Uma
católica devota, ela criou uma grande família sozinha, tendo ficado
viúva aos vinte e oito anos, e permaneceu fiel à memória de Carlos I pelo resto de sua vida.
Família
A princesa Zita de Bourbon-Parma nasceu em
Villa Pianore, situada na província italiana de
Lucca. O nome pouco comum, Zita, foi escolhido por causa da popular
santa Zita, que viveu em
Toscana durante o
século XIII. Era a quinta filha (terceira mulher) do deposto duque
Roberto I de Parma e da sua segunda esposa,
Maria Antonia de Bragança, filha do ex-rei
Miguel I de Portugal. O seu pai perdera o trono devido ao movimento de
unificação italiana em
1859, quando ele ainda era uma criança. Roberto I teve doze filhos de seu casamento anterior, com
Maria Pia de Bourbon-Duas Sicílias,
dos quais seis eram retardados mentais e três morreram jovens. Dois
anos depois de ficar viúvo, ele desposou a mãe de Zita. O segundo
casamento gerou mais doze filhos.
Roberto viveu com sua numerosa família entre Villa Pianore (uma grande propriedade rural localizada entre
Pietrasanta e
Viareggio) e seu
castelo em
Schwarzau, na
Baixa Áustria. Foi principalmente nestas duas residências que Zita passou seus
primeiros anos de vida. A família ficava a maior parte do ano na
Áustria, mudando-se para Pianore no
outono e retornando na
primavera. Para realizar tal viagem, eles tomavam um
trem especial, de dezasseis carruagens.
Educação
Zita e os seus irmãos aprenderam a falar
francês,
alemão,
italiano,
espanhol,
português e
inglês.
Aos dez anos de idade, Zita foi matriculada num
internato em
Zangberg, na
Alta Baviera, onde havia um rígido sistema de ensino de instrução religiosa. Zita e sua irmã Francisca foram mandadas a um
convento na
Ilha de Wight, para completar sua educação.
As crianças Parma regularmente faziam trabalhos de
caridade
aos pobres. Zita, por exemplo, distribuía comida, roupas e remédios aos
necessitados em Pianore. Três de suas irmãs tornaram-se
freiras e, durante algum tempo, Zita pensou em seguir o mesmo caminho
Medalha comemorativa de Carlos e Zita (daqui)
Casamento
Nas proximidades do
Castelo de Schwarzau ficava a
Villa Wartholz, residência da
arquiduquesa Maria Teresa de Áustria-Este, tia materna de Zita. Ela foi
madrasta do arquiduque Otto, pai do
arquiduque Carlos,
à época segundo na linha de sucessão ao trono austríaco. As duas filhas
de Maria Teresa eram primas em primeiro grau de Zita e "tias" de
Carlos. Apesar de terem se conhecido na infância, Carlos e Zita não se
viam há quase dez anos, devido aos estudos de ambos. Em
1909, o
regimento de
Dragões do arquiduque permaneceu estacionado em
Brandýs nad Labem-Stará Boleslav,
de onde ele visitava a sua tia em Franzensbad. Foi durante uma dessas
visitas que os primos se reencontraram. Carlos vinha sendo pressionado a
casar-se (
Francisco Fernando, o seu tio e
herdeiro presuntivo da coroa, havia casado
morganaticamente, e os seus filhos foram excluídos da sucessão) e Zita vinha de uma longa linhagem real. Ela recordaria mais tarde:
"Estávamos
naturalmente felizes por encontrarmo-nos novamente e nos tornamos
amigos íntimos. Do meu lado, os sentimentos desenvolveram-se
gradualmente ao longo dos dois anos seguintes. Porém, ele foi muito mais
rápido e tornou-se ainda mais entusiasmado quando, no outono de 1910, se espalharam rumores de que eu estava noiva de D. Jaime, duque de Madrid,
um distante parente espanhol. Ao saber disso, o arquiduque deixou
apressadamente Brandýs e procurou sua avó, a arquiduquesa Maria Teresa,
que também era minha tia e confidente natural em tais assuntos.
Perguntou se o boato era verdadeiro e, quando ela o negou, ele
respondeu: 'Bem, de qualquer forma, é melhor eu me apressar, ou ela
ficará noiva de outra pessoa.'"
