Monty Python
Em 1969, Chapman e Cleese juntaram-se a Michael Palin, Eric Idle, Terry Jones e Terry Gilliam (os quatro tinham feito o programa infantil Do Not Adjust Your Set) e juntos formaram os Monty Python. O programa do grupo, Monty Python's Flying Circus, foi transmitido pela primeira vez pela BBC a 5 de outubro de 1969 e, apesar de os primeiros programas não terem sido um sucesso na altura, o grupo acabou por revolucionar o humor.
Os sketches clássicos da dupla Chapman\Cleese incluem o Raymond Luxury Yacht (o especialista em pele com um nariz enorme) e o Dead Parrot
(O Papagaio Morto). Os seus papeis em Flying Circus aproximaram-se
mais da sua própria personalidade: personagens calmas, figuras
autoritárias e imprevisíveis.
No livro de David Morgan, Monty Python Speaks de 1999, Cleese afirmou que Chapman, embora fosse o seu colega de escrita oficial em muitos dos seus sketches,
contribuía relativamente pouco na escrita directa. Segundo os
restantes Pythons, a sua maior contribuição na escrita era a sua
intuição incomparável para o que era engraçado. Apesar de pequenas, as
suas contribuições eram muitas vezes o “tempero” que dava aos sketches o
seu sabor. No clássico Dead Parrot, escrito maioritariamente
por Cleese, o cliente frustrado estava inicialmente a tentar devolver
uma torradeira defeituosa. Chapman perguntou como poderiam fazê-lo mais
furioso, e pensou que a devolução de um papagaio morto a uma loja de animais seria mais interessante do que uma torradeira.
Durante os anos dos Monty Python, os problemas de alcoolismo
de Chapman, que na altura se encontravam no seu pico, afectaram em
muito o seu desempenho. Os seus piores momentos foram vividos durante as
filmagens de Monty Python e o Cálice Sagrado.
Muitas das vezes, Graham não se lembrava das suas deixas ou não
conseguia executar algumas partes mais físicas do seu papel, como foi o
caso da cena da Ponte da Morte. Graham não conseguiu passar a ponte,
por se encontrar embriagado. Um dos maiores desafios para Chapman
durante as filmagens aconteceu no primeiro dia. Como o grupo se
encontrava a filmar numa zona remota da Escócia,
era quase impossível comprar álcool. Apesar de ter perguntado a quase
toda a equipa se tinha álcool, Graham não o encontrou e começou a
sofrer efeitos secundários da sua dependência.
Na altura de A Vida de Brian,
Chapman já tinha ultrapassado os seus problemas relacionados com o
álcool e os restantes Pythons ficaram surpreendidos e diziam que ele se
tinha tornado num "santo" uma vez que, todos os dias, depois das
filmagens, este dava consultas e fazia pequenas cirurgias a qualquer
membro da equipa e aos figurantes.
Vida pessoal
Chapman era em muitos aspectos o estereótipo da respeitabilidade do
ensino público britânico; era alto (1,88 m), um ávido fumador de cachimbo que gostava de montanhismo e de jogar rugby. Ao mesmo tempo e, curiosamente, era um homossexual orgulhoso e muito excêntrico.
Chapman era alcoólico
desde os tempos em que estudava medicina. A bebida afectava os seus
desempenhos nos estúdios televisivos e também nos filmes. Ele finalmente
parou de beber no Boxing Day em 1977, depois de ter irritado os restantes Pythons com uma entrevista sem tabus (e muito regada) com o New Musical Express.
Chapman manteve a sua homossexualidade em segredo até aos anos 70, altura em que revelou publicamente durante uma entrevista num talk show.
Chapman foi uma das primeiras celebridades a admitir a sua
homossexualidade e na altura provocou alguma polémica. Alguns dias após a
famosa entrevista, Graham organizou uma festa na sua casa onde revelou
aos seus amigos que era gay, e para apresentar oficialmente
David Sherlock como seu companheiro. A sua relação com Sherlock foi
descrita pelo próprio como sendo um verdadeiro casamento.
Os dois estiveram juntos durante vinte anos, até à morte de Chapman, e
adoptaram um rapaz, John Tomiczek, em 1971. Depois de assumir a sua
orientação sexual, Chapman passou a defender publicamente os direitos
dos homossexuais, sendo também o fundador da revista Gay News, que apoiava financeira e editorialmente.
