Biografia
Nasceu em
Ereira,
Montemor-o-Velho
e formou-se em Ciências Físico-Naturais na Faculdade de Ciências da
Universidade de Coimbra. Professor da Escola Normal, interessava-se por
etnografia e arte popular, reflectidos na sua obra poética, ligada às
crenças e mitos seculares, aos motivos da terra, vida animal, ao povo e
à lide agrária. A sua sensibilidade poética deu-lhe um convívio com
literatos de vários grupos e escolas. Colaborou na "Águia" e dirigiu a
"Rajada" (1912-1914).
Encontra-se colaboração da sua autoria nas revistas Atlântida (1915-1920) e Contemporânea (1915-1926).
Obra
Trata-se dum poeta em permanente actualidade, dado que vai acompanhando
todos os movimentos poéticos da primeira metade do século XX. Nasce
numa atmosfera de saudosismo, dominado por Teixeira Pascoais.
Entretanto, surgem outras escolas a que adere sem compromisso, mas com
ironia e pendor populista. Logo as crianças, o desenho infantil, as
pedras, as águas. Aparece, então, como saudosista, no conteúdo, e um
modernista, na forma.
Cabelos Brancos
Cobrem-me as fontes já cabelos brancos,
Não vou a festas. E não vou, não vou.
Vou para a aldeia, com os meus tamancos,
Cuidar das hortas. E não vou, não vou.
Cabelos brancos, vá, sejamos francos,
Minha inocência quando os encontrou
Era um mistério vê-los: Tive espantos
Quando os achei, menino, em meu avô.
Nem caiu neve, nem vieram gelos:
Com a estranheza ingénua da mudança,
Castanhos remirava os meus cabelos;
E, atento à cor, sem ter outra lembrança,
Ruços cabelos me doía vê-los ...
E fiquei sempre triste de criança.
in Ossadas (1947) - Afonso Duarte
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