domingo, agosto 16, 2020

O ditador Idi Amin morreu há dezassete anos

Uma caricatura de Idi Amin em 1977 - Edmund S. Valtman
   
Idi Amin Dada (~192016 de agosto de 2003) foi um ditador militar e o terceiro presidente de Uganda entre 1971 e 1979. Amin se juntou ao King's African Rifles, um regimento colonial britânico, em 1946, servindo na Somália e no Quênia. Eventualmente, ele chegou a patente de Major-General no exército ugandense, e tornou-se Comandante antes de liderar um golpe de estado em 1971, depondo o então presidente Milton Obote. Mais tarde, como chefe de estado, ele se auto-promoveu para Marechal de Campo.
O governo de Amin ficou caracterizado por violações dos direitos humanos, repressão política, perseguição étnica, assassinatos, nepotismo, corrupção e má gestão económica. O número de mortos durante seu regime ditatorial é estimado por observadores internacionais e grupos de direitos humanos como estando entre cem mil e quinhentos mil. Durante seus anos no poder, Amin deixou de ser um anticomunista com considerável apoio de Israel e passou a ser apoiado por Muammar al-Gaddafi, a União Soviética e a Alemanha Oriental. Entre 1975 e 1976, ele foi o presidente da Organização da Unidade Africana, um grupo criado para promover a solidariedade entre as nações no continente. Entre 1977 e 1979, Uganda foi membro da Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Em 1977, quando o Reino Unido rompeu relações diplomáticas com o país, Amin declarou que havia derrotado os britânicos, adicionando "CBE", de "Conquistador do Império Britânico", aos seus títulos. O seu pomposo título completo era "Sua Excelência Presidente Vitalício, Marechal de Campo Alhaji Dr. Idi Amin Dada, VC, DSO, MC, CBE".
Após a Guerra Uganda-Tanzânia em 1978, onde Amin tentou anexar a região de Kagera, dissidentes conseguiram terminar com o seu regime de oito anos, forçando o seu exílio. Primeiro ele foi para a Líbia, depois para a Arábia Saudita, onde viveu até à sua morte, em 16 de agosto de 2003.
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Alistado no Exército britânico, foi inicialmente ajudante de cozinha do regimento britânico King's African Rifles. Impressionou com seu 1,90 metro de altura, e os seus 110 quilos bem como a sua habilidade pugilística, que o converteram num campeão de boxe na categoria de pesos-pesados do seu país, de 1951 a 1960. Após a independência do país, em 1962, tornou-se chefe do Exército do presidente Milton Obote. Pouco tempo após assumir este cargo, Amin e Obote começaram a ter desavenças. A popularidade de Amin entre os militares e o atentado contra a vida de Obote em 1969 fizeram que ambos se tornassem rivais. Sabendo que o então presidente planeava prendê-lo por supostamente desviar fundos das forças armadas, Idi Amin deu um golpe de estado com a ajuda do exército ugandês, em 25 de janeiro de 1971. Numa transmissão de rádio ao povo ugandês, Amin falou que ele era um soldado e não um politico, e que ele libertaria todos os prisioneiros políticos e colocaria a economia do país em ordem novamente. Em 2 de fevereiro, ele declarou-se Comandante-em-chefe das forças armadas e presidente vitalício, impondo disciplina militar ao seu gabinete e colocou seus apoiantes em cargos proeminentes do seu governo. Obote e outros 20 mil soldados desertores e simpatizantes da oposição fugiram do país para o exílio em países vizinhos, como a Tanzânia. Em retaliação, Idi Amin começou a expurgar oficiais de lealdade duvidosa do Exército, o que terminou com a morte de mais de 5 mil militares. Muitos intelectuais, artistas e políticos também começaram a ser presos sob suspeita de fazer oposição ao governo.
Após o golpe, depois de alguns meses de moderação, iniciou rapidamente a arbitrariedade como estilo de seu governo, que durou oito anos, sendo um regime brutal que deixou um país arruinado e 400 mil ugandeses mortos. As perseguições, as mortes e os desaparecimentos tinham natureza étnica, politica e financeira começaram pouco após sua chegada ao poder.
Demonstrando um temperamento megalómano, vingativo e violento, expulsou, em 1972, cerca de 40 mil asiáticos, descendentes de imigrantes do império britânico na Índia, dizendo que Deus lhe havia dito para transformar Uganda num país de homens negros. Uma figura grande e imponente, o seu comportamento excêntrico criou a imagem de um homem dado a explosões irregulares e foi chamado de "Big Daddy". Uma vez declarou-se "rei da Escócia", proibiu os hippies e as minissaias, e chegou a um funeral da realeza saudita usando um kilt. Certa vez (1999) disse a um jornal ugandês que gostava de tocar acordeão e de recitar o Alcorão. Ficou conhecido também por gozar com vários líderes internacionais: afirmava dar conselhos ao presidente americano Richard Nixon, criou o "Fundo Ugandês para a Salvação da Inglaterra" e cogitou a transferência da sede da ONU de Nova York para a capital de Uganda. Depois de assumir o poder (1971), tornou-se um ditador que violava os direitos humanos fundamentais durante um "reinado de horror", segundo a Comissão Internacional de Juristas.
