(imagem daqui)
A Revolta de 14 de maio de 1915 foi um levantamento político-militar liderado por Álvaro de Castro e pelo general Sá Cardoso, tendo como objectivo o derrube do governo presidido pelo general Pimenta de Castro e a reposição da plena vigência da Constituição Portuguesa de 1911 que os revoltosos consideravam estar a ser desrespeitada pelo Presidente da República, Manuel de Arriaga, ao dissolver unilateralmente o Congresso da República sem que tivesse poderes constitucionais para tal acto. O movimento foi vitorioso, levando à substituição do governo pela Junta Constitucional de 1915 e à demissão de Manuel de Arriaga. A revolta causou cerca de 200 mortos e cerca de 1.000 feridos. Durante a revolta, João Chagas, indigitado para chefe do governo, foi atingido a tiro no Entroncamento, pelo senador João José de Freitas, ficando gravemente ferido e cego de um olho. O agressor foi linchado pela multidão.
in Wikipédia
Golpe de Estado de 14 de maio de 1915
Normalmente esquecido, no meio das várias convulsões que ocorreram na sociedade portuguesa na segunda década do século XX, o golpe de estado de 14 de maio de 1915 foi a mais sangrenta revolta ocorrida em Portugal no decurso do século XX e levou mesmo à intervenção estrangeira no país, em plena I guerra mundial.
Após o golpe de estado de 1910, em que um pequeno grupo de republicanos tinha logrado depor a monarquia constitucional, estes tinham tomado o controlo do país.
Foi imposta uma nova constituição republicana, e publicada em 3 de julho de 1913 uma lei eleitoral onde se proibia o direito de voto aos analfabetos e às mulheres, tendo sido implementadas alterações legais que com o tempo assumiram um cariz abertamente anti-democrático, radical e mesmo ditatorial.
Após garantirem o controlo do país, as divisões minaram o campo republicano, onde a sede de poder rapidamente levou à sua divisão em três grupos. Os radicais renomearam o partido para Partido Democrático, e logo surgiram duas cisões importantes, os Unionistas e os Evolucionistas. A somar a estas divisões, continuava a haver pressão por parte dos monárquicos, que se organizavam especialmente na Galiza.
O governo português estava isolado internacionalmente. A Inglaterra era hostil ao governo, a Espanha, depois de ter perdido o seu império, olhava para a instabilidade portuguesa com um interesse evidente e a Alemanha olhava para os territórios portugueses com redobrado fervor.
Durante 1913 e 1914 cresceu o radicalismo e o país tornara-se ingovernável, nomeadamente com o governo do republicano extremista Afonso Costa (janeiro de 1913 a fevereiro de 1914), a que se seguiram dois governos incapazes de Bernardino Machado (fevereiro a dezembro de 1914), e posteriormente o governo de Azevedo Coutinho (dezembro de 1914 e janeiro de 1915) chamado de governo dos miseráveis. No final de 1914, ocorrera uma crise no Senado e as tensões entre as várias fações republicanas levam a uma situação complexa em que o país fica sem Senado e sem possibilidade de eleger senadores (Já que uma disposição constitucional o impedia na primeira eleição). É hoje claro, que a crise que resultaria no golpe de estado de 1915 esteve intimamente ligada às movimentações dentro da Maçonaria em 1914, já que o governo que substituiu Pimenta de Castro era integralmente constituído por maçons do Grande Oriente Lusitano. O próprio Grão-Mestre e o Grão-mestre-Adjunto faziam parte do governo. A Maçonaria perderia gradualmente importância até março de 1926, altura em que as fações voltaram a unir-se. No entanto, o golpe de militares conservadores, de 28 de maio desse ano, levaria a Maçonaria para a clandestinidade.
