Fernando Echevarría (
Cabezón de la Sal,
Santander,
Espanha,
26 de fevereiro de
1929) é um
poeta português. Nascido na
Cantábria, filho de pai português e mãe
espanhola,
veio com dois anos para Portugal, para Vila Nova de Gaia, onde fez os
seus estudos de ensino secundário e cursou Humanidades. Aos dezassete
anos voltou para
Espanha, onde estudou
Filosofia e
Teologia,
sem concluir qualquer curso. Optou pela carreira docente, primeiro no
Porto e depois, já exilado em Paris, para onde parte em 1961 e onde
passou novamente a residir desde 1966, após ter estado em Argel, entre
1963 e 1966, residindo desde então na
cidade-luz. Embora sendo
fluente noutras línguas, escreveu sempre em português e só
ocasionalmente nas línguas castelhana e francesa (parte da sua obra está
traduzida em francês, castelhano, inglês e romeno). Colaborou em
várias revistas literárias portuguesas como
Anto,
Graal,
Cavalo Azul,
Eros,
Colóquio/Letras,
A Phala,
Hífen e
Limiar.
A sua poesia, com um barroquismo intenso, que lhe caldeia o estilo,
faz adivinhar o seu fascínio pela poesia de Gôngora e pelas “analogias
truncadas” de Mallarmé. Já a busca de um lirismo abstracto e essencial
aproximava-o de dois grupos de poetas espanhóis: a
Geração de 98, com poetas como António Machado e Juan Ramón Jiménez, e da
Geração de 27, com Jorge Guillén e Pedro Salinas como exemplos. Pode dizer-se que a poesia de Echevarría se se insere na corrente
antirrealista
dos anos 50 do século XX, marcada sobretudo pela sensibilidade
metafísica e artística e pelo "imaginismo". Já com uma idade avançada,
continua escrever com uma pujança que não se esperava, como o prova o
seu último livro,
Categorias e Outras Paisagens, livro de poesia lançado em outubro de
2013, com 511 páginas.
Os vivos ouvem poucamente
Os vivos ouvem poucamente. As plantas,
como o elemento aquático domina,
são dadas à conversa. A menor brisa abala
a urna de concórdia estremecida
que, assim, sensível, se derrama
e é solidão solícita.
Os vivos não ouvem nada.
Mas, havendo acedido a essa malícia
de experiência cândida,
os mortos deixam que o ouvido siga
o fluvial diálogo das plantas
umas com outras e todas com a brisa.
Melhor ainda. Quando, nas noites cálidas,
as plantas se sentem mais sozinhas,
os mortos brincam à imitação das águas
inventando palavras de consonâncias líquidas.
E esse amoroso cuidado de palavras
a urna de concórdia vegetal espevita
até que, a horas altas,
a noite, os mortos e as plantas
caiam no sono duma luz solícita.
Fernando Echevarría
2 comentários:
Caro Fernando Oliveira Martins:
Não esquecer que o grande Victor Hugo nasceu há 219 anos: 26-02-1802!
Cordiais cumprimentos
Essa efeméride passou-nos - paciência...
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