O arquiduque Carlos viajou até a
Villa Pianore a fim de pedir a mão de Zita e, em
13 de junho de
1911,
o seu compromisso foi anunciado na corte austríaca. Anos mais tarde,
Zita recordou que, após o noivado, revelou a Carlos suas preocupações
com a destino do
Império Austro-Húngaro e os desafios da
monarquia . Carlos e Zita casaram-se no Castelo Schwarzau, a
21 de outubro de
1911. O
imperador Francisco José I,
tio de Carlos - então com 81 anos -, aliviado por ver o seu herdeiro
realizando um "casamento adequado", compareceu à cerimónia de muito bom
humor, chegando mesmo a fazer um brinde aos noivos no desjejum nupcial. Zita logo concebeu um filho, dando à luz o
arquiduque Otto a
20 de novembro de
1912. O casal teria outras sete crianças.
Esposa do herdeiro do trono austríaco
Nesta época, Carlos contava com vinte e cinco anos e não esperava
tornar-se Imperador tão cedo, especialmente por Francisco Fernando gozar
de boa saúde. Isso mudou em
28 de junho de
1914, quando o herdeiro e sua esposa
Sofia foram assassinados em
Sarajevo por
Gavrilo Princip, um estudante
servo-bósnio da organização
nacionalista "
Jovem Bósnia".
Carlos e Zita receberam a notícia por telegrama naquele mesmo dia.
Segundo a arquiduquesa, a reação de Carlos foi espetacular:
"Apesar de ter sido um belo dia, vi seu rosto empalidecer sob o sol."
Na guerra que se seguiu, Carlos foi promovido a
general do
exército austríaco, assumindo o comando do
20º Corpo para a ofensiva no
Tirol. A guerra foi pessoalmente difícil para Zita, pois vários de seus irmãos lutaram em lados opostos no conflito (os príncipes
Félix e
René haviam se juntado ao exército austríaco, enquanto os príncipes
Sixto e
Xavier - que viviam na
França antes da guerra - alistaram-se no
exército belga). Também o seu país natal, a
Itália, uniu-se à
Tríplice Entente contra a Áustria em
1915, dando origem a diversos rumores da 'italiana' Zita. Em
1917, quando o conflito já caminhava para seu final, o
embaixador alemão em
Viena,
conde Otto Wedel, escreveria a
Berlim:
"Ela descende de uma casa principesca italiana... O povo não confia plenamente na italiana e no seu bando de parentes". A pedido de Francisco José, Zita e seus filhos deixaram o
Palácio de Hetzendorf e se mudaram para um conjunto de apartamentos no
Palácio de Schönbrunn.
Lá, Zita passou muitas horas com o velho imperador em ocasiões formais e
informais, onde Francisco José confidenciou os seus temores em relação ao
futuro. O imperador morreria de
bronquite e
pneumonia a
21 de novembro de
1916, aos 86 anos. Zita relatou mais tarde:
"Lembro-me da encantadora figura gorducha do príncipe Lobkowitz dirigindo-se ao meu marido e, com lágrimas nos olhos, fazendo o sinal da cruz em sua testa. Então ele disse: 'Deus abençoe Vossa Majestade!'. Foi a primeira vez que ouvi o título Imperial dirigido a nós."
Imperatriz e Rainha
Carlos e Zita foram coroados em
Budapeste a
30 de dezembro de
1916. Após a
coroação,
houve um banquete, mas depois a festa foi encerrada, pois o imperador e
a imperatriz achavam inconveniente fazer celebrações prolongadas em
tempos de guerra. No início do reinado, Carlos ausentava-se
frequentemente de Viena; então foi instalada uma linha telefónica
ligando
Baden (onde o seu
estado-maior se encontrava reunido) ao
Palácio de Hofburg.
Ele ligava várias vezes por dia a Zita sempre que estavam separados. A
imperatriz tinha alguma influência sobre o marido e acompanhava
discretamente as audiências com o
primeiro-ministro e as instruções militares, tendo interesse especial pelas
políticas sociais.
Contudo, as questões militares eram o único domínio de Carlos. Enérgica
e de temperamento forte, Zita acompanhou o marido às províncias e à
frente de guerra, além de ocupar-se com obras de caridade e visitas aos feridos na guerra.
