A Batalha do Vimeiro foi travada no dia 21 de agosto de 1808, durante a primeira invasão francesa de Portugal, no âmbito da Guerra Peninsular (1807 – 1814). Nesta batalha defrontaram-se as forças anglo-lusas comandadas pelo tenente-general Sir Arthur Wellesley e as forças francesas comandadas pelo general Jean-Andoche Junot. A batalha resultou numa vitória para as forças anglo-lusas e determinou o fim da primeira invasão francesa de Portugal.
Antecedentes
O Exército de Observação da Gironda atravessou a Espanha e entrou em
Portugal no dia 17 de novembro de 1807, acompanhado por três divisões
espanholas. No dia 30 daquele mês, pelas 09.30 horas, Junot
entrava em Lisboa com cerca de 1.500 homens, esgotados da violenta
marcha que acabavam de fazer. O grosso do exército chegou nos dias
seguintes em condições igualmente deploráveis. Não só não houve
resistência à invasão como houve a preocupação das autoridades, seguindo
as diretivas reais, não hostilizarem o invasor.
Quando eclodiu a revolta em Espanha (2 de maio de 1808), a posição de
Junot tornou-se difícil de sustentar porque nas tropas espanholas que o
tinham acompanhado surgiam indícios de simpatia pela revolta. As
revoltas surgiram em Portugal em junho e julho de 1808 e conduziram à
decisão de enviar um contingente britânico. Após terem sido coordenados
os apoios necessários com a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, que se formara no Porto, uma força expedicionária britânica iniciou o seu desembarque em Lavos,
imediatamente a Sul da Figueira da Foz, no dia 1 de agosto. O comando
da força era, então, da responsabilidade do tenente-general Sir Arthur
Wellesley. Das forças de Bernardim Freire de Andrade,
que comandava um corpo de tropas portuguesas vindo do norte em direção
à península de Lisboa, juntaram-se aos Britânicos 2.592 homens que
formaram o Destacamento Português sob o comando do Tenente-Coronel Nicholas Trant.
Informado do desembarque, Junot enviou o General Delaborde, no dia 6 de
agosto, com uma força relativamente pequena, com a missão de observar
e, se possível, impedir o avanço inimigo. Em consequência, travou-se o Combate da Roliça,
no dia 17 de agosto, ao sul de Óbidos. Os Aliados obrigaram os
Franceses a retirar mas estes cumpriram bem a sua missão pois deram a
Junot o tempo necessário para organizar as suas unidades.
Após o Combate da Roliça, Wellesley dirigiu as suas forças para a região do Vimeiro
com a finalidade de proteger o desembarque das brigadas comandadas
pelos brigadeiros-generais Anstruther e Acland. Assim, no dia 19 tinha
ocupado as posições à volta daquela povoação. A 7ª Brigada tinha
desembarcado no dia 19 mas a 8ª Brigada, no dia 21, só tinha
desembarcado cerca de metade das tropas. Junot tinha as suas forças
concentradas em Torres Vedras. No dia 20 ao fim da tarde, dirigiu-se ao
encontro das forças anglo-lusas. Pela meia noite já se ouvia, no
Vimeiro, o rumor provocado pelos carros e cavalos.
Campo de Batalha
A povoação do Vimeiro situa-se na margem direita do rio Alcabrichel,
a 14 km a noroeste de Torres Vedras e 8 km a sul da Lourinhã. Na parte
Sudeste da povoação existe uma colina que foi ocupada pelas brigadas
de Anstruther e Fane. Hoje existe nessa colina um monumento
comemorativo do centenário da batalha, mandado erguer por El-Rei D.
Manuel II.
O rio Alcabrichel corre de sul para norte e, a seguir ao Vimeiro, curva
em direção ao mar (oeste). O seu percurso, pouco antes de chegar ao
Vimeiro, marca um vale com ladeiras particularmente íngremes na margem
esquerda. Nesta, entre o Vimeiro e o mar, forma-se uma linha de alturas
de onde se pode dominar o vale do Maceira e as praias junto à sua foz.
