O povo de Madrid deixou-se arrastar paara revolta e o assassinato… Sangue francês foi derramado. Sangue que demanda vingança. |
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sexta-feira, maio 03, 2013
Há 205 anos, um fuzilamento em Madrid deu origem a magnífico quadro de Goya
Três de Maio de 1808 em Madrid, Os fuzilamentos da montanha do Príncipe Pío ou Os fuzilamentos de três de Maio, nome pelo qual é habitualmente conhecido, é um quadro do pintor espanhol Francisco de Goya. O quadro, de 2,68 x 3,47 metros, foi realizado em 1814 e encontra-se no Museu do Prado, em Madrid.
O quadro forma uma série com o quadro o Dois de Maio. Após sua exibição ao ar livre por ocasião do retorno de Fernando VII, foram armazenados por longo tempo e é sabido que por volta de 1850 se guardavam no Museu do Prado, mas não se exibiam, talvez pelas críticas dispares que tiveram durante longo do tempo. O pintor José Madrazo, diretor do museu do Prado, chegara a afirmar que estas eram obras de discutível execução, muito inferiores aos retratos mais famosos do artista. Finalmente, foi com o auge do Romantismo e o Impressionismo que estas pinturas adquiriram fama mundial.
Antecedentes
O quadro plasma a repressão do acontecimento que se conhece como o levantamento de 2 de maio, ocorrido em 1808, após Napoleão invadir a Espanha e a casa real seguir as suas ordens. A revolta rebenta a 2 de maio de 1808, quando uma parte do povo de Madrid tenta evitar a saída, ordenada pelos franceses, do infante D. Francisco de Paula de Bourbon para a França. A situação escalou e as tropas francesas atiraram contra os madrilenos sublevados.
O comandante das forças francesas, o marechal Joachim Murat, decidiu reprimir duramente a revolta. Ele escreve no seu diário:
Os madrilenos que foram encontrados com armas foram assassinados. Foram cerca de 400 vítimas. 44 revolucionários foram juntos e fuzilados na noite de 2 para 3 de maio, na colina do Príncipe Pío, em Madrid. Este é o episódio que Goya mostra no seu quadro.
O Quadro
A lenda conta que Goya, com 62 anos, após ter seguido de longe os acontecimentos, ter-se-ia chegado, mais tarde, com uma lanterna ao lugar dos fuzilamentos. Goya ainda não vivia nas cercanias de Príncipe Pío em 1808 e o quadro foi realizado seis anos mais tarde, portanto não foi uma reacção espontânea ao horror.
Em 1814, após a retirada napoleónica, restaura-se a dinastia Bourbon em Espanha, com o rei Fernando VII. Este regressa a Madrid, e é então que se projecta a ornamentação da cidade com decorações efémeras, como arcos triunfais. Goya vai pintar uma série de quatro pinturas, para, posteriormente, serem exibidos nas ruas. Contudo, só completou dois, A carga dos mamelucos e este.
O quadro está pintado com poucos detalhes, chega-se directamente ao tema. Emprega uma luz quase natural.
Os acontecimentos na colina de Príncipe Pío estão representados com grande contraste, que reflectem a real desigualdade de forças: de um lado os oito soldados de infantaria, que estão representados com o seu fuzil, o uniforme e o chapéu; do outro, as vítimas, um grupo variado e desesperado, aguardando o fuzilamento.
Do grupo dos revolucionários destaca-se um, de camisa branca. A associação com Cristo na cruz é intencional: as mãos apresentam estigmas. Aqui assassinaram mártires. O tema também é tratado na série Desastres da Guerra.
As vítimas formam três grupos: os que estão à espera de serem fuzilados e que vêem com horror o que os espera, os que estão a ser fuzilados e os mortos. Os grupos vêem-se da direita para esquerda.
