domingo, julho 31, 2022

Poesia para nos despedirmos de um mês bonito...

    
Julho abria as suas portas, preparava a armadilha, retirou da caixa o violino, os primeiros acordes prometeram o que não podiam dar, peixes de loucura que espadanam no trigo, pastéis de creme em manhãs de domingo, a cor da ternura que incendeia os gestos, anéis de esmeraldas avançando na linha do oceano. Enganador, partiu, deixando sobre a mesa alguns destroços, pedaços de caliça, o rosto da asfixia que retira o horizonte e transforma a solidão em pedra tumular. A casa arrefece, não encontro a paz, sigo a sombra dos meus pensamentos que desenha com cinza a superfície fria onde nenhum verso, nenhuma imagem ressuscita. As portas de julho já fecharam, uma visão agreste de ferrugem chove nos gonzos.


Egito Gonçalves

 

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