Fundador da comédia espanhola e um dos mais prolíficos autores da
literatura universal, Lope de Vega tinha origens numa família modesta. Era
um menino prodígio: com cinco anos já lia em castelhano e latim, com
dez anos já fazia traduções do latim para o espanhol, e com doze anos
escreveu a sua primeira peça de teatro. Com 14 anos, começou a estudar com
os jesuítas e entrou depois para o serviço do bispo D. Jerónimo
Manrique, que lhe proporcionou sólida formação e o levou para
Alcalá de Henares. Também estudou na
Universidade de Salamanca (1580-1582), serviu na
Invencível Armada (1588), enviada contra a
Inglaterra e, sobrevivendo à derrota, começou a escrever as suas famosas
deramas (1588). Foi secretário do
Duque de Alba (1590) e mudou-se para
Toledo e depois para
Alba de Tormes.
Após escrever a sua primeira obra de sucesso, o romance "La Arcadia (1598), voltou para
Madrid decidido a entregar-se à
literatura,
e foi ainda secretário do Duque de Sessa (1605). Já autor consagrado,
estabeleceu-se definitivamente em Madrid, mas com a morte da então
esposa Juana e de um dos seus filhos, sofreu uma forte crise espiritual
que o levou a tornar-se religioso (1610). Ordenou-se (1614) e foi
nomeado oficial da
Inquisição.
Também famoso pelos vários casamentos, inúmeras aventuras amorosas
extra-conjugais e escandalosos romances, que pareciam ampliar a sua
inspiração, entre eles Marta de Navares, a
Amarílis dos seus
versos, que conheceu em 1616 e com quem manteve um amor sacrílego que
escandalizou Madrid. A morte dela (1632), seguida de uma série de
desgraças pessoais, mergulhou o poeta em profunda depressão, que se
prolongou até à sua morte.
A sua produção literária compõe-se de 426 comédias e 42 autos, além de
milhares de poesias líricas, cartas, romances, poemas épicos e
burlescos, livros religiosos e históricos, entre eles os extensos poemas
como
La Dragontea (1598) e
La Gatomaquia (1634), os poemas curtos Rimas (1604),
Rimas sacras (1614),
Romancero Espiritual (1619) e a célebre écloga
Amarilis (1633) - uma homenagem à amada morta. Ainda são destaques, pela sua originalidade, os épicos
Jerusalén conquistada (1609), o
Pastores de Belém (1612) e o romance dramático
La Dorotea (1632).
Os seus contemporâneos chamaram-no de "Monstro da Natureza" por ter escrito mais de 1.500 peças de teatro.
A una dama que salió revuelta una mañana
Hermoso desaliño, en quien se fía
cuanto después abrasa y enamora,
cual suele amanecer turbada aurora,
para matar de sol al mediodía.
Solimán natural, que desconfía
el resplandor con que los cielos dora;
dajad la arquilla, no os toquéis, señora,
tóquese la vejez de vuestra tía.
Mejor luce el jazmín, mejor la rosa
por el revuelto pelo en la nevada
columna de marfil, garganta hermosa.
Para la noche estáis mejor tocada;
que no anocheceréis tan aliñosa
como hoy amanecéis desaliñada.
Lope de Vega