O "Caso Sixto"
Quando a guerra já se arrastava pelo seu quarto ano, o irmão de Zita,
Sixto (que servia no exército belga), foi o principal articulador de um
plano para a Áustria-Hungria fazer a paz em separado com a França.
Carlos iniciou conversações com o príncipe por meio de contatos na
neutra Suíça e Zita escreveu uma carta convidando-o para Viena. Maria
Antonia, mãe de Zita, entregou a carta pessoalmente.
Sixto chegou com as condições francesas para a paz: a devolução da
Alsácia-Lorena à França (anexada pela
Alemanha após a
Guerra Franco-Prussiana em
1870), o restabelecimento da
independência da
Bélgica; a independência do
Reino da Sérvia e a entrega de
Constantinopla à
Rússia. Carlos concordou, inicialmente, com os três primeiros pontos e escreveu uma carta a Sixto, datada de
25 de março de
1917, declarando que
"secreta e extra-oficialmente, usarei todos os meios e toda minha influência pessoal"
junto ao presidente da França . Essa tentativa de "diplomacia
dinástica" eventualmente fracassou. A Alemanha recusou-se a negociar
sobre a Alsácia-Lorena e, vendo um colapso russo no horizonte, estava
relutante em desistir da guerra. Sixto continuou os seus esforços,
reunindo-se com
David Lloyd George em
Londres, para tratar das demandas territoriais da Itália sobre a Áustria no
Tratado de Londres, mas o
primeiro-ministro
não poderia convencer seus generais a fazer a paz com a Áustria. Zita
conseguiu uma realização pessoal neste período, impedindo os
planos alemães de enviar aviões para bombardear o palácio de
Alberto I da Bélgica durante as comemorações do
dia do nome .
Em abril de
1918, após o
Tratado de Brest-Litovski entre a Alemanha e a Rússia soviética, o ministro do exterior austríaco, conde
Ottokar Czernin fez um discurso acusando o primeiro-ministro francês
Georges Clemenceau de ser o principal obstáculo para uma paz favorecendo os
Impérios Centrais. A vida de Sixto estava em risco e temia-se a ocupação da Áustria pela Alemanha. Czernin convenceu Carlos a enviar uma "
palavra de honra"
aos aliados da Áustria, dizendo que Sixto não tinha sido autorizado a
mostrar a carta ao governo francês, que a Bélgica não tinha sido
mencionada e que Clemenceau havia mentido com relação à Alsácia. Czernin manteve contato com a
embaixada
da Alemanha durante toda a crise e estava tentando convencer o
imperador a abdicar por causa do incidente. Com o fracasso de seu plano,
Czernin renunciou.
Fim do Império
A essa altura, o cerco fechava-se para Carlos I. A
União dos Deputados Checos já havia feito, em
13 de abril de
1918, um juramento para um novo estado
checoslovaco independente do Império dos Habsburgos; o prestigiado exército alemão havia sofrido um severo golpe na
Batalha de Amiens e, em
25 de setembro de
1918, o rei
Fernando I da Bulgária rompeu com seus aliados da
Tríplice Aliança
para negociar a paz de forma independente. Zita estava com Carlos
quando ele recebeu o telegrama do colapso da Bulgária e lembrou que
"tornava-se
ainda mais urgente o início das negociações de paz com as potências
ocidentais, enquanto ainda havia algo para se falar". Em
16 de outubro,
o imperador lançou um "Manifesto Público", propondo a reestruturação do
império em unidades federativas, onde cada nacionalidade teria seu
próprio estado. Ao invés disso, cada país separou-se e o império foi
efetivamente dissolvido.
Deixando os seus filhos em
Gödöllő,
Carlos e Zita voltaram ao Palácio de Schönbrunn. Nessa altura, o novo
estado da "Áustria Alemã" já havia nomeado ministros e, em
11 de novembro,
juntamente com os porta-vozes do imperador, eles elaboraram um
manifesto para Carlos assinar. Zita, à primeira vista, confundiu o
documento com uma abdicação e fez sua famosa declaração:
"Um
soberano não pode nunca abdicar. Ele pode ser deposto... Tudo bem. Isso
é força. Mas abdicar - nunca, nunca, nunca! Eu prefiro cair aqui ao seu
lado. Então haveria Otto. E mesmo que todos nós aqui fôssemos mortos,
haveria ainda outros Habsburgos!"
