilhetes esgotaram-se e a sala parisiense encheu-se para ouvir um concerto de fado.
Em
2005 é convidada a integrar os concertos do
Live 8, em
Cornwall, contra a pobreza no mundo e em prol da paz mundial, que reúne todos os anos os mais célebres artistas internacionais. Apresenta-se no palco numa
tarde de
Sábado, a
2 de julho, com o mesmo vestido que usaria durante o concerto nos jardins da
Torre de Belém, em
Lisboa. Foi a primeira portuguesa a participar nos concertos do
Live 8.
Concerto na Ópera de Sydney
Mas foi outro o concerto que mais sobressaiu nesta nova digressão mundial. Em
2006, durante duas noites seguidas, a
Ópera de Sydney encontra-se lotada para assistir ao concerto de Mariza. A sua primeira vez neste palco mundialmente célebre, reúne também a nomeação para um prémio, os
Helpmann Awards, na categoria de
Best International Contemporary Concert, na
Austrália.
Concerto em Lisboa
Após a gravação de
Transparente, a artista iniciou uma longa digressão pelo mundo, incluindo por
Portugal, juntamente com
Jacques Morelenbaum e com a companhia da Orquestra Sinfonietta de Lisboa, uma das melhores e mais prestigiadas da
Europa. Na
noite de
6 de setembro de
2005, durante a mesma digressão, oferece nos jardins da
Torre de Belém, em Lisboa, um espectáculo ao qual acorreram mais de 25.000 pessoas para assistir.
O álbum teve duas edições, uma delas especial e limitada, com 18 faixas. O DVD incluía uma gravação produzida pela
BBC da actuação da fadista numa casa de fados do
Bairro Alto, a Tasca do Chico, e imagens e
making of do concerto.
Em Janeiro começa a rodagem do filme de
Carlos Saura,
Fados, no qual, Mariza é a protagonista.
Nomeação para o Grammy Latino
O concerto em Lisboa foi considerado um espectáculo de excepção pela
imprensa, mas também por várias organizações. Já em
2007, com o álbum e o
DVD editados, entre cerca de 5000 gravações enviadas para a organização,
Concerto em Lisboa, o álbum, é um dos quatro nomeados para o
Grammy Latino na categoria de
Folk Music.
Mariza tornara-se a primeira portuguesa nomeada para os Grammy latinos. Foi um momento importante no seu percurso no
fado. A sua nomeação causou o corrupio da imprensa nacional em torno de si. No entanto, Mariza referiu sempre que não acreditava que fosse ganhar o gramofone, mas que esta já era uma vitória para Portugal e que abriu as portas para que outros artistas portugueses possam ser nomeados. Uma das suas respostas em relação ao Grammy foi:
| Já tenho dito em entrevistas, que não sei se sou suficientemente latina… |
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Música com Sal
Segundo o JN, a ideia deste espectáculo começou a esboçar-se em dezembro de
2006, quando Gilberto Gil visitou a
Universidade de Aveiro para receber um doutoramento
Honoris Causa. Nessa altura, surgiu a oportunidade de levar Gilberto ao Estádio Municipal, e a possibilidade manteve-se em aberto.
Da possibilidade de actuação, surgiu também a parceria com um artista português, e a escolha caiu sobre Mariza. Assim, juntaram-se no mesmo palco um ícone da música portuguesa e outro da música brasileira e criaram uma iniciativa que tinha como propósito comemorar a lusofonia à qual deram o nome de Música com Sal.
Assim, o programado no alinhamento, foi a subida de Mariza ao palco e interpretação de alguns
fados, até a fadista dar lugar a
Gilberto Gil, e depois subia ao palco novamente e cantavam ambos em parceria.
Jacques Morelenbaum esteve presente em palco, na condução da Orquestra Filarmónica das Beiras.
Entre o repertório do espectáculo estiveram uma estrondosa interpretação de
Primavera, uma entoação em parceria com Gilberto Gil de
Transparente, e a cumprir um dever que lhe foi incumbido pela
UNICEF, canta também com o ministro brasileiro e um dos nomes maiores e mais radiantes da
MPB,
A Paz. Mariza entoou também
Fascinação e outros de sempre, assim como o
hit maior de todo o seu percurso
Ó gente da minha terra,
Há uma música do povo e
Chuva. Gilberto Gil cantou
Aquele Abraço,
A Novidade e
Beira Mar.