No inicio de 1915, no meio de um imbróglio jurídico resultado das «armadilhas» colocadas no texto constitucional e após uma demonstração de mal estar entre militares do exército, o presidente da república Manuel de Arriaga (o primeiro presidente português, foi eleito por votação indireta, recebendo 121 votos (56,5%) da câmara dos deputados; o seu principal opositor foi Bernardino Machado, apoiado pelos republicanos radicais com 40,2% dos votos; na sequência do golpe de 14 de maio de 1915 apresentará a sua demissão ao chefe do governo e será substituído interinamente por Teófilo Braga) nomeia chefe do executivo, o mais antigo general do exército, Pimenta de Castro, no que foi visto como uma tentativa dos setores conservadores para evitar o controlo total do país pelas forças radicais e para organizar eleições que tinham sido adiadas desde setembro de 1914.
Pimenta de Castro era um oficial conservador, que já tinha sido ministro da guerra e que tinha apoiado as primeiras tentativas republicanas para derrubar a monarquia, embora fosse também visto como aliado dos monárquicos liberais. Pimenta de Castro foi assim o líder de um governo de iniciativa presidencial, mas logo atraiu sobre si a raiva e a ira dos radicais republicanos comandados pelo extremista Afonso Costa.
Pimenta de Castro foi empossado a 24 de janeiro de 1915, e iniciou uma política de apaziguamento destinada a acalmar o país, voltando a estabelecer a liberdade de culto, e direitos civis que os republicanos tinham negado aos monárquicos.
No entanto, rapidamente os extremistas radicais iniciam uma série de protestos aos quais o governo de Pimenta de Castro não pode ou não quer responder.
Vista a farda, senhor General
Os rumores de golpe avolumam-se e a imprensa conservadora de Lisboa, nomeadamente o jornal «O Dia» ainda apela a Pimenta de Castro quando publica nas suas páginas a frase «vista a farda sr. General», dando a entender que deveria ser instaurado um estado de sítio.
Mas Pimenta de Castro, que já tinha marcado eleições para junho mostra-se mas incapaz de debelar a contestação por parte dos radicais. Ainda manda a Guarda Republicana impedir uma reunião do parlamento a 4 de Março, dado as eleições terem já sido marcadas para 6 de Junho, mas os radicais não param.
A partir de 4 de março os radicais passam à oposição frontal e aberta acusando Pimenta de Castro de ditador, ainda que durante essa «ditadura» os opositores tivessem toda a liberdade de expressão, não houvesse censura e fossem tomadas medidas de reconciliação da sociedade.
Os grupos radicais, com Afonso Costa à cabeça, começaram de imediato a conspirar, apoiando-se em organizações de cariz terrorista como o grupo Formiga Branca e o que restava da Carbonária (um grupo terrorista que funcionava como braço armado da Maçonaria Portuguesa), rapidamente se prepararam para voltar a controlar o país.
O golpe
Beneficiando da influência que tinham especialmente sobre a marinha de guerra (os oficiais do exército eram vistos como conservadores e favoráveis aos monárquicos) é organizado um golpe, que deveria seguir as linhas gerais do 5 de outubro de 1910.
Antes das 03.00 da manhã de sexta-feira, 14 de maio, o Capitão de Fragata Leote do Rego dirige-se numa lancha ao cruzador blindado Vasco da Gama. Às 03.20 da madrugada ouvem-se tiros. O grupo comandado por Leote do Rego mata o Capitão de Mar e Guerra Assis Camilo, que comandava o navio e que se opôs ao golpe.
Às 03.45 Leote do Rego ordena que sejam disparado três tiros de salva, o sinal combinado com as forças em terra. O navio levanta ferro e vai posicionar-se frente ao Terreiro do Paço onde se concentram os ministérios.
Civis e militares à civil da organização maçónica Formiga Branca. Recebendo armas durante a madrugada (a policia de Lisboa não tinha autorização para andar armada) estes grupos estabeleceram o caos na cidade durante três dias. Roubos, vinganças pessoais, assassinatos e violações ocorreram por toda a cidade sem que fosse possível controlar os revoltosos armados. A maçonaria terá sido responsável pela maioria das mortes. O número de vítimas ainda hoje continua por conhecer.
