Como poeta, o seu nome aparece inicialmente ligado à publicação coletiva
Poesia 61 (que reuniu Gastão Cruz,
Casimiro de Brito,
Fiama Hasse Pais Brandão,
Luiza Neto Jorge e
Maria Teresa Horta),
uma das principais contribuições para a renovação da linguagem poética
portuguesa na década de 60. Como crítico literário, coordenou a
revista
Outubro e colaborou em vários jornais e revistas ao longo dos anos sessenta -
Seara Nova,
O Tempo e o Modo ou
Os Cadernos do Meio-Dia (publicados sob a direção de
Casimiro de Brito e
António Ramos Rosa). Essa colaboração foi reunida em volume, com o título
A Poesia Portuguesa Hoje (1973), livro que permanece hoje como uma referência para o estudo da poesia portuguesa da década de sessenta.
Os limões frios
De cada vez que vínhamos à casa
dos bisavós longinquamente mortos
que para ela tinham escolhido
um lugar na pureza
da terra absoluta
quando
principiava a primavera
e a avó saudava as andorinhas
como se no regresso
do ano anterior as mesmas fossem
e o sopro dos besouros me fazia
sentir que qualquer coisa novamente mudara
nos meus dias e o verão
subia e o calor da tarde intumescia
o sexo adolescente
e antes de regressar ao varejo da amêndoa
num silêncio de suor o jovem tio dormia
de cada vez nós víamos
da árvore desprenderem-se
os limões frios
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