Mais tarde, nas suas digressões por universidades, Chapman disse que,
quando anunciou publicamente a sua homossexualidade, uma espectadora
escreveu para os Monty Python a queixar-se que tinha ouvido dizer
que um dos membros do grupo, que segundo ela não se tinha dignado a
revelar a identidade, era gay. Juntamente com a carta, a
espectadora enviou cerca de 20 páginas de orações que, se fossem
repetidas todos os dias, poderiam salvar o membro em questão do inferno.
Eric Idle, ciente da orientação sexual do amigo, enviou uma carta à
espectadora onde dizia “Descobrimos quem era e matámo-lo.” Mais tarde,
no seu livro, A Liar's Autobiography, Chapman escreveu, em tom de brincadeira, que como John Cleese não entrou na temporada seguinte de Flying Circus, a mulher deve ter levado a carta a sério.
Morte
Em 1988, a saúde de Graham começou a deteriorar-se. Os seus anos de alcoolismo tinham deixado a sua marca e este tinha o fígado
em muito mau estado. No entanto foi algo diferente que o matou - em
novembro desse ano, durante uma consulta de rotina no seu dentista, este
reparou que as suas amígdalas estavam estranhamente grandes. Mais tarde descobriu-se um tumor maligno
nas amígdalas, que teve de remover. Depois de uma consulta com o seu
médico, Chapman descobriu que o problema nas amígdalas derivava de um cancro na coluna. Ele foi operado e removeu o tumor, mas ficou confinado a uma cadeira de rodas. Durante o ano de 1989 submeteu-se a várias operações e a tratamentos de radioterapia,
mas sempre que retirava um tumor, aparecia-lhe outro ou na coluna ou
na garganta. Foi na sua cadeira de rodas que gravou algum material para
a celebração dos vinte anos dos Monty Python. Mas, a 1 de outubro, foi hospitalizado em Maidstone, depois de um ataque cardíaco grave que se tornou numa hemorragia interna.
Na noite da sua morte, a 4 de outubro, estavam presentes John Cleese,
Michael Palin, o seu companheiro David Sherlock, o seu irmão John e a
sua cunhada, no entanto John Cleese teve de ser levado para lidar com a
dor e o choque de ver o seu amigo a morrer. Terry Jones e Peter Cook
também o tinham visitado nesse dia. A morte de Chapman ocorreu na
véspera do 20º aniversário da primeira transmissão do Monty Python's Flying Circus, algo a que Terry Jones chamou o "pior caso de festa perdida da História".
Os Monty Python decidiram não estar presentes no seu funeral, para que este não se tornasse num circo dos media
e para dar alguma privacidade à família de Chapman. A sua presença foi
marcada de uma forma bastante humorística, como sempre. O grupo enviou
o pé característico dos seus programas com a mensagem: "Para o Graham
dos outros Pythons. Pára-nos se estivermos a ficar muito patetas". Em
vez de marcarem presença no funeral, os Pythons organizaram um Memorial,
com todos os amigos de Graham, para celebrar a sua vida. O elogio foi
feito por John Cleese e ainda hoje é um dos mais famosos de sempre. Os
restantes Pythons também discursaram, sendo que Idle tinha lágrimas nos
olhos e disse que Graham tinha preferido morrer a ouvir mais Michael
Palin a falar (é conhecido como uma piada dos Monty Python que Palin
fala demasidado). Durante a cerimónia foram cantadas músicas como Jerusalem, uma das preferidas de Chapman e Always Look On The Bright Side Of Life.
Esta foi cantada pelos amigos mais próximos de Graham, guiados por
Eric Idle, que mais tarde confessou ter sido uma das coisas mais
difíceis que alguma vez teve de fazer.
O elogio feito por John Cleese foi o seguinte:
Graham Chapman, co-autor de "Parrot Sketch", já não é.
Deixou de ser, foi desta para melhor, descansa em paz, esticou as canelas, bateu as botas, nos deixou, foi-se, deu seu último suspiro e foi ter com o "Poderoso Chefe do Entretenimento do Céu", e acho que estamos todos pensando que é muito triste que um homem com tanto talento, tanta capacidade e bondade, de tanta inteligência, nos tenha sido levado com apenas 48 anos, antes de ter conseguido muitas das coisas de que era capaz, e antes de se ter divertido o suficiente.