Para norte do Vimeiro, entre ravinas difíceis de transpor, situa-se uma
linha de alturas por onde se atinge, em estradas secundárias, Ventosa,
Santa Bárbara, Casal Novo, Lourinhã. A primeira daquelas povoações
marca a posição norte posteriormente ocupada pelas brigadas de
Ferguson, Nightingale e Bowes.
O Exército de Wellesley estava organizado em brigadas e apresentava um
efetivo de 18.878 homens dos quais 2.100 eram portugueses. As forças que
Junot utilizou na Batalha do Vimeiro tinham um efetivo perto dos
14.000 homens.
Esquema das posições e movimentações na Batalha do Vimeiro
Batalha
Após a batalha da Roliça (17 de agosto de 1808), Wellesley
dirigiu as suas forças para as posições do Vimeiro com a finalidade de
proteger o desembarque de mais duas brigadas na praia de Porto Novo,
na foz do rio Alcabrichel. A primeira destas brigadas, sob comando do
brigadeiro-general Robert Anstruther, desembarcou no dia 19. A segunda
brigada, sob comando do brigadeiro-general Wroth Palmer Acland, iniciou o
desembarque no dia 20 mas, no dia seguinte de manhã ainda faltava
desembarcar cerca de um terço das forças. Wellesley posicionou no
terreno todas as forças desembarcadas.
A intenção de Wellesley era, após o desembarque, caso não fosse atacado
pelos Franceses, continuar o seu movimento em direção a Lisboa, pela
estrada de Mafra. Entretanto, no dia 20 de agosto, Wellesley tomou
conhecimento da chegada do tenente-general Sir Harry Burrard, oficial
mais antigo que Wellesley e que, por isso deveria assumir o comando. Os
dois generais encontraram-se a bordo do navio Brazen, perto da
foz do rio Maceira, e Burrard decidiu que não seriam efetuados
quaisquer movimentos para Sul até se lhes juntar uma divisão sob comando
do tenente-general Sir John Moore que se encontrava já ao largo da
costa portuguesa. Burrard decidiu, contudo, passar mais uma noite a
bordo e, dessa forma, o comandante das forças anglo-lusas durante a
batalha do Vimeiro foi Wellesley.
As forças anglo-lusas foram colocadas por forma a enfrentar um ataque
francês lançado de sul para norte. Segundo Wellesley, seria esta a sua
ação
mais provável. Então foram colocados na linha de alturas a sul do rio
Maceira, viradas para Sul, numa primeira linha, de oeste para leste (do
mar para o interior), as brigadas de Hill, de Craufurd e de
Nightingale; numa segunda linha, a brigada (ainda incompleta) de
Acland. Na mesma linha de alturas mas viradas para Sudeste estavam as
brigadas de Bowes e de Ferguson. Na colina do Vimeiro, imediatamente a
sudeste daquela povoação, estava colocada a brigada de Anstruther e, à
sua esquerda, a de Fane. As forças portuguesas sob o comando do
Tenente-coronel Trant estavam posicionadas a norte do rio Maceira,
imediatamente a leste da povoação com o mesmo nome, prontas a serem
utilizadas como reserva de Anstruther e Fane. Um corpo de cavalaria com
cerca de 500 sabres (240 Britânicos e 260 Portugueses) estava
posicionado nas margens do rio Maceira, ocultos pela colina do Vimeiro.
A artilharia estava distribuída da seguinte forma: oito peças na linha
de alturas a Sul do rio Maceira, seis peças com a brigada de
Anstruther e quatro em reserva.