Um pequeno grupo de militares da marinha e alguns elementos da GNR, da Guarda Fiscal e do exército tomaram o arsenal da marinha, na baixa de Lisboa e iniciaram uma distribuição das armas que ali estavam pelas organizações para-militares Formiga Branca e Carbonária que se tinham preparado para receber armamento. Estima-se que os grupos de revoltosos terão atingido 7.000.
Às 04.00 da madrugada também se ouvem tiros nas imediações do arsenal do exército, junto à estação de Santa Apolónia.
Às 06.00 da manhã uma das duas baterias (4 peças de artilharia operacionais) do Regimento de Artilharia nº 1 dirige-se para o alto de Santa Catarina com ordens para alvejar o cruzador Vasco da Gama, que se acredita na altura ser a única unidade naval sublevada. Às 08.00 começa a alvejar os navios. O cruzador protegido Almirante Reis, cuja blindagem é inferior à do Vasco da Gama é atingido. Os navios respondem com fogo contra o alto de Santa Catarina, atingindo residências e provocando vítimas entre os civis com fogo das peças de 150 mm.
1 – Arsenal da marinha
2 – Posição dos cruzadores no Tejo
3 – Arsenal do exército
4 – Quartel da GNR, onde se refugiou o governo
5 – Alto de Santa Catarina de onde foram alvejados os navios
6 – Submarino Espadarte, que recebeu ordem de ataque
7 – Quartel de Infantaria 16
8 – Quartel de Artilharia 1, que enviaria tropas para o ponto 3 e 5.
Ao fim da manhã, com a situação tática em seu favor, Leote do Rego envia um ultimatum ao chefe do governo, que ao inicio da tarde se vai refugiar com a maior parte dos ministros no quartel da GNR, no Largo do Carmo, exigindo a sua demissão.
Ainda durante a manhã dessa sexta-feira, forças do regimento de infantaria 16, cercam o arsenal do Alfeite tentando desalojar os revoltosos, mas estes têm apoio dos canhões dos navios da esquadra que bombardeiam as imediações do arsenal, para proteger os revoltosos sitiados.
Também durante a manhã do dia 14, o ministro da Marinha, vice-almirante Xavier de Brito sabendo da situação a bordo do Vasco da Gama, dá ordens ao submarino «Espadarte» que se encontrava ancorado em Belém, para torpedear o cruzador. Porém o comandante do submarino não cumpre as ordens recebidas e dirige-se para a margem sul do Tejo, atracando ao lado de um contra-torpedeiro.
Rendição de Pimenta de Castro
Ao fim do dia, percebendo que não tem apoio suficiente em Lisboa, o chefe do governo, O General Pimenta de Castro, apresenta a sua demissão, sendo aprisionado a bordo do próprio cruzador Vasco da Gama.
Na noite de 14 para 15 de maio, a cidade de Lisboa fica sem policiamento e hordas de assaltantes roubam lojas e casas de particulares.
Na manhã de 15 de maio continuam os recontros entre forças do exército e forças revoltosas, com o apoio dos navios ancorados no Tejo. Os dois lados tentam um cessar-fogo, mas ao anoitecer de sábado dia 15 de maio, o cruzador Vasco da Gama ainda continua a disparar sobre Lisboa embora com menos intensidade.
Espanha toma posições em Lisboa
Os planos de Pimenta de Castro, previam um acordo com a Espanha, que deveria servir para alinhar Portugal numa posição neutral relativamente ao conflito, no que formaria um bloco com a Espanha. Desta forma, esperava-se aplacar os interesses anexionistas de alguns setores da sociedade espanhola. Por isso, o golpe de 14 de maio deixou os espanhóis especialmente irritados. A imprensa espanhola da altura justificava a necessidade de a Espanha intervir para salvaguardar os muitos cidadãos espanhóis que viviam em Portugal.
Na segunda-feira 17 de maio entra a barra do Tejo, o mais poderoso navio de guerra espanhol, o couraçado España (8 canhões de 305 mm e 20 de 100 mm), e o cruzador protegido Rio de la Plata, escoltados por um contratorpedeiro, a que no dia seguinte se junta um segundo. Na baía de Cascais fundeia o cruzador protegido Extremadura.