No entanto, o espectáculo em si, ficou aquém das expectativas, já que eram esperadas oito mil pessoas, e apareceu um pouco mais da metade. Mas chegou para fazer as honras da casa, já que Mariza, impressionada com a reacção do público, prometeu gravar ali em
Aveiro um DVD, ao vivo, algo recebido com uma ovação. Na assistência do espectáculo, estiveram os seus pais, que também foram entrevistados por
Conceição Lino. Como
media partners, teve a
SIC, que promoveu o concerto com vários
anúncios televisivos, o
Jornal de Notícias, o
Rádio Clube Português e o Jornal de Aveiro. Em suma, foi um dos concertos mais expectantes da sua carreira.
Late Show With David Letterman
Em Outubro, Mariza encontrava-se nos Estados Unidos, no decorrer de uma turné pelo país de 13 concertos, que incluía duas das mais ilustres salas de espectáculos do mundo. A
10 de outubro o programa da
RTP1,
Portugal no Coração, fazia uma homenagem a
Herman José e contava com a intervenção de vários convidados amigos do humorista. Mariza encontrava-se em Nova Iorque, mas homenageou Herman através de uma chamada telefónica que o surpreendeu. Mariza não poupou elogios ao seu amigo e aproveitou para convidá-lo a juntar-se a ela em
Nova Iorque. Aproveitou a ocasião, para dizer que à noite iria estar num programa de televisão da
CBS e, no outro dia, actuaria no
Carnegie Hall.
Esse programa era nem mais, nem menos que o
Late Show With David Letterman, um dos mais célebres talk-shows norte-americanos, com uma audiência média entre 18 e 20 milhões de espectadores. David Letterman é também um dos mais famosos e influentes apresentadores de televisão dos Estados Unidos, e o seu programa estava no ar há 25 anos. Mariza cantou para cerca de 25 milhões de espectadores
Ó gente da minha terra no programa. No fim da estridente actuação, a fadista recebeu uma enorme ovação do público e a dirigir-se a si para a cumprimentar Letterman foi exclamando «
Oh, my Goodness!», «
Beautifull, incredible!». Foi a primeira portuguesa convidada para o programa.
Segundo declarações da cantora numa entrevista sobre o assunto ao
Correio da Manhã, a fadista referiu que no dia seguinte ao programa, foi várias vezes abordada nas
ruas de
Nova Iorque para a congratularem pela actuação. O vídeo da actuação foi um dos vídeos mais vistos do Youtube, na semana em que foi posto em circulação na net. Entre os mais de 25 milhões de espectadores,
Warren Beatty ligou para o número pessoal de
Frank Gehry, para que este lhe fornecesse o contacto de Mariza, o que levou o jornalista Miguel Azevedo, numa reportagem no Correio da Manhã, a apelidá-lo de «nome de peso» na lista de «fãs ilustres» da fadista.
No dia seguinte, cantou, já pela segunda vez, para auditório esgotado no
Carnegie Hall. Algumas imagens do concerto foram gravadas e incluíram uma reportagem da
SIC, na qual Mariza surgia a cantar
Recusa perante o público nova-iorquino. Interpretou os habituais temas como
Louura,
Maria Lisboa,
Barco Negro e deixou o palco por minutos, para dar lugar a uma guitarrada, as
Variações de Armandinho. A fadista não se fez rogada e experimentou a particularmente boa acústica do auditório. Desceu à plateia com os guitarristas, que apoiaram um pé numa caixa de madeira posta no chão, de forma a segurar as guitarras, e cantou sem microfone para o público. Depois empenhou-se em dar um «quê» de fado a
Summertime, a interpretação que se seguiu, em inglês, e do original de
Nat King Cole, cantou
a capella Smile. No final, e para a metade de portugueses que preenchia os lugares da sala, interpretou
Ó gente da minha terra.
