António Joaquim Magalhães Cabral (Alijó, Castedo do Douro, 30 de abril de 1931 - Vila Real, 23 de outubro de 2007) foi um escritor português que se destacou em géneros como a poesia, ficção, teatro, ensaio literário, etnografia e ludoteoria.
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Poesia e Amoras
Quero que este poema saiba às amoras
que pendem em cachos nos muros do caminho.
No meio do vale estou eu só.
Lentamente a manhã possui-me e vibro.
Não há torrão e arbusto que não vibre;
sinto-me irmão de arbustos e torrões.
Aquele medronheiro, verde e ossudo,
entrou-me todo pelos músculos.
Pastor que segues lento pela encosta,
o teu silêncio e a tua paz perturbam-me.
Nesta manhã de Julho urge cantar,
saudar a terra-mãe. Saúda-a. Canta!
Um cavalo relincha. Eia!, esse grito
vem das entranhas da natureza,
enche-te o peito agigantado e irrompe
livre, ardente e livre como um hino.
Belo dia! O sol tomba pelos montes,
transborda como baba fertilíssima.
Ao seu contacto gemem os frutos
e agitam-se os lagartos estendidos.
– Qual pó nem meio pó! O pó é oiro.
Viva, ti Zé. O seu burrico é forte!,
e leva uma tal carga! Rica urgueira!
…Amoras? Sim, senhor: muito obrigado.
in Poemas Durienses (2017) - António Cabral
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