A França e a Inglaterra aparentam ter ficado alarmadas com a dimensão do contingente espanhol e enviaram navios aparentemente para desincentivar qualquer possibilidade de intervenção espanhola. A Espanha retirará os dois cruzadores protegidos e manterá o couraçado e dois contra-torpedeiros no Tejo durante mais alguns dias, sob o pretexto de proteger os cidadãos espanhóis.
Na Grã Bretanha, o golpe será seguido com algum interesse, mas não é possível deixar de referir que o transatlântico Lusitânia tinha sido afundado a 7 de maio (uma semana antes).
Ainda assim a imprensa britânica reagirá de forma violenta contra os golpistas, acusando o exército português de ser uma continua fonte de desordem e acusando a marinha portuguesa de só servir para bombardear Lisboa.
Participação da Maçonaria
O golpe de estado de 14 de maio foi inspirado pelos radicais republicanos mas teve o apoio das estruturas da Maçonaria, de entre as quais se destacou o Grão-Mestre Sebastião Magalhães de Lima.
Lima será mais tarde julgado pela sua participação como Grão-Mestre nos crimes praticados naquele dia.
Já Afonso Costa, nunca reconheceu publicamente que foi o principal instigador do golpe de estado, alegadamente por não querer ficar ligado ao massacres que ocorreram naqueles dias.
Políticos republicanos confirmaram posteriormente ter sido ameaçados e atacados.
Fernando Pessoa dirá sobre o golpe de 14 de maio, ter sido o mais anti-nacional de todos os golpes. Pimenta de Castro, que dirigia um governo que preparava eleições foi deposto porque quem o depôs não estava interessado no estabelecimento de um regime democrático.
Número de vítimas
Talvez nunca se venha a saber na realidade quantas pessoas morreram durante o golpe de 14 de maio de 1915. Porque foi considerado um golpe «democrático», nunca foram feitas investigações sérias sobre o assunto. O número de mortos foi fixado em 200, no entanto esse número é muito pouco credível.
A principal razão tem a ver com o facto de a imprensa espanhola já avançar com esse número de mortos, quando ainda decorriam combates em Lisboa e quando os canhões dos cruzadores ainda estavam a disparar contra a cidade, sendo virtualmente impossível, que não morresse mais ninguém.
Sabe-se que houve recontros entre a Polícia e civis, mas muitos desses recontros pouco ou nada tiveram de político, tratando-se apenas de tentativas de contrariar a vaga de assaltos que foram levados a cabo pelos civis descontrolados a quem a Maçonaria entregou armas na madrugada de 14 de maio.
Sabe-se que, muitos desses cinco ou seis milhares de «milicianos» estiveram entre os que durante noites de autêntico terror (conforme publicado pela imprensa internacional) participaram em roubos por toda a cidade de Lisboa.
Massacre de 14 de maio
Mais recentemente o número de 500 mortos tem sido referido como mais realista. No entanto, o golpe de 14 de maio, levado a cabo pelos setores mais radicais e anti-democráticos da republica, continua a ser visto de forma benigna, ignorando-se os factos que o transformaram de revolução em massacre.
NOTA: Formiga Branca é a designação dada a uma força para-militar criada pela fação mais radical do movimento republicano português, liderada pelo extremista radical Afonso Costa que comandava o chamado «Partido Democrático». A Formiga Branca foi formada com o que restou da Carbonária, uma organização para-militar terrorista criada pela Maçonaria Portuguesa no final do século XIX e que, por sua vez ,foi responsável pelo assassinato de El-Rei D. Carlos I, em 1908.
Golpe de Estado de 14 de maio de 1915
Normalmente esquecido, no meio das várias convulsões que ocorreram na sociedade portuguesa na segunda década do século XX, o golpe de estado de 14 de maio de 1915 foi a mais sangrenta revolta ocorrida em Portugal no decurso do século XX e levou mesmo à intervenção estrangeira no país, em plena I guerra mundial.