Parceria com Frank Gehry
Foi um dos concertos mais aguardados de
2007, assim como um expectante concerto que no
Walt Disney Concert Hall em
Los Angeles, depois de passar também pelo Lobero Theatre em
Santa Barbara, não fosse o arquitecto
Frank Gehry a desenhar o
palco onde a intérprete actuou. A proposta veio de Gehry, e seria a primeira vez que este trabalharia em parceria com uma artista musical. Idealizou uma taberna portuguesa, mais acolhedora e intimista, que o fizesse recordar
Lisboa e o seu ambiente bairrista. Nos seus planos estava também o desenho dos vestidos que Mariza usaria, mas acabou por delegar a escolha à própria, que elegeu o habitual
João Rôlo, para um vestido negro, e um estridente vestido prateado de traços futuristas, por
Fátima Lopes, que completava as linhas contemporâneas da
taberna e do auditório. Novamente, a sala esgotou para receber Mariza a
28 de outubro, na conclusão da sua digressão nos Estados Unidos.
Depois de uma passagem pelo
México, onde esteve pela primeira vez, tornou a
Portugal, para um dos concertos mais aguardados de
Lisboa, esgotado à cerca de um mês.
Concerto no Pavilhão Atlântico
Mariza chegou a
Portugal, vinda do
México, e recebeu a notícia de que os bilhetes para o seu concerto em Lisboa estavam esgotados há um mês. De facto, o decorrer em simultâneo dos Grammys para os quais estava nomeada no concerto foi um grande chamariz para o público. Contudo, nem a própria imprensa esperava que o
Pavilhão Atlântico, nas suas possibilidades máximas com lugares sentados (12.500), fosse lotar para receber um concerto de fado. Um dos objectivos do espectáculo era assumir um dos compromissos estabelecidos com a
UNICEF, que nomeou Mariza, em
2005, como Embaixadora da Boa Vontade. Parte das receitas da bilheteira do Pavilhão Atlântico reverteram então, a favor da UNICEF.
Durante todo o dia
8 de novembro, Mariza esteve a preparar, junto dos seus convidados, aquele espectáculo, o qual a própria denominou «Festa da Lusofonia». Entre os convidados estavam incluídos
Rui Veloso, a Sinfonietta de Lisboa,
Filipe Mukenga,
Carlos do Carmo,
Ivan Lins e o cabo-verdiano
Tito Paris, da mesma editora de Mariza, a World Connection. Entre o reportório, estavam alguns dos temas mais famosos da lusofonia.
Na zona do Pavilhão Atlântico, todas as entradas de rotundas estavam congestionadas, o trânsito acumulava filas em todas as faixas, os próprios estacionamentos encontravam-se lotados. Às portas do Pavilhão alargavam-se as filas para entrar no recinto. No entanto, a maioria do público conseguiu chegar a tempo do início. O espectáculo foi marcado para as 22.00 horas e começou somente com um atraso de cinco minutos.
Entrou a Orquestra Sinfonietta de Lisboa em primeiro lugar, desta feita conduzida por Vasco Pearce de Azevedo. Testaram os instrumentos de cordas, e de seguida entrou o combi de guitarristas, Vasco Sousa, António Neto e Luís Guerreiro, e os percussionistas, João Pedro Ruela e Viky. E, ao invés de começar no palco, como seria de esperar, começou num grande ecrã sobre este, com umas cenas do filme
Fados, de
Carlos Saura, nomeadamente, a interpretação de
Meu fado meu, juntamente com
Miguel Poveda; ele em
castelhano, ela em
português, com a companhia de dois bailarinos. Por fim, sim, entrou Mariza batendo palmas ao público, e como habitualmente, vestida por João Rôlo. O vestido era negro, justo, e parecia abrir uma clarabóia perto da coxa, onde se percebia um folho. O traje foi completado com um bolero negro e vários colares de voltas a lembrar as origens africanas, que naquela noite seriam igualmente recordadas.
(...)
Foi um concerto sem dúvida expectante, que reuniu críticas e elogios, enfim, a atenção de toda a
imprensa. No entanto, esperava-se mais enérgico e uma presença maior de Mariza em palco. O concerto foi transmitido em directo pela
Antena 1.
