Vida e obra
Filho de um chefe tradicional, Mondlane estudou inicialmente numa missão
presbiteriana suíça próxima de Manjacaze, mas viria a terminar os seus estudos secundários numa escola da mesma igreja na
África do Sul.
Após ter sido expulso, na sequência da subida ao poder do
Partido Nacional, da Universidade de
Witwatersrand, onde cursava Antropologia e Sociologia, seguiu estudos,
usufruindo de uma bolsa, na
Universidade de Lisboa.
Aí conheceu outros estudantes que viriam a ser os líderes dos
movimentos nacionalistas e anticoloniais de vários países africanos,
como
Amílcar Cabral e
Agostinho Neto. Terminaria os estudos nos
Estados Unidos, frequentando o
Oberlin College (Ohio) e a
Northwestem University (Evaston, Illinois) e vindo a obter o
doutoramento em
Sociologia.
Trabalhou para as
Nações Unidas,
no Departamento de Curadoria, como investigador dos acontecimentos que
levavam à independência dos países africanos e foi também professor de
história e sociologia na
Universidade de Syracuse, em
Nova Iorque. Nessa altura (
década de 50), Mondlane teve contactos com
Adriano Moreira,
um ministro português que queria recrutá-lo para trabalhar na
administração colonial; Mondlane, por seu turno, tentou convencê-lo da
necessidade de Portugal seguir o caminho dos restantes países, que
estavam a dar independência às suas colónias
africanas.
Em
1961,
visitou Moçambique, a convite da Missão Suíça, e teve contactos com
vários nacionalistas, onde se convenceu de que as condições estavam
criadas para o estabelecimento de um movimento de libertação. Por essa
altura e independentemente, formaram-se três organizações com o mesmo
objetivo: a
UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique), a
MANU (
Mozambique African National Union, à maneira da
KANU do
Quénia e de tantas outras) e a
UNAMI
(União Nacional Africana para Moçambique Independente). Estas
organizações tinham sede em países diferentes e uma base social e étnica
também diferentes, mas Mondlane tentou uni-las, o que conseguiu, com o
apoio do presidente da
Tanzânia,
Julius Nyerere – a
FRELIMO foi de facto criada na Tanzânia, com base naqueles três movimentos, em
25 de junho de
1962, e Mondlane foi eleito seu primeiro presidente, com
Uria Simango como vice-presidente.
Nessa altura, Mondlane já tinha chegado à conclusão de que não seria
possível conseguir a independência de Moçambique sem uma guerra de
libertação, mas era necessário desenhar uma estratégia e obter apoios
para a levar a cabo, o que Mondlane começou a fazer. Os primeiros
guerrilheiros foram treinados na
Argélia e, entre eles, contava-se
Samora Machel
que o viria a substituir após a sua morte. Os seguintes foram já treinados na
Tanzânia, onde a FRELIMO organizou ainda uma escola secundária, o
Instituto de Moçambique.
A luta armada foi desencadeada em
25 de setembro de
1964, com o ataque de um pequeno número de guerrilheiros ao
posto administrativo de
Chai, na província de
Cabo Delgado,
a cerca de 100 km da fronteira com a Tanzânia. Para além das ações
militares, a FRELIMO organizou um sistema de comércio para apoiar as
ações de guerrilha e
Lázaro Nkavandame,
que tinha sido nomeado Secretário Provincial do movimento para aquela
província, foi quem organizou esse sistema; mais tarde, verificou-se que
ele guardava os lucros para si e seus colaboradores e acabou por
desertar, em
1969, pouco depois da morte de Mondlane.
Este não foi o único incidente que ensombrou os primeiros anos da FRELIMO:
Mateus Gwengere, um padre
católico que tinha aliciado muitos jovens da sua província (
Tete)
e era professor do Instituto de Moçambique, insurgiu-se contra a
política do movimento de enviar a maior parte dos jovens para a luta
armada, em vez de os incentivar a continuar os estudos. Em março de
1968, verificou-se um motim, seguido pelo abandono quase maciço dos
estudantes que, mais tarde, se descobriu ter sido despoletado por
Gwengere. Em maio, uma multidão de
macondes invadiu os escritórios do movimento e assassinou um dos membros do Comité Central,
Mateus Sansão Muthemba - exigiam a independência imediata de
Cabo Delgado.
Entretanto, Nkavandame tentou forçar a realização de um congresso do
movimento na Tanzânia, mas o Comité Central decidiu realizá-lo em
Matchedje, nas zonas libertadas do
Niassa, em julho de 1968.
Nesse congresso - o II Congresso da FRELIMO -, Mondlane foi reeleito
como presidente e Uria Simango como vice-presidente, mas foi ainda
criado um conselho executivo, que incluía a presidência e os chefes dos
departamentos. O mais importante foi que o congresso reafirmou a
política definida de lutar pela “independência total e completa” de Moçambique e não apenas de parte dela.
Eduardo Mondlane morreu a
3 de fevereiro de
1969, ao abrir uma encomenda que continha uma bomba, na casa de uma
ex-secretária sua, Betty King. Suspeita-se que a encomenda teria sido
preparada em Lourenço Marques, pela
PIDE/DGS, a polícia secreta portuguesa, mas como chegou às suas mãos e porque foi ele a abri-la nunca ficou esclarecido.
Mondlane deixou viúva, Janet Mondlane, que foi a primeira Diretora
Nacional de Ação Social de Moçambique independente e a primeira
presidente do Conselho Nacional contra a SIDA, já nos anos 2000-2004, e
três filhos. Mais importante, deixou um livro, "Lutar por Moçambique",
que só foi publicado alguns meses depois da sua morte, onde detalhava
como funcionava o sistema colonial em Moçambique e o que seria
necessário para desenvolver o país.