No quadro, Goya não esquece a igreja. Na primeira fileira das vítimas, ajoelhado, aparece um freire tonsurado. A religião teve um papel de destaque na contenda, chamando à resistência desde os altares e provendo aos resistentes de curas dispostos a empunhar as armas. A igreja opôs-se ferozmente a Napoleão, não tanto em defesa da liberdade mas por ter este fechado dois terços dos conventos e suprimido a Inquisição.
Por ocasião de uma exposição no Museu do Prado sobre Goya na época da guerra, este quadro e seu companheiro foram restaurados de maneira integral, eliminando-se as camadas de verniz que o escureceram. Também se restauraram algumas lacunas existentes na pintura causadas durante uma mudança durante a guerra civil espanhola.
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quinta-feira, maio 02, 2013
Há 205 anos, o levantamento de 2 de maio levou o povo espanhol à guerra contra Napoleão
Defensa del Parque de artillería de Monteleón - Joaquín Sorolla
O Levantamento de 2 de maio, ocorrido em 1808, é o nome pelo qual ficaram conhecidos os eventos violentos acontecidos em Madrid (Espanha) naquela data, resultado do protesto popular por causa da situação de incerteza política gerada após o Motim de Aranjuez. Reprimido o protesto contra as forças napoleónicas presentes na cidade, estendeu-se por toda a Espanha uma onda de indignação e chamamento público à insurreição armada que conduziriam à Guerra de Independência Espanhola.
Antecedentes
Após a assinatura do Tratado de Fontainebleau, a 27 de outubro de 1807, e a conseguinte entrada na Espanha das tropas aliadas francesas, a caminho de Portugal, e os acontecimentos do Motim de Aranjuez, a 17 de março de 1808, Madrid foi ocupada pelas tropas do general Murat a 23 de março. No dia seguinte, ocorreu a entrada triunfal na cidade de Fernando VII e do seu pai, Carlos IV, que acabava de ser forçado a abdicar em favor do primeiro. Ambos foram obrigados a se reunir com Napoleão, em Baiona, onde aconteceria o facto histórico conhecido como as Abdicações de Baiona, que deixarão o trono da Espanha nas mãos do irmão do imperador, José Bonaparte.
Enquanto isso, em Madrid foi constituída uma Junta de Governo, como representante do rei Fernando VII. Contudo, o poder efetivo ficou nas mãos de Murat, o qual reduziu a Junta a um mero títere, simples espectador dos acontecimentos. A 27 de abril Murat solicitou, supostamente em nome de Carlos IV, a autorização para levar a Baiona dois filhos deste que ficaram na cidade, Maria Luísa, rainha de Etrúria, e o infante Francisco de Paula. Se bem que a Junta recusou a princípio, após uma reunião na noite de 1 a 2 de maio, e perante as instruções de Fernando VII chegadas através de um emissário desde Bayona, finalmente cedeu.
Que o levam!
A 2 de maio de 1808, ao início da manhã, a multidão começou a concentrar-se em frente do Palácio Real. A multidão viu como os soldados franceses levavam do palácio o infante Francisco de Paula, pelo qual, ao grito de José Blas de Molina "Que o levam!", os populares tentaram assaltar o palácio. O infante assomou-se a uma varanda, provocando o aumento do bulício na praça. Este tumulto foi aproveitado por Murat, que mandou depressa uns Guardas Imperiais ao palácio, acompanhados por artilharia, que disparou contra da multidão. Ao desejo do povo de impedir a saída do infante, uniu-se o de vingar os mortos e o de se desfazer dos franceses. Com estes sentimentos, a luta estendeu-se por toda a cidade de Madrid.
Luta nas ruas
Os madrilenos começaram assim um levantamento popular espontâneo, mas em gestação desde a entrada no país das tropas francesas, improvisando soluções para as necessidades da luta das ruas. Constituíram-se assim patrulhas de bairro, comandadas por chefes espontâneos; procurou-se o aprovisionamento de armas, pois a princípio as únicas de que dispuseram eram armas brancas e navalhas; compreendeu-se a necessidade de impedir a entrada na cidade de novas tropas francesas.