Fados
Entretanto, é em Novembro que estreia em Portugal o filme de Carlos Saura,
Fados, que completou a triologia iniciada anos antes pelo autor, documentários musicais sobre três grandes géneros de música urbana tradicional, que se tornaram ícone do país de origem.
Flamengo,
Tango e agora
Fados.
Fados, que começou a ser rodado em janeiro, surge, ao invés de um filme, como um documentário musical que imortalizou o fado na película e o tratou com toda a contemporaneidade que merece, aliando-lhe alguns dos mais famosos artistas de
world music na sua interpretação, tornando-o novamente dançável, como era quando surgiu pelos bairros de
Lisboa carregado pela voz dos boémios e nas guitarras apoiadas à
perna. O filme é tido igualmente como um ataque aos puristas e conservadores.
Entre os artistas que participam estão Mariza, com três aparições em cena, para cantar
Transparente, depois um fado-flamengo dividido com
Miguel Poveda,
Meu fado meu e mesmo no final
Ó gente da minha terra. Outra das participações mais aclamadas, a par de Mariza, foi
Carlos do Carmo também com três aparições, uma delas com
Chico Buarque. Participaram também
Camané,
Lura,
Brigada Victor Jara,
Argentina Santos e
Estranha forma de vida num
falsete de
Caetano Veloso. Teve-se honorifica presença da guitarra de
Mário Pacheco, acompanhada em voz por
Cuca Roseta, e outro nome de peso,
Lila Downs, a cantar
Foi na travessa da palha. O filme teve ainda outras participações.
Entretanto consegue uma nova proeza, desta feita, ter três discos seus no top 15 de vendas, em Portugal, em primeiro lugar,
Concerto em Lisboa. Durante
2007 também, uma foto da artista surge ao lado de mais cinco fotos de intérpretes da música do mundo, na margem superior da página da web da
Songlines, em primeiro-plano. Na mesma barra surge a fotografia de outro intérprete lusófono,
Gilberto Gil, que também em
2007 deu em
Aveiro um concerto juntamente com Mariza.
Comemorações dos 500 anos do Funchal
Depois de regressar da
Europa Central, a convite da organização das comemorações dos 500 anos de fundação da cidade do
Funchal, na
Madeira, a intérprete agenda para dia
23 de novembro um concerto no
Madeira Tecnopolo.
O concerto, patrocinado pela
TMN, teve os seus bilhetes esgotados rapidamente, já que o espectáculo na
Madeira há muito que era aguardado. A organização tentou que Mariza concedesse a autorização para entrar mais pessoas, além das duas mil previstas, já que a procura de ingressos era tão vasta. Mas a comitiva da fadista não o deixou.
Ainda no aeroporto a fadista foi recebida por um batalhão de jornalistas, mas somente se deixou fotografar, alheando-se de quaisquer declarações. Todavia, duas horas antes do concerto, concedeu uma conferência de imprensa onde referiu o agrado por participar no evento.
A acompanhar o concerto, onde Mariza cantou os habituais temas de Concerto em Lisboa, teve o seu combi de cordas e percussão, e a Orquestra Clássica da Madeira, conduzida por Rui Massena. A expectativa maior recaía sobre Ó gente da minha terra.
Participou, já no fim do mês no concerto de
Rui Veloso, no
Palácio de Seteais, também já esgotado. No entanto, devido à falta de infra-estruturas com condições para acolher os espectadores e protegê-los do frio e da chuva que se faziam sentir, a plateia reduziu-se a metade, pois muitos abandonaram o recinto.
Ao anúncio de uma pausa de sete meses para a gravação do novo trabalho, produzido, desta feita, por
Javier Limón, seguiu-se o anúncio da edição de uma caixa de luxo, colocada à venda pela
FNAC, em exclusivo e em edição limitada, no princípio de dezembro, com a discografia de estúdio da cantora juntamente com os dois DVDs, um livro sobre o
fado, e outras opções. Porém, devido a problemas de fabrico, essa edição foi posta à venda em janeiro de
2008.