Após o golpe de estado de 1910, em que um pequeno grupo de republicanos tinha logrado depor a monarquia constitucional, estes tinham tomado o controlo do país.
Foi imposta uma nova constituição republicana, e publicada em 3 de julho de 1913 uma lei eleitoral onde se proibia o direito de voto aos analfabetos e às mulheres, tendo sido implementadas alterações legais que com o tempo assumiram um cariz abertamente anti-democrático, radical e mesmo ditatorial.
Após garantirem o controlo do país, as divisões minaram o campo republicano, onde a sede de poder rapidamente levou à sua divisão em três grupos. Os radicais renomearam o partido para Partido Democrático, e logo surgiram duas cisões importantes, os Unionistas e os Evolucionistas. A somar a estas divisões, continuava a haver pressão por parte dos monárquicos, que se organizavam especialmente na Galiza.
O governo português estava isolado internacionalmente. A Inglaterra era hostil ao governo, a Espanha, depois de ter perdido o seu império, olhava para a instabilidade portuguesa com um interesse evidente e a Alemanha olhava para os territórios portugueses com redobrado fervor.
Afonso Costa, a cara mais conhecida do extremismo radical da 1ª república portuguesa, era um político excêntrico, corrupto e sedento de poder. No entanto a sua personalidade e a profunda ligação à maçonaria garante-lhe o apoio de vários militares e políticos portugueses. Fará parte de vários governos e será o principal responsável pela continua degradação da economia portuguesa. Com o golpe de 28 de maio de 1926 sairá do país para França, onde morrerá. Visto como um fanático, o extremista republicano Afonso Costa chegou a - levado pela paranóia - saltar aflito de um carro elétrico em andamento, a 3 de julho de 1915, fraturando a cabeça, por pensar estar a ser alvo de um atentado. Os graves ferimentos impedirão Costa de tomar posse, depois de, curiosamente, ter ganho as eleições de junho de 1915.
Durante 1913 e 1914 cresceu o radicalismo e o país tornara-se ingovernável, nomeadamente com o governo do republicano extremista Afonso Costa (janeiro de 1913 a fevereiro de 1914), a que se seguiram dois governos incapazes de Bernardino Machado (fevereiro a dezembro de 1914), e posteriormente o governo de Azevedo Coutinho (dezembro de 1914 e janeiro de 1915) chamado de governo dos miseráveis. No final de 1914, ocorrera uma crise no Senado e as tensões entre as várias fações republicanas levam a uma situação complexa em que o país fica sem Senado e sem possibilidade de eleger senadores (Já que uma disposição constitucional o impedia na primeira eleição). É hoje claro, que a crise que resultaria no golpe de estado de 1915 esteve intimamente ligada às movimentações dentro da Maçonaria em 1914, já que o governo que substituiu Pimenta de Castro era integralmente constituído por maçons do Grande Oriente Lusitano. O próprio Grão-Mestre e o Grão-mestre-Adjunto faziam parte do governo. A Maçonaria perderia gradualmente importância até março de 1926, altura em que as fações voltaram a unir-se. No entanto, o golpe de militares conservadores, de 28 de maio desse ano, levaria a Maçonaria para a clandestinidade.
No inicio de 1915, no meio de um imbróglio jurídico resultado das «armadilhas» colocadas no texto constitucional e após uma demonstração de mal estar entre militares do exército, o presidente da república Manuel de Arriaga (o primeiro presidente português, foi eleito por votação indireta, recebendo 121 votos (56,5%) da câmara dos deputados; o seu principal opositor foi Bernardino Machado, apoiado pelos republicanos radicais com 40,2% dos votos; na sequência do golpe de 14 de maio de 1915 apresentará a sua demissão ao chefe do governo e será substituído interinamente por Teófilo Braga) nomeia chefe do executivo, o mais antigo general do exército, Pimenta de Castro, no que foi visto como uma tentativa dos setores conservadores para evitar o controlo total do país pelas forças radicais e para organizar eleições que tinham sido adiadas desde setembro de 1914.