Carlos deu a sua permissão para que o documento fosse publicado e, com
sua família e o restante de sua corte, partiu para o pavilhão de caça de
Eckartsau, próximo à fronteira com a Hungria e a
Eslováquia. A
República da Áustria Alemã foi proclamada no dia seguinte.
Exílio
Após um mês difícil em Eckartsau, a família imperial recebeu auxílio
de uma fonte inesperada. O príncipe Sixto encontrou-se com o rei
Jorge V do Reino Unido e pediu-lhe para ajudar os Habsburgos. Movido pelo pedido (apenas alguns meses após a execução de seu primo
Nicolau II da Rússia por revolucionários), Jorge prometeu:
"Iremos fazer imediatamente o que for necessário".
Vários oficiais do
exército britânico foram enviados para ajudar Carlos, mais notavelmente o
tenente-coronel Edward Lisle Strutt. A
19 de março de
1919, recebeu ordens do Ministério da Guerra para
"retirar o imperador de Áustria sem demora".
Com alguma dificuldade, Strutt conseguiu arranjar um comboio para a
Suíça, permitindo que o imperador saísse do país com dignidade e sem ter
de abdicar. Carlos, Zita e seus filhos partiram em
24 de março.
Hungria e exílio na Ilha da Madeira
A primeira casa da família no exílio foi o Castelo Wartegg em
Rorschach,
na Suíça, um imóvel de propriedade dos Bourbon-Parma. No entanto, as
autoridades suíças, preocupadas com as implicações dos Habsburgos, que
viviam perto da fronteira austríaca, os obrigou a se deslocar para a
parte ocidental do país. No mês seguinte, portanto, transferiram-se para
a
Villa Prangins, perto do
Lago Léman, onde tiveram uma vida familiar tranquila. Esta foi abruptamente encerrada em março de
1920 quando, após um período de instabilidade na Hungria,
Miklós Horthy foi eleito
regente.
Carlos ainda era, tecnicamente, rei (como Carlos IV), mas Horthy enviou
um emissário a Prangins aconselhando-o a não ir para a Hungria até que a
situação se acalmasse. Após o
Tratado de Trianon,
a ambição de Horthy aumentou. Carlos ficou preocupado e pediu a ajuda
do Coronel Strutt para levá-lo à Hungria. Por duas vezes, Carlos tentou
recuperar o controle, em março 1921 e
novamente em outubro de 1921. Ambas as tentativas fracassaram, apesar do
apoio incondicional de Zita (ela insistiu em viajar com ele na
dramática viagem final para Budapeste).
Carlos e Zita residiram temporariamente Castelo de Tata, residência do conde
Móric Esterházy, até que um "adequado" exílio permanente fosse encontrado.
Malta foi sugerida como uma opção, mas foi recusada por
lord George Nathaniel Curzon
e o território francês foi descartado devido à possibilidade dos irmãos
de Zita agirem em nome de Carlos. Finalmente, a portuguesa
Ilha da Madeira foi o escolhida. Em
31 de outubro de
1921, o ex-casal imperial viajou de comboio da vila de Tihany até
Baja onde o
monitor britânico
HMS Glow-worm os aguardava. Eles finalmente chegaram ao
Funchal a
19 de novembro. As crianças permaneceram na Suíça, sob os cuidados da arquiduquesa
Maria Teresa, juntando-se aos pais em fevereiro de
1922.
A morte de Carlos
O ex-imperador estava com a saúde debilitada há algum tempo. Após
sair num dia frio no Funchal para comprar brinquedos para o filho Carlos
Luís, Carlos teve uma crise de
bronquite, que evoluiu rapidamente para uma
pneumonia
em virtude da inadequada assistência médica. Muitas das crianças e
funcionários da casa também adoeceram e Zita (na época grávida de oito
meses) ajudou a cuidar de todos. Muito debilitado, Carlos morreu no dia
1 de abril de
1922, aos 34 anos de idade. As suas últimas palavras para a esposa foram
"Eu te amo tanto". Após os funerais uma testemunha afirmou:
"Esta
mulher deve realmente ser admirada. Nem por um segundo perdeu sua
compostura... ela cumprimentou as pessoas em todos os lados e depois
falou com quem tinha ajudado com o funeral. Todos ficaram encantados com
ela". Zita usou luto em memória de Carlos durante todos seus 67 longos anos de viuvez.