Terra
A
9 de maio de
2008, um novo concerto nos jardins da
Torre de Belém, serviu para que Mariza apresentasse três dos temas do seu novo álbum,
Terra, a editar no dia 30 de junho em Portugal.
No mesmo mês foi divulgado a ligação à gravadora
Blue Note Records, a mais importante editora de jazz do mundo.
Terra é o quarto disco de originais de Mariza, apresentado oficialmente a
16 de junho de
2008 para a imprensa nacional e estrangeira na
Culturgest, com a produção de
Javier Limon. O disco baseia-se nas várias turnés realizadas por Mariza e é descrito como "orgânico", como "uma viagem". Inclui alguns fados clássicos, como
Alfama e
Rosa Branca, e outros com letra de
David Mourão-Ferreira, como
Recurso, musicado por
Mário Pacheco,
Florbela Espanca,
Paulo Abreu Lima e outros. Incluiu não só fados, mas também
mornas,
duetos (com
Tito Paris e
Concha Buika) e parcerias com
Rui Veloso,
Ivan Lins e
Dominic Miller (guitarrista de
Sting). O single é
Rosa Branca.
A apresentação mundial ao público teve lugar no dia
21 de Junho em
Santarém (onde nunca deu um concerto), na
Monumental Celestino Graça, um espaço com lotação para catorze mil pessoas. Até ao fim de 2008 a fadista tem agendados concertos em 18 países, entre os quais
Espanha,
Letónia,
Luxemburgo,
Reino Unido,
Roménia e
Bélgica, e inúmeras cidades, entre as quais
Huelva,
Badajoz,
Barcelona,
Timisoara,
Paris,
Amsterdão,
Helsínquia,
Sófia,
Oslo,
Riga e
Budapeste, e, em Portugal,
Viseu,
Coimbra,
Lisboa,
Ponte de Lima e
Pombal. A digressão levá-la-á, até ao final do ano, a várias cidades portuguesas, como e Pombal, e a dezoito países, entre outros.
Mariza e o fado contemporâneo
Apesar de reunir algumas críticas dos espectadores mais conservadores, Mariza foi a maior impulsionadora da nova geração de fadistas que surgiram depois do milénio, e uma das pessoas que mais contribuíram para o reconhecimento e o valor que fado conseguiu recuperar, tanto em Portugal como no estrangeiro.
A influência de Amália Rodrigues
Mariza é hoje, indubitavelmente, a fadista mais reconhecida do fado contemporâneo, e reúne pelo menos três das características que Amália teve, e que muito impulsionaram o seu sucesso: ser proveniente de um bairro típico de Lisboa, ter uma excelente voz e a dramatização das suas interpretações. E Mariza conheceu a música de Amália já relativamente tarde, já que o pai só tinha o hábito de ouvir fadistas masculinos em casa. Acusada de explorar negativamente o repertório mais célebre de Amália, é inquestionável que Mariza revitalizou essas canções, colocando de novo o fado na ribalta, algo que não se via ainda na década de noventa. Para além disso, colocou o fado no topo da
world music, levando-o aos mais ilustres palcos, como a Sala Kongresowa, em
Varsóvia, a
Ópera de Sydney e o Carnegie Hall, e colocando-o no top nacional de vendas da
Finlândia e Holanda, algo impensável até à altura.
Mariza faz, cada vez mais, um fado muito autêntico e muito próprio, sendo considerada o expoente do fado experimental. Representa, além de tudo, um virar de página no
Fado.
Fado Tradicional
Em 2010 lança "
Fado Tradicional", quinto álbum da fadista portuguesa. "Ai, Esta Pena de Mim", em tempos protagonizada por Amália é interpretado no álbum quase "
a cappella". Além de
Amália Rodrigues, conta com fados de
Alfredo Marceneiro e textos de
Fernando Pessoa, entre outros. No regresso às raízes, e em jeito de homenagem a poetas e fadistas que a influenciaram, Mariza recupera vários fados tradicionais - como o Fado Alfacinha, Fado Sérgio ou Fado Varela.
Discografia