Junot tinha as suas forças concentradas em Torres Vedras de onde saiu
ao encontro do exército de Wellesley, no dia 20 ao fim da tarde. À
frente, uma guarda avançada de cavalaria, o 3º Regimento Provisório de
Caçadores, seguido das divisões de Delaborde e de Loison, da Reserva de
Granadeiros, a artilharia e da Divisão de Cavalaria de Margaron. Pela
meia noite já se ouvia no Vimeiro o ruído provocado pelos carros e
cavalos mas, como Junot deu um período de descanso às sua tropas antes
do ataque, só pelas 09.00 horas do dia 21 as forças francesas se
aproximaram das posições inimigas. Quando o movimento dos franceses pôde
ser observado, ficou claro que não iam atacar as posições a sul do
Maceira mas continuavam o seu movimento para norte. Só começaram a
desenvolver as suas forças num dispositivo de ataque quando se
encontravam a leste do Vimeiro e a sua guarda-avançada de cavalaria,
seguida de uma coluna de infantaria (a Brigada Brennier), continuou a
avançar para Norte. Ficava claro para Wellesley que os Franceses iriam,
por um lado, atacar o centro/esquerda da sua posição e, por outro lado,
tornear a sua posição por norte podendo vir a atacar na direção
definida pela estrada da Lourinhã.
Wellesley reagiu prontamente a esta nova situação e alterou o seu
dispositivo. Para a posição da Ventosa seguiram de imediato as brigadas
de Fergunson e Nightingale que estabeleceram aí uma linha defensiva,
indo posicionar-se imediatamente atrás, em reserva, a brigada de Bowes. A
brigada de Craufurd e as tropas portuguesas de Trant moveram-se para
norte num movimento mais demorado através da linha de alturas mais perto
do mar e posicionaram-se na região de Ribamar a fim de protegerem o
flanco esquerdo das forças na Ventosa. A brigada de Acland passou para
norte de Maceira e foi posicionada junto à estrada para a Ventosa, em
reserva, pronta a acudir as forças de Antruther e Fane ou as forças na
região da Ventosa. A brigada de Hill permaneceu na linha de alturas a
sul do rio Maceira mas posicionou-se mais próxima das posições do
Vimeiro.
Junot reagiu ao reajustamento do dispositivo de Wellesley e reforçou o
corpo de tropas que ia atacar mais a norte com a Brigada Solignhac, da
Divisão Loison. Ao tomar esta atitude colocou no ataque a norte sete
batalhões, cerca de 6.450 homens, ou seja, cerca de 56% de toda a sua
infantaria. A enfrentá-los, os Franceses iriam encontrar, no mínimo, as
brigadas de Ferguson, Nightingale e Bowes, ao todo sete batalhões com
um total de 5.782 homens, embora com possibilidade de serem reforçados
pela brigada de Craufurd (1.832 homens - dois batalhões), pelo corpo de
tropas portuguesas (2.100 homens) e pela brigada de Acland (1.332
homens - cerca de dois batalhões).
O ataque principal seria lançado na direção da colina do Vimeiro, com
as brigadas Thomiéres e Charlot, num total de 5.080 homens organizados
em oito batalhões de infantaria mais duas companhias suíças, tendo como
reserva o corpo formado pelas companhias de granadeiros, 2.100 homens
organizados em quatro batalhões, sob comando de Kellermann. A
enfrentá-los encontravam-se, numa primeira linha 4.708 homens
organizados em sete batalhões (brigadas de Anstruther e Fane) e numa
segunda linha 3.990 homens (brigadas de Hill e Acland).
Os ataques no Vimeiro e na Ventosa não foram lançados simultaneamente. O
primeiro ataque foi lançado, às 10.00 horas, contra a posição do
Vimeiro, com as brigadas de Thomières e de Charlot, e foi repelido.