Tudo isto não foi suficiente e Murat pôde pôr em prática uma tática tão simples quanto eficaz. Quando os madrilenos quiseram tomar as portas da muralha da cidade, para impedir a chegada das forças francesas acantonadas nas suas cercanias, o grosso das tropas de Murat (cerca de 30 000 homens) já penetrara, fazendo um movimento concêntrico para se dirigir para o centro. Porém, as pessoas continuaram lutando durante toda o dia, utilizando qualquer objeto susceptível de ser utilizado como arma... Assim, os esfaqueamentos, degolações e detenções sucederam-se numa luta sangrenta. Mamelucos e lanceiros napoleónicos extremaram a sua crueldade contra a população e vários centos de madrilenos, homens e mulheres, bem como soldados franceses, faleceram na refrega. Francisco de Goya refletiria anos depois estas lutas, na sua famosa pintura A Carga dos Mamelucos.
Embora a resistência ao avanço francês fosse muito mais eficaz do que Murat tinha previsto, especialmente na Puerta de Toledo, na Puerta del Sol e no Parque de Artilharia de Monteleón, a sua operação de cerco permitiu submeter Madrid sob a jurisdição militar e pôr sob as suas ordens a Junta de Governo. Pouco a pouco, os focos de resistência popular foram caindo.
La carga de los mamelucos (El dos de mayo de 1808) - Goya
Os Heróis
Enquanto se desenvolvia a luta, os militares espanhóis permaneceram, seguindo ordens do capitão-general Francisco Javier Negrete, aquartelados e passivos. Somente os artilheiros do parque de Artilharia situado no Palácio de Monteleón desobedeceram as ordens e uniram-se à insurreição. Os heróis de maior graduação foram os capitães Luis Daoíz, que assumiu o comando dos insurretos por ser o mais veterano, e Pedro Velarde. Com os seus homens encerraram-se no Parque de Artilharia de Monteleón e, após repelir uma primeira ofensiva francesa, a cargo do general Lefranc, faleceram lutando heroicamente perante os reforços enviados por Murat.
O levantamento
Dois de maio não foi a rebelião do estado espanhol contra os franceses, mas a das classes populares de Madrid contra o ocupante tolerado (por indiferença, medo ou interesse) por grande quantidade de membros da Administração. De facto, a entrada das tropas francesas fora legal, ao abrigo do Tratado de Fontainebleau, cujos limites porém logo ultrapassaram, excedendo o permitido e ocupando praças que não estavam no caminho para Portugal, o seu suposto objetivo. A Carga dos Mamelucos antes citada, apresenta as principais características da luta: profissionais perfeitamente equipados (os mamelucos) frente a uma multidão praticamente desarmada; presença ativa no combate de mulheres, algumas das quais perderam até mesmo a vida (Manuela Malasaña ou Clara del Rey).
Posterior repressão
A repressão foi cruel. Murat, não conforme com aplacar o levantamento, concebeu três objetivos: controlar a administração e o exército espanhol, aplicar um rigoroso castigo aos rebeldes para escárnio de todos os espanhóis e afirmar que era ele quem governava Espanha. Na tarde de 2 de maio assinou um decreto que criou uma comissão militar, presidida pelo general Grouchy, para sentenciar à morte todos quantos fossem colhidos com as armas na mão ("Serão fuzilados todos quantos durante a rebelião fossem presos com armas").
O Conselho de Castela publicou uma proclamação que declarava ilícita qualquer reunião em lugares públicos e foi ordenada a entrega de todas as armas, brancas ou de fogo. Militares espanhóis colaboraram com Grouchy na comissão militar. Nestes primeiros momentos, as classes ricas pareceram preferir o triunfo das armas de Murat antes de o dos patriotas, compostos unicamente das classes populares.
No salão do Prado e nos campos de La Moncloa centenas de espanhóis foram fuzilados. Cerca de mil espanhóis perderam a vida no levantamento e nos fuzilamentos sub-seguintes.
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