Viuvez
Após a morte de Carlos, a ex-família imperial austríaca estava prestes a mudar-se novamente.
Afonso XIII de Espanha
consultou o Ministério do Exterior britânico, através de seu embaixador
em Londres, e este concordou em permitir que Zita e seus sete (em breve
oito) filhos se mudassem para a
Espanha. Afonso enviou o navio de guerra
Infanta Isabel para o Funchal para trazê-los até
Cádis, de onde foram escoltados até o
Palácio El Pardo, em
Madrid. Neste local, logo após sua chegada, Zita deu à luz um filho póstumo, a arquiduquesa
Isabel. O rei espanhol ofereceu como residência aos seus exilados parentes Habsburgo o Palácio Uribarria, em
Lekeitio, na
Baía de Biscaia, onde Zita e seus filhos viveram durante seis anos.
Mudança para a Bélgica
Em
1929, vários de seus filhos estavam se aproximando da idade de frequentar a
universidade
e a família procurava por um lugar com ambiente educacional mais
agradável do que a Espanha. Em setembro daquele ano, eles se mudaram
para a aldeia belga de
Steenokkerzeel, próximo de
Bruxelas, onde estavam mais perto de vários membros da sua família. Zita continuou seu
lobby político em nome da família Habsburgo. Havia até a possibilidade de uma restauração Habsburgo sob os
chanceleres austríacos
Engelbert Dollfuss e
Kurt Schuschnigg,
o que levou o príncipe Otto a visitar a Áustria inúmeras vezes. Essas
sondagens foram abruptamente encerradas com a anexação da Áustria pela
Alemanha Nazi, em
1938. Como exilada, a família Habsburgo assumiu a liderança da
resistência aos nazis na Áustria, mas esta fracassou devido à oposição entre
monárquicos e
socialistas.
Fuga para os Estados Unidos e Canadá
Com a invasão nazi da Bélgica, em
10 de maio de
1940, Zita e a sua família tornaram-se
refugiados de guerra. Eles escaparam por pouco de um ataque direto ao castelo por
bombardeiros alemães, fugindo para o castelo francês do príncipe Xavier em Bostz . Com a tomada do poder pelo governo
colaboracionista de
Philippe Pétain, os Habsburgos fugiram para o fronteira espanhola, atingindo-a a
18 de maio. Eles mudaram-se para
Portugal, onde o governo dos
Estados Unidos concedeu-lhes vistos em
9 de julho. Depois de uma perigosa jornada eles chegaram a
Nova York a
27 de julho, seguindo para
Long Island e
Newark, em
Nova Jersey, permanecendo hospedados por um longo tempo em
Tuxedo Park, em Suffern, Nova York.
Os refugiados austríacos acabaram por se instalar no
Quebec,
que tinha a vantagem do idioma francês (as crianças mais novas ainda
não eram fluentes no inglês). Como todos os fundos europeus foram
cortados, as finanças estavam
mais limitadas do que nunca. Por um período, Zita viu-se reduzida a
servir saladas de
espinafre e folhas de
dente-de-leão. Não obstante, todos os seus filhos estavam ativos no esforço de
guerra. Otto promoveu o papel da dinastia num pós-guerra europeu e
reunia-se regularmente com
Franklin Roosevelt; Roberto era o representante dos Habsburgos em Londres; Carlos Luís e Félix juntaram-se ao
Exército dos Estados Unidos, servindo com vários parentes americanos do ramo
Mauerer; Rodolfo entrou clandestinamente na Áustria no final da guerra, para ajudar a organizar a resistência. Em
1945, Zita comemorou o seu aniversário no primeiro dia de paz,
9 de maio. Ela passaria os dois próximos anos percorrendo os Estados Unidos e
Canadá para arrecadar fundos para a Áustria e a Hungria, devastadas pela guerra.
