O Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) é a principal Casa de Ópera de Lisboa, em Portugal. Foi inaugurado a 30 de julho de 1793 pela Rainha D. Maria I para substituir o Teatro Ópera do Tejo, que foi destruído no Terramoto de 1755, segundo projecto do arquitecto José da Costa e Silva. A inauguração ocorreu com a Ópera La Ballerina amante de Domenico Cimarosa. O teatro está localizado no centro histórico de Lisboa, na zona do Chiado. No mesmo largo, em frente ao teatro, nasceu uma das mais importantes figuras da poesia portuguesa, Fernando Pessoa.
História
O teatro foi construído em apenas seis meses após desenho do arquitecto
José da Costa e Silva, com elementos neoclássicos e rococó. O projeto
geral é claramente inspirado pelos grandes teatros como o italiano San
Carlo de Nápoles (interior) e La Scala de Milão (fachada e interior).
A construção do teatro, decidida em 1792,
num contexto político de hostil posição às ideias iluministas, só se
tornou possível justificando-se como fonte de receita para uma obra de
caridade - a Casa Pia, fundada em 1780 pelo intendente Pina Manique. Foi, aliás, este, então intendente da Polícia e antigo homem de confiança do primeiro-ministro Sebastião de Carvalho e Melo,
quem conseguiu obter da Coroa a permissão. Por detrás da justificação
oficial, estavam, porém, os interesses de abertura e modernização da
sociedade portuguesa de um grupo de grandes negociantes de Lisboa, entre
outros, os contratadores do tabaco, que haviam prosperado na época
pombalina. Um deles, Quintela, feito barão em 1805 (mais tarde Conde de Farrobo,
e Director do próprio Real Teatro de São Carlos entre 1838 e 1840),
que cedeu os terrenos para o edifício em troca da propriedade de um
camarote de primeira ordem, com anexos e acesso privado à rua, fronteiro
ao camarote lateral, de proscénio, da família real.
Quarenta grandes negociantes de Lisboa, entre os quais a família
Quintela, já tinham assumido um papel decisivo na área teatral, na época
de D.José, com a criação de uma Sociedade para a Sustentação de Teatros Públicos,
autorizada por alvará real de 1771, e de onde resultou o funcionamento
de dois teatros públicos, com acesso mediante entradas pagas: o Teatro
da Rua dos Condes, dedicado à ópera italiana, onde se celebrizou a
Zamperini, e o Teatro do Salitre, para drama e comédia em língua
portuguesa.
Em 1755, de acordo com o espírito iluminista ou de "despotismo
esclarecido" da época, a própria Coroa fez inaugurar a faustosa "Ópera
do Tejo", um teatro de corte, anexo ao antigo Paço da Ribeira, onde só
se era admitido por convite. O Teatro de Ópera, que esteve em actividade
apenas alguns meses, foi destruído pelo terramoto de 1 de Novembro de
1755. Com a inauguração do Real Teatro de S. Carlos, deixou de ser
representada ópera italiana no Teatro da Rua dos Condes.
O teatro foi baptizado com o nome da princesa D. Carlota Joaquina de Bourbon (Infanta de Espanha), que veio a Portugal em 1790 para casar com o futuro rei, o príncipe João Carlos.
A inscrição latina da placa comemorativa, dedica o teatro para a princesa.
No início do século XIX, quando a corte fugiu para o Brasil para escapar às invasões das tropas napoleónicas, um teatro, a exemplo do São Carlos foi construído no Rio de Janeiro Brasil.