Pimenta de Castro era um oficial conservador, que já tinha sido ministro da guerra e que tinha apoiado as primeiras tentativas republicanas para derrubar a monarquia, embora fosse também visto como aliado dos monárquicos liberais. Pimenta de Castro foi assim o líder de um governo de iniciativa presidencial, mas logo atraiu sobre si a raiva e a ira dos radicais republicanos comandados pelo extremista Afonso Costa.
Pimenta de Castro foi empossado a 24 de janeiro de 1915, e iniciou uma política de apaziguamento destinada a acalmar o país, voltando a estabelecer a liberdade de culto, e direitos civis que os republicanos tinham negado aos monárquicos.
No entanto, rapidamente os extremistas radicais iniciam uma série de protestos aos quais o governo de Pimenta de Castro não pode ou não quer responder.
Pimenta de Castro, trajado à civil. O general insistiu em dar garantias a todos, não afrontar ninguém e marcar eleições dissolvendo o parlamento. Atraiu a ira dos radicais e da maçonaria, que o deporiam, acusando-o de ditador.
Vista a farda, senhor General
Os rumores de golpe avolumam-se e a imprensa conservadora de Lisboa, nomeadamente o jornal «O Dia» ainda apela a Pimenta de Castro quando publica nas suas páginas a frase «vista a farda sr. General», dando a entender que deveria ser instaurado um estado de sítio.
Mas Pimenta de Castro, que já tinha marcado eleições para junho mostra-se mas incapaz de debelar a contestação por parte dos radicais. Ainda manda a Guarda Republicana impedir uma reunião do parlamento a 4 de Março, dado as eleições terem já sido marcadas para 6 de Junho, mas os radicais não param.
A partir de 4 de março os radicais passam à oposição frontal e aberta acusando Pimenta de Castro de ditador, ainda que durante essa «ditadura» os opositores tivessem toda a liberdade de expressão, não houvesse censura e fossem tomadas medidas de reconciliação da sociedade.
Os grupos radicais, com Afonso Costa à cabeça, começaram de imediato a conspirar, apoiando-se em organizações de cariz terrorista como o grupo Formiga Branca e o que restava da Carbonária (um grupo terrorista que funcionava como braço armado da Maçonaria Portuguesa), rapidamente se prepararam para voltar a controlar o país.
O golpe
Beneficiando da influência que tinham especialmente sobre a marinha de guerra (os oficiais do exército eram vistos como conservadores e favoráveis aos monárquicos) é organizado um golpe, que deveria seguir as linhas gerais do 5 de outubro de 1910.
Leote do Rego (à esquerda na foto) dá inicio ao golpe, abordando o cruzador Vasco da Gama e matando o comandante Assis Camilo (à direita na foto). Leote do Rego continuará a bombardear Lisboa até à chegada do couraçado espanhol «España» na 2ª-feira seguinte.
Antes das 03.00 da manhã de sexta-feira, 14 de maio, o Capitão de Fragata Leote do Rego dirige-se numa lancha ao cruzador blindado Vasco da Gama. Às 03.20 da madrugada ouvem-se tiros. O grupo comandado por Leote do Rego mata o Capitão de Mar e Guerra Assis Camilo, que comandava o navio e que se opôs ao golpe.
Às 03.45 Leote do Rego ordena que sejam disparado três tiros de salva, o sinal combinado com as forças em terra. O navio levanta ferro e vai posicionar-se frente ao Terreiro do Paço onde se concentram os ministérios.
Civis e militares à civil da organização maçónica Formiga Branca. Recebendo armas durante a madrugada (a policia de Lisboa não tinha autorização para andar armada) estes grupos estabeleceram o caos na cidade durante três dias. Roubos, vinganças pessoais, assassinatos e violações ocorreram por toda a cidade sem que fosse possível controlar os revoltosos armados. A maçonaria terá sido responsável pela maioria das mortes. O número de vítimas ainda hoje continua por conhecer.
