Irene Lisboa na Quinta dos Lacerdas (outubro de 1933 - retirado daqui)
Começou a vida profissional como professora da
educação infantil. Em 1932 recebeu o cargo de Inspetora Orientadora do
ensino primário
e infantil. Como destaca Rogério Fernandes: «o programa de tal
departamento desenhado por Irene Lisboa, reformulava de alto a baixo as
funções de um órgão estatal até aí consagrado exclusivamente ao
controlo ideológico, administrativo e disciplinar dos docentes.». Eis a
razão porque Irene Lisboa foi afastada do cargo, primeiro para funções
burocráticas – foi nomeada para o
Instituto de Alta Cultura – e depois, em 1940, definitivamente afastada do
Ministério da Educação e de todos os cargos oficiais, por recusar um lugar em
Braga. Na verdade, foi uma forma de exílio para uma pedagoga incómoda pelas suas ideias avançadas.
Irene Lisboa dedicou-se por completo à produção literária e às
publicações pedagógicas. No entanto não foi livre na expressão dos seus
pensamentos. «Restavam-lhe a imprensa, o livro, a conferência. Grande
parte das suas intervenções tem, precisamente, esses suportes, mas
convém não esquecer que o controlo censório exercido pela ditadura salazarista sobre a expressão pública do pensamento não lhe permitiu certamente a transmissão das suas opiniões com toda a claridade.»
Faleceu a 25 de novembro de 1958, a um mês de cumprir 66 anos de idade.
Bagatelas
3
Este mundo é um curro.
E nem um curro será.
É um beco sujo,
um velho quintal.
As vizinhas malcriadas despicam-se, espreitam-se.
Lá estão elas, de mãos na ilharga:
Tira, toma, é mentira, é falso...
Irene Lisboa, in Líricas Portuguesas, 1958
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