Foram empregues, das forças de reserva, dois batalhões sob comando do
coronel St. Claire, num novo ataque que foi igualmente repelido. Junot
decidiu ainda empregar os outros dois batalhões em reserva, sob o
comando do coronel Maransin, que, apesar de terem entrado na povoação,
acabaram igualmente repelidos. Neste combate, além das forças em
primeira linha de Anstruther e Fane, foram empregues forças da Brigada
de Acland: duas companhias do 95th Rifles e as duas companhias
de infantaria ligeira dos seus dois batalhões de linha. A eficácia da
artilharia britânica e o emprego de granadas shrapnell - foi a
sua primeira utilização em campanha - ajudou ao sucesso dos
defensores. Junot iniciou então a retirada da região do Vimeiro e
Wellesley fez avançar o seu corpo de cavalaria, sob comando do coronel
Taylor. Este perseguiu os Franceses mas as forças portuguesas retiraram
em desordem perante a reação inimiga. Tendo avançado demasiado, este
corpo de cavalaria (os britânicos) acabaram por se envolver com a
cavalaria do general Margaron e sofreram pesadas baixas, entre elas o
coronel Taylor.
No lado da Ventosa, o ataque foi lançado mais tarde, primeiro pela
Brigada Solignac e depois pela Brigada Brennier. Solignac, que pretendeu
seguir o percurso mais curto, viu o seu avanço muito dificultado por
uma ravina profunda que passa imediatamente a Sul de Toledo. No fim da
subida para a Ventosa foi surpreendido por uma força britânica mais
forte que o esperado e foi batido com alguma facilidade. Brennier tinha
seguido um caminho mais longo mas mais praticável e acudiu a partir da
linha de alturas que se estende para além de Pragança. As forças de
Ferguson foram surpreendidas pelo ataque da Brigada de Brennier e pela
cavalaria - cerca de 640 sabres - que o acompanhava mas a reacção
britânica foi aficaz e repeliu o ataque com pesadas baixas para os
franceses. Solignac foi ferido no ataque assim como Brennier, que ficou
prisioneiro.
Os Franceses não tinham mais forças para empenhar e iniciaram a
retirada para Torres Vedras. As forças britânicas sofreram 135 mortos,
534 feridos e 51 extraviados. Dos seus batalhões, 7 estavam intactos por
não terem chegado a combater (as forças das brigadas de Hill, Bowes,
Craufurd e parte da brigada de Acland, assim como o corpo de tropas
portuguesas do tenente-coronel Trant). Os Franceses sofreram cerca de
1.400 mortos e feridos e 400 prisioneiros. Das 23 peças de artilharia
que levavam, 13 caíram em poder dos Britânicos.
Não foi lançada a perseguição às forças francesas em retirada. Sir
Harry Burrard já tinha desembarcado e, no final da batalha, Wellesley
entregou-lhe o comando mas ele entendeu que devia esperar pelas forças
de Sir John Moore. Entretanto os Franceses só conseguiram voltar a
reunir as suas unidades em Torres Vedras no dia seguinte.
Consequências
Sir Harry Burrard, ao assumir o comando das forças determinou que não
haveria perseguição e que esperariam pela Divisão de Sir John Moore que
deveria desembarcar em breve. Ainda no dia 21 de manhã, desembarcou na
praia de Porto Novo outro oficial que deveria assumir por sua vez o
comando das forças: Sir Hew Dalrymple. Com pouca experiência de
campanha, sem o espírito audacioso de Wellesley, decidiu igualmente por
esperar Sir John Moore. Entretanto, o exército que se encontrava no
Vimeiro, marchando ao longo da costa, contornou Torres Vedras e
dirigiu-se para Mafra. Moore só iniciou o desembarque no dia 25 e este
prolongou-se até ao dia 30.
Em Torres Vedras, Junot e os seu generais reuniram-se para analisarem a
situação. Resolveram que o exército não estava em condições de
enfrentar nova batalha e que a melhor saída desta situação era tentarem
negociar com os britânicos. Os Franceses cediam Lisboa com todos os
seus armazéns e riquezas intactos, em troca da possibilidade de
retirarem o exército para França em condições de segurança. Isto
significava também que Kellermann foi encarregue destas negociações. O
resultado das negociações que se seguiram foi a Convenção de Sintra, que tão grande escândalo provocou. Em setembro, as forças francesas saíam de Portugal.
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