Um pequeno grupo de militares da marinha e alguns elementos da GNR, da Guarda Fiscal e do exército tomaram o arsenal da marinha, na baixa de Lisboa e iniciaram uma distribuição das armas que ali estavam pelas organizações para-militares Formiga Branca e Carbonária que se tinham preparado para receber armamento. Estima-se que os grupos de revoltosos terão atingido 7.000.
Às 04.00 da madrugada também se ouvem tiros nas imediações do arsenal do exército, junto à estação de Santa Apolónia.
Às 06.00 da manhã uma das duas baterias (4 peças de artilharia operacionais) do Regimento de Artilharia nº 1 dirige-se para o alto de Santa Catarina com ordens para alvejar o cruzador Vasco da Gama, que se acredita na altura ser a única unidade naval sublevada. Às 08.00 começa a alvejar os navios. O cruzador protegido Almirante Reis, cuja blindagem é inferior à do Vasco da Gama é atingido. Os navios respondem com fogo contra o alto de Santa Catarina, atingindo residências e provocando vítimas entre os civis com fogo das peças de 150 mm.
1 – Arsenal da marinha
2 – Posição dos cruzadores no Tejo
3 – Arsenal do exército
4 – Quartel da GNR, onde se refugiou o governo
5 – Alto de Santa Catarina de onde foram alvejados os navios
6 – Submarino Espadarte, que recebeu ordem de ataque
7 – Quartel de Infantaria 16
8 – Quartel de Artilharia 1, que enviaria tropas para o ponto 3 e 5.
Ao fim da manhã, com a situação tática em seu favor, Leote do Rego envia um ultimatum ao chefe do governo, que ao inicio da tarde se vai refugiar com a maior parte dos ministros no quartel da GNR, no Largo do Carmo, exigindo a sua demissão.
Ainda durante a manhã dessa sexta-feira, forças do regimento de infantaria 16, cercam o arsenal do Alfeite tentando desalojar os revoltosos, mas estes têm apoio dos canhões dos navios da esquadra que bombardeiam as imediações do arsenal, para proteger os revoltosos sitiados.
Também durante a manhã do dia 14, o ministro da Marinha, vice-almirante Xavier de Brito sabendo da situação a bordo do Vasco da Gama, dá ordens ao submarino «Espadarte» que se encontrava ancorado em Belém, para torpedear o cruzador. Porém o comandante do submarino não cumpre as ordens recebidas e dirige-se para a margem sul do Tejo, atracando ao lado de um contra-torpedeiro.
Rendição de Pimenta de Castro
Ao fim do dia, percebendo que não tem apoio suficiente em Lisboa, o chefe do governo, O General Pimenta de Castro, apresenta a sua demissão, sendo aprisionado a bordo do próprio cruzador Vasco da Gama.
Na noite de 14 para 15 de maio, a cidade de Lisboa fica sem policiamento e hordas de assaltantes roubam lojas e casas de particulares.
Na manhã de 15 de maio continuam os recontros entre forças do exército e forças revoltosas, com o apoio dos navios ancorados no Tejo. Os dois lados tentam um cessar-fogo, mas ao anoitecer de sábado dia 15 de maio, o cruzador Vasco da Gama ainda continua a disparar sobre Lisboa embora com menos intensidade.
Espanha toma posições em Lisboa
Os planos de Pimenta de Castro, previam um acordo com a Espanha, que deveria servir para alinhar Portugal numa posição neutral relativamente ao conflito, no que formaria um bloco com a Espanha. Desta forma, esperava-se aplacar os interesses anexionistas de alguns setores da sociedade espanhola. Por isso, o golpe de 14 de maio deixou os espanhóis especialmente irritados. A imprensa espanhola da altura justificava a necessidade de a Espanha intervir para salvaguardar os muitos cidadãos espanhóis que viviam em Portugal.