Bem, eu sinto que devo dizer algo sem noção como: já vai tarde, otário, espero que queime no inferno.
E a razão pela qual sinto que devo dizer isto, é porque ele nunca me perdoaria se eu não o fizesse, se eu desperdiçasse esta oportunidade de chocar vocês em nome dele. Tudo para ele era contradizer o bom gosto. Podia ouvi-lo a sussurrar nos meus ouvidos ontem à noite quando estava a escrever isto:
"Tudo bem, Cleese, estás muito orgulhoso por ter sido a primeira pessoa a dizer 'merda' na televisão. Se este Memorial é mesmo para mim, quero que seja a primeira pessoa a dizer 'foda-se' num Memorial na Inglaterra!"
O problema é que não consigo. Se ele estivesse aqui comigo agora, provavelmente teria coragem, porque ele me incentivou. Mas a verdade é que, não tenho os tomates dele, o seu desafio esplêndido. E por isso vou ter contentar-me por dizer 'Betty Mardsen…'
Mas depois de mim pessoas mais arrojadas e desinibidas vão vir para aqui. O Jones e o Idle, o Gilliam e o Palin. Só Deus sabe o que a próxima hora vai trazer em nome do Graham. Calças a descer, blasfémias e saltitões, demonstrações espantosas de peidos a alta-velocidade, incesto sincronizado. Um dos quatro está a planear enfiar um ocelote morto e uma máquina de escrever da Remington de 1922 no seu próprio rabo ao som do terceiro movimento do Concerto de Violoncelo de Elgar. E isto é na primeira parte.
Porque o Gray quereria isto desta forma. A sério. Para ele é tudo menos bom gosto sem cabeça. E é isso que vou lembrar sempre dele, sem contar, claro, com a sua extravagância olímpica. Ele era o príncipe do mau gosto. Ele adorava chocar. De facto, mais do que ninguém que eu conheça, o Gray corporizava e simbolizava tudo o que era mais ofensivo e juvenil nos Monty Python. E o seu prazer em chocar pessoas levava-o a feitos cada vez maiores. Gosto de pensar nele como um pioneiro que abriu o caminho para que espíritos mais fracos o pudessem seguir.
Algumas memórias. Lembro-me de escrever o sketche da agência funerária com ele, e ele sugeriu a punch line, "Vamos come-la toda a noite, mas depois vamos sentir-nos mal por isso, vamos escavar uma campa e podemos vomitar para lá". Lembro-me de descobrir que, em 1969, quando escrevíamos todos os dias no apartamento onde a Connie Booth e eu morávamos, que ele tinha descoberto o jogo de escrever palavrões em papelinhos, e depois punha-os discretamente em sítios estratégicos em todo o nosso apartamento, o que nos forçava a fazer procuras frenéticas de última hora sempre que esperávamos convidados importantes.
Lembro-me dele em festas da BBC e rastejar pelo chão a esfregar-se afanosamente nas pernas de executivos de fato e lamber delicadamente os tornozelos femininos mais apetecidos. A senhora Eric Morecambe também se lembra disso.
Lembro-me de quando ele foi convidado para discursar na Oxford Union, e de entrar na sala vestido de cenoura, um fato cor-de-laranja completo com um chapéu verde grande, e depois, quando chegou a vez dele de falar, recusou-se a fazê-lo. Ficou ali especado, sem dizer nada, durante vinte minutos, com um lindo sorriso. Foi a única vez na História em que homem completamente calado conseguiu causar um motim.
Lembro-me de o Graham ter recebido um prémio de TV do jornal Sun do Reggie Maudling. Quem mais! E de levar o troféu a cair para o chão e a rastejar todo o caminho até à sua mesa, a gritar alto, o mais alto que conseguia. E se se lembram do Gray, isso era mesmo muito alto.
É magnifico, não é? Estão a ver, aquilo do choque… não é que zangue algumas pessoas, penso eu; Penso que dá aos outros uma alegria momentária de libertação, assim que nos apercebemos que nesse instante as regras sociais que comprimem as nossas vidas tão terrivelmente não são, na verdade, muito importantes.
Bem, o Gray não pode fazer mais isso por nós. Ele foi-se. É um ex-Chapman. Tudo o que temos dele agora são as nossas memórias. Mas vai demorar muito tempo até que desapareçam.
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