Até à queda da Monarquia o Teatro de São Carlos era habitualmente
chamado "Teatro Italiano", o que mais se acentuou, na sequência da
Reforma Teatral de Garrett (1836), com a inauguração em 1846 do Teatro
Nacional e Normal (D. Maria II), o qual, todavia, era exclusivamente
destinado ao teatro declamado. No "Teatro Italiano", pelo contrário, só
cantavam as companhias italianas, com uso praticamente exclusivo da
língua italiana. Não só os compositores portugueses eram obrigados a
escrever sobre libretos em italiano ou traduzidos para italiano (como
aconteceu com a primeira ópera de cariz nacional estreada no S. Carlos, A Serrana,
de Alfredo Keil, 1899), mas também toda a ópera francesa e alemã,
incluindo Wagner, foi sempre cantada em italiano até 1908. Assim, e não
obstante o "Real Theatro de São Carlos" ser, na época, o teatro oficial
por excelência, superando o próprio Teatro D. Maria II, era a língua
italiana que nele prevalecia - ao contrário, por exemplo, da prática do
Grande Ópera, em Paris, onde só era permitido o uso da língua francesa,
mesmo para compositores estrangeiros (o que explica, nomeadamente, a
existência de versões originais de Rossini, Donizetti, Verdi ou Wagner
sobre libretos em francês, ou elaborados de raiz, ou traduzidos para o
efeito). O projecto de um Teatro Nacional de Ópera chegou a ser objecto
de um Decreto do Governo de Hintze Ribeiro (1902), prevendo-se que
viesse a ser edificado onde hoje se encontra o edifício do Governo
Civil, ao lado do S. Carlos. A concretização do projecto - deixada,
aliás, pelo Estado à iniciativa privada - não passou do papel.
O largo fronteiro foi recuperado como espaço de passeio e lazer,
incluindo uma esplanada que serve o restaurante concessionado pelo
Teatro. Ocasionalmente, têm sido transmitidas récitas, em directo, para o
Largo ("Teatro ao Largo") através de uma tela gigante e de um sistema
de som especialmente montados para o efeito. A época de ópera decorre
sensivelmente de novembro a junho,
mas há concertos e bailado noutras alturas do ano. Alguns dos
espectáculos organizados pelo TNSC são levados à cena no palco do grande
auditório do Centro Cultural de Belém.
Estilo
A fachada apresenta traços neoclássicos que integra perfeitamente o edifício na Lisboa pombalina.
No seu traçado arquitectónico e urbanístico burguês, a sala de
espectáculos, é desenhada como um espaço aristocrático, de representação
oficial, fortemente hierarquizado nas suas cinco ordens de camarotes
com uma tribuna real de rara imponência, porventura sem paralelo em
teatros públicos desde o século XVIII, foi ricamente decorado pelo italiano Giovanni Appianni. O teto foi pintado por Manuel da Costa e por Cirilo Wolkmar Machado.
De forma elíptica e concebida de modo a que os pontos focais
respectivos, no proscénio e no lugar do Rei, correspondessem também ao
ideal de uma acústica perfeita, a sala segue o modelo do teatro
italiano, servindo primariamente a fruição do bel canto.
O mais famoso compositor Português da época, Marcos Portugal, tornou-se
director musical do São Carlos em 1800 depois de regressar de Itália, e
muitas das suas óperas foram estreadas aqui.
Entre 1828 e 1834, o São Carlos foi encerrado devido à Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), lutas entre reis D. Miguel I e D. Pedro IV.
É verdadeiramente um palco exemplar, como decorre na descrição de Gustav von Heeringen relativamente à noite de gala por ocasião das núpcias da rainha D. Maria II com D. Fernando de Saxe-Coburgo, em 1836.
Em 1850, a iluminação do interior foi alterado para iluminação a gás, a
mais recente tecnologia disponível. A iluminação elétrica foi
instalada em 1887.
Conquanto, no essencial, a sala mantenha os traços originais, que fazem
dela uma autêntica jóia da arquitectura teatral do barroco tardio,
sofreu várias alterações ao longo dos séculos XIX e XX: o proscénio foi
encurtado, o fosso da orquestra, alargado e rebaixado. A remodelação de
1940 afectou irremediavelmente os poços acústicos por baixo do palco,
que foram removidos, bem como destruiu o labirinto de corredores e
escadarias abobadados e decorados com azulejos. Ganhou-se em desafogo e
em representatividade dos acessos, mas perdeu-se em qualidade acústica,
dada a função de caixa de ressonância do dispositivo originário.
in Wikipédia
Sem comentários:
Enviar um comentário