Pós Guerra
Após um período de descanso e recuperação, Zita voltava regularmente à
Europa para os casamentos dos seus filhos. Ela decidiu mudar-se
definitivamente para a Europa em
1952, a fim de cuidar de sua idosa mãe, no
Luxemburgo. A Infanta Maria Antónia de Bragança faleceu, aos 96 anos de idade, em
1959. O
bispo de
Chur propôs que Zita se mudasse para uma residência que ele administrava (o antigo castelo dos
Condes de Salis) em
Zizers, no
cantão de
Graubünden, Suíça. Como o castelo tinha espaço suficiente para as visitas da sua grande família, com uma
capela nas proximidades (uma necessidade para a católica devota), ela aceitou facilmente a proposta.
Zita ocupou seus últimos anos com sua família. Embora as restrições à
entrada dos Habsburgos na Áustria tivessem sido revogadas, estas só se
aplicam para os que nasceram depois de
10 de abril de
1919. Isso significa que Zita não pôde comparecer ao enterro da sua filha
Adelaide, em
1972, algo bastante doloroso para ela. Ela também se envolveu nos esforços para a
canonização de seu falecido marido, o "Imperador da Paz". Em
1982
as restrições ao seu retorno à Áustria foram suavizadas e ela pôde
voltar ao país, após seis décadas de ausência. Nos anos seguintes, ela
fez várias visitas à sua antiga pátria austríaca, até mesmo com
aparições na
televisão estatal. Numa série de entrevistas concedidas ao tablóide vienense
Kronen Zeitung, Zita expressou a sua convicção de que as mortes do
príncipe herdeiro Rodolfo da Áustria e a sua amante, a
baronesa Maria Vetsera, em
Mayerling, em
1889, não se tratava de um duplo suicídio, mas de um assassinato premeditado e executado por agentes franceses e austríacos.
Morte
Após um inesquecível 90º aniversário, quando esteve cercada por sua
agora vasta família, a saúde de Zita começou a se deteriorar. Ela
desenvolveu
cataratas inoperáveis em ambos os olhos. A sua última reunião de família aconteceu em Zizers, em
1987, quando os seus filhos e netos se juntaram para comemorar o seu aniversário de 95 anos. Ao visitar sua filha, no verão de
1988, ela desenvolveu uma
pneumonia e passou a maior parte do outono e do inverno acamada. Finalmente ela chamou o seu primogénito Otto, no início de março de
1989,
e disse-lhe que estava morrendo. Ele e o restante da família viajou
para a Suíça, onde os seus filhos e netos revezavam-se em seus aposentos,
fazendo-lhe companhia até à sua morte, na madrugada de
14 de março de
1989, aos 96 anos.
Os funerais, com honras imperiais, realizaram-se em Viena, a
1 de abril.
O governo permitiu que as exéquias ocorressem em solo austríaco, desde
que os Habsburgos arcassem com os custos. O corpo de Zita foi levado
para a
Cripta Imperial de Viena no mesmo
coche funerário que transportou os restos mortais do imperador
Francisco José I, em
1916.
Estiveram presentes mais de 200 membros das famílias Habsburgo e
Bourbon-Parma, e o serviço fúnebre contou com 6.000 participantes entre
líderes políticos, autoridades estatais e representantes internacionais,
incluindo um representante do
Papa João Paulo II. Seguindo um costume antigo, Zita pediu que o seu coração fosse colocado numa urna e depositado no
Mosteiro de Muri, na Suíça, onde o coração do Imperador havia descansado durante décadas.
Processo de beatificação
Em
10 de dezembro de
2009,
Yves Le Saux, bispo de
Le Mans, na França, abriu o processo diocesano de
beatificação de Zita. Em
13 de março de
2006 e
4 de março de
2008, o antecessor do bispo Le Saux,
monsenhor Jacques Maurice Faivre, solicitou à
Congregação para as Causas dos Santos permissão para o processo, a ser conduzido em Le Mans. Em
11 de abril de
2008
a Congregação, tendo recebido o parecer favorável do bispo de Chur,
respondeu afirmativamente ao pedido. Zita tinha o hábito de passar
vários meses por ano na
diocese de Le Mans, na Abadia de Santa Cecília de Solesmes, onde três das suas irmãs eram freiras.