Couraçado «España», o mais poderoso navio de guerra espanhol entra no Tejo em 17 de maio. A partir dessa data, Leote do Rego não disparará um único tiro sobre Lisboa
Na segunda-feira 17 de maio entra a barra do Tejo, o mais poderoso navio de guerra espanhol, o couraçado España (8 canhões de 305 mm e 20 de 100 mm), e o cruzador protegido Rio de la Plata, escoltados por um contratorpedeiro, a que no dia seguinte se junta um segundo. Na baía de Cascais fundeia o cruzador protegido Extremadura.
A França e a Inglaterra aparentam ter ficado alarmadas com a dimensão do contingente espanhol e enviaram navios aparentemente para desincentivar qualquer possibilidade de intervenção espanhola. A Espanha retirará os dois cruzadores protegidos e manterá o couraçado e dois contra-torpedeiros no Tejo durante mais alguns dias, sob o pretexto de proteger os cidadãos espanhóis.
Na Grã Bretanha, o golpe será seguido com algum interesse, mas não é possível deixar de referir que o transatlântico Lusitânia tinha sido afundado a 7 de maio (uma semana antes).
Ainda assim a imprensa britânica reagirá de forma violenta contra os golpistas, acusando o exército português de ser uma continua fonte de desordem e acusando a marinha portuguesa de só servir para bombardear Lisboa.
Participação da Maçonaria
O golpe de estado de 14 de maio foi inspirado pelos radicais republicanos mas teve o apoio das estruturas da Maçonaria, de entre as quais se destacou o Grão-Mestre Sebastião Magalhães de Lima.
Lima será mais tarde julgado pela sua participação como Grão-Mestre nos crimes praticados naquele dia.
Já Afonso Costa, nunca reconheceu publicamente que foi o principal instigador do golpe de estado, alegadamente por não querer ficar ligado ao massacres que ocorreram naqueles dias.
Políticos republicanos confirmaram posteriormente ter sido ameaçados e atacados.
Fernando Pessoa dirá sobre o golpe de 14 de maio, ter sido o mais anti-nacional de todos os golpes. Pimenta de Castro, que dirigia um governo que preparava eleições foi deposto porque quem o depôs não estava interessado no estabelecimento de um regime democrático.
Número de vítimas
Talvez nunca se venha a saber na realidade quantas pessoas morreram durante o golpe de 14 de maio de 1915. Porque foi considerado um golpe «democrático», nunca foram feitas investigações sérias sobre o assunto. O número de mortos foi fixado em 200, no entanto esse número é muito pouco credível.
A principal razão tem a ver com o facto de a imprensa espanhola já avançar com esse número de mortos, quando ainda decorriam combates em Lisboa e quando os canhões dos cruzadores ainda estavam a disparar contra a cidade, sendo virtualmente impossível, que não morresse mais ninguém.
Sabe-se que houve recontros entre a Polícia e civis, mas muitos desses recontros pouco ou nada tiveram de político, tratando-se apenas de tentativas de contrariar a vaga de assaltos que foram levados a cabo pelos civis descontrolados a quem a Maçonaria entregou armas na madrugada de 14 de maio.
Sabe-se que, muitos desses cinco ou seis milhares de «milicianos» estiveram entre os que durante noites de autêntico terror (conforme publicado pela imprensa internacional) participaram em roubos por toda a cidade de Lisboa.
Massacre de 14 de maio
Mais recentemente o número de 500 mortos tem sido referido como mais realista. No entanto, o golpe de 14 de maio, levado a cabo pelos setores mais radicais e anti-democráticos da republica, continua a ser visto de forma benigna, ignorando-se os factos que o transformaram de revolução em massacre.
in Área Militar
NOTA: Formiga Branca é a designação dada a uma força para-militar criada pela fação mais radical do movimento republicano português, liderada pelo extremista radical Afonso Costa que comandava o chamado «Partido Democrático». A Formiga Branca foi formada com o que restou da Carbonária, uma organização para-militar terrorista criada pela Maçonaria Portuguesa no final do século XIX e que, por sua vez ,foi responsável pelo assassinato de El-Rei D. Carlos I, em 1908.
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