Foi um dos déspotas mais sanguinários da África, tendo sido denunciado dentro e fora do continente por matar dezenas de milhares de pessoas durante seu governo. Algumas estimativas dizem que o número ultrapassa as cem mil pessoas. Muitos ugandeses acusavam o ex-campeão de boxe de manter cabeças decepadas no frigorífico, de alimentar crocodilos com cadáveres e de ter desmembrado uma das suas esposas. Alguns diziam que praticava canibalismo.
Rompeu relações diplomáticas com Israel, ordenou a expulsão de 90 mil asiáticos, a maioria comerciantes indianos e paquistaneses, e de vários judeus. Foi recebido, em 1975, pelo Papa Paulo VI como chefe em exercício da Organização da Unidade Africana. Foi notícia internacional em 1976 quando, depois do sequestro de um avião da Air France por terroristas palestinianos e da intervenção das Forças de Defesa de Israel (FDI) na operação militar conhecida como Operação Entebbe (ocorrida no aeroporto de Entebbe - nome do aeroporto onde se sucederam os factos, que fica nos arredores de Kampala, a 37 km do centro da cidade), foram libertados todos os reféns. O ataque deixou 31 mortos, entre eles 20 ugandeses, uma intervenção que foi encarada como uma humilhação pessoal, pois Idi Amin na ocasião declarava-se neutro para a imprensa internacional, quando na verdade apoiava os sequestradores palestinianos.
Rompeu em 1976 relações diplomáticas com o Reino Unido e, dois anos depois, fracassa um atentado contra ele nos subúrbios de Kampala. Após os assassinatos do bispo Luwum e dos ministros Oryema e Oboth Ofumbi em 1977, vários ministros e integrantes do governo de Amin desertaram ou fugiram do país. Em 1978, o apoio ao general Amin, dentro e fora de Uganda, havia declinado e com a economia e a infrestrutura da nação entrando em colapso devido a má gestão, fez com que o número de inimigos do seu regime aumentasse. Em novembro de 1978, o vice do presidente Amin, o general Mustafa Adrisi, foi gravemente ferido em um suspeito acidente de carro. As tropas que lhe eram leais decidiram-se amotinar. Idi Amin enviou forças do exército para enfrentar os amotinados, mas muitos já haviam fugido para a Tanzânia. Amin acusou o presidente daquele país, Julius Nyerere, de agressão contra Uganda, e ordenou a invasão de partes do território da Tanzânia e formalmente anexou uma secção da região de Kagera.
Em janeiro de 1979, o presidente tanzaniano Nyerere mobilizou o exército de seu país e contra atacou, com o apoio de grupos dissidentes ugandeses, como a Frente de Libertação Nacional de Uganda (UNLA). As forças de Amin recuaram frente à contra-ofensiva e, apesar do apoio militar vindo do ditador líbio, Muammar al-Gaddafi, ele foi obrigado a fugir do país, em 11 de abril de 1979, após a queda da capital, Kampala. Ele fugiu então para a Líbia, mas teve de procurar um novo refúgio quando Gaddafi o expulsou do país. Recebeu então asilo da Arábia Saudita em nome da caridade islâmica, onde passou a viver até o fim de sua vida, acompanhado pelas suas quatro esposas e seus mais de 50 filhos. Quando o seu estado de saúde se agravou, em julho, uma de suas quatro mulheres pediu para voltar a Uganda para morrer, mas o atual governo negou o pedido, sob o argumento que se retornasse ao país seria julgado pelas suas atrocidades.
Gravemente doente foi internado na Unidade de Tratamentos Intensivos e morreu no Hospital Especialista Rei Faisal, em Jeddah, Arábia Saudita, de complicações devido à falência múltipla de órgãos. Foi enterrado na cidade saudita de Jeddah, onde viveu a maior parte do tempo desde que foi deposto (1979), num pequeno funeral horas depois de sua morte no sábado, 16 de agosto de 2003. Os ugandeses reagiram com uma mistura de alívio com a morte de um tirano sanguinário e de nostalgia por um líder que muitos aplaudiram por expulsar asiáticos que dominavam a vida económica local. Em 2007, foi lançado o filme "The Last King of Scotland" ("O Último Rei da Escócia"), que retrata as atrocidades de Idi Amin. O ator Forest Whitaker estrela o filme, encarnando o ditador ugandês, papel pelo qual conquistou o Óscar da Academia como melhor ator.
   

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