Aos Vencedores
Visto que tudo passa e as épicas memorias
Dos fortes, dos heroes, se vão cada vez mais,
Que tudo é luto e pó! ó vós que triumphaes
Não turbeis a razão nos vinhos das vãas glorias!
Não ergais alto a taça, á hora dos gemidos,
Esquecidos talvez nos gosos, nos regallos;
E não façaes jámais pastar vossos cavallos
Na herva que cobrir os ossos dos vencidos!
Não celebreis jámais as festas dos noivados,
Não encontreis na volta os lugubres cortejos!
- E se amardes, olhae que ao som dos vossos beijos
Não respondam da praça os ais dos fusilados!
Sim! - se venceste emfim, folgae todas as horas,
Mas deixae lastimar-se os orphãos, as amantes,
Nem façaes, junto a nós, altivos, triumphantes,
Pelas ruas demais tinir vossas esporas!
Pois toda a gloria é pó! toda a fortuna vã! -
- E nós lassos emfim dos prantos dolorosos,
Regámos já demais a terra - ó gloriosos
Vencedores! talvez, - vencidos d'amanhã!
in Claridades do Sul (1875) - António Gomes Leal
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