domingo, novembro 07, 2010

A vingança serve-se fria e doi como o caraças

socrates
O espectador
A vingança dos Mercados

Não sei se a leitora e o leitor conhecem a família Mercados. São discretos e não costumam aparecer nas revistas sociais, os Mercados da Silva. O pai da família, António, de seu nome, vive entre as bolsas de Nova Iorque, Londres e Tóquio, ainda que também venha a Portugal para visitar a congénere de Lisboa.


António Mercados está farto de ser insultado pelos políticos portugueses, a começar pelo primeiro-ministro e respectivo Governo. Os Mercados são acusados de todas as malfeitorias. Sobe o défice público ou o desemprego e a culpa é sempre dos Mercados. A economia teima em murchar e a bancarrota aproxima-se a passos largos – mas os bodes expiatórios são os Mercados. Ainda esta semana, voltaram ao palco da política nacional durante o debate e a votação das contas públicas no Parlamento.

O primeiro-ministro e o ministro das Finanças queixaram-se de que os Mercados insistem em subir os juros da dívida soberana – e que o Orçamento para 2011 seria a melhor forma de evitar que isso voltasse a acontecer.

Deste modo, Portugal poderia continuar a financiar-se, num círculo vicioso de endividamento do Estado. Claro que os Mercados se vingaram da difamação: no próprio dia da aprovação, os juros cresceram para nova marca, 6,45%. Um dia depois, já estavam em 6,81%, um valor recorde.

Os Mercados podiam ser uma família portuguesa. Desconfiam do primeiro-ministro por ter prometido na campanha eleitoral o que já sabia que não iria cumprir. Como a maioria dos portugueses, os Mercados percebem a extrema fragilidade do acordo entre o Governo e o PSD. Não acreditam num governo que garantiu a redução da dívida pública e a fez crescer todos os meses. Os Mercados também somos nós.

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