António Joaquim Magalhães Cabral (Alijó, Castedo do Douro, 30 de abril de 1931 - Vila Real, 23 de outubro de 2007) foi um escritor português que se destacou em géneros como a poesia, ficção, teatro, ensaio literário, etnografia e ludoteoria.
in Wikipédia
Poema com História
Éramos seis na gare da estação.
Lá no fundo, encostado à parede,
só, magnífico, a perna esquerda em triângulo,
um rapaz tocava concertina.
Um homem de calças engomadas lia o jornal
e falava. Falava de guerra.
“Que se matem. Uns e outros são contra nós”
— comentou um velhote com ar de regedor.
“Hindus e chins?!” Tudo uma corja”
— sentenciou o das calças engomadas.
“Isso, isso. Corja. Lá se avenham”.
Uma pomba voava sobre o rio.
O chefe da estação e o carregador
tinham-se afastado, prudentemente.
“E ao senhor que lhe parece?!” – atirou-me
o letrado das calças engomadas.
“Que uns e outros são nossos irmãos.”
No silêncio que se seguiu, a concertina
Instalava na gare uma flor de poesia
António Cabral
ramos seis na gare da estação.
Lá no fundo, encostado à parede,
só, magnífico, a perna esquerda em triângulo,
um rapaz tocava concertina.
Um homem de calças engomadas lia o jornal
e falava. Falava de guerra.
“Que se matem. Uns e outros são contra nós”
— comentou um velhote com ar de regedor.
“Hindus e chins?!” Tudo uma corja”
— sentenciou o das calças engomadas.
“Isso, isso. Corja. Lá se avenham”.
Uma pomba voava sobre o rio.
O chefe da estação e o carregador
tinham-se afastado, prudentemente.
“E ao senhor que lhe parece?!” – atirou-me
o letrado das calças engomadas.
“Que uns e outros são nossos irmãos.”
No silêncio que se seguiu, a concertina
Instalava na